ALEXANDER, Eben. Uma Prova do Céu. Rio de Janeiro: Sextante, 2013. (PDF).
Eben Alexander III foi Professor de
Medicina na Universidade de Harvard, precisamente um Neurocirurgião, que depois
de tantos anos de práticas médicas na área do cérebro, foi acometido por uma
meningite bacteriana que o deixou em coma por sete longos dias, deixando todos
aflitos e esperando pela derradeira notícia de sua morte. Mas ele sobreviveu, e
o que experienciou nessa semana enquanto estava apagado, é surpreendente.
“Em 10 de novembro de 2008, entretanto,
aos 54 anos, a sorte pareceu me abandonar. Fui surpreendido por uma doença rara
e fiquei em coma durante sete dias. Nesse período, todo o meu neocórtex – a
superfície externa do cérebro, a parte que nos torna humanos – ficou paralisado.
Inoperante. Completamente ausente.
[...]
Como neurocirurgião, ouvi muitos relatos
de pessoas que tiveram experiências estranhas, geralmente depois de sofrerem
ataques cardíacos: histórias de viagem para lugares misteriosos e maravilhosos,
de conversas com parentes mortos – e até de encontros com Deus.
Fascinante, sem dúvida. Mas tudo isso, em
minha opinião, era pura fantasia. Afinal, o que provocava as experiências
sobrenaturais que as pessoas relatavam com tanta frequência? Na verdade, a
resposta não me interessava, mas eu acreditava que essas experiências tinham
uma base cerebral. Toda consciência tem. Se não houver atividade cerebral, não
há consciência.” P. 21.
Não obstante:
“Durante o coma, não é que meu cérebro
trabalhasse de forma inadequada – ele simplesmente não trabalhava.” P. 22.
Ele conta que:
“[...] meu caso o neocórtex estava fora
de área. Eu estava conhecendo uma dimensão da consciência que existia
completamente à parte das limitações de meu cérebro físico.
De certa forma, vivi uma avalanche de
experiências de quase morte. Como neurocirurgião com décadas de pesquisa e
prática, eu estava em melhor posição para avaliar não apenas a realidade, mas
as implicações do que acontecera.
E essas implicações são extraordinárias.
Minha experiência me mostrou que a morte do corpo e do cérebro não é o fim da
consciência, e que a existência humana continua no além túmulo. E, mais
importante ainda, ela se perpetua sob o olhar de um Deus que nos ama e que se
importa com cada um de nós, com o destino do Universo e de todos os seres
contidos nele.
O lugar onde estive era real. Tão real a
ponto de fazer a vida no aqui e agora parecer uma ilusão. Isso não significa,
entretanto, que eu não valorize a vida que levo agora. Pelo contrário, prezo-a
até mais do que antes. E o faço porque consigo enxergá-la em seu verdadeiro
contexto.” P.
22-23.
A doença que o pegou era tão rara
que “menos
de um em cada 10 milhões de adultos é afetado pela doença por ano.” P.39.
“Os médicos simplesmente não sabiam como
eu poderia ter contraído a doença, ou quando eu voltaria do coma. Eles só
tinham certeza de uma coisa: não conheciam ninguém que tivesse se recuperado
completamente de uma meningite bacteriana após ter passado alguns dias em
coma.” P.
127.
“[...] o meu caso era o primeiro desse
tipo na história médica.” P. 131.
Ainda sobre o seu estado clínico:
“As estruturas mais primitivas do meu
cérebro continuaram a funcionar o tempo todo durante o coma. Mas a região do
meu cérebro que os neurologistas dizem ser responsável pela minha parte humana
havia sumido. Eu podia ver isso nas imagens, nos números do laboratório, nos
exames neurológicos – em todos os dados recolhidos aquela semana no hospital.
Então eu logo comecei a perceber que a minha experiência de quase morte era
tecnicamente quase impecável, e talvez um dos casos mais convincentes na
história moderna do fenômeno.” P.
184-185.
Eben milagrosamente voltou, e além de
sua recuperação, diz ter passado por momentos totalmente conscientes num outro
mundo. Eben escreve que em seu estado de coma de repente ele se encontrou
noutra dimensão.
“Eu não era humano naquele lugar. Eu não
era sequer animal. Eu era alguma coisa anterior, e inferior, a tudo isso. Era
apenas um ponto solitário de consciência em um mar vermelho-escuro.” P. 52.
Nos primeiros momentos de sua viagem a
esse mundo, ele esteve numa espécie de inferno.
“Caras grotescas de animais borbulhavam
na lama, grunhiam, guinchavam e desapareciam de novo. Escutei urros medonhos.
Algumas vezes, esses urros e grunhidos davam lugar a cânticos rítmicos e obscuros
que eram, ao mesmo tempo, assustadores e curiosamente conhecidos – como se em
algum momento eu mesmo os tivesse cantado.” P. 53.
Um lugar assustador.
“Quanto mais me sentia como um eu – como
alguma coisa separada do ambiente frio, úmido e escuro à minha volta –, mais os
rostos que borbulhavam na massa pegajosa se tornavam feios e ameaçadores. As
batidas ritmadas do ferreiro também ficaram mais intensas: pareciam britadeiras
de trabalhadores subterrâneos, tipo ogros, executando uma tarefa interminável e
massacrantemente monótona. O movimento à minha volta se tornou menos visual e
mais palpável, como se criaturas parecidas com vermes e répteis estivessem
passando em bandos e de vez em quando esfregassem suas peles macias ou
espinhosas em mim.
Foi então que tomei consciência de um
odor: era uma mistura de cheiro de fezes, sangue e vômito. Em outras palavras,
um cheiro biológico, porém de morte, não de vida. À medida que minha
consciência se aguçava, eu me aproximava mais do pânico. Eu não pertencia àquele
lugar. Precisava escapar. Mas para onde?” P. 53-54.
Aí, as coisas começaram a mudar.
“Quando me fiz essa pergunta, algo novo
emergiu da escuridão: alguma coisa que não era fria, nem morta, tampouco
sombria, mas o exato oposto disso tudo. Mesmo que eu passasse o resto da vida
tentando, não conseguiria fazer justiça à entidade que se aproximava de mim.
Nem sequer chegaria perto de descrever como era bela.” P. 53-54.
Um paraíso se abria diante de seus
olhos.
“Eu estava voando. Passei por árvores e
campos, rios e cachoeiras, e avistei pessoas aqui e ali. Também havia crianças
rindo e brincando. Todos cantavam e dançavam em círculos, e vi até cachorros
correndo e saltando entre elas, igualmente tomados de alegria. As pessoas
vestiam roupas simples, mas bonitas, e tive a impressão de que as cores dessas
vestimentas tinham o mesmo tom vívido das árvores e das flores que
desabrochavam e encantavam todo o campo ao redor.
Um mundo de sonhos belo e incrível...
Só que não era um sonho. Embora não
soubesse onde me encontrava e nem mesmo o que era aquilo tudo, eu estava
convicto de uma coisa: esse lugar em que de repente me vi era completamente
real.” P. 62-63.
Uma menina desse mundo espiritual lhe
falou:
“Você é amado e valorizado imensamente,
para sempre.”
“Não há nada a temer.”
“Não há nada que você possa fazer de
errado.”
[...]
‘Nós lhe mostraremos muitas coisas aqui’,
a menina me disse, de novo sem usar palavras, apenas projetando a essência do
significado delas em mim. ‘Mas, no fim, você irá voltar.’” P. 65.
Mais sobre o “Céu”:
“[...] seres deslumbrantes se deslocavam
em arco por todo o céu, deixando grandes rastros atrás de si.
Pássaros? Anjos? Estas palavras me
ocorreram quando eu escrevia minhas recordações, mas nenhuma delas faz jus
àqueles seres, que eram muito diferentes de qualquer coisa que eu tivesse
conhecido neste planeta. Eles eram mais evoluídos. Superiores.
Um som forte e majestoso, como uma música
sacra, veio de cima, e me perguntei se aqueles seres superiores estariam
produzindo esse uníssono. Novamente, refletindo sobre isso mais tarde, me
ocorreu que a alegria dessas criaturas era tão imensa que elas tinham que
manifestar esse som – como se fosse uma emoção impossível de conter. Era algo
palpável e quase material, assim como uma chuva que se sente na pele, mas que
não nos deixa molhados.
Ver e ouvir não eram coisas separadas
naquele lugar. Eu podia ouvir a beleza dos corpos daqueles seres cintilantes e,
ao mesmo tempo, ver a perfeição do que eles cantavam. Parecia que não era
possível ver ou escutar qualquer coisa ali sem se tornar parte dela – sem se
fundir com aquilo de alguma forma misteriosa. Lá tudo era diferente e, no
entanto, fazia parte de algo maior, como os belos desenhos entrelaçados nos
tapetes persas... ou como nas asas de borboleta.” P. 71-72.
A Eben é revelado que existem outros
universos além do nosso, e que o mal também existe neles.
“O mal também estava presente em todos os
outros universos, porém em quantidades muito pequenas. O mal era necessário
porque sem ele o livre-arbítrio era impossível, e sem livre-arbítrio não
poderia haver crescimento – nenhum avanço, nenhuma chance de nos tornarmos o
que Deus desejou que fôssemos. Por mais horrível e poderoso que o mal pareça, o
amor é avassaladoramente maior, e triunfará no final.
Vi a abundância da vida nos incontáveis
universos, incluindo alguns cuja inteligência estava muito além da nossa. Vi
que existem incontáveis dimensões superiores, mas que a única maneira de
conhecê-las é experimentando-as diretamente. Elas não podem ser conhecidas ou
entendidas de um espaço dimensional inferior.
Causa e efeito existem nesses reinos mais
elevados, mas de maneira diferente da nossa concepção terrena. O nosso tempo e
espaço estão unidos, de maneira íntima e complexa, com esses universos mais
avançados. Em outras palavras, esses mundos não estão totalmente separados do
nosso, porque todos os mundos fazem parte da mesma e abrangente Realidade
divina. Daqueles universos mais avançados se pode acessar qualquer tempo ou
lugar do nosso mundo.” P. 75-76.
Eben tem certeza de que sua experiência
foi verdadeira.
“[...] sei a diferença entre a fantasia e
a realidade, e posso assegurar que a experiência que estou tentando transmitir
aqui, ainda que de forma vaga e insatisfatória, foi de longe a experiência mais
real da minha vida.” P.
66.
“Um pouco longe do padrão científico? Não
acho. Voltei daquele lugar, e nada poderá me convencer de que esta não é
somente a verdade emocional mais importante no Universo, como também a verdade
científica mais fundamental de todas.” P.
105.
Como a maioria dos Neurocientistas, ele
tinha muito ceticismo em relação ao sobrenatural.
“Nunca escondi minhas dúvidas sobre a
vida espiritual. Por mais que eu quisesse acreditar em Deus, no céu e na vida
após a morte, meus anos no rigoroso mundo científico me faziam questionar como
tais coisas poderiam existir. A neurociência moderna postula que o cérebro
comanda a consciência – ou a mente, a alma, o espírito, ou como quer que se
chame essa parte invisível e intangível de nosso ser que nos faz ser quem somos
– e eu não tinha dúvida de que a neurociência estava certa.
Assim como a maioria dos profissionais de
saúde que lida diretamente com pacientes moribundos e seus familiares, eu tinha
ouvido relatos – e até visto acontecimentos – inexplicáveis. Eu classificava
essas ocorrências como ‘desconhecidas’ e as deixava para lá. Não que eu me
opusesse a crenças no sobrenatural. Como um médico que via grandes sofrimentos
físicos e emocionais todos os dias, a última coisa que eu queria era negar a
alguém o consolo e a esperança que a fé proporcionava. Para falar a verdade, eu
mesmo queria ter desfrutado de algum tipo de fé.
Mas quanto mais velho eu ficava, menos
provável isso se tornava. Como o mar avançando pouco a pouco sobre a praia, ao
longo do tempo minha visão científica do mundo minava lentamente minha
capacidade de crer em algo maior. A ciência parecia fornecer uma imensa
quantidade de evidências que tornavam quase nula a importância do ser humano no
Universo. A crença pode ser uma coisa boa, mas a ciência não está preocupada
com o que poderia ser bom. Ela está preocupada com o que é.” P. 57-58.
Para Eben, antes de sua experiência
extracorpórea, a consciência não era nada além de uma mera extensão de
cérebro.
“E eu sabia muito bem que o cérebro é
apenas isto: uma máquina que produz o fenômeno da consciência. É claro que os
cientistas não haviam descoberto exatamente como os neurônios do cérebro
conseguem fazer isso, mas era apenas uma questão de tempo. Afinal, isso era
provado todos os dias na sala de cirurgia. Um paciente chega com uma tremenda
dor de cabeça e com a consciência reduzida. O médico faz uma ressonância
magnética no cérebro e descobre um tumor. O paciente toma anestesia geral, o
tumor é extirpado, e algumas horas depois ele está pronto para encarar o mundo
de novo. Nada de dor de cabeça. Nada de consciência turva. Tudo muito simples.
Eu adorava essa objetividade – a absoluta
honestidade e isenção da ciência. Não havia espaço para fantasias nem para
negligência. Se um fato pudesse ser visto como concreto e confiável, ele era
aceito. Do contrário, era rejeitado.
Essa abordagem deixava muito pouco espaço
para a alma e o espírito, para a continuação da existência depois que o cérebro
para de funcionar. E deixava menos espaço ainda para aquelas palavras que eu
sempre ouvia na igreja: vida eterna.” P.
59.
Depois do que passou, ele crê que a Ciência e o sobrenatural são compatíveis.
“A ciência, a que me dediquei durante
tanto tempo, não contradiz o que aprendi lá em cima. Mas muita gente acredita
que sim, pois alguns membros da comunidade científica, presos à visão
materialista do mundo, têm insistido cada vez mais que ciência e
espiritualidade não podem coexistir. Eles estão equivocados. Para tornar esse
conhecimento acessível ao grande público é que escrevi este livro.” P. 107.
“Dizer que ainda existe um abismo entre a
visão científica do Universo e a realidade que vivi não é correto. Eu ainda
gosto da física e da cosmologia, ainda adoro estudar o nosso Universo imenso e
maravilhoso. Apenas tenho agora uma concepção bem mais ampliada do que ‘imenso’
e ‘maravilhoso’ de fato significam. A parte física do Universo é um grão de
areia comparada à parte espiritual e invisível. Antigamente, eu jamais usaria a
palavra espiritual no meio de uma conversa científica. Hoje acho que não podemos
deixá-la de fora.” P. 118-119.
A crença em Deus e no seu amor agora é
parte essencial de sua vida.
“Compreendi que sou parte do Divino e que
nada, absolutamente nada, pode tirar isso de mim. A suspeita (falsa) de que
estamos separados de Deus é a raiz de todas as formas de ansiedade no Universo;
e a cura para isso – que eu comecei a receber no Portal e depois no Núcleo – é
a certeza de que nada é capaz de nos separar do amor de Deus.” P. 111-112.
“Cada um de nós é profundamente conhecido
e cuidado por um Criador que nos trata com um carinho muito além da nossa
capacidade de compreensão. Esse conhecimento não pode mais ser mantido em
segredo.” P. 136.
“[...] nosso ser espiritual eterno é mais
verdadeiro do que qualquer coisa que possamos perceber no domínio físico e tem
uma conexão direta com o infinito amor do Criador.” P. 199.
Mesmo com as suas credencias de
Neurocirurgião impecáveis, poucas pessoas estavam solicitas em dar crédito a
sua história.
“Afinal de contas, o que vivi alterou
minhas crenças a respeito do cérebro, da consciência e do sentido da vida. Quem
não estaria interessado em ouvir sobre essas descobertas? Muito pouca gente,
como logo percebi. Sobretudo pessoas com credenciais médicas.” P. 171.
Eben reconhece que muito do que acreditava
como Médico, desmoronou.
“Quanto mais meu raciocínio lógico
retornava, mais eu via com clareza que o que aprendi durante décadas de estudo
e prática médica conflitava radicalmente com o que vivi naqueles sete dias, e
mais eu tinha certeza de que a mente e a personalidade (ou alma, espírito, como
queira chamar) continuam a existir depois da morte do corpo. Eu precisava
contar essa história para o mundo.” P.
175.
Admite que sua incredulidade era
ancorada em puro preconceito.
“Eu era um exemplo típico do médico bom
caráter, porém cético e incrédulo. E, como tal, posso garantir que mesmo os
mais céticos não são céticos de verdade. Para ser realmente cético é preciso
examinar o assunto e levá-lo a sério. E eu, como muitos cientistas, nunca
gastei meu tempo com as EQMs [Experiência de Quase-Morte]. Eu simplesmente
‘sabia’ que elas eram impossíveis.” P.
181.
“Enquanto lia as explicações
‘científicas’ a respeito da EQM, eu ficava chocado com a superficialidade das
análises. Descobri também, com tristeza, que elas eram exatamente as mesmas
explicações que meu antigo eu daria se alguém perguntasse o que eu achava dessa
experiência fora do corpo.” P. 196.
O autor de Uma Prova do Céu insiste em
dizer que sua experiência de quase-morte tem valor científico.
“[...] eu sabia que estava contando uma
coisa que tinha valor científico genuíno, algo que abria as portas da percepção
para um novo mundo de compreensão científica. Uma reflexão que elevava a
consciência à condição de maior entidade de toda a existência.” P. 216-217.
Mas até onde sei, ele não provou a
existência do céu ou de uma dimensão espiritual. Claro que o seu depoimento tem
um certo peso, por ele ser quem ele é - um homem educado na mais prestigiada
Universidade do mundo, uma mente científica e rigorosa. Ao contrário de outras
histórias extraordinárias publicadas, que contam experiências semelhantes, não
duvido de que a sua história seja totalmente verdadeira.
Muitos cristãos (principalmente
evangélicos) torcerão o nariz para o seu livro, visto que em nenhum
momento a sua experiência legitima o cristianismo, apesar de alguns paralelos.
Ele até diz que falou com pessoas que já morreram, o que contraria a crença de
muitos cristãos. Isso basta para que eles rechacem o que ele diz ter vivenciado.
Até arrisco em dizer: dirão que o diabo o enganou.
De todo modo, ele é enfático:
“[...] o que experimentei fora do
corpo é verdadeiro, real e transformador. Não apenas para mim, mas para todos
nós.” P.
226-227.