GOMES,
Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um
príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história
de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do
Brasil, 2007.
“O nome completo de D. João VI era João Maria José
Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael de Bragança. Foi o último
monarca absoluto de Portugal e o primeiro e único de um reino cuja existência
não durou mais do que cinco anos: o Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves.
Nasceu em 13 de maio de 1767 e morreu em 10 de março de 1826, dois meses antes
de completar 59 anos”. P. 168.
Livro de leitura
agradável, fluente e fácil, sobre a história de Dom João VI, rei de Portugal,
em sua estada de 13 anos no Brasil (1808-1821). 1808 tornou-se um sucesso de
vendas. Porém, é um livro escrito por um Jornalista. Os Historiadores ficaram
putos da vida com isso. É como se o Laurentino não tivesse o direito de
escrever um livro que compete “exclusivamente” a eles. Laurentino, segundo
eles, adentrou num terreno que não é de sua ossada. E assim, de acordo com os “Guardiões da História”, escreveu um péssimo livro.
Desconfio de que há uma mesquinharia infantil, por parte deles. Despeito
e inveja, por muitos de seus trabalhos “acadêmicos” estarem arquivados, sem ninguém
para lê-los e discuti-los.
Ciente de que nenhuma
obra de História é de caráter definitivo, Laurentino sinaliza:
"Os acontecimentos do passado são imutáveis, mas a
sua interpretação depende do incansável trabalho de investigação dos
pesquisadores e também do julgamento dos leitores dos livros de História". P. 22.
“Embora não tenha a pretensão de ser um livro acadêmico,
todas as suas informações são baseadas em relatos e documentos históricos,
exaustivamente apurados e checados. Mesmo assim, não está isento de eventuais
erros, factuais ou de interpretação, que necessitem ser corrigidos no futuro”. P. 24.
Gomes reconhece o
caráter transitório do conhecimento histórico. Uma busca eterna pela verdade
dos acontecimentos. Isso seria suficiente para esses Historiadores birrentos,
pararem com os seus chiliques.
Falando sobre o
atraso científico em Portugal, Gomes nos traz esse fato:
"Por escrúpulos religiosos, a Ciência e a Medicina
eram atrasadas ou praticamente desconhecidas [em Portugal, nos séculos 18 e
19]. D. José, herdeiro do trono e irmão mais velho do príncipe regente, D.
João, havia morrido de varíola porque sua mãe, D. Maria I, tinha proibido os
médicos de lhe aplicar vacina. O motivo? Religioso. A rainha achava que a
decisão entre a vida e a morte estava nas mãos de Deus e que não cabia à
Ciência interferir nesse processo." P. 58-59.
Existem muitos
grupos religiosos, ainda hoje, que privam seus membros de certos benefícios da
Medicina. Testemunhas de Jeová, que preferem ver seus filhos morrerem a ter que
fazer transfusão de sangue; certas igrejas evangélicas, adeptas da teologia da
prosperidade, que incentivam seus membros a não tomarem remédio, mas confiarem
de que Deus irá curá-las.
Sobre o estado de Carlota Joaquina e suas súditas,
quando atracaram em terras tupiniquins:
"Carlota [Joaquina], as filhas
princesas e outras damas da corte tinham desembarcado com as cabeças raspadas
ou cabelos curtos, protegidas por turbantes, devido à infestação de piolhos que
havia assolado os navios durante a viagem. Tobias Monteiro conta que, ao ver as
princesas assim cobertas, as mulheres do Rio de Janeiro tiveram uma reação
surpreendente. Acharam que aquela seria a última moda na Europa. Dentro de
pouco tempo, quase todas elas passaram a cortar os cabelos e a usar turbantes
para imitar as nobres portuguesas." P. 145.
Não
mudamos. Até hoje somos propensos a imitar aqueles que estão em iminência. Muitas
vezes, coisas tão bobas, diga-se de passagem.
Informações curiosas sobre as impressões de Charles
Darwin, quando passou pelo Rio de Janeiro em 1832:
“Sublime, pitoresca, cores intensas, predomínio do tom
azul, grandes plantações de cana-de-açúcar e café, véu natural de mimosas,
florestas parecidas, porém mais gloriosas do que aquelas nas gravuras, raios de
sol, plantas parasitas, bananas, grandes folhas, sol mormacento. Tudo quieto,
exceto grandes e brilhantes borboletas. Muita água [...], as margens cheias de
árvores e lindas flores”. P. 154-155.
Impressões do
explorador britânico James Tuckey, quando esteve no Rio de Janeiro, no início
do século XIX:
“As mulheres brasileiras têm, entre outros, o péssimo
hábito de escarrar em público, não importando a hora, situação ou lugar”. P. 158-159.
Ainda bem que hábito
já não existe mais entre as nossas mulheres.Será que João VI era homossexual?
“Poucos historiadores se arriscam a
entrar na vida íntima de D. João VI. Dois deles, Tobias Monteiro e Patrick
Wilcken, apontam evidências de que, na ausência da mulher, ele manteve um
relacionamento homossexual — mais por conveniência do que por convicção — com
Francisco Rufino de Sousa Lobato, um dos camareiros reais. Monteiro sugere que
as funções de Francisco Rufino incluíam masturbar o rei com certa
regularidade”. P. 172-173.
Parece
ser regra Dom João ser depreciado pelos seus pesquisadores, Gomes parece está
entre eles, não nutrindo muita simpatia por Dom João, quase sempre revelando as
fraquezas, defeitos, tropeços ou a falta de higiene do regente:
“Príncipe regente e, depois de 1816, rei do Brasil e de Portugal, D. João tinha medo de siris, caranguejos e trovoadas”. P. 167.
“Quase todos os historiadores o descrevem como um
homem desleixado com a higiene pessoal e avesso ao banho. 'Era muito sujo,
vício de resto comum a toda a família, a toda a nação', afirmou Oliveira
Martins. ‘Nem ele, nem D. Carlota, apesar de se odiarem, discrepavam na regra
de não se lavarem.’ A relutância da corte portuguesa em tomar banho contrastava
com os costumes da colônia brasileira, onde o cuidado com o asseio pessoal
chamava a atenção de quase todos os viajantes que por aqui passaram nessa
época. ‘Apesar de certos hábitos que aproximam da vida selvagem os brasileiros
da classe baixa, qualquer que seja a sua raça, é para notar que todos eles são
notavelmente cuidadosos com a limpeza do corpo’, escreveu o inglês Henry
Koster, que morou no Recife entre 1809 e 1820.” P. 168.
“Com seu caráter indeciso e medroso, governou
Portugal em meio a um dos períodos mais turbulentos na história das monarquias
européias.” P. 170.
“Sofria crises periódicas e profundas de depressão”. P. 170.
“Sua vida amorosa foi medíocre”. P. 171.
Mas aliviando o perfil do
monarca, Gomes escreve:
“Oliveira Lima diz que, embora não tenha sido um grande
soberano, capaz de proezas militares e golpes audaciosos de administração, D.
João soube combinar bondade e inteligência e senso prático para se tornar um
rei eficiente. “Foi brando e sagaz, insinuante e precavido, afável e pertinaz.” P. 177.
Informações
curiosas sobre a situação dos negros pós-morte:
"[...] no Rio de Janeiro de D. João
VI só os brancos tinham o privilégio de serem sepultados em igrejas, próximos
de Deus e do paraíso celeste, segundo se acreditava na época. Os escravos eram
jogados em terrenos baldios ou valas comuns, nas quais se atirava fogo e,
depois, uma camada de cal." P. 239.
Sobre
a punição para os escravos “teimosos”:
"A punição mais comum era o açoite
do escravo, nas costas ou nas nádegas, quando fugia, cometia algum crime ou
alguma falta grave no trabalho. [...] há relatos de viajantes e cronistas com
referência a duzentos, trezentos ou até seiscentos açoites. Quantidade tão
absurda de chibatadas deixava as costas ou as nádegas do escravo em carne viva.
Numa época em que não havia antibióticos, o risco de morte por gangrena ou
infecção generalizada era grande. Por isso, banhava-se o escravo com uma
mistura de sal, vinagre ou pimenta malagueta — numa tentativa de evitar a
infecção das feridas." P. 250.
E assim termino
esse resumo desajeitado.