quarta-feira, 24 de maio de 2017

Livros Lidos (26)


Pense num circo de horrores. É este livro. Li num certo lugar, aqui na web, que um Psiquiatra aconselha as pessoas não lerem essa pérola de Rebecca Brown. Motivo? Várias pessoas ficaram com problemas psicológicos seríssimos, devido a leitura de Ele Veio Para Libertar Os Cativos. Posso dizer uma coisa com convicção: por mais que eu seja incrédulo ao conteúdo dessa obra, que considero mentirosa e fruto das loucuras e charlatanice da Brown, tenho plena empatia pelas pessoas crédulas - evangélicas bem bobinhas, diga-se de passagem, que o lerem. As páginas do livro têm o poder de impressionar quem vai lê-lo com mente já predisposta a acreditar. As superstições das igrejas pentecostais/neopentecostais, dos quais são a maioria dos leitores deste livro, já pavimentou o caminho para a aceitação dos absurdos ditos nele. É um conteúdo pesado, de fato, apesar de ridículo. A ideia que o livro passa é que o diabo e seus empregados têm um poder quase absoluto sobre tudo na vida. A natureza da realidade é está. Ontologia das mais precárias. Aí o crentelho que o lê, fica perturbado. Daria um assustador filme de terror.


Esse foi o segundo livro da Brown que li. Agora ela arranjou um comparsa para inventar mais mentiras. O livro é semelhante ao primeiro, aí de cima. Histórias e mais histórias que ela diz ter passado com as forças infernais. Felizmente muitas igrejas evangélicas não dão a mínima para o que ela diz. Eu dou. Aqui estou eu, escrevendo sobre essa merda.


Outro. Neste, ela começa falando sobre visões proféticas, que jura, que Deus lhe deu. Um ponto positivo é que num determinado capítulo, ela critica a teologia da prosperidade. Mas não compensa o caráter fantasioso e lendário de todo o resto.


Esse é hilário. Não que os outros também não sejam, para quem os lê como ficção, como os li. Mas olha as dicas da mulher e de seu marido. Ungir o seu computador com óleo de cozinha, caso não tenha o óleo ungido da igreja, para conter quaisquer avanços do diabo, que pode chegar na sua vida, pela web; o negócio é bloquear todos caminhos que o capeta possa usar para destruir a sua vida.


Esse aqui é antigo. Está no mercado editorial há bem mais tempo que os livros anteriores. Os autores relatam terem presenciando várias manifestações demoníacas, e defendem que a esquizofrenia é causada por espíritos malignos. Lasquem-se a Medicina e os estudos científicos. Uma das piores doenças mentais pode ser resolvida com orações de exorcismos.  

Refém do Diabo

Recentemente terminei um livro sobre os exorcismos do falecido padre Gabriele Amorth, a maior autoridade católica em expulsar o demônio das pessoas. Para não perder o costume, em complemento, temos neste documentário, a história do ex-jesuíta, o padre Malachi Martin, que descontente com os rumos do Concílio do Vaticano II, na década de 1960, vai para Nova Iorque, e nesta cidade, começa a escrever livros e fazer exorcismos. Ele já é morto, morreu em 1999. Mas deixou um legado para quem acredita que o diabo está mais vivo do que nunca e que está fazendo o seu trabalho de destruir vidas muito bem. Para conter o trabalho sórdido do inimigo de Deus e dos humanos é preciso estar preparado para expulsá-lo das pessoas que ele oprime e incorpora. Malachi Martin passou a sua vida ensinando que o diabo existe, o inferno existe, possessões existem. De acordo com ele, muitos, mas muitos padres mesmos, já não acreditam faz tempo, nessas coisas. Mas ele insiste: estão nas escrituras, Jesus falou delas.

Indo para o exorcismo propriamente dito: uma coisa facilmente percebida entre os exorcistas católicos é que eles dizem que suas sessões de exorcismos podem durar anos, meses, semanas, dias e horas com uma mesma pessoa. Dependendo do grau em que ela esteja envolvida com o mal, um exorcismo não adiantará muita coisa. Eles usam toda uma parafernália de objetos sagrados para auxiliá-los na hora de enfrentar o capeta. A água benta, crucifixos, livros com orações já prontas, estão entre os principais artefatos usados em seus rituais.

Em contraste, nas expulsões de espíritos malignos realizadas pelos pastores pentecostais, a coisa é bem mais simples, rápida e eficiente, caso o fiel cristão que irá expulsar o diabo, esteja em dia com Deus, mediante uma vida consagrada de oração, santificação e jejum. Se esses requisitos estiverem preenchidos, segundo eles, não há legião ou exército de demônios que resista, quando eles os expulsarem em nome Jesus. Dura minutos ou segundos, e a pessoa liberta, entregando a sua vida a Deus, não precisará de mais nenhuma sessão de exorcismo para obter sua cura total, pois já estará curada.

Percebe-se uma diferença gigante entre os dois grupos de soldados contra Lúcifer. O primeiro bem menos eficiente e moroso. O segundo, ágil e sem delongas em vencer o diabo. Em teoria, o grupo pentecostal parece estar numa maior sintonia com o que Jesus e os seus apóstolos realizaram no primeiro século. Não vemos nem Jesus e nem os seus discípulos demorando horas e até anos para libertarem as pessoas da possessão maligna, e pior, não há indicações de que os futuros exorcistas de eras posteriores teriam tantas dificuldades quanto os padres católicos têm para mandar os demônios para o quinto dos infernos.

Lendo o livro do Gabriele Amorth, vendo este e outros documentários produzidos sobre os exorcismos católicos, fica claro, que o demônio deita e rola com os padres e com as vítimas das quais estão possuindo, e que a coisa quase fica empatada, entre ele e Deus. Passa uma ideia de uma eterna luta entre o bem e o mal, em que nenhum no final das contas sairá vencedor. Sinceramente, é um deus fraco, o invocado pelos católicos.

Devo salientar que com isso, não estou legitimando e nem aplaudindo os supostos exorcismos praticados pelos pentecostais. Não lhes dou crédito. Apenas vejo uma discrepância enorme sobre o que Jesus e seus apóstolos fizeram e o que fazem hoje os padres com seus supostos enfrentamentos contra o mal.

Sou bastante cético em relação aos dois. Ambos os grupos já deram evidências de sobra do quanto representam muitas coisas tolas e imundas.

Com isso, não quero dizer que descarto a existência do mal. E nem descarto, que existam padres e pastores comprometidos que fazem trabalhos sérios de ajuda aos mais oprimidos. O demônio pode existir, mas não temos provas concretas dele e nem de sua atuação. Prefiro ficar mais alinhado com o ceticismo da comunidade médica e científica. Embora alguns, ou muitos desta comunidade já não sejam céticos quanto ao demônio, exatamente por passarem por sérias experiências que lhes deixaram sem outra alternativa. E há ainda a visão dos Parapsicólogos que dão uma visão alternativa aos fenômenos de possessão.

E pra não ficar só na crítica a igreja católica, ela é muitíssimo mais prudente que os evangélicos pentecostais, que adoram ver o demônio e sua atuação em quase tudo. O catolicismo tem muito mais cautela nessas questões, visto que dá muita importância ao que a Psiquiatria diz sobre doenças mentais. A igreja católica rejeita quase todos os casos de pessoas que lhes procuram dizendo que estão com o diabo no corpo, pois sabe que são pessoas que precisam apenas de tratamento psicológico e psiquiátrico. Pentecostais/neopentecostais, não, eles são apaixonados pelo chifrudo, adoram ter contato com ele. Eu também adoro: lendo e vendo documentários e filmes que falam dele.