quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Filosofia em 60 segundos



PESSIN, Andrew. Filosofia em 60 Segundos. São Paulo: Leya, 2012. (PDF).

Andrew Pessin (Ph.D em Filosofia na Universidade Columbia, EUA) escreveu 60 pequenos capítulos, trazendo os grandes dramas filosóficos ao leitor comum, não habituado ao mundo abstrato da metafísica, epistemologia e etc. Eu que sou um eterno iniciante no estudo da Filosofia, que já leu alguns livros de introdução, não gostei muito deste.

O autor não defenderá necessariamente o que pensa sobre os grandes dilemas da sua área, mas apenas exporá os argumentos opostos, ora defendendo a existência de Deus, outra vez descartando-a; noutra parte, ele defende o ceticismo kantiano, mais a frente ele o nega; numa ocasião aceita o relativismo cultural, num outro capítulo o rejeita; e por aí, vai. Cabe ao leitor tentar decidir qual dos argumentos soam mais racionais, ou suspender quaisquer julgamentos, optando pela “neutralidade” a esse ou aquele problema.    

Nossa mente existe e ela é distinta de nosso cérebro.   

“Não dá para negar que sua mente existe. Afinal, o próprio ato de negar exige a capacidade de formar pensamentos, o que parece ser uma capacidade mental – então, negar que você tem uma mente acabaria provando que você tem uma! O que não está claro, no entanto, é o que significa ter uma mente. Sabemos que temos cérebros, que são objetos puramente físicos, mas a pergunta é se nossas mentes são nossos cérebros. E as diferenças importantes entre o mental e o físico sugerem que não são.

[...]

Não está claro ainda o que é a mente, mas é certo que a única coisa que está de fato na cabeça é o cérebro, e que a mente, nos sentidos mais profundos, está em outro lugar.” P.12.

A improbabilidade do Universo, evidencia a existência de Deus.

“[...] não há nada tão incrivelmente improvável como o próprio Universo, entre todos os possíveis universos que poderiam ter existido. [...] então é mais do que provável que Deus exista e seja responsável por este Universo.” P. 17.

Nossa suposta mente não causa nada.

“Porque mentes e corpos parecem ser tipos bem diferentes de entidades. Por exemplo, coisas físicas (como nosso cérebro) têm propriedades espaciais, ao passo que as coisas mentais não. E como pode existir possíveis interações causais entre coisas espaciais e não espaciais? Afinal, coisas físicas comuns exercem influência causal por contato ou colisão. Uma bola de bilhar em movimento colide com uma segunda e a coloca em movimento. Mas a mente, não sendo espacial por natureza, nunca poderia literalmente fazer contato ou colidir com qualquer coisa física. Então, como exatamente os eventos mentais causam os físicos e vice-versa? Como podem as sacudidas do cérebro causarem percepções e os pensamentos levarem os braços físicos a pegarem o telefone se literalmente nenhum fez contato com o outro?” P. 28.

Deus pode criar uma pedra que não possa levantá-la? Não importando a resposta, a conclusão é que Deus não existe.

“[...] uma das primeiras propriedades que os crentes atribuem a Deus é que Ele é onipotente ou todo-poderoso, o que significa que não há nada ou não poderia haver nada que Deus não pudesse fazer. E é aqui que [vai] [...] a pergunta: [...] Deus pode criar uma pedra tão pesada que nem Ele mesmo pode levantá-la? Só existem duas possíveis respostas aqui: sim ou não.

Suponha, primeiro, que digamos não. Mas aí há algo que Deus não pode fazer: criar essa pedra. E se há algo que Ele não pode fazer, então Ele não é, afinal, onipotente.

Portanto, respondemos que sim. Se Deus pode criar uma pedra assim, então poderia existir uma pedra tão pesada que Ele não poderia levantar. Dessa maneira, haveria algo que Deus não pode fazer, que é levantar essa pedra, e se há algo que Deus não pode fazer mais uma vez, Ele não é onipotente, afinal. Alguns tentam evitar essa conclusão insistindo que Deus simplesmente nunca faria essa pedra, então nunca existiria, na verdade, algo que Ele não pudesse fazer. Mas isso não funciona.

Para ser onipotente, não é suficiente que não exista nada que Ele não pudesse fazer. Em vez disso, não poderia nem possivelmente existir algo que Ele não pudesse fazer. E se Ele pode criar essa pedra – mesmo que não crie –, então poderia existir algo que Deus não pode fazer, que é levantá-la. Como sim ou não são as únicas respostas e as duas levam à mesma conclusão, então, de todas as maneiras, não existe ser onipotente. Assim, se Deus deveria ser onipotente, a conclusão é que não existe Deus.” P. 34.

Relativismo cultural: certo e errado são contingentes a cultura.

“Há tremendas diferenças morais no mundo. Em várias culturas, é moralmente certo decidir os casamentos para os filhos, suprimir a diferença política para harmonizar o grupo e que as mulheres tenham menos status que os homens; no Ocidente, isso tudo está errado. Em algumas culturas, existe ainda a obrigação moral de circuncidar filhas, ao passo que o rótulo de ‘mutilação genital feminina’ diz muito bem o que os ocidentais pensam da prática. Ao mesmo tempo, muitos aspectos da cultura ocidental são vistos como moralmente objetáveis em outras partes, seja o materialismo e o consumismo, a ênfase no individualismo, seja a falta de pudor ao se vestir, e por aí vai. O que devemos fazer com essas diferenças? Existe alguma forma de determinar, em face de tantos desacordos morais, quem está certo e quem está errado?

Até onde o filósofo em mim pode ver, a moral não existe no mundo da mesma forma que os fatos científicos ou matemáticos existem. Estes últimos existem de maneira independente dos seres humanos e são, assim, coisas que precisamos descobrir; consequentemente, todas as culturas concordam com elas. A moral, ao contrário, não é algo descoberto, mas algo inventado por diferentes grupos em diferentes momentos e lugares. E como com qualquer invenção, depende inteiramente do inventor decidir o que entra e o que fica de fora. Culturas diferentes podem estabelecer as regras morais que quiserem, e cada cultura é o único juiz do que é certo e errado dentro daquela cultura. Por esse motivo, ninguém está na posição de julgar a moral de outra cultura.

Quem pode dizer quem está certo e quem está errado quando as culturas discordam sobre a moral? Todo mundo e ninguém, pois todo mundo pode opinar sobre a moral da própria cultura, mas ninguém pode opinar sobre a do outro.” P. 55.

Não temos acesso direto a realidade.

“Não há forma de falar como as coisas ‘realmente’ são. Só podemos dizer como as coisas parecem ser em diferentes circunstâncias. Ainda mais importante, para dizer que nossa percepção visual de uma coisa é precisa teríamos de comparar essa percepção com a coisa em si. Mas como podemos fazer isso? Sempre que olhamos para algo, tudo que temos é outra percepção dela, nunca a coisa em si!” P. 57.

Nascemos com ideias e conceitos inatos.

“Com certeza, muito do que aprendemos sobre o mundo se dá por meio da experiência sensorial. Isso pode tentá-lo a pensar que no nascimento nossa mente como uma lousa em branco: vazia de conteúdo, esperando para ser preenchida pelas experiências. Mas enquanto nosso corpo está realmente nu ao nascermos, nossa mente não está: chegamos a este mundo com um saudável estoque de ideias inatas.

A prova é o fato de que quando adultos somos possuídos por ideias de que a experiência sensorial em si simplesmente não poderia nos fornecer. Há conceitos morais, por exemplo, como ‘certo’ e ‘errado’. Como vimos, nossos sentidos não estão simplesmente equipados para detectar esse tipo de coisa: nossos olhos só veem luz e cor, não ‘certo’ e ‘errado’.

Há conceitos matemáticos. Não estamos falando dos avançados; até mesmo os acessíveis, como os números, devem ser inatos. Porque, apesar de podermos ver três laranjas ou três árvores, nunca literalmente vemos o número três propriamente dito. Na verdade, como já notamos, os números parecem ser conceitos em nossa mente que aplicamos ao que vemos, não conceitos que tiramos do que vemos.

E, finalmente, há a ideia de Deus. Você pode não acreditar na existência de Deus, mas ainda possui o conceito, quer dizer, o de um ser infinito. Mas o conceito de infinidade certamente não vem da experiência sensorial, porque tudo que experimentamos é finito.

A experiência, então, pode nos dar muitas coisas. Mas não nos dá o que já temos dentro de nós – incluindo o infinito.” P. 105.