segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

1808


GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007.

“O nome completo de D. João VI era João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael de Bragança. Foi o último monarca absoluto de Portugal e o primeiro e único de um reino cuja existência não durou mais do que cinco anos: o Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves. Nasceu em 13 de maio de 1767 e morreu em 10 de março de 1826, dois meses antes de completar 59 anos”. P. 168.

Livro de leitura agradável, fluente e fácil, sobre a história de Dom João VI, rei de Portugal, em sua estada de 13 anos no Brasil (1808-1821). 1808 tornou-se um sucesso de vendas. Porém, é um livro escrito por um Jornalista. Os Historiadores ficaram putos da vida com isso. É como se o Laurentino não tivesse o direito de escrever um livro que compete “exclusivamente” a eles. Laurentino, segundo eles, adentrou num terreno que não é de sua ossada. E assim, de acordo com os “Guardiões da História”, escreveu um péssimo livro. Desconfio de que há uma mesquinharia infantil, por parte deles. Despeito e inveja, por muitos de seus trabalhos “acadêmicos” estarem arquivados, sem ninguém para lê-los e discuti-los.

Ciente de que nenhuma obra de História é de caráter definitivo, Laurentino sinaliza:

"Os acontecimentos do passado são imutáveis, mas a sua interpretação depende do incansável trabalho de investigação dos pesquisadores e também do julgamento dos leitores dos livros de História". P. 22.

“Embora não tenha a pretensão de ser um livro acadêmico, todas as suas informações são baseadas em relatos e documentos históricos, exaustivamente apurados e checados. Mesmo assim, não está isento de eventuais erros, factuais ou de interpretação, que necessitem ser corrigidos no futuro”. P. 24.

Gomes reconhece o caráter transitório do conhecimento histórico. Uma busca eterna pela verdade dos acontecimentos. Isso seria suficiente para esses Historiadores birrentos, pararem com os seus chiliques.

Falando sobre o atraso científico em Portugal, Gomes nos traz esse fato:

"Por escrúpulos religiosos, a Ciência e a Medicina eram atrasadas ou praticamente desconhecidas [em Portugal, nos séculos 18 e 19]. D. José, herdeiro do trono e irmão mais velho do príncipe regente, D. João, havia morrido de varíola porque sua mãe, D. Maria I, tinha proibido os médicos de lhe aplicar vacina. O motivo? Religioso. A rainha achava que a decisão entre a vida e a morte estava nas mãos de Deus e que não cabia à Ciência interferir nesse processo." P. 58-59.

Existem muitos grupos religiosos, ainda hoje, que privam seus membros de certos benefícios da Medicina. Testemunhas de Jeová, que preferem ver seus filhos morrerem a ter que fazer transfusão de sangue; certas igrejas evangélicas, adeptas da teologia da prosperidade, que incentivam seus membros a não tomarem remédio, mas confiarem de que Deus irá curá-las.

Sobre o estado de Carlota Joaquina e suas súditas, quando atracaram em terras tupiniquins:

"Carlota [Joaquina], as filhas princesas e outras damas da corte tinham desembarcado com as cabeças raspadas ou cabelos curtos, protegidas por turbantes, devido à infestação de piolhos que havia assolado os navios durante a viagem. Tobias Monteiro conta que, ao ver as princesas assim cobertas, as mulheres do Rio de Janeiro tiveram uma reação surpreendente. Acharam que aquela seria a última moda na Europa. Dentro de pouco tempo, quase todas elas passaram a cortar os cabelos e a usar turbantes para imitar as nobres portuguesas." P. 145.

Não mudamos. Até hoje somos propensos a imitar aqueles que estão em iminência. Muitas vezes, coisas tão bobas, diga-se de passagem.

Informações curiosas sobre as impressões de Charles Darwin, quando passou pelo Rio de Janeiro em 1832:

“Sublime, pitoresca, cores intensas, predomínio do tom azul, grandes plantações de cana-de-açúcar e café, véu natural de mimosas, florestas parecidas, porém mais gloriosas do que aquelas nas gravuras, raios de sol, plantas parasitas, bananas, grandes folhas, sol mormacento. Tudo quieto, exceto grandes e brilhantes borboletas. Muita água [...], as margens cheias de árvores e lindas flores”. P. 154-155.

Impressões do explorador britânico James Tuckey, quando esteve no Rio de Janeiro, no início do século XIX:

“As mulheres brasileiras têm, entre outros, o péssimo hábito de escarrar em público, não importando a hora, situação ou lugar”. P. 158-159.

Ainda bem que hábito já não existe mais entre as nossas mulheres.Será que João VI era homossexual?

“Poucos historiadores se arriscam a entrar na vida íntima de D. João VI. Dois deles, Tobias Monteiro e Patrick Wilcken, apontam evidências de que, na ausência da mulher, ele manteve um relacionamento homossexual — mais por conveniência do que por convicção — com Francisco Rufino de Sousa Lobato, um dos camareiros reais. Monteiro sugere que as funções de Francisco Rufino incluíam masturbar o rei com certa regularidade”. P. 172-173.

Parece ser regra Dom João ser depreciado pelos seus pesquisadores, Gomes parece está entre eles, não nutrindo muita simpatia por Dom João, quase sempre revelando as fraquezas, defeitos, tropeços ou a falta de higiene do regente:

Príncipe regente e, depois de 1816, rei do Brasil e de Portugal, D. João tinha medo de siris, caranguejos e trovoadas”. P. 167.

“Quase todos os historiadores o descrevem como um homem desleixado com a higiene pessoal e avesso ao banho. 'Era muito sujo, vício de resto comum a toda a família, a toda a nação', afirmou Oliveira Martins. ‘Nem ele, nem D. Carlota, apesar de se odiarem, discrepavam na regra de não se lavarem.’ A relutância da corte portuguesa em tomar banho contrastava com os costumes da colônia brasileira, onde o cuidado com o asseio pessoal chamava a atenção de quase todos os viajantes que por aqui passaram nessa época. ‘Apesar de certos hábitos que aproximam da vida selvagem os brasileiros da classe baixa, qualquer que seja a sua raça, é para notar que todos eles são notavelmente cuidadosos com a limpeza do corpo’, escreveu o inglês Henry Koster, que morou no Recife entre 1809 e 1820.” P. 168.

“Com seu caráter indeciso e medroso, governou Portugal em meio a um dos períodos mais turbulentos na história das monarquias européias.” P. 170.

“Sofria crises periódicas e profundas de depressão”. P. 170.

“Sua vida amorosa foi medíocre”. P. 171.

Mas aliviando o perfil do monarca, Gomes escreve:

“Oliveira Lima diz que, embora não tenha sido um grande soberano, capaz de proezas militares e golpes audaciosos de administração, D. João soube combinar bondade e inteligência e senso prático para se tornar um rei eficiente. “Foi brando e sagaz, insinuante e precavido, afável e pertinaz.” P. 177.

Informações curiosas sobre a situação dos negros pós-morte:

"[...] no Rio de Janeiro de D. João VI só os brancos tinham o privilégio de serem sepultados em igrejas, próximos de Deus e do paraíso celeste, segundo se acreditava na época. Os escravos eram jogados em terrenos baldios ou valas comuns, nas quais se atirava fogo e, depois, uma camada de cal." P. 239.

Sobre a punição para os escravos “teimosos”:

"A punição mais comum era o açoite do escravo, nas costas ou nas nádegas, quando fugia, cometia algum crime ou alguma falta grave no trabalho. [...] há relatos de viajantes e cronistas com referência a duzentos, trezentos ou até seiscentos açoites. Quantidade tão absurda de chibatadas deixava as costas ou as nádegas do escravo em carne viva. Numa época em que não havia antibióticos, o risco de morte por gangrena ou infecção generalizada era grande. Por isso, banhava-se o escravo com uma mistura de sal, vinagre ou pimenta malagueta — numa tentativa de evitar a infecção das feridas." P. 250.

E assim termino esse resumo desajeitado.