BRAKEMEIER,
Gottfried. Ciência ou Religião: quem vai conduzir a história? São Leopoldo:
Sinodal, 2006.
“Quem sabe pouco amiúde está
convicto de que a ciência vai refutar a religião. Quem, porém, de fato sabe
muito enxerga que a cada passo se aproxima de uma concepção correspondente à da
religião.” P. 27. –
Jean Guitton, Ph.D em Letras pela Escola Normal Superior de Paris, membro da
Academia Francesa.
Existe um
antagonismo intrínseco entre Religião e Ciência? Ambas precisam estar em pé
de guerra eternamente? Uma exclui compulsoriamente a outra? Levar a sério as
duas é entrar em contradição? A Religião sempre foi um entrave aos avanços dos
conhecimentos sobre o mundo natural? A igreja sempre atrapalhou, e continua
imperrando os caminhos da Ciência?
Fato é que
muitos igrejas no passado tiveram e ainda têm um sentimento de desprezo doentio
pela Ciência, quando está faz afirmações que vão contra os seus dogmas. A irracionalidade
ainda é muito visível entre muitas pessoas ligadas a certas igrejas. Aqui no
Brasil, principalmente nas igrejas de tradição pentecostal/neopentecostal. A
igreja católica, apesar de ser moderada e promover o conhecimento científico, mediante a Academia do Vaticano e Universidades, ainda possui algumas crenças que precisam ser
revogadas. Brakemeier (Ph.D em Teologia na Universidade de Gotinga, Alemanha) escreve:
“A história da relação entre religião
e ciência tem sido marcada por rivalidade e acontecimentos traumatizantes.
Produziu mártires, a exemplo de Giordano Bruno (1548-1600), condenado pela Inquisição
da Igreja Católica, torturado e queimado vivo por sua resistência em
retratar-se no que dizia respeito às suas convicções copernicanas. Não menos
escandalosa é a perseguição de que se tornaram vítimas muitos cientistas por
partes de grupos protestantes, na maioria fundamentalistas. Foram coagidos a
renunciar a cargos e direitos, sofreram difamação, foram hostilizados”. P. 10.
Mas nem
sempre foi e é assim!
“Ainda assim, a imagem de
permanente guerra entre esses gigantes, que são a religião e a ciência, é
falsa. Ela peca por uniteralidade e omissão de fatos. Há que se lembrar que as
novas conquistas científicas sofreram contestação inicial não apenas por parte
de teólogos e pessoas ‘crentes’. Eram controvertidas entre os próprios
cientistas. É o que costuma acontecer quando do lançamento de novas teorias. São
recebidas em compasso de espera e apreciação. Ademais, é notável que os
pioneiros, em sua esmagadora maioria, eram cristãos convictos e consideravam a si mesmos filhos fiéis da igreja. Aplica-se a isso tanto a católicos como a
protestantes”. P. 11-12.
“[...] ciência e fé não são
inimigas ‘naturais’. Ainda hoje não faltam exemplos ilustres de cientistas
declaradamente cristãos. Há que se ouvir com atenção o seu testemunho.” P. 12.
O exemplo
desses ilustres Cientistas estão presentes no livros “Verdadeiros Cientistas,
Fé Verdadeira” e “O Teste da Fé”, resumidos neste blog:
Aquilo que
já foi contado às dezenas de vezes aqui: a Ciência moderna surge impulsionada pela
visão judaico-cristã. Os Cientistas cristãos na certeza de que o mundo natural pode ser
estudado e escrutinado, porque um Deus pessoal todo-poderoso o criou, foram os
precursores do conhecimento científico na modernidade. O mundo não era um caos;
não era o próprio Deus; era apenas a criação desse Deus e, descobrir os seus
mecanismos era uma das formas de servir e adorar o Divino.
“[...] o desenvolvimento das
ciências naturais teve o ambiente cultural cristão como premissa indispensável.
Foi somente no mundo ocidental que elas conseguiram desabrochar”. P. 12.
Mas todos
sabemos que os gregos pagãos, muito antes do Cristianismo e da idade moderna, foram
exímios Filófosos naturais, que deram grandes contribuições para conhecimento
da natureza. Egípcios, babilônios, chineses e indianos, de muitos séculos atrás,
por exemplo, fizeram descobertas extraordinárias, inclusive na Biologia,
Medicina, Matemática... Por que parece que o crédito só vai para o ocidente cristão, ou a maior fatia do bolo vai para a Europa cristã? Eis a
resposta:
“Evidentemente, pesquisa científica
não é nenhuma invenção cristã. Ela tem notáveis precursoras na antiguidade, na
Babilônia, no Egito, na China e, principalmente, na Grécia. [...] Todavia, as
ciências antigas, muito antes do advento da igreja cristã, como que atolaram. Ficaram
trancadas. A concepção heliocêntrica, por exemplo, pareceu por demais
complicada aos gregos para ser verídica. Prevaleceu a geocêntrica, defendida
por Hiparco ( 190-126 a. c.) e Ptolomeu (por volta de 140 d. c.). As causas, porém, são mais profundas. Residem essencialmente
no pensamento ontológico grego, atemporal, estático. Buscava a harmonia do
cosmo, mas não tinha olhos para a dinâmica das transformações na natureza. Enquanto
isso, o pensamento judaico-cristão, que enxerga a história mover-se em direção
a um fim último, ‘escatológico, possibilitou um novo olhar, favorável a análise
científica da natureza.
[...] Essa tradição judaico-cristã ‘desencantou’
a natureza. Procedeu a um ‘desendeusamento’, respectivamente a uma ‘demonização’
radical das forças naturais. Essas já não mais seriam nem divinas tampouco
demoníacas. São destituídas de atributos mágicos, mitológicos e religiosos. Sol,
lua, estrelas, oceanos, terra, tudo passa a ser ‘mundo’, criação, e por isso,
objeto de estudo. Consiste nisso um dos grandes propósitos da história da
criação no livro de Gênesis, a saber: a ‘demitologização’ da natureza. Proclama
o universo como obra de Deus, distinguindo entre criador e criação. A natureza
não merece adoração, muito embora deva ser respeitada como dom divino. É claro
que não há clima propício as ciências naturais enquanto se atribui qualidade
divina a seu objeto de pesquisa.” P. 12, 13.
Em relação
aos países muçulmanos, algo semelhante aconteceu.
“Também a cultura islâmica conheceu
uma era árdua das ciências, da qual o mundo ocidental é devedor. Situa-se entre
os séculos IX e XII da nossa era. São de origem árabe, por exemplo, os
algarismos mundialmente usados hoje. Sem eles, somente à base dos antigos
algarismos romanos, são inimagináveis o desenvolvimento da matemática e a
explosão da ciência na modernidade. Todavia, também a ciência muçulmana
estagnou. Não teve continuidade. Atualmente, a relação entre ciência e religião
islâmica parece carecer de nova definição. Há quem diga que ‘o islã e a ciência
continuam a ser zonas de discursos separados e não sobrepostos para a maioria
dos muçulmanos, mesmo para os cientistas muçulmanos”. P. 14.
O livro logo
nas primeiras páginas já nos traz todo esse arsenal de informações.
Outros trechos
interessantes:
“Ora, a ciência não conseguiu
aniquilar a religião. O vaticínio de integral secularidade da sociedade moderna
não se cumpriu. Pelo contrário, fervor religioso renasce com vigor em meio ao
mundo tecnicizado”. P. 18.
“Aliás, vale sublinhar que nem toda
religião é fundamentalista. O fenômeno religioso como tal, pois, não merece a
imagem negativa que amiúde dele se constrói. Religião não é violenta por
natureza nem aliena seus adeptos. [...] Importa julgar as religiões por seu
discurso fundante, não pelos desvios comportamentais. Em suas formas autênticas,
religião costuma desempenhar função altamente salutar, sim, terapêutica, para
as pessoas. Toda cultura repousa em bases religiosas.” P. 18.
“A ciência não conseguiu cumprir
suas promessas seculares. O otimismo histórico de outrora evaporou. O lançamento
da bomba atômica revelou em definitivo que as conquistas científicas podem ser
usadas também em desfavor da humanidade e ameaçar sua sobrevida. O feitiço
voltou-se contra o feiticeiro”. P. 20.
[...]
[...]
“Seria estúpido responsabilizar ‘a ciência’
por esse desenvolvimento. As ciências não são nada demoníaca. O sujeito
responsável sempre permanece sendo o ser humano”. P. 20.
“[A] ciência deve ser
responsabilizada. O mesmo vale, aliás, para a religião. Também ela não está
isenta da prestação de contas frente à sociedade. Religião pode degenerar e
adquirir uma natureza até mesmo diabólica. Não dispensa o exame crítico”. P. 24.
Nenhum comentário:
Postar um comentário