quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Filmes Vistos (13)


Mais uma sensacional história da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Soldados dos EUA caem no mar, e depois de 47 dias no maior sofrimento em alto mar, são capturados por soldados inimigos do Japão. Zamperini, italiano imigrante do EUA, juntamente com o seu parceiro de guerra, sofrem o pão que o diabo e os japoneses amassaram, nos campos de concentração. A única forma de vencer os japoneses é continuarem vivos até o fim da guerra.


Não é uma obra prima. Não é um filme comovente. Todavia, tem uma ótima proposta; uma contundente crítica ao ambiente perigoso em que vivem as mulheres indianas, que mal têm a proteção do estado, quando sofrem ou são estupradas. O sistema policial e jurídico da Índia é uma verdadeira vergonha (bom, esse país é uma verdadeira vergonha em praticamente todos os quesitos). Este filme me fez lembrar o documentário Filha da Índia: A História de Jyoti Singh, que diz:

“Segundo os últimos números oficiais, uma mulher é estuprada na Índia a cada 20 minutos. Mas muitos estupros não são denunciados.”

Não são denunciados, porque as mulheres temem que o que pode acontecer é exatamente o que Pink trás em seu enredo.


Uma batalha do raciocínio lógico, inteligência e bom senso, contra a superstição, pensamento mágico e conveniente. Uma trama sensacional e instigante. Um verdadeiro clássico. 


Vi o primeiro há pouco mais de dois anos, agora terminei a segunda parte da saga criminosa da família Corleone, os mais famosos gangsteres do cinema. Al Pacino (Michael Corleone) e Robert De Niro (Vito Corleone) estão impecáveis em suas performances.


Fechando a trilogia. Achei tão bom quanto os dois primeiros. Apenas acho que existe um exagero de elogios enorme em torno desses filmes. São ótimos filmes, mas nada arrebatadores.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Filmes Vistos (12)


Madalyn Murray O'Hair causou a fúria ensandecida de muitos "cristãos" norte-americanos, quando na década de 1960 conseguiu que a Suprema Corte daquele país banisse a oração das escolas, que até então era uma prática que todos os alunos deviam seguir, mesmo não compactuando com a religião cristã, ferindo a constituição de separação entre igreja e Estado. Está aí, um dos motivos dela ter sido por pouco mais de três décadas, "a mulher mais odiada da América". Este filme conta-nos um pouco de sua história de militância contra a religião, e sua trágica morte por assassinato em 1995, a qual certamente deixou muitas pessoas "di dels" felizes.


Filme bom, apesar de um defeito fundamental: tentar passar a visão de que os militares e governos norte-americano e britânico estão super preocupados com as mortes dos civis, seja no Oriente Médio, seja na África, como é o caso aqui. O lado bom do filme é que ele suscita um debate ético muito interessante e intenso. É moralmente ético tirar a vida de uma criança, para que outras 80 vidas (adultos e crianças) sejam salvas?


Belo filme, filme belo! Uma história de superação e vitória sobre o preconceito tolo, que a humanidade teima em ter, não importa a época ou lugar. E o pior é que começamos a mostrar o nosso lado ruim, mau e discriminador, desde crianças. 


Acredito que este, tenha sido o filme mais tenso que já vi. A história de um estupro medonho de uma linda menina, quando ela caminhava para a escola. Ela sobrevive. Mas as consequências de ter sido violada serão para o resto de sua vida. Emociona demais. Desesperador, e ao mesmo tempo, apesar de todo o sofrimento advindo do estupro, um fio de esperança e alegria ressurgem em meio a dor. 


Baseado numa obra do século XIX, do romancista português Eça de Queiroz, este filme é uma dura crítica ao celibato sacerdotal na igreja católica. Se o autor vivesse em nossos dias, sua obra sofreria uma modificação substancial - ao invés de terem como personagens, padres mulherengos, teria padres pedófilos, acobertados pelo Vaticano. É um ótimo filme.

Documentários Vistos (26)


Um negro é morto por um branco, numa discussão em uma oficina, em 1992. A família até hoje procura saber o porquê do assassino não ter sido julgado e preso. A justiça considerou que o homem branco agiu em legítima defesa. As evidências parecem sugerir que não. Strong Island (Ilha Forte) reflete a parcialidade racial do sistema jurídico norte-americano, visto que se fosse o contrário, é quase certeza que o negro seria julgado a passar uns bons anos trancafiado. O fantástico filme Tempo de Matar, com Samuel L Jackson e Sandra Bulock, alerta há mais de vinte anos, sobre as injustiças racistas feitas nos tribunais daquele país.


Na Nova Zelândia, uma mulher passa a ter comportamentos estranhos, e sua família extremamente supersticiosa e afundada na tradição nativa maori, diagnostica o comportamento bizarro e assustador da jovem, como uma possessão de um espírito maligno. Em nenhum momento pensaram que poderia ser um distúrbio mental, sem ligação alguma com o que acham ser o mundo mágico e sobrenatural de sua religião. O resultado é triste e desolador, visto que nos rituais de exorcismo feitos pelos próprios familiares, a tal "possessa" veio a óbito por afogamento, pois a família pensava que jogando água fria em seu rosto e fazendo ela engolir litros e mais litros de água, o tal espírito do mal sairia dela. 

A justiça da Nova Zelândia condenou alguns familiares, mas não os prendeu. O pior de tudo é que a família tão alienada nas tradições religiosas em que fora criada, ainda acredita que a maldição está presente entre eles. Não consideraram por um único momento em levar em conta o que a Medicina tem a dizer.


Quando Dois Mundos Colidem trata do conflito entre nativos e o governo peruano, que quer vender parte dos recursos naturais da Amazônia para empresas norte-americanas. A partir daí, os conflitos tornaram-se inevitáveis, ocasionando tanto a morte de indígenas quanto de policiais. No Brasil algo semelhante acontece, quando o governo brasileiro vendeu os direitos de exploração do ouro ainda existente na Amazônia a empresa canadense Colossus. Sob o pretexto de um hipotético desenvolvimento econômico do país, a destruição da natureza vira um mero detalhe sem importância, contanto que os empresários e governantes fiquem com o rabo cheio de dinheiro.


Judeus ultraconservadores e fechados em si mesmos fugidos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), se instalam em Nova York, no bairro do Brooklyn. O fanatismo e o isolamento são bastante acentuados, fazendo com que alguns membros mais jovens rompam com a tradição ao qual foram criados. Mas não é fácil se adaptar ao novo mundo, que possui infinitas possibilidades, principalmente, quando esses jovens praticamente nada sabem sobre esse nascente universo que estão começando a ver e apreciar. 

Como toda seita que se preze, o judaísmo hassídico é mais uma comunidade religiosa que encobre os casos de estupros que acontecem em seus bastidores. Os membros estão proibidos de dar qualquer queixa a polícia, por abusos sexuais. É difícil sair de religiões assim, com alguma dignidade, pois farão da sua vida um inferno, e você sempre será visto como o filho do diabo, rebelde, egoísta... 

Um povo que foi tão perseguido e maltratado, podendo aprender e tratar os seus com mais dignidade, respeito e compaixão, acabam praticando coisas horríveis em nome de sua fé religiosa, que eles (aparentemente) não pensam por um momento, que ela pode ser uma grande quimera. Nada mais que um conto bonito para aliviar a tensão que é viver em mundo tão caótico e injusto.


Não bastasse a África com os seus vários problemas estruturais de ordem econômica, política e social, ela ainda tem de enfrentar os malditos caçadores ilegais de marfim, que matam um elefante a cada 15 minutos, para vender os seus chifres no mercado negro de Hong Kong e da China, gerando um empobrecimento incalculável nas savanas do continente africano. Eles assassinam sem piedade, destruindo toda a estrutura familiar que cada manada de elefantes possui. Quando um elefante é morto, toda a estrutura familiar desaba; fica desestruturada. O Extermínio do Marfim vai atrás desses canalhas FDP, para colocá-los na cadeia. Uma guerra se instala. E apesar de toda a matança de elefantes, avanços são conseguidos. Um grande traficante de marfim é preso, China e EUA se comprometem a acabar de vez com o comércio de marfim. Tomara que eles cumpram as metas estabelecidas. No entanto, a China ainda não fixou um prazo para a cessar de vez o comércio de marfim em seu território. Sinceramente, com o histórico de perversidade desse país, não dá para confiar muito nele.

domingo, 5 de novembro de 2017

Tudo o que você precisa saber sobre filosofia


KLEINMAN, Paul. Tudo o que você precisa saber sobre filosofia. São Paulo: Editora Gente, 2014.

Este é o quinto ou sexto livro de introdução a Filosofia que leio. Nunca apliquei meu tempo a me aprofundar de fato em algum assunto de natureza filosófica, apenas arranho a superfície de cada tema. Este aqui, julgo ser um bom livro para quem quer começar a entender o que os Filósofos, verdadeiros mestres na arte de racionar, estão discutindo, pensando, articulando, rearticulando ao longo dos últimos 2.500 anos, desde os antigos gregos pré-socráticos aos pensadores do século XX, como Quine, Wittgenstein, Russel e tantos outros, que embaralharam o modo de pensar do mundo contemporâneo. As temáticas de natureza filosófica nunca morrem, até hoje, por exemplo, o Mundo das Formas de Platão, podem ser discutidas, rebatidas, repensadas e ampliadas. O que ele propõe pode corresponder a realidade. A Metafísica, tão contestada e, por vezes, dada como morta, sempre ressurge, com novas forças. E a existência de Deus? Argumentos novos têm sido criados, ideias novas têm sido incorporadas aos velhos argumentos tradicionais, lhes dando uma nova roupagem, dando lugar a novos debates intelectuais vêm sendo travados nos últimos tempos. E assim, caminha o fazer filosófico.

Abaixo, um pouco do que o kleinman aborda em seu livro:

Existencialismo

"O Absurdo é uma das noções mais famosas associadas ao existencialismo [tendência filosófica de alguns Filósofos do século XIX e XX]. O argumento mais utilizado no existencialismo é o de que não há razão para existir e a natureza não tem objetivo. Embora a ciência e a metafísica possam ser capazes de oferecer uma compreensão do mundo natural, as duas dão mais uma descrição do que uma verdadeira explicação, e não propõem nenhuma visão de significado ou valor. De acordo com o existencialismo, como humanos, devemos aceitar esse fato e perceber que a capacidade de entender o mundo é uma conquista impossível. O mundo não tem significado além daquele que damos a ele.
Além disso, se um indivíduo faz uma escolha, ela se baseia em uma razão. No entanto, como ninguém é capaz de compreender o significado, a razão é absurda assim como a decisão que se seguiu à escolha." P. 26.

Dualismo Mente e Corpo

"De acordo com o argumento da razão [um dos argumentos a favor do dualismo mente e corpo], se nossos pensamentos são simplesmente o resultado de causas físicas, então, não há motivo para acreditar que esses pensamentos sejam baseados na razão e sejam racionais. A matéria física não é racional e, ainda assim, nós, como humanos, temos razão. Dessa forma, a mente não deve simplesmente derivar de uma fonte material." P. 82.

"Esse argumento [do dano cerebral] contra o dualismo questiona como a teoria funciona quando, por exemplo, ocorre um dano cerebral por traumatismo craniano, desordens patológicas ou abuso de drogas que leve ao comprometimento da habilidade mental. Se o mental e o físico fossem realmente separados um do outro, o mental não deveria ser afetado por esse tipo de evento. De fato, os cientistas descobriram que provavelmente há uma relação causal entre a mente e o cérebro e que, ao manipular ou prejudicar o cérebro, o estado mental é afetado." P. 83.

O Paradoxo do Mentiroso

“Um dos mais famosos paradoxos que ainda são amplamente debatidos até hoje foi proposto pelo antigo filósofo grego Eubulides de Mileto, no século IV a.C., que propôs o seguinte:

‘Um homem afirma que está mentindo. O que ele diz é verdadeiro ou falso?’
Não importa como a pessoa responda a essa pergunta, haverá problemas porque o resultado é sempre uma contradição.

Se afirmarmos que o homem está falando a verdade, isso quer dizer que ele está mentindo, o que, então, significaria que a frase inicial dele é falsa.

Se dissermos que a afirmação inicial dele é falsa, isso quer dizer que ele não está mentindo e, assim, o que ele afirmou é verdadeiro.” P. 109.

Objetivo da Metafísica

"A metafísica se concentra na natureza e na existência do ser e faz perguntas profundas e complexas em relação a Deus, nossa existência, se existe um mundo fora de nossa mente e sobre o que é a realidade". P. 124.

Ceticismo

"O ceticismo desempenhou um papel-chave durante o Iluminismo em diversos avanços filosóficos, em virtude de a essência do movimento ser o questionamento das verdades estabelecidas. Os filósofos usaram o ceticismo como uma ferramenta para alavancar as novas ciências. [...] Como a origem do Iluminismo está na crítica e na dúvida em relação às doutrinas, o ceticismo influenciou as filosofias dos pensadores daquele tempo." P. 142.

Friedrich Nietzsche (1844-1900)

"Talvez Nietzsche seja mais famoso por sua frase ‘Deus está morto’. Durante o final do século XIX, com a ascensão do Estado alemão e os avanços da ciência, muitos filósofos alemães viam a vida diária com muito otimismo. Nietzsche, por sua vez, enxergava o oposto. Para ele, aqueles eram tempos problemáticos marcados fundamentalmente por uma crise de valores.

Em seu livro, Assim falava Zaratustra, Nietzsche conta a história de um homem que aos 30 anos experimenta viver fora da sociedade. Ele gosta tanto dessa experiência, que decide viver assim pelos próximos dez anos. Quando retorna à sociedade, ele declara que Deus está morto. Em Assim falava Zaratustra, Nietzsche argumenta que os avanços da ciência fizeram com que as pessoas desconsiderassem o conjunto de valores trazido pelo cristianismo e que não havia mais na civilização essa poderosa compreensão para determinar o que é bom ou mau.

Embora fosse verdadeiramente um crítico do cristianismo, Nietzsche era um crítico ainda mais forte do ateísmo e temia que esse fosse o próximo passo lógico. Ele não afirmava que a ciência apresenta um novo conjunto de valores para as pessoas substituírem pelos do cristianismo. Ao contrário, afirmava que o niilismo, o abandono de toda e qualquer crença, seria o que substituiria o código moral do cristianismo.

Nietzsche acreditava que as pessoas sempre teriam a necessidade de identificar uma fonte de valor e significado, e concluía que, se a ciência não era essa fonte, então, ela surgiria assumindo outras formas, como a de um nacionalismo agressivo. Ele não era favorável ao retorno às tradições do cristianismo, mas queria descobrir como fugir dessa forma de niilismo pela afirmação da vida." P. 150-151.

Relativismo

“Os sistemas ético e moral são diferentes para cada cultura. De acordo com o relativismo cultural, todos esses sistemas são igualmente válidos e nenhum é melhor do que outro. A base do relativismo cultural é a noção de que, na verdade, não existem padrões para o bem e o mal. Desse modo, o julgamento de que algo é certo ou errado tem por base as crenças de uma sociedade, pois todas as opiniões éticas e morais são influenciadas pela perspectiva cultural de um indivíduo.

No entanto, existe uma contradição inerente ao relativismo cultural. Se alguém assume a ideia de que não há certo ou errado, então, em primeiro lugar, não há como fazer julgamentos. Para lidar com essa contradição, o relativismo cultural criou a ‘tolerância’. No entanto, com a tolerância chega também a intolerância, e isso significa que a tolerância tem de implicar também um tipo de bem definitivo. Dessa forma, a tolerância vai contra a noção essencial do relativismo cultural e os limites da lógica tornam o relativismo cultural impossível.” P. 172.

“Em geral, os argumentos relativistas começam com afirmações plausíveis que, por fim, resultam em conclusões implausíveis. No final das contas, esses argumentos soam melhor quando colocados de maneira abstrata (parecem se tornar falhos e triviais quando aplicados a situações reais). É por essa razão que poucos filósofos defendem o relativismo”. P. 202.

Filosofia Oriental

"Em sentido bastante geral, porém, se os objetivos da filosofia ocidental podem ser definidos pela busca e a comprovação da noção de 'verdade', então, os da filosofia oriental são a aceitação das 'verdades' e a busca pelo equilíbrio. Enquanto a filosofia ocidental enfatiza o indivíduo e os direitos individuais, a filosofia oriental enfatiza a união, a responsabilidade social e a inter-relação entre tudo (que, por sua vez, não pode ser separada do todo cósmico). É por isso que, muitas vezes, as escolas da filosofia oriental são indistinguíveis das diferentes religiões existentes no mundo." P. 209.

Budismo

"Os princípios filosóficos do budismo firmam-se nas Quatro Nobres Verdades (a verdade do sofrimento; a verdade da causa do sofrimento; a verdade do fim do sofrimento e a verdade do caminho que liberta do sofrimento). O budismo defende a ideia de que, para terminar com o sofrimento, a pessoa deve seguir o Nobre Caminho Óctuplo. A filosofia do budismo aborda ética, metafísica, epistemologia, fenomenologia e a noção de que Deus é irrelevante." P. 211.

Baruch Espinosa

“Para Espinosa [1632-1677], 'Amai ao próximo' era a única mensagem de Deus, e a religião se transformara em uma superstição em que as palavras colocadas em uma página significavam mais do que elas representavam. Afirmava que a Bíblia não era uma criação divina, mas que deveríamos olhar para ela como qualquer outro texto histórico, pois, como fora escrito ao longo de muitos séculos, ele acreditava que não era confiável. Os milagres, segundo Espinosa, não existiam e tudo tinha uma explicação natural; porém, as pessoas escolhem não procurar essas explicações. Além disso, dizia que as profecias não vinham de Deus e que não eram um conhecimento privilegiado.

Para demonstrar respeito a Deus, segundo ele, a Bíblia deveria ser reexaminada para que se encontrasse nela a 'verdadeira religião'. Ele rejeitava a ideia de 'povo eleito' do judaísmo, argumentava que as pessoas estão todas no mesmo nível e propunha a existência de uma religião nacional. Então, revelava sua agenda política, declarando que a forma ideal de governo era a democracia, porque assim haveria menos abuso de poder.” P. 246.