Já estava na hora de começar a ler as obras do C. S. Lewis, uma das mentes mais brilhantes do século XX. Um intelecto perspicaz, afiado, agudo e preparado para pensar com profundidade as grandes questões que tanto inquietam a natureza humana.
Comecei pelo seu mais angustiante e doloroso livro. Onde ele relata todo o seu sofrimento em face da perda de sua amada esposa. O Lewis racional, calculista e lógico acaba sendo desnudado por uma avalanche de sentimentos de tristeza, dor e mágoa. Em conversa com o meu amigo, Pedro Mendes, eu lhe disse, que me senti diante de uma versão do século XX do velho e polêmico livro de Jó.
Lewis se revela uma alma inconformada e inconsolada perante a chegada da morte a uma pessoa que lhe era tão amada e tão querida. Ele resume o amor que nutria por ela, e a importância que Helen teve em sua vida:
“Uma boa esposa traz muitos ‘eus’ dentro de si. O que H. [Helen] foi para mim? Ela foi minha filha e mãe, minha aluna e mestra, minha súdita e soberana. Era uma perfeita combinação: minha confidente, amiga, companheira de bordo. Minha amada, mas, ao mesmo tempo, tudo o que nenhum amigo (e olha que tenho bons amigos) jamais foi para mim. Talvez até mais”. P. 69.
Em certos momentos, Lewis, se mostra completamente avesso a certas ideias idiotas e banais que algumas pessoas costumam ter:
“É difícil ter paciência com pessoas que dizem: ‘A morte não existe’, ou ‘A morte não importa’. A morte existe e, seja lá o que for, ela importa”. P. 40-41.
Ou, noutros trechos, em que ele, questiona a própria bondade e amor de Deus, parecendo rejeitar tudo em que acreditava e tanto defendia em seus inúmeros escritos e apologias.
“Não que esteja (suponho) correndo o risco de deixar de acreditar em Deus. O perigo real é o de vir a acreditar em coisas horríveis sobre Ele. A conclusão a que tenho horror de chegar é ‘então, apesar de tudo, não existe Deus nenhum’, mas ‘ então, é assim que Deus é realmente. Não se iluda’. P. 34.
De fato é um pensamento assustador. Algumas páginas à frente, ele retoma esse tema mais uma vez, reiterando que não teme um mundo sem Deus, mas um mundo em que este Ser não seja um Ente Amoroso e Compassivo.
“Não, meu verdadeiro medo não é do materialismo. Se ele fosse legítimo, nós – ou o que designamos equivocadamente ‘nós’ – poderíamos livrar-nos de uma situação angustiante. Uma overdose de soníferos bastaria para tanto. Tenho mais medo de que sejamos, na verdade, ratos numa ratoeira. Ou, pior ainda, ratos num laboratório”. P. 52-53.
“Mais cedo ou mais tarde, devo encarar a questão de frente. Que razão temos nós, com exceção de nossos próprios desejos desesperados, de acreditar que Deus seja ‘bom’ (de qualquer ângulo por nós estabelecido)? Todas as evidências prima facie não sugeririam exatamente o contrário? O que temos para contrapor a elas?” P. 53.
Diante de toda experiência da perda que sofreu, Lewis, chega a seguinte conclusão:
“Você nunca tem consciência do quanto de fato acredita em alguma coisa enquanto a verdade ou a falsidade dessa coisa não se torna uma questão de vida ou morte para você. É fácil dizer que você acredita que uma corda seja forte e segura, enquanto a está usando apenas para amarrar uma caixa; mas imagine que deva dependurar-se nessa corda sobre um precipício. Será que não iria primeiro descobrir o quanto na verdade confia nela”. P. 47.
Quem poderá lhe objetar?

Esse trata de um assunto delicado e por vezes muito cruel: o sofrimento humano.
Na verdade, esse livro é um breve comentário do conhecido e polêmico livro bíblico de Jó. Onde este (coitado) é a vítima de uma aposta entre Deus e o capeta. É claro que Deus ganha a aposta. Algo interessante que o autor diz, é:
"COM RARAS exceções, ninguém tem ouvidos para ouvir o grito do pobre. A sociedade e o governo não ouvem o grito do pobre; poucas vezes a igreja ouve o grito do pobre. O pobre resmunga, abre a boca, grita, mas os transeuntes da vida não o ouvem nem o enxergam. Ouvem-se os miados e os latidos dos animais de estimação, mas não se ouve o grito do pobre. Ouvem-se os pregões da bolsa, mas não se ouve o grito do pobre. Ouve-se a sirene das viaturas policiais e das ambulâncias, mas não se ouve o grito do pobre. Ouve-se a novela, mas não se ouve o grito do pobre. Ouve-se a música estridente, mas não se ouve a grito do pobre". P. 53.
Devíamos corar de vergonha diante dessa lastimável verdade.

Um dos escritos mais mordazes de Freud contra a religião. O primeiro foi "Totem e Tabu", em 1911. Quando em 1927, salvo engano, ele complementou seus argumentos contra o "sensus divinatis", com a sua obra O Futuro de uma Ilusão".
Interessante que antes de publicar essa obra ele avisou primeiramente o seu amigo pastor, o Oskar Pfister, para que não ficasse chateado com a publicação do livro, que ia contra as convicções religiosas de seu amigo. O Pfister levou numa boa, publicando posteriormente uma refutação, intitulada A Ilusão de um Futuro".
É uma pena que a tradução de O Futuro de uma Ilusão” não seja do original em alemão. Ela é uma tradução do inglês que foi traduzido da língua alemã. Talvez isso prejudique um pouco a sua relevância em nossa língua. Mas de qualquer forma a leitura está valendo. Eis alguns trechos que tive a paciência de transcrever quando o li em 2009:
“Há incontáveis pessoas civilizadas que se recusam a cometer assassinato ou a praticar incesto, mas que não se negam a satisfazer sua avareza, seus impulsos agressivos ou seus desejos sexuais, e que não hesitam em prejudicar outras pessoas por meio da mentira, da fraude e da calúnia, desde que possam permanecer impunes; isso, indubitavelmente, foi sempre assim através de muitas épocas da civilização”. P.21.
Matou a pau. Quem pode negar essa afirmação?
Sobre a formação da religião:
"[...] Quando o indivíduo em crescimento descobre que está destinado a permanecer uma criança para sempre [visto que durante sua infância foi protegida pela figura materna e paterna], que nunca poderá passar sem proteção contra estranhos poderes superiores, empresta a esses poderes as características pertencentes à figura do pai; cria para si próprio os deuses a quem teme, a quem procura propiciar e a quem, não obstante, confia sua própria proteção".
"Assim seu anseio por um pai constitui um motivo idêntico à sua necessidade de proteção contra as conseqüências de sua debilidade humana. É a defesa do adulto ao desamparo infantil que empresta sua feições características à reação do adulto ao desamparo que ele tem de reconhecer – reação que é, exatamente, a formação da religião". P. 33.
Os defeitos dessa teoria se mostram escancarados. E as crianças que que nunca tiveram a proteção materna e paterna?! Aonde elas se encaixam nessa teoria?! Quantas delas não são crentes em deus na vida adulta?! Freud como refutador do teísmo é um ótimo Psicanalista.
Mesmo ele sendo ateu, ele acredita que a Psicanálise pode ser usada tanto contra as verdades da religião,como a favor dela.
"Um clamor desse tipo me seria muito desagradável, por causa de meus muitos colaboradores, alguns dos quais, de modo algum, partilham de minha atitude para com os problemas da religião. A psicanálise, porém, já enfrentou muitas tempestades e terá agora arrostar mais essa. [...] Nada do que eu disse aqui sobre o valor de verdade das religiões precisou do apoio da psicanálise; já foi dito por outros muito antes que a psicanálise surgisse".
"Se a aplicação do método psicanalítico torna possível encontrar um novo argumento contra as verdades da religião, tant pis para a religião, mas os defensores desta, com o mesmo direito, poderão fazer uso da mesma para dar valor integral à significação emocional das doutrinas religiosas". P.45.

Precioso livro lido em 2010, que traz inúmeras correspondências entre Freud e Pfister. Apesar de nesse ano já está descartado por completo o meu ingresso no curso de Psicologia, ainda me via (e me vejo) interessado em conhecer a história da Psicanálise juntamente com suas interpretações sobre o comportamento humano. Por mais que ela seja muito defeituosa em explicá-los. Assim como todas as escolas e visões da Psicologia moderna.

Um dos melhores e mais impressionantes livros que li em 2009, quando estava cogitando a possibilidade de fazer Psicologia. De qualquer forma a leitura foi muito válida.
Livraço que mostra a consistente e verdadeira amizade entre Freud (um ateu) e Pfister (um pastor liberal). As ideias antagônicas de ambos vão se desenrolando a cada página do livro. Suas sobreposições também.
O próprio Pfister foi o primeiro a usar as ideais psicanalíticas na Pedagogia. Ele foi um grande divulgador e entusiasta da Psicanálise em outras áreas além da Psicologia.
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