segunda-feira, 8 de maio de 2017

Deus não é Grande


HITCHENS, Christopher. Deus não é grande. São Paulo: Ediouro, 2007. (Versão em PDF).

E então, "Deus não é grande"? Tentei ao máximo ser empático com o Hitchens! Para ele, "Deus não é grande", até porque Deus não existe; é apenas criação nossa, reles mamíferos, com uma massa cinzenta mais aprimorada que os outros primatas, na escala evolutiva.

Minha empatia e concordância com ele, foi além daquilo que esperava. Não pensei que estaria tão sintonizado com muitas das ideias e argumentações expostas por ele, sobretudo, quando lembro que ele é tão esnobado e subestimado por muitos crentes. Não obstante, há nas páginas dessa obra, falácias, espantalhos, tendenciosidade exagerada em muitos temas tratados...

Para mim, Deus é grande! Como já disse noutras ocasiões, não consigo me desvencilhar da ideia e sentimento de Deus. Talvez uma fraqueza de meu ser - não duvido que o seja, visto que sou medroso pra cacete. Sinto um temor de um universo solitário, impiedoso e amoral. Pois é exatamente dessa maneira que o vejo repetidas vezes.

Em conversas com grandes amigos, que se interessam por tal assunto, já confessei em mais de uma ocasião, que flerto com o deísmo. Consciente de que este, pode estar a um passo da descrença. Então pensando por esse lado, minha resposta poderia estar em maior concordância com o Jornalista britânico. Mas por ora, ainda acredito que Deus se preocupa conosco, a despeito de não ver muita evidência disso num mundo tão caótico quanto esse em que estamos condenados a viver.

As postagens do livro que fiz, foram para mostrar um pouco do que o autor pensa. Não quer dizer que endossei todo o conteúdo delas, apesar de ter passado essa impressão. Subscrevo-as até certo ponto.

Deus é grande sim!

Hitchens é um ateu, que acredita que a religião nada tem a ver com a ética. Na verdade, ela a roubou. Podemos e devemos ser éticos sem os credos fantasiosos e nonsenses das religiões.

"Acreditamos com grande dose de certeza que é possível levar uma vida ética sem religião". P. 14.

Não poupa palavras contra a religião e seu modo de operar. Elas atrasaram e atrasam o desenvolvimento humano.

“Deus não criou o homem à sua imagem. Evidentemente foi o contrário, e essa é a explicação para a profusão de deuses e religiões e o fratricídio entre religiões e no interior delas que vemos ao nosso redor e que tanto têm adiado o desenvolvimento da civilização”. P. 16.

"Violenta, irracional, intolerante, aliada do racismo, do tribalismo e do fanatismo, baseada na ignorância e hostil à livre reflexão, depreciativa das mulheres e coerciva para com as crianças: a religião organizada tem muito em sua consciência". P. 50.

A fé é resultado natural de nossos maiores temores.

“[A fé religiosa] nunca morrerá, ou pelo menos não enquanto não superarmos nosso medo da morte, do escuro, do desconhecido e dos outros”. P. 19.

A religião, apesar de enfatizar sempre o mundo além da vida terrena, hipocritamente quer as benesses deste.

“O nível de intensidade varia de acordo com o tempo e o lugar, mas é possível afirmar como sendo verdade que a religião não se satisfaz, a longo prazo não pode se satisfazer, com suas próprias alegações maravilhosas e garantias sublimes. Ela precisa tentar intervir na vida dos não-crentes, dos hereges ou dos que professam outras crenças. Ela pode falar sobre o próximo mundo, mas quer o poder neste. E isso é de se esperar. Afinal, ela foi inteiramente feita pelo homem”. P. 23.

A Medicina e a Ciência sempre minando mais e mais o monopólio da superstição.

"A postura da religião em relação à medicina, assim como em relação à ciência, sempre é necessariamente problemática, e com muita frequência necessariamente hostil. Um crente moderno pode dizer, e até mesmo acreditar, que sua fé é totalmente compatível com a ciência e a medicina, mas o fato incômodo continuará a ser que as duas coisas tendem a quebrar o monopólio da religião, e frequentemente enfrentaram forte resistência por essa razão". P. 44.

Não existe harmonia entre conhecimento científico do mundo e proposições metafísicas vindas da religião.

"Todas as tentativas de conciliar a fé com a ciência e a razão estão condenadas ao fracasso e ao ridículo". P. 54.

O conhecimento adquirido através do labor e trabalho duro é suficiente para entendermos o mundo.

“[...] as ciências da crítica literária, da arqueologia, da física e da biologia molecular mostraram que mitos religiosos eram falsos e criações humanas, e também conseguiram produzir explicações melhores e mais iluminadas”. P. 123.

Hitchens não deixa passar os estupros praticados por vários padres, que foram criminosa e sistematicamente protegidos pela igreja.

"Apenas na década passada o Vaticano e sua vasta rede de dioceses foram obrigados a admitir cumplicidade em um enorme número de casos de estupro e tortura de crianças". P. 47.

"A inocência sexual, que pode ser encantadora nos jovens se não for desnecessariamente prolongada, é decisivamente corrosiva e repulsiva no adulto maduro. Mais uma vez, como podemos contabilizar o mal produzido por velhos sujos [padres] e solteironas histéricas [freiras], nomeados como guardiões clericais para supervisionar os inocentes em orfanatos e escolas?

A Igreja Católica Romana em especial está tendo a resposta a essa pergunta da forma mais dolorosa, calculando o valormonetário do abuso infantil em termos de indenização. Bilhões de dólares já foram gastos, mas não há preço pelas gerações de meninos e meninas que foram apresentados ao sexo das formas mais preocupantes e desagradáveis por aqueles em que eles e seus pais confiavam.

'Abuso infantil' na verdade é um eufemismo tolo para o que tem acontecido: estamos falando do estupro sistemático e da tortura de crianças, definitivamente ajudados e instigados por uma hierarquia que sabidamente transferiu os maiores criminosos para paróquias onde eles estivessem mais seguros.

Dado o que foi revelado nas cidades modernas recentemente, causa arrepios pensar no que acontecia durante os séculos em que a Igreja estava acima de críticas. Mas o que as pessoas esperam que aconteça quando os vulneráveis são controlados por aqueles que, eles mesmos desajustados e pervertidos, são obrigados a afirmar um celibato hipócrita?" P. 181.

O livro sagrado dos judeus e cristãos está cheio de crimes legitimados e ordenados pelo próprio Deus.

"A Bíblia pode ter, e de fato tem, um mandato para tráfico de humanos, limpeza étnica, escravidão, preço das noivas e massacre indiscriminado, mas não somos obrigados a nada disso, porque foi produzido por mamíferos humanos incultos." P. 86.

Tragédias acontecem, porque sim, oras. Hitchens explica que elas não é um alerta divino, castigo de Deus, ou coisa parecida. Crentes sempre se perturbam quando são acometidos por furacões, terremotos, maremotos... Perguntam o porquê de Deus fazer ou permitir tais coisas. Mas essa é uma pergunta descabida e fora da realidade.

“A colossal explosão vulcânica do Krakatoa no final do século XIX provocou uma enorme conversão ao islamismo entre a população aterrorizada da Indonésia. Todos os livros sagrados falam com excitação de inundações, furacões, raios e outros fenômenos. Após o terrível tsunami da Ásia em 2005, e depois da inundação de Nova Orleans em 2006, homens bastante sérios e instruídos como o arcebispo de Canterbury foram reduzidos ao nível de camponeses bestificados ao agonizarem publicamente sobre como interpretar a vontade de Deus na questão.

Mas se a pessoa faz a suposição simples, baseada em um conhecimento absolutamente certo, de que vivemos em um planeta que ainda está resfriando, tem um núcleo fundido, falhas e rachaduras em sua crosta e um sistema climático turbulento, então simplesmente não há a necessidade de tal ansiedade. Tudo já está explicado. Eu não consigo entender por que os religiosos relutam tanto em admitir: isso os livraria das perguntas fúteis sobre por que Deus permite tanto sofrimento. Mas aparentemente esse incômodo é um pequeno preço a pagar para manter vivo o mito da intervenção divina.” P. 121-122.

Sobre o racismo e escravidão moderna praticada por cristãos:

"Pregadores cristãos de todos os tipos justificaram a escravidão até a Guerra Civil Americana, e até mesmo depois, com base na suposta determinação bíblica de que, dos três filhos de Noé (Sem, Cam e Jafé), Cam tinha sido amaldiçoado e condenado à servidão.". P. 134.

"[...] o melhor que pode ser dito da Igreja na grave questão da abolição é que após muitas centenas de anos, e tendo igualmente imposto e adiado a questão até que o interesse pessoal levasse a uma guerra horrível, ela finalmente conseguiu desfazer uma pequena parte do dano e da infelicidade que tinha infligido." P. 145.

“A possibilidade de que a crença religiosa de alguém levasse a assumir uma posição contra a escravidão e o racismo era estatisticamente bastante pequena. Mas a possibilidade de que a crença religiosa de alguém o levasse a defender a escravidão e o racismo era estatisticamente bastante alta, e esse último fato nos ajuda a compreender por que a vitória da justiça simples demorou tanto tempo.” P. 146.

Hitchens acredita que as crianças são as maiores vítimas das doutrinação religiosa. Elas não têm o direito de escolher. Simplesmente são enfiadas goela abaixo as ideias destrutivas de seus pais e familiares.

"Como poderemos saber quantas crianças tiveram suas vidas psicológicas e físicas irreparavelmente mutiladas pela inculcação compulsória da fé?" P. 173. 

E sobre o inferno? Hitchens escreve:

"Nada confirma o caráter humano da religião de forma tão óbvia quanto a mente doentia que projetou o inferno". P. 174. 

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