Se não bastassem as mortes que os grandes cartéis de drogas mexicanos provocam, estes agora estão inspirando toda uma cultura de entretenimento musical que os exaltam e os colocam como grandes heróis e ídolos que devem ser admirados, copiados e seguidos.
Esse documentário vem mostrar o submundo dessas músicas repletas de violência e sua influência sobre os jovens mexicanos e até mesmo norte-americanos, incutindo-lhes uma visão distorcida e “benigna” do narcotráfico. Igualzinho o que os vários cantores de funk e rap fazem nas periferias do Rio de Janeiro e São Paulo.
Para a infelicidade da sociedade mexicana, essas crianças, adolescentes e jovens, aderem numa boa às letras dessas músicas e até almejam serem como esses traficantes um dia. As meninas desejam serem suas mulheres, e os meninos querem ter sua AK-47 impondo respeito e temor. Lamentando essa triste situação, a Jornalista Sandra Rodrigues diz:
“Todo mundo canta essas músicas falando em corpos decapitados, matanças com AK-47. E quando começo a ouvir esses narco corridos do Movimiento Alterado, eu fiquei perplexa. Nem imaginamos como isso se arraigou fundo em nossas mentes e cultura. Para mim, é um sintoma de como estamos derrotados como sociedade. A molecada quer ficar parecida com os narcos. Para mim, é porque eles representam uma ideia de sucesso, poder, impunidade e poder sem limites. Se você pode matar uma pessoa, então tem poder sem limites”.
A realidade é bem feia e drástica. O resultado do tráfico de drogas nas cidades mexicanas são os mais devastadores possíveis. Richi Soto, investigador criminal, revela dados assustadores desse câncer na sociedade mexicana:
“Ciudad Juaréz sempre foi uma cidade perigosa. No ano de 2007, contabilizamos 320 homicídios. Pouco depois, a guerra contra o tráfico chegou à cidade. Em 2008, contabilizamos 1.623 casos de homicídios. Em 2009, houve 2.754 assassinatos. 3.622 pessoas foram assassinadas em Ciudad Juaréz em 2010. Em El Paso, Texas, do outro lado do rio bravo, houve apenas 5 homicídios nesse mesmo ano”.
Desses vários assassinatos, praticamente nenhum é de fato resolvido, e os assassinos presos e punidos. A Sandra Rodrigues, mais uma vez diz:
“Temos contado estatisticamente, por exemplo, o Sistema de Controle e Aplicação da Justiça, verificamos que de 100 crimes, por exemplo, homicídios, apenas 3 avançam um pouco na investigação até chegar aos tribunais, desses, um número ainda menor se constata que a pessoa, o suposto responsável, é culpado ou punido. Falamos de 97% ou mais dos casos sem solução de todos os 10.000 homicídios ou mais, que foram registrados nos últimos 4 anos. Nenhum desses sofreram punições, e isso incentiva a outros, e outros, e outros a cometerem delitos, pois não há punições”.
O documentário, em seu final, traz estas palavras comoventes do investigador criminal, Richi Soto:
“Dirijo pelas ruas e vejo as pessoas sem esperança. Ouvem as sirenes e nos veem como anjos da morte. Vejo as ruas cheias de medo. Chorando por... Os jovens perderam os valores e agora estão vivendo... [...] Aqui tem um cheiro... Um cheiro ruim. Cheira a sangue. Cheira a morte".