domingo, 30 de setembro de 2018

A Morte: Um Amanhecer



KUBLER-ROSS, Elisabeth. A Morte: Um Amanhecer. 14º ed. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2013.

Elisabeth Kübler-Ross foi uma Médica especialista e pioneira em tratar pessoas em fases terminais, incluindo crianças com câncer. O reconhecimento de sua obra é amplamente conhecido no mundo da Medicina. Diante da sua lida diária com a morte, ela acabou tendo contato com milhares e milhares de casos de pessoas que tiveram a Experiência de Quase-Morte (EQM), e este é um dos assuntos tratados neste livro.

“Estudamos vinte mil casos de pessoas ao redor do mundo que, depois de terem sido declaradas clinicamente mortas, voltaram a viver.” P. 10.

Numa experiência fora do corpo num leito de hospital, o paciente mesmo estando em coma profundo, pode ver e ouvir tudo que se passa na sala de cirurgia.

“Você compreende exatamente o que todos estão dizendo, pensando e fazendo.” P. 13.

"Muitas pessoas, quando submetidas a cirurgias, passam pela experiência de sair do corpo físico e podem, inclusive, observar o trabalho feito pelo cirurgião." P. 14.

Pessoas deficiente físicas que tiveram uma EQM relatam que quando estiveram fora do corpo, suas limitações físicas já não existiam. Se eram cegas, passaram a ver, se não podiam andar, isso já não era problema. Naturalmente quando voltam aos seus corpos, suas deficiências estão lá.

“[...] a pessoa perceberá que voltou a ter uma saúde perfeita. Se era cega, poderá voltar a enxergar. Se era surda ou muda, poderá ouvir ou falar novamente. Alguns pacientes meus com esclerose múltipla, que dependem de cadeiras de rodas para se locomover e que têm dificuldade para se expressar, ao voltar de suas experiências de quase-morte dizem exultantes: ‘Dra. Ross, consegui dançar de novo.’ E existem milhares de pacientes em cadeiras de rodas que, nesse segundo estágio, podem finalmente voltar a dançar. Evidentemente, quando voltam à vida, seu corpo está doente como antes.” P. 14-15.

Kübler-Ross tem plena ciência de que os seus pares não estão inclinados em acreditar nos relatos de EQM. Falta-lhes modéstia.

“Os Cientistas carecem de humildade. Temos de ter humildade para aceitar que há milhões de coisas que não podemos compreender, mas que nem por isso deixam de existir, de ser ver dadeiras.” P. 13.

“Muitos de meus colegas céticos dizem: ‘Esses casos podem ser considerados como projeções da racionalização de um desejo’.” P. 15.

Kübler-Ross mostra ter uma visão espírita da vida, falando com convicção sobre o que acontece após a morte. Na verdade, a morte não existe, diz ela.

“[...] a morte do corpo humano é um processo idêntico ao que ocorre quando uma borboleta deixa o casulo. O casulo pode ser comparado ao corpo humano, mas não é idêntico ao seu eu real, pois é apenas uma morada temporária. Morrer é como mudar-se de uma casa para outra mais bonita — simbolicamente comparando.” P. 11.

“Mas o meu verdadeiro trabalho, e é por isso que preciso da sua ajuda, é dizer às pessoas que a morte não existe. E muito importante que a humanidade saiba disso, pois estamos no início de tempos muito difíceis.” P. 48-49.

“Um modo de não sentir medo é saber que a morte não existe, que tudo nesta vida tem um propósito positivo. Afaste-se de toda negatividade e comece a encarar a vida como um desafio, uma forma de testar seus recursos interiores e sua força.” P. 49.

“Temos centenas de casos, da Austrália à Califórnia, e todos têm um denominador comum. Todas as pessoas envolvidas têm plena consciência de ter deixado o corpo físico e de que a morte, como a entendemos em linguagem científica, na realidade não existe. A morte nada mais é do que o abandono do corpo físico, assim como a borboleta abandona o casulo. E uma transição para um estado de consciência mais amplo, no qual você continua a perceber, a entender, a sorrir e pode continuar se desenvolvendo. A única coisa que você perde é algo de que não necessita mais, ou seja, o seu corpo físico.” P. 39-40.

Sabe aquela historinha de que temos um anjo da guarda, um guia espiritual... Pois é, segundo ela, isso não é conto de fadas.

“Existem provas de que todos os seres humanos, do nascimento até a morte, são guiados por uma entidade espiritual. Todos têm esse guia, acredite você ou não. Não importa se você é judeu, católico ou se pertence a alguma outra religião, pois esse amor é incondicional. E por isso que todos recebem como presente esse guia espiritual.” P. 17-18.

Numa EQM o mundo do lado de lá é muito melhor e mais completo que este.

Nenhum dos pacientes que passaram pela experiência fora do corpo continuou a ter medo da morte. Nenhum, dentre todos os nossos casos. Além disso, muitos de nossos pacientes disseram que, além do sentimento de paz e de serenidade que sentiram e do conhecimento de poderem perceber os outros sem serem percebidos, sentiram também um sentimento de inteireza. Com isso queremos dizer que alguém que tenha perdido uma perna em um acidente de automóvel pode ver essa perna jogada na estrada mas, ao sair do corpo físico, tem ambas as pernas. Uma de nossas pacientes ficou cega por ocasião da explosão de um laboratório e, no momento em que se viu fora do corpo físico, foi capaz de descrever o acidente todo, bem como todas as pessoas que foram arremessadas para fora do laboratório. Quando voltou à vida, estava totalmente cega novamente. Isso pode ajudá-lo a entender por que muitos desses pacientes se ressentem dos artifícios usados para trazê-Ios de volta: é que se encontram num lugar muito mais bonito e perfeito do que a vida que levavam.” P. 40.

Quem nos esperam do outro lado?

“Em geral, as pessoas que nos esperam do outro lado são as que mais nos amaram. São sempre as primeiras que encontramos. No caso de crianças muito pequenas — de dois ou três anos, por exemplo — cujos avós, pais e todos os demais familiares conhecidos ainda se encontram na Terra, geralmente são os anjos da guarda, Jesus ou outra figura religiosa que as recebem. Nunca deparei com uma criança protestante que tivesse visto a Virgem Maria em seus últimos minutos de vida, como acontece com muitas crianças católicas. Não é questão de discriminação; simplesmente você é recebido pelos que são mais importantes para você.” P. 18-19.

Em alguns momentos achei suas falas um pouco exageradas. Esperava bem mais deste livro. Mas as EQM são um fenômeno que parece pôr em cheque a visão naturalista de que somos apenas matéria.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A Crise do Islã: Guerra Santa e Terror Profano



LEWIS, Bernard. A Crise do Islã: Guerra Santa e Terror Profano. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. (PDF).

Bernard Lewis (Professor da Universidade de Princeton, EUA) é figura reconhecida pelos seus pares, quando o assunto é o mundo islâmico. Sendo bastante requisitado, principalmente depois dos ataques terroristas as Torres Gêmeas, no 11 de setembro de 2001. Lewis defende neste livro que o moderno terrorismo islâmico não encontra apoio nos ensinos do Alcorão, mas engana-se quem pensa que o islã é um corpo de crença pacífico por isso. Lewis algumas vezes reitera que a pena de morte é o ensino islâmico para os muçulmanos apóstatas. Uma religião que prega a matança daqueles estiveram em suas fileiras e resolveram não mais crer em seus dogmas, não pode ser uma religião de paz. É o máximo que a intolerância pode atingir.

Em seu livro, Lewis definirá o que é o islã, falará sobre as cruzadas contra os muçulmanos, o imperialismo islâmico que varreu o mundo no medievo, a jihad, explicará a ascensão do terrorismo, sobre como os EUA passou a ser considerado o “grande satã” e etc.

É um baita livro!

Vou me concentrar nas partes em que ele aborda o lado nada transigente do islã. Mostrando que o islã é uma religião inerentemente beligerante, que tem em seus fundamentos uma propensão para a espada, para a coação.

Mas antes de tudo, reconheçamos um fato:

“A expulsão de minorias religiosas é extremamente rara na história islâmica – ao contrário da cristandade medieval, na qual expulsões de judeus e, após a Reconquista, de muçulmanos eram normais e freqüentes. [...] diferentemente dos judeus e muçulmanos expulsos da Espanha e de outros países europeus, obrigados a encontrar o refúgio que pudessem em outro lugar, os judeus e cristãos da Arábia [em 641] foram reassentados em terras destinadas a eles – os judeus, na Síria e na Palestina e os cristãos, no Iraque.” P. 14.

Reconheçamos outro fato:

“No período que historiadores europeus vêem como um negro interlúdio entre o declínio da civilização antiga – Grécia e Roma – e o surgimento da moderna, ou seja, da Europa, o islã era a civilização que liderava o mundo, marcada por seus grandes e poderosos reinos, pela riqueza e variedade da indústria e do comércio, por suas ciências e artes engenhosas e criativas. Muito mais que a cristandade, o islã foi o estágio intermediário entre o antigo Oriente e o moderno Ocidente, para o qual contribuiu de modo significativo.” P. 17.

Um dos pilares do Ocidente é o Estado ser laico. O islã contempla uma sociedade laica? Infelizmente, não.

“Se é possível, no mundo islâmico, falar de um clero num senso sociológico limitado, não há o menor sentido em se falar de uma laicidade. A própria noção de algo separado, ou mesmo separável, da autoridade religiosa, expressa na linguagem cristã por termos como laico, temporal ou secular, é totalmente estranha ao pensamento e à prática do islã. Não foi senão a partir de tempos relativamente modernos que passaram a existir equivalentes para esses termos na língua árabe. Foram tomados emprestados do uso de cristãos de fala árabe, ou recém-inventados.” P. 19.

“Mas em nenhum país cristão da atualidade os líderes religiosos podem contar com um grau de crença e participação como o que continua a ser normalmente encontrado em terras muçulmanas. Em poucos países cristãos, se é que em algum, os princípios e práticas cristãos estão imunes a comentários críticos ou discussões no nível em que é aceito como normal mesmo em sociedades muçulmanas ostensivamente seculares e democráticas. Na realidade, essa imunidade privilegiada tem sido estendida, de facto, a países ocidentais onde comunidades muçulmanas estão já estabelecidas e onde crenças e práticas muçulmanas têm garantia de imunidade a críticas num nível que as maiorias cristãs perderam e as minorias judias nunca tiveram. Mais importante ainda: com muito poucas exceções, o clero cristão não exerce ou nem ao menos demanda o tipo de autoridade pública que ainda é normal e aceita na maior parte dos países muçulmanos.” P. 21.

Que coisa absurda! O islã não pode ser criticado e ridicularizado, mas o cristianismo sim. A religião de Maomé já tem privilégios garantidos em muitos recintos acadêmicos. Eu mesmo, quase fui engolido por um Professor universitário por levantar críticas a essa religião. Se eu fosse um aluno dele, estaria lascado. Todas as religiões devem ser despidas de quaisquer privilégios, não importando qual seja. Mas falar mal (ou falar a verdade mesmo?!) contra o islã e contra as religiões afro-brasileiras pode render a crucificação de quem se mete a penetrar a blindagem construída em torno delas. Enquanto isso, os muçulmanos estão cagando pra tolerância em suas terras.

Sobre a Jihad:

“A esmagadora maioria das autoridades mais antigas, citando as passagens relevantes do Alcorão, os comentários e as tradições do Profeta, discute jihad em termos militares. Segundo a lei islâmica, está de acordo com as escrituras fazer guerra contra quatro tipos de inimigos: infiéis, apóstatas, rebeldes e bandidos. Embora os quatro tipos de guerras sejam legítimos, apenas os dois primeiros contam como jihad. Portanto, a jihad é uma obrigação religiosa.

[...]

Durante a maior parte dos 14 séculos de história muçulmana registrada, a jihad foi mais comumente interpretada como luta armada para defesa ou aumento do poder muçulmano. Na tradição muçulmana, o mundo é dividido em duas casas: a Casa do Islã (Dar al-Islam), na qual existem governos muçulmanos e onde prevalece a lei muçulmana, e a Casa da Guerra (Dar al-Harb), o resto do mundo, ainda habitado por infiéis e, mais importante, sob governos infiéis. A presunção é que a obrigação da jihad continuará, interrompida apenas por tréguas, até que o mundo todo adote a fé muçulmana ou se submeta ao mando muçulmano. Aqueles que lutam na jihad qualificam-se para recompensas nos dois mundos, butim nesse, paraíso no próximo.” P. 27.

Essa é a religião de paz, preconizada pela grande mídia. Lewis, páginas atrás, escreve:

“As centenas de milhares de tradições e ditos atribuídos, com variados graus de confiabilidade, ao Profeta, e algumas vezes interpretados de maneiras muito diversas, oferecem ampla gama de orientações, das quais a interpretação militante e violenta da religião é apenas uma dentre muitas.” P. 15-16.

A primeira citação acima contradiz claramente com os fatos o segundo enunciado de que “a interpretação militante e violenta da religião é apenas uma dentre muitas.” O islã é uma religião beligerante.

Só os mal informados ou maus-caracteres dizem que o islã é uma religião pacífica. O islã é violento desde o berço.

“A jihad é apresentada, às vezes, como o equivalente muçulmano das cruzadas, e as duas são vistas como mais ou menos equivalentes. Em um certo sentido, isso é verdadeiro – ambas foram proclamadas e lançadas como guerras santas da fé verdadeira contra um inimigo infiel. Mas há uma diferença. As cruzadas são um evento tardio na história cristã e, de certo modo, marcam um afastamento radical dos valores básicos cristãos, tal como expressos nos Evangelhos. A cristandade estivera sob ataque desde o século VII, e havia perdido vastos territórios para o domínio muçulmano; o conceito de uma guerra santa, mais comumente uma guerra justa, era familiar desde a Antigüidade. Ainda assim, no longo conflito entre islamismo e cristandade, as cruzadas foram tardias, limitadas e de relativamente pouca duração. A jihad, ao contrário, está presente desde o início da história islâmica – nos textos sagrados, na vida do Profeta e nas condutas de seus companheiros e sucessores imediatos. Continuou a existir ao longo da história islâmica e mantém seu apelo até os dias atuais.” P. 29-30.

A religião de “paz” decreta a morte daqueles que a abandonam. Quantos muçulmanos não ficam caladinhos na sua, com medo de terem suas vidas ceifadas brutalmente por terem renegado o “grande” profeta? Essa é a religião “pacífica”, segundo o politicamente correto de muitas, se não, da maioria das universidades, constituídas por docentes medíocres e hipócritas.

“As regras relativas a uma guerra contra apóstatas são um tanto diferentes, e sem dúvida mais rigorosas que as para uma guerra contra infiéis. O apóstata ou renegado, aos olhos muçulmanos, é muito pior do que o infiel. O infiel não viu a luz, e há sempre a esperança de que, um dia, ele a veja. No meio tempo, desde que atenda às condições necessárias, pode merecer a tolerância do Estado muçulmano e ter permissão para continuar a praticar sua própria religião e até mesmo aplicar suas próprias leis religiosas. O renegado é alguém que conheceu a fé verdadeira, não importa se por pouco tempo, e a abandonou. Não existe perdão humano para essa ofensa, e, de acordo com a esmagadora maioria dos juristas, o renegado deve ser morto, se for homem. Se for mulher, pode ser suficiente uma punição mais leve, como flagelação e prisão. A misericórdia divina pode perdoá-lo no outro mundo, se Deus assim escolher. Nenhum ser humano tem autoridade para tanto. Essa distinção é de alguma importância atualmente, quando líderes militantes proclamaram uma jihad dupla – contra estrangeiros infiéis e contra apóstatas domésticos. A maior parte, se não a totalidade, dos governantes muçulmanos que nós, no Ocidente, temos o prazer de ver como nossos amigos e aliados é vista por muitos – ou talvez pela maioria de seu próprio povo – como traidores e, muito pior que isso, como apóstatas.” P. 31.

Você é católico? Caso abandone o catolicismo, você não correrá perigo de morte por isso. Você é protestante? Caso abandone o protestantismo, você não será alvo de uma sentença de morte. No Ocidente, o máximo que você receberá, por ter rejeitado essa ou aquela vertente cristã, salvo algumas pequeníssimas exceções, é a pecha de um desviado, excomungado e nada mais. Essa já não é a realidade daqueles que impugnam a religião de “paz”, em terras islâmicas. Pobres muçulmanos.

“Nos cânones muçulmanos, a renúncia ao islamismo é uma apostasia – uma ofensa capital tanto para o que é mal-encaminhado quanto para o que o desencaminha. Sobre essa questão, a lei é clara e inequívoca. Se um muçulmano renuncia ao islã, mesmo que seja um novo muçulmano voltando à sua fé anterior, a penalidade é a morte. Nos tempos modernos, o conceito e a prática de takfir, reconhecer e denunciar a apostasia, têm sido muito ampliados. Não é pouco usual em círculos extremistas e fundamentalistas decretar que determinada política, ação ou mesmo fala de um muçulmano professo equivale a uma apostasia e pronunciar uma sentença de morte contra o acusado.” P. 36-37.

Todo imperialismo traz grande malefícios para os países subjugados, acho que ninguém de bom senso nega isso. Mas o imperialismo ocidental deixou marcas benéficas em alguns países muçulmanos, fazendo com que estes, hoje, tenham uma melhor estrutura social que os países não dominados.

“Afinal, houve alguns benefícios – infra-estrutura, serviços públicos, sistemas educacionais, bem como algumas mudanças sociais, notadamente a abolição da escravidão e a considerável redução, embora não a eliminação, da poligamia. O contraste pode ser visto muito claramente comparando-se os países que sofreram sob o jugo imperial, como o Egito e a Argélia, com aqueles que nunca perderam sua independência, como a Arábia e o Afeganistão.” P. 37.

Lewis em alguns momentos de seu livro reconhece a primazia intelectual e estrutural do mundo islâmico na era medieval, todavia, isso ficou para trás. A cultural islâmica como “a mais rica, mais poderosa, mais criativa e esclarecida região do mundo” (P. 35), ficou para trás. O mundo árabe em termos intelectuais e científicos é desprezível.

“Na Arábia Saudita, as universidades surgiram mais tarde, e em pequeno número. Atualmente, para uma população estimada em 21 milhões, há oito universidades – uma a mais que as sete instituições de ensino superior criadas pelos palestinos desde a ocupação dos territórios por Israel em 1967.” P. 37.

No país sede da religião alcorânica, a escravidão terminou tardiamente. Não é essa a religião da paz?

“A escravidão só foi legalmente abolida na Arábia Saudita em 1962, e a subjugação das mulheres permanece em plena vigência.” P. 37.

Eis as raízes filosóficas do sentimento de ódio contra os Estados Unidos:

“Entre os componentes do sentimento antiamericanista [entre os arábes] estavam certas influências intelectuais vindas da Europa. Uma dessas originava-se na Alemanha, onde uma imagem negativa da América fazia parte de uma escola de pensamento que incluía escritores tão diversos quanto Rainer Maria Rilke, Oswald Spengler, Ernst Jünger e Martin Heidegger. Para eles, os Estados Unidos eram o exemplo perfeito de civilização sem cultura; rica e confortável, materialmente avançada, mas desprovida de alma e artificial; montada ou, no melhor dos casos, construída, mas não arraigada; mecânica, não orgânica; tecnologicamente complexa, mas sem a espiritualidade e vitalidade das culturas enraizadas, humanas, nacionais dos alemães e de outros povos “autênticos”. A filosofia alemã e a filosofia da educação, em particular, desfrutaram de popularidade considerável entre intelectuais árabes e de alguns outros países muçulmanos na década de 1930 e início da década seguinte, e esse antiamericanismo filosófico era parte da mensagem.” P. 41.

No conflito de décadas entre Israel e os palestinos, convencido por dois documentários, fico ao lado dos palestinos. Mas tenho que concordar com o Lewis, com o que ele diz:

“O conflito Israel-Palestina certamente tem atraído muito mais atenção que qualquer um dos outros, por diversas razões. Primeira, dado que Israel é uma democracia e uma sociedade aberta, é muito mais fácil noticiar – e noticiar de forma errada – o que está acontecendo no país. Segunda, os judeus estão envolvidos, e, em geral, isso pode garantir uma audiência significativa entre aqueles que, por uma razão ou outra, são a favor deles ou contra. Um bom exemplo dessa diferença é a Guerra Irã-Iraque, que durou oito anos, de 1980 a 1988, e causou mortes e destruição muito maiores que todas as guerras árabe-israelenses juntas, mas recebeu bem menos atenção. É verdade que nem Iraque nem Irã são uma democracia, e a cobertura jornalística era, portanto, uma tarefa mais difícil e mais perigosa. Por outro lado, os judeus não estavam envolvidos, nem como vítimas nem como autores, e as notícias, portanto, eram menos interessantes.

Uma terceira e, em última instância, a mais importante razão para a primazia da questão palestina é que ela é, por assim dizer, uma queixa autorizada – a única que pode ser expressada com liberdade e segurança naqueles países muçulmanos onde a mídia está totalmente nas mãos do governo ou é estritamente supervisionada por ele. Na verdade, Israel serve como um útil bode expiatório para reclamações sobre as privações econômicas e a repressão política sob as quais vive a maior parte dos povos muçulmanos, e como uma maneira de desviar o ódio resultante. Esse método é amplamente favorecido pelo cenário interno israelense, onde qualquer impropriedade da parte do governo, do exército, dos colonos ou de quem quer que seja é imediatamente revelada e qualquer falsidade imediatamente denunciada por críticos israelenses, tanto judeus quanto árabes, na mídia e no Parlamento israelenses. A maior parte dos oponentes de Israel não sofre nenhum desses impedimentos em sua diplomacia pública.” P. 50-51.

A relação entre EUA e Israel:

"Durante muito tempo, esse relacionamento [entre EUA e Israel] foi moldado por duas considerações inteiramente diferentes: uma delas pode ser chamada ideológica ou sentimental; a outra, estratégica. Os norte americanos, escolados na Bíblia e em sua própria história, podem prontamente ver o nascimento do moderno Estado de Israel como um novo Êxodo e um retorno à Terra Prometida, e acham fácil desenvolver uma empatia por pessoas que parecem estar repetindo a experiência dos peregrinos fundadores, dos pioneiros e dos que os sucederam. Os árabes, por certo, não vêem dessa maneira, e muitos europeus também não." P. 53.

E os interesses norte-americano sobre o petróleo do Oriente Médio? Lewis responde:

“Desde o colapso da União Soviética, uma nova política norte-americana surgiu no Oriente Médio, relacionada com diferentes objetivos. Seu principal propósito é impedir a emergência de uma hegemonia regional – ou de uma única autoridade regional que possa dominar a área e estabelecer o controle monopolístico do petróleo do Oriente Médio. Essa tem sido a preocupação básica subjacente a sucessivas políticas norte-americanas para o Irã, Iraque ou para qualquer outra situação percebida como uma futura ameaça dentro da região.” P. 53.

Os interesses muitas vezes escusos dos EUA e da Europa:

“Há alguma justiça em uma acusação feita freqüentemente aos Estados Unidos e, em termos mais gerais, ao Ocidente: os povos do Oriente Médio reclamam cada vez mais que o Ocidente os julga com base em padrões diferentes e inferiores aos usados para julgar europeus e norte-americanos, tanto no que se espera deles quanto no que eles podem esperar em relação a seu bem-estar econômico e sua liberdade política. Afirmam que porta-vozes ocidentais repetidamente relevam ou mesmo defendem ações e apoiam governantes que eles próprios não tolerariam em seus países.

[...]

As mais flagrantes violações de direitos civis, liberdade política, até mesmo decência humana são ignoradas ou apagadas, e crimes contra a humanidade, que em um país europeu ou nos Estados Unidos invocariam uma onda de indignação, são vistos como normais e mesmo aceitáveis. Regimes que praticam tais violações são não apenas tolerados, mas até mesmo eleitos para a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, cujos membros incluem a Arábia Saudita, Síria, Sudão e Líbia.

[...]

Tal como muitos vêem no Oriente Médio, a posição básica dos governos europeus e norte-americano é: ‘Não nos preocupamos com o que vocês fazem com seus próprios povos em seus países, desde que sejam cooperativos em atender nossas necessidades e proteger nossos interesses.’” P. 55, 56.

O ressentimento do mundo árabe:

“As pessoas no Oriente Médio estão cada vez mais conscientes do profundo e crescente hiato entre as oportunidades do mundo livre além de suas fronteiras e a privação e repressão chocantes dentro delas. A raiva daí resultante é naturalmente dirigida, primeiro, contra seus governos e, depois, contra aqueles que, para elas, mantêm esses governantes no poder por razões egoístas. É certamente significativo que todos os terroristas identificados nos ataques de 11 de setembro em Nova York e Washington tenham vindo da Arábia Saudita e do Egito, isto é, de países cujos governantes são considerados amigos dos Estados Unidos.” P. 61.

O Ocidente corre perigo.

"Na Europa e nos Estados Unidos, devido à relutância dos Estados em se envolverem em assuntos religiosos, o ensino do islã em escolas e em outros locais tem sido, de modo geral, totalmente sem supervisão das autoridades”. P. 65.

Para os mais fanáticos seguidores de Maomé, a influência ocidental deve ser extirpada de seus países.

"Em termos amplos, os fundamentalistas muçulmanos são aqueles que sentem que os atuais problemas do mundo muçulmano resultam não de modernização insuficiente, mas de excessiva modernização, que vêem como uma traição aos autênticos valores islâmicos. Para eles, a solução é um retorno ao verdadeiro islã, incluindo a abolição de todas as leis e de outros arranjos sociais tomados emprestados do Ocidente, com a restauração da Lei Sagrada islâmica, a shari’a, como a efetiva lei da terra. De sua perspectiva, o conflito básico não é contra o intruso ocidental, mas contra o traidor ocidentalizador em casa. Seus inimigos mais perigosos, segundo vêem, são os muçulmanos falsos e renegados que governam os países do mundo islâmico e que importaram e impuseram costumes infiéis aos seus povos." P. 67.

O que pode acontecer com um não-muçulmano que “insultar” o profeta Maomé em terras muçulmanas?

“Os juristas dedicam considerável atenção à definição de ofensa, às regras de obter evidências e à punição apropriada. Mostram grande preocupação com que as acusações dessa ofensa não sejam usadas como um artifício para conseguir alguma vingança particular, e insistem em cuidadoso escrutínio das provas antes que qualquer veredicto ou sentença sejam pronunciados. A opinião majoritária é que UMA FLAGELAÇÃO E UMA PENA DE PRISÃO SÃO PUNIÇÕES SUFICIENTES – A SEVERIDADE DA FLAGELAÇÃO E O TEMPO DE APRISIONAMENTO DEPENDEM DA GRAVIDADE DA OFENSA. O caso do muçulmano que insulta o Profeta praticamente não é levado em consideração, e deve ter sido muito raro. Quando discutido, a opinião comum é de que se trata de um ato equivalente à apostasia.” P. 69. (Ênfase acrescentada).

Para os muçulmanos que rechaçam o mensageiro de Alá, a punição é a morte.

“A apostasia é uma das grandes ofensas na lei muçulmana, e resulta em pena de morte para homens. Mas a palavra importante nessa declaração é lei. A jurisprudência islâmica é um sistema de lei e justiça, não de linchamento e terror. Ela estabelece procedimentos de acordo com os quais uma pessoa acusada de uma ofensa deve ser levada a julgamento, confrontada com seu acusador e ter a oportunidade de se defender. Um juiz então dará um veredicto e, se for considerada culpada, pronunciará a sentença.” P. 69.

Religião de amor? Não, não.

“Os muçulmanos não são instruídos para dar a outra face, nem se espera que refundam suas espadas para transformá-las em arados e suas lanças em foices (Isaías 2:4). Essas admoestações certamente não impediram que os cristãos fizessem uma série de guerras sangrentas de religião dentro da cristandade e guerras de agressão fora dela.” P. 70.

O suicídio no islã:

“Os livros da lei islâmica são muito claros quanto à questão do suicídio. É um grande pecado, punido com a danação eterna sob a forma da repetição sem fim do ato através do qual o suicida se matou. As seguintes passagens, tiradas das tradições do Profeta, ilustram a questão vividamente:

O Profeta disse: Quem quer que se mate com uma lâmina será atormentado com aquela lâmina nos fogos do inferno.

O Profeta também disse: Aquele que se enforca enforcará a si mesmo no inferno, e aquele que se esfaquear esfaqueará a si mesmo no inferno. … Aquele que se lança de uma montanha e se mata lançará a si mesmo aos fogos do inferno para todo o sempre. Aquele que toma veneno e se mata levará seu veneno nas mãos e o beberá no inferno para todo o sempre. … Quem quer que se mate de alguma maneira será atormentado da mesma maneira no inferno. … Quem quer que se mate de alguma maneira neste mundo será atormentado do mesmo modo no dia da ressurreição.” P. 73.

A essa altura, não espanta que muitos muçulmanos neguem os 6 milhões de judeus mortos na segunda grande guerra.

“No que se refere ao Holocausto, não é incomum encontrar três posições na mídia árabe: nunca aconteceu; foi grandemente exagerado; de qualquer forma, os judeus mereciam. Ninguém ainda afirmou que a destruição do World Trade Center nunca aconteceu, embora, com o passar do tempo, isso não esteja além da capacidade de teóricos com visão conspiratória. O discurso atual entre muitos dos comentaristas muçulmanos – embora, de forma alguma, de todos – é argumentar que nem muçulmanos nem árabes poderiam ter feito isso.” P. 74.

É claro que o livro é extremamente mais rico e explicativo do que mostrei toscamente aqui. De todo modo, as passagens mostradas provam por A mais B, que o islã está muito longe de ser uma religião que prega o amor e a paz, como muitos meios midiáticos e a esquerda querem nos fazer crer.