terça-feira, 20 de setembro de 2016

Criacionismo: Verdade ou Mito?


HAM, Ken. Criacionismo: Verdade ou Mito? Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

Livro produzido pela instituição norte-americana Respostas em Gênesis, que tem por finalidade provar que a Teoria da Evolução não tem nenhum poder epistêmico para explicar a vida biológica, colocando em seu lugar o Criacionismo Bíblico da Terra Jovem.

Coitados!

Se a Teoria da Evolução não estiver correta, não será a concepção imaginativa patrocinada por esse livro que irá substituí-la. 

O pior é que os autores são Cientistas, ora com Doutorado, ora com Mestrado. Isso só prova uma coisa: titulação acadêmica, embora tenha o seu devido e reconhecido valor, não imuniza ninguém, contra idéias tolas. 

Os escritores dessa obra juram que o universo, os seres humanos, os animais, plantas, bactérias, vírus etc., têm apenas 6 mil anos de existência. É uma saraivada de besteira em quase todas as páginas. 

A capa parece daqueles livros infantis, cheios de ilustrações coloridas para entreter as crianças. Seria até melhor que assim o fosse. 

Mas estou com eles num ponto: na crença de que existe um Deus que criou toda essa bagaça aqui. E algumas pouquíssimas coisas que escreveram são válidas.

Ken Ham, Bacharel em Ciência Aplicada pelo Instituto de Tecnologia de Queensland, na Austrália, e Jason Lisle, Ph.D em Astrofísica na Universidade do Colorado, EUA, perguntam:

“De todo modo, é lógico aceitar a existência de um Ser eterno? Será que a ciência moderna, que produziu nossa tecnologia de computadores, o ônibus espacial e os avanços médicos, pode sequer levar em conta essa noção?” P. 11.

Acredito que pode.

Uma das questões que mais os inimigos de Darwin têm trazido para o debate público é o problema da perda de informação genética nas mutações. Lee Spetner, Ph.D em Biofísica pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, é chamado a falar:

“Não foi observada nem uma única mutação [uma das molas propulsoras da evolução] que acrescente um pouco de informação ao genoma. Isso, com certeza, mostra que não existem as milhões sobre milhões de mutações potenciais que a teoria exige. Pode bem não haver nenhuma mutação. O fracasso em observar até uma mutação que acrescente informação é mais apenas o fracasso em encontrar sustentação para a teoria; é uma evidência contra a teoria. Temos, aqui, um sério desafio para a teoria neodarwinista.” P. 19.

Werner Gitt, especialista em Teoria da Informação e Diretor do Instituto Federal e Tecnologia em Brunsvique, Alemanha, também é outro que toca nesse ponto:

“Essa noção é central nas representações de evolução, mas as mutações só podem causar mudanças em informação existente. Não pode haver multiplicação na informação, e os resultados, em geral, são prejudiciais. Não podem surgir novos códigos, para novas funções nem novos órgãos; as mutações não podem ser a fonte de nova informação (criativa).” P. 19.

Se nos processos de mutação, necessariamente se perde informação genética, como é possível acontecer à transformação de uma espécie mais simples (em termos genéticos) para uma mais complexa? Parece que deve haver mais informação! Não obstante, é exatamente a via oposta o que ocorre nos processos mutacionais, sendo estes benéficos ou perniciosos. 

Não sou Biólogo, na verdade, sou bem LEIGO, mas essa questão parece ser bem intrigante. Em conversa com o Filósofo Marcus Valério, conhecido por sua intrépida e bem sucedida defesa da evolução, ele me disse que esse papo de “origem e aumento da informação” é pura bobagem criacionista, se constituindo em seu “quinto estágio de desenvolvimento” na guerra contra a Teoria da Evolução. 

Terry Mortenson, Ph.D em História da Geologia na Conventry University, Reino Unido, revela uma das crenças chaves do criacionismo defendido no livro:

“[...] informações cronológicas da Bíblia deixam evidente que a semana da criação aconteceu há cerca de apenas 6.000.” P. 32-33.  

Pois é, até pessoas com formação acadêmica acreditam que a Terra e o Universo têm apenas 6 mil anos de existência. Esse tipo de declaração só atrapalha a relação entre Ciência e religião. O pressuposto fundamental desses criacionistas é que se a Bíblia é um livro inspirado pelo próprio Deus, então todo o empreendimento científico deve estar submetido a ela. Se a Ciência moderna entra em conflito com a interpretação que eles têm do Gênesis, é claro que essa “ciência” não é Ciência coisa alguma, mas erros de homens que estão comprometidos com falsas pressuposições.

Sobre a biogênese, um dos autores, Jason Lisle, Ph.D em Astrofísica na Universidade do Colorado, EUA, escreve:

“Há uma lei da vida bem conhecida: a lei da biogênese. Essa lei simplesmente afirma que a vida sempre vem da vida. É isso que a ciência observacional nos diz; os organismos reproduzem outros organismos segundo sua própria espécie. Historicamente, Louis Pasteur refutou uma forma de geração espontânea; ele demonstrou que a vida vem da vida anterior. Desde essa época, percebemos que essa lei é universal - e não conhecemos nenhuma exceção a ela. Claro que isso é exatamente o que esperaríamos da Bíblia. De acordo com Gênesis 1, Deus criou de forma sobrenatural os primeiros tipos diversos de vida sobre a Terra e os fez produzir segundo sua espécie. Perceba que a evolução de moléculas para o homem viola a lei da biogênese. Os evolucionistas acreditam que a vida foi formada (pelo menos, uma vez) de forma espontânea a partir de matéria química nao-viva". P. 44.

Ele comete alguns equívocos bem evidentes. A lei da biogênese diz apenas que vida física só pode ser gerada por outra vida FÍSICA. Sendo assim, pelo menos a princípio, ela contraria tanto o criacionista, como o evolucionista. O próprio Lisle diz "que essa lei é universal - e [que] não conhecemos nenhuma exceção a ela". Mas logo em seguida, ele afirma uma exceção à mesma: Deus, um ser espiritual e, portanto, não físico, criou todas as formas de vida. Portanto, esse argumento precisa ser reformulado. Outros elementos científicos, e uma boa injeção de filosofia são precisos para que o argumento dele seja válido, consistente e coerente. Por enquanto, sua conclusão não se segue das premissas.

Lisle costuma sempre invocar as Leis da Lógica em suas investidas contra o ateísmo. 

"É possível imaginar um universo no qual as leis da física sejam diferentes; mas é difícil imaginar um universo (consistente) no qual as leis da matemática sejam diferentes. As leis da matemática são um exemplo de 'verdade transcendente'. [...] Todas as leis da natureza, da física e da química à lei da biogênese, dependem das leis da lógica. As leis da lógica, como as da matemática, são verdades transcendentes. Não se pode imaginar que as leis da lógica poderiam ser algo distinto do que são. [...] Sem as leis da lógica, o raciocínio seria impossível. P. 48, 49.

Agora esse infeliz acertou. Os filhotes de Foucault só faltam ter um infarto, quando ouvem isso. Que tenham. 

Lisle em seguida pergunta:

"Mas de onde vem as leis da lógica? O ateísta nao pode explicar as leis da lógica, embora possa aceitar que existam a fim de ter algum pensamento racional." P. 49.

Num mundo estritamente material, como as leis da lógica, que são imateriais poderiam existir? 

Monty White, Ph.D em Química na Universidade de Aberystwyth, Reino Unido, trás o repetido, porém, relevante problema dos fósseis:

"Não se pode exagerar o fato de que há muitos locais no registro fóssil em que se poderia esperar que encontrássemos essa abundância de formas intermediárias - porém, elas não estão lá. Todos os evolucionistas sempre apontam um punhado de formas transicionais altamente questionáveis (por exemplo, equinos), ao passo que deveriam ser capazes de nos mostrar milhares de exemplos incontestáveis". P. 306.

Geralmente os evolucionistas quando ouvem que o registro fóssil é uma evidência contrária a evolução gradualista, dizem que os criacionistas estão sendo desonestos, pois já foram encontrados vários fósseis intermediários. Entretanto, o evolucionista Eugene Koonin, Ph.D em Biologia Molecular na Universidade Estadual de Moscou, Rússia, estaria sendo desonesto quando fez está afirmação?

“As principais transições em evolução biológica mostram o mesmo padrão de súbita emergência de diversas formas em um novo nível de complexidade. As relações entre os principais grupos dentro de uma nova classe de entidades biológicas emergentes são difíceis de decifrar e não parecem encaixar no padrão de árvore que seguindo a proposta original de Darwin, permanece a descrição dominante da evolução biológica. Os casos em questão incluem a origem das moléculas complexas de RNA e os desdobramentos das proteínas; os principais grupos de vírus; árquea e bactéria; e as principais linhagens dentro de cada desses domínios procarióticos; os supergrupos eucarióticos; e os filos animais. Em cada uma dessas conexões importantes na história da vida, os ‘tipos’ principais parecem surgir RAPIDAMENTE e PLENAMENTE equipados com as características de assinatura do respectivo novo nível de organização biológica. ‘GRAUS’ ou FORMAS INTERMEDIÁRIAS DIFERENTES ENTRE OS TIPOS NÃO SÃO DETECTÁVEIS”. (Ênfase acrescentada). P. 87-88.

(MAGALHÃES, Francisco Mário Lima. Design Inteligente: A Metodologia de Convergências das Ciências Sob a Ótica da Criação. São Paulo: Reflexão, 2014). 

Bodie Hodge, Mestre e Bacharel em Engenharia Mecânica na Universidade do Sul de Illinois, a exemplo de Lisle, fala sobre o pepino que os ateus têm diante da imaterialidade das Leis da Lógica.

 “[...] a lógica não é uma entidade material, por isso ela se torna um problema para o ateísta materialista que nega o reino imaterial. De uma perspectiva materialista, o pensamento lógico é a mesma coisa que o pensamento ilógico – apenas uma reação química que ocorre dentro no cérebro. Assim, de um ponto de vista materialista, a percepção da lógica deve-se a um processo aleatório. [...] em uma visão de mundo puramente materialista, não há base para existir lógica nem verdade, uma vez que elas são imateriais”. P. 217.

É isso mesmo! Como disse no início, estou com eles na crença de que existe um Deus. Um ser superior que trouxe tudo à existência: o cosmos e a vida biológica. Algumas objeções que eles lançaram contra a Teoria da Evolução, acho que são válidas. Mas a avalanche de besteiras que escrevem, é de espantar!

Repetindo o que escrevi lá em cima, aqui vai uma lista básica do que ensinam:

Universo – surge há 6 mil anos;

Humanidade – surgiu há 6 mil anos;

Todos os animais e plantas - surgiu há 6 mil anos;

Homens e dinossauros - foram contemporâneos;

Idiomas – surgem de uma hora pra outra na Torre de Babel;

Dilúvio de Noé – explica toda geologia do planeta.

Para defender todos esses pontos fazem uma mistura descarada e cara de pau de suposta ciência e teologia. Quando convém, usam a ciência, quando ela não pode lhes ser útil, invocam a Deus, e assim, vão construindo o seu “criacionismo científico”. Dessa maneira, convencem os incautos de suas igrejas.

Felizmente, grandes mentes cristãs protestantes, entre Teólogos, pastores, Filósofos e Historiadores, discordam veementemente deles.  

Fiquei impressionado com esse trecho:

“O ministério Answers in Genesis (AiG [Respostas em Gênesis]) afirma continuamente que alguém pode ser cristão independentemente de sua posição em relação à idade da Terra ou evolução. Todavia, esses cristãos, como a AiG também indica, não estão sendo coerentes.” P. 212.

Um mínimo de bom senso pelo menos. Tiveram a decência de não condenar ao inferno, quem discorda deles. Ate quem é evolucionista pode ser cristão.

Um criacionista vendo essa postagem pode disparar: “Você ainda não refutou com provas nenhuma afirmação que os autores fazem nesse livro.” Respondo: E precisa? Eles não mostraram absolutamente nenhuma evidência concreta, apenas especulações fantasiosas. Até cristãos conservadores, como Norman Geisler, William Lane, Hugh Ross, Bruce Waltke, Timothy Keller, entre outros, já escreveram livros e artigos refutando-os. Boa retórica não prova nada.

Respondendo a pergunta que o título faz:

O criacionismo é verdade ou mito?

O criacionismo defendido pelo Ham e seus coleguinhas é MITO.