quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Filosofia para Corajosos


PONDÉ, Luiz Felipe. Filosofia para Corajosos. São Paulo: Planeta, 2016. (Versão em PDF).

Link do livro para baixar:

http://lelivros.top/book/baixar-livro-filosofia-para-corajosos-luiz-felipe-ponde-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/

Apesar do sensacionalismo do título dessa obra, Pondé é um cara que gosto de ouvir! Sempre gostei de suas palestras e entrevistas! E agora, acabo de terminar um segundo livro de sua autoria.

Com Ph.D em Filosofia na USP, e Pós-Doutorado na Universidade de Tel Aviv, nesse seu recente livro, ele dispara todo o seu veneno contra a sociedade contemporânea, que segundo ele, é a sociedade mais hipócrita, doente e retardada da história.

É um Pondé abusado, chato, marrento, birrento, pessimista e, digo até, contraditório e marqueteiro, ou sendo mais compreensível com ele (como se ele se importasse com isso): paradoxal.

Livro bom! Livro recomendado!

Alguns trechos que julguei interessantes:

"Pensar para onde vamos depois da morte ou como nos sentimos quando sabemos que vamos morrer levanta, de cara, uma questão, entre tantas outras: por que o susto em saber que vamos morrer quando sabemos o tempo todo que vamos morrer um dia?" P. 15.

Quem é que não se caga de medo, por esse iminente dia?! Eu me cago todinho.

"E se não existir vida após a morte, tudo é permitido? E senão existir Deus, tudo é permitido? [...] Essa pergunta é muito importante porque implica o seguinte: se morro e viro pó e ninguém descobre os absurdos que fiz na vida, e não existe alguém ou algo que me faça pagar pelo que fiz nesta vida 'no outro mundo', isso significa que tudo bem matar. Será que a vergonha de fazer algo errado basta para limitar meu comportamento? Acho que não. E você? Mas o fato de, talvez, precisarmos de um 'Deus' para garantir a moral e o bem não implica a sua existência, certo? O mais legal da filosofia é você aprender a pensar sem medo das respostas.Talvez Deus não exista e ainda assim continuemos a precisar que Ele exista. Enfim, questões sem fim." P. 16.

Questão espinhosa. Muitos dos religiosos mais moralistas da história fizeram coisas horríveis em nome de Deus. Para eles, como Deus tem existência concreta, então tudo é permitido fazer, para defender a reputação dele, frente aos hereges.

“Quem nunca leu nada não tem opinião sólida sobre nada, apenas achismo, uma opinião vazia, como dizia Platão, quando fazia a diferença entre ter opinião (doxa) e conhecer algo (episteme). Conhecer demanda trabalho, conversar com outras pessoas e ler alguns livros. Na maioria dos casos, conversar com mortos. Uma opinião vazia, qualquer bêbado tem.” P. 22.

A maioria dos brasileiros. A preguiça para pensar, ler e estudar, é generalizada.

“Para dizer que existe evolução moral na humanidade seria necessário termos um critério absoluto, universal e seguro do que é certo e do que é errado. E isso não existe.” P. 36.

Existe esse critério? Os apologistas evangélicos dizem que sim. Seria o próprio Deus. Mas é difícil extrair do livro que eles dizem seguir a risca, absolutos morais.  São os que mais esbravejam contra a relativização dos valores, mas relativizam, suavizam, minimizam, atenuam, as passagens de matanças de crianças e velhos no Antigo Testamento.  

"Vale a pena ser honesto? Será? Minha tendência é achar que não. [...] Para começo de conversa, podemos suspeitar que a honestidade seja falsa ou fruto de falta de oportunidade de agirmos de outra forma. Para piorar, a verdadeira virtude é silenciosa e não faz marketing de si mesma, o que em nosso mundo dominado pelo marketing, fica difícil de ser sustentado. O mundo contemporâneo é tagarela por natureza." P. 41, 42.

Até vale. Mas até quando raramente fazemos algum ato de “caridade”, gostamos que os outros notem a nossa “bondade”. Eu sou assim. Quem sabe, não posso adquirir alguma vantagem disso no futuro, não é mesmo?!

"Essa ideia de que ser religioso implica alguma forma de carência cognitiva é comum entre pessoas que se julgam mais cultas. Tenho dúvidas de que isso seja uma verdade evidente. [...] O século XX foi mortífero não em nome de Deus, mas em nome da política. Esse é um fato que, muitas vezes, escapa aos nossos péssimos professores de história que ensinam bobagens para nossos alunos". P. 44.

Esse mito de que gente religiosa é (sempre) mais fraca intelectual e emocionalmente, ainda perdura em alguns círculos.

Pondé continua:

"Na minha experiência pessoal, acadêmica ou  na mídia, não me parece que pessoas não religiosas sejam mais sábias do que pessoas religiosas. Muita gente para de crer em Deus ou deuses e passa a crer em si mesma [...], o que acho uma bobagem ainda maior se levarmos em conta a fragilidade de nossos pequenos 'eus'." P. 44.

Independente de termos crenças religiosas ou não, somos frágeis, carentes, dependentes, egoístas, angustiados, perdidos, aflitos... Diante disso, como ter fé em nós mesmos?


“A ideia mais comum de sobrenatural é que ele seja o mundo dos mortos que se relacionam com os vivos. [...] A questão essencial aqui é: por que esses mortos 'precisam de nós, meros vivos?'. Porque não existem e são criações humanas. Esses espíritos nunca sabem além do que sabemos: precisamos amar uns aos outros, fazer menos guerra, ter menos poluição e combater o apego material. Quem precisa de espíritos do além para saber que estamos num atoleiro moral neste mundo dos vivos?" P. 57-58.

[...]

"Resta nos perguntarmos a razão de, depois de tanto conhecimento científico acumulado, tanta gente ainda se sentir atormentada e atraída por esse tipo de coisa. A primeira conclusão é que permanecemos, em alguma medida, na pré-história, amedrontados pela escuridão do mundo e de nós mesmos." P. 58.

As ladainhas do espiritismo, ainda enganam muitas pessoas. 

“Uma das perguntas que julgo mais inúteis em filosofia é se Deus existe. [...] crer em Deus é mais fruto de causas extrarracionais como educação, traumas infantis, ambiente cultural familiar, ter um 'cérebro de crente' do que pensar que crer em Deus é fruto de uma cadeia lógica de provas a seu favor. A mesma coisa vale para a descrença. Dito de outra forma, não acredito que crer em Deus seja uma coisa que você escolhe, assim como você escolhe uma marca de sabonete ou uma marca de carro com base na lógica custo-benefício". P. 58, 60.

[...]

"Acho que argumentos que tentam provar a existência de Deus são inúteis. Muita gente tenta provar a existência de Deus dizendo que o universo 'necessita' de um princípio ordenador de tudo, o que eu julgo infantil como argumento. Tudo isto aqui pode ser fruto de um grande acaso num espaço de tempo inimaginável no qual os elementos se arrumam e desarrumam, e no meio deles nós surgimos e desaparecemos. Deus existe? Eu nunca fui crente. Mas isso não me impede de julgar Deus uma hipótese elegante para a existência das coisas, uma vez que um ser como Ele me parece misterioso e interessante de conhecermos, ainda mais se for uma 'pessoa'". P. 61.

Discordo dele. A questão da existência de Deus é um ponto crucial na Filosofia.  E também não acho que os argumentos pró e contra sejam (sempre) inúteis.

E terminando as citações:

“Os alunos chegam à universidade sabendo nada, lendo nada, tendo uma opinião sobre tudo. Todos vão mudar o mundo para melhor, e os outros não querem saber de muita coisa. Claro, existem as exceções". P. 92.

Hahaha. E num é não?! Mas nem os Professores muitas vezes não sabem nem o que estão ensinando.  

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