quarta-feira, 28 de agosto de 2019

1 Samuel 28 e os Intérpretes Evangélicos


Desde tempos imemoriais os humanos tentam se comunicar com aqueles que já partiram, acreditando obter ajuda, direcionamento, conselhos preciosos e etc. Religiões existem aos montes que alegam poder ser possível falar com os mortos, invocando-os mediante rituais, preces e segredos espirituais. Elas afirmam vivenciar diariamente esse intercâmbio entre o nosso mundo e o mundo de lá. No Brasil, talvez o ramo religioso mais proeminente nessa prática, seja o espiritismo kardecista.

Na maré contrária, um grupo que insistentemente faz oposição a necromancia são os evangélicos. Estes, baseados em sua interpretação histórica da Bíblia, rejeitam veementemente a prática de querer qualquer papinho maroto com os defuntos desencarnados. Para tal, mostram de peito aberto os vários versos bíblicos que reprovam a tentativa de comunicação com os mortos.

Quando os espíritas lhes mostram o texto bíblico de 1 Samuel 28, os evangélicos, em tom quase que uníssono, “refutam” a interpretação espiritualista dizendo que na verdade não foi Samuel que apareceu a Saul, mediante o chamado da médium, mas, sim, um demônio passando-se pelo velho profeta.

Muitos deles pensam que essa é a interpretação padrão entre os estudiosos evangélicos. Entretanto, numa pesquisa rápida, vi que não. Os próprios eruditos e estudiosos protestantes conservadores, é importante frisar isto, estão divididos na exegese desse polêmico texto do Antigo Testamento. O que constatei numa breve pesquisa nas obras desses acadêmicos, é que muitos deles admitem o óbvio: o espírito de Samuel deslocou-se do mundo dos mortos para ir ter uma prosa com o confuso e desesperado rei Saul.

Claro que a grande massa de evangélicos, principalmente os pentecostais, não sabem disso. Diga a eles que Samuel apareceu a Saul naquela “sessão espírita”, que eles lhe chamarão de herege e distorcedor (essa palavra existe?) das escrituras. Mal sabem eles, que não poucos dos maiores estudiosos evangélicos alegam que Samuquinha deu as caras, para descer o sarrafo em Saul. Quando não o dizem, admitem que esta é uma possibilidade de interpretação legítima do texto.

Eu selecionei vários exemplos de obras evangélicas conservadoras que provam o que falei. São livros bem-quistos no universo evangélico. Também incluí algumas Bíblias de estudo.

------------------------------------------------------------------------------------ 
“O decreto de juízo divino contra Saul, que parecia ter sido adiado, finalmente se cumpre. À medida que o fim de Saul se aproxima, ele experimenta o silêncio de Deus, um castigo apropriado para alguém que não cumpriu as ordens de Deus e que, depois, matou os sacerdotes de Deus que serviam de mediadores entre os homens e o Senhor. Quando Saul desobedece ao Senhor pela última vez ao consultar uma médium, ocupação proibida pela lei, o Senhor finalmente fala, a pedido de Saul, por meio do profeta Samuel. Se o rei espera receber direção ou consolo de Samuel, está enganado. Samuel lembra Saul de seu pecado e do decreto de juízo divino, que se cumprirá no dia seguinte”. P. 185-186.

CHISHOLM JR, Robert B. Série Comentário Expositivo: 1 e 2 Samuel. São Paulo: Vida Nova, 2017.
-------------------------------------------------------------------------------------

“A médium gritou de medo quando o próprio Samuel apareceu, em vez de um espírito que se faria passar por ele. Nessa ocasião, Deus permitiu miraculosamente que o espírito de Samuel anunciasse que Saul estava condenado à morte (v. 19). O grito de surpresa da médium mostra que a aparição não foi decorrente de algum dos seus truques.” P. 295.

A Bíblia de Estudo Anotada: Edição ExpandidaSão Paulo: Mundo cristão; Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007.
-------------------------------------------------------------------------------------

"A história da médium em En-Dor que fez subir o espírito de Samuel não lança dúvidas sobre a realidade daquilo que aconteceu, mas claramente condena a aventura.” P. 1228.

BROWN, Colin; COENEN, Lothar (Orgs). Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2 ª Ed. - São Paulo: Vida Nova, 2000.
-------------------------------------------------------------------------------------

“O AT [Antigo Testamento] deixa claro que não é possível ter contato com os mortos (cp. 2Sm 12.23; Jó 14. 10-12; Sl 88.10; 115.17). Samuel é a única exceção”. P. 494.

Bíblia de Estudo NVT. São Paulo: Mundo Cristão, 2018.
---------------------------------------------------------------------------------------

"Deus proibiu a invocação dos mortos (Dt 18.11). Neste caso, ele deixou que, através da médium de En-Dor, Saul recebesse uma mensagem de Samuel, que já tinha morrido. No entanto, este caso isolado não permite ou autoriza que se busque conhecer os mistérios que Deus reservou para si. Por outro lado, a aparição de Samuel, a de Moisés e Elias no monte da transfiguração (Mt 17.3) dão a certeza de que as pessoas que morreram na fé estão nas mãos de Deus. [...] A mulher chegou à conclusão de que apenas Saul poderia estar interessado em mandar subir o espírito de Samuel (v. 8). 

Bíblia de Estudo Almeida: Edição Ampliada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2022.

-------------------------------------------------------------------------------------

“O texto dá a entender que o espírito de Samuel realmente apareceu e aludiu aos eventos dos quais o profeta Samuel havia participado (vv. 15-19); o tom de sua fala soa como a de Samuel. Talvez a mulher tenha reconhecido Saul à luz do aparecimento de Samuel, ou talvez o rei tenha puxado para trás o capuz para ver mais de perto o espírito que aparecia diante dele.” P. 482.

Bíblia de Estudo Holman. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.
-------------------------------------------------------------------------------------
“Nesse ínterim, Saul, todo atemorizado, procurou mediante uma feiticeira, em Endor, entrevistar o espírito de Samuel. A narrativa singela, sem rodeios, de fato parece implicar em que o espírito de Samuel apareceu mesmo. Contudo, as opiniões divergem sobre se a aparição foi real ou fraudulenta.” P. 171.

Halley, Henry H. Manual Bíblico de Halley. São Paulo: Vida, 2011.
-------------------------------------------------------------------------------------

“Saul procurou uma médium, 7. Disfarçado, para não ser reconhecido como rei, 8, ele pediu à mulher que invocasse o espírito de Samuel, para que ele pudesse interrogá-lo sobre o que fazer acerca da pressão filistéia. O espírito de Samuel foi chamado de volta, mas isso foi obra do próprio Deus, e não da médium, o que é comprovado pelo pavor gerado na mulher”. P. 157.

UNGER, Merrill Frederick. Manual Bíblico Unger. São Paulo: Vida Nova, 2006.
-------------------------------------------------------------------------------------

“Quando Deus recusou-se a responder a Saul por meios legítimos, Saul procurou uma médium (28.1-7). Mentindo para a médium em En-Dor, Saul convenceu-a a trazer Samuel dentre os mortos. Para grande surpresa dela, a aparição era genuína e com isso ela descobriu a verdadeira identidade de Saul. Deus interveio de maneira sem precedentes e de fato enviou Samuel para profetizar o julgamento de Saul (cf. 15.27-29). Samuel condenou Saul à morte porque ele ‘não deu ouvidos à voz do Senhor’ (28.18). O desalento de Saul era tamanho, que ele não conseguia continuar. Por insistência dos servos e da médium, Saul ingeriu alimento para se revigorar para a viagem (28.8-25).” P. 267.

DOCKERY, David S. (Ed). Manual Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2001.
-------------------------------------------------------------------------------------

“Em 1Samuel 28.13, quando a necromante vê Samuel, declara que está vendo um ‘ser’ ou ‘deuses’ (heb. Elohim). Esse emprego do termo elohim para designar um fantasma é único na Bíblia e tem despertado numerosos questionamentos históricos e teológicos.” P. 435.

Bíblia de Estudo Arqueológica NVI. São Paulo: Editora Vida, 2013.
-------------------------------------------------------------------------------------

“O texto indica que a mulher foi pega de surpresa quando Samuel lhe apareceu. Foi um momento de revelação; daí o grito que ela deu em alta voz, e sua percepção de que a pessoa que a estava consultando era Saul, o rei. O incidente não nos informa nada sobre a veracidade das alegações feitas por médiuns de que de fato consultam os mortos, porque os dados no texto apontam para o fato de que esse acontecimento foi para ela não só extraordinário, mas também assustador, porque ela não estava no controle da situação.” P. 179-180.

BALDWIN, Joyce G. 1 e 2 Samuel – Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1997.
-------------------------------------------------------------------------------------

“A palavra 'ôb refere-se claramente àqueles que consultavam espíritos, visto que 1 Samuel 28 descreve uma destas pessoas em ação. A famosa 'pitonisa de En-Dor era uma 'ôb. Embora Saul tivesse proibido 'feiticeiras' e 'mágicos' ele consultou um deles. Disfarçando-se, pediu que a 'médium' trouxesse Samuel dentre os mortos. Ela foi bem sucedida e, embora ele tenha-se queixado de ter sido perturbado, anunciou a Saul as más notícias."

HARRIS, R. Laird; ARCHER, Gleason L.; WALTKE, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1998, p. 24.
-------------------------------------------------------------------------------------

“É curioso e significativo que os falsos profetas não recebam o crédito da realização de milagres. A única exceção parece ser a dos mágicos egípcios durante as primeiras pragas e da feiticeira de En- Dor.” P. 898.

TENNEY, Merril C. (Org). Enciclopédia da Bíblia, Volume 1 A-C. 1. Ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
-------------------------------------------------------------------------------------

“O texto nos dá boas razões para acreditar que a mulher era uma fraude, e que não tinha o poder de falar com os mortos. Ou ela fingia as experiências com os mortos, ou os espíritos familiares com quem ela falava não eram, na verdade, espíritos dos mortos. O que aconteceu quando ela chamou Samuel é revelador: ‘Vendo a mulher a Samuel, gritou [za'aq] em alta voz’ (1 Sm 28.12). A expressão za ‘aq significa “gritar com angústia”, e comunica a idéia de medo e desespero. E o clamor de alguém que quer ajuda.137 Parece que a mulher foi surpreendida pelo fato de Samuel aparecer. Ela não estava esperando que isso acontecesse, e quando o viu, ficou chocada. Não era normal para a necromante encontrar os mortos, e quando isso aconteceu, ela não estava preparada para a situação, que piorou, porque Samuel deixou clara sua ira contra Saul por ser chamado dessa forma, e profetizou sua derrota e morte.” P. 1087.

FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: Uma Análise Histórica, Bíblica e Apologética Para o Contexto Atual. 1. Ed. São Paulo: Vida Nova, 2007.
-------------------------------------------------------------------------------------

“A Bíblia diz: ‘Vendo, pois, a mulher a Samuel’ (1 Sm 28.12). A aparição de Samuel diante dessa médium tem sido entendida de diversas maneiras. Alguns supõe que a mulher simplesmente viu Samuel em sua mente e, em seguida, por algum tipo de telepatia, discerniu os pensamentos de Saul. Outros supõem que um demônio apareceu personificando Samuel. Contudo, é digno de nota que ela ficou surpresa quando viu Samuel. Era, obviamente, algo diferente do que ela estava acostumada a ver. Em virtude do assombro e espanto que demonstrou, parece mais provável que a mulher estava esperando pela aparição de um espírito demoníaco, ao mesmo tempo que Deus, na verdade, tenha permitido que o espírito de Samuel aparecesse, a fim de confirmar a Saul a sentença divina em termos de derrota e morte. O que Samuel disse estava de acordo com suas profecias anteriormente proferidas (1 Sm 15.26,28). Em cumprimento a elas, os exércitos de Israel foram vencidos. Depois, Saul cometeu suicídio (1 Sm 31.4)”. P. 57-58.

HORTON, Stanley M. Nosso Destino. 1ª ed. – Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1998.
-------------------------------------------------------------------------------------

“Considerando o sentido expresso do texto, parece evidente que Samuel, de fato, apareceu para a mulher, mas que ela ficou espantada quando isso ocorreu. Samuel não se manifestou do reino dos mortos em função da competência dessa médium, mas porque foi da vontade de Deus que isso ocorresse. Não se tratava de um demônio imitando Samuel nem de truques astutos da médium; do contrário, ela não teria ficado tão assustada. Seu grito alto deixou claro que a mulher não esperava que isso acontecesse.” P. 284.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento: volume II. Santo André, SP: Geográfica editora, 2006.
-------------------------------------------------------------------------------------

“Deus proibiu a invocação dos espíritos dos mortos (Dt 18.11). Neste caso, ele deixou que, através da médium de Endor, Saul recebesse uma mensagem de Samuel, que já tinha morrido. No entanto, este caso isolado não permite ou autoriza que se busque conhecer mistérios que Deus reservou para si. Por outro lado, a aparição de Samuel, a de Moisés e Elias no monte da transfiguração (Mt 17.3) dão a certeza de que as pessoas que morreram na fé estão nas mãos de Deus.”

Bíblia de Estudo NTLH. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011.
-------------------------------------------------------------------------------------

“Embora tenham surgido questionamentos quanto à natureza do aparecimento de Samuel, o texto claramente indica que Samuel, e não uma aparição, tornou-se presente diante dos olhos da médium. Deus milagrosamente permitiu que o verdadeiro espírito de Samuel falasse (vs. 16-19)”. P. 387.

Bíblia de Estudo MacArthur. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
-------------------------------------------------------------------------------------

“Samuel profetizou a morte Saul (1 Sm 28. 16-19).” P. 262.

ZUCK, Roy B. A Interpretação Bíblica: Meios de Descobrir a Verdade da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1994.
-------------------------------------------------------------------------------------

“A médium o recebeu com desconfiança, pois o seu ofício era proibido; depois de lhe prometer imunidade, ele lhe pediu que fizesse subir Samuel. [...] Saul se prostrou diante do visitante invocado, queixando-se de que a palavra de Javé não era mais concedida a ele. Samuel respondeu que as suas perguntas já haviam sido respondidas — e ignoradas, acrescentando que no dia seguinte ele e os seus filhos seriam mortos e o exército de Israel cairia diante dos filisteus.” P. 509.

BRUCE, F. F. (Org). Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2008.
-------------------------------------------------------------------------------------

“’Que Samuel realmente apareceu naquela ocasião, evidencia-se através do texto. Isso não pode ser negado por nenhum modo legítimo de interpretação’ (Adam Clarke, in loc.). O mesmo autor prossegue dizendo que a coisa genuína surpreendeu a médium, porquanto não era o que ela esperava acontecer. A mulher quedou-se ‘admirada e assustada’ pela visão (Ellicott, in loc.). Keil sugere que a mulher caiu em um estado de clarividência, e assim foi capaz de reconhecer Saul. Josefo (Antiq. vi.14,2) asseverou que Samuel revelou quem era o consultante. O texto também é embelezado pelos escritores judaicos, incluindo os aparecimentos de poderosos juízes e até do próprio Yahweh.” P. 1224.

CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento interpretado: Versículo por Versículo: Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, volume 2. 2. ed. — São Paulo: Hagnos, 2001.
-------------------------------------------------------------------------------------

“A forma como esta cena deve ser interpretada tem intrigado comentadores por todos os séculos. Alguns, uma maioria considerável, creram que Samuel realmente apareceu. Geralmente, porém, eles ressalvam o fato declarando que foi um juízo especial de Deus sobre Saul, e que Samuel foi incumbido de trazer, uma vez que qualquer tentativa de contatar os mortos era terminantemente proibida pela lei. Outros acreditaram que um demônio personificou Samuel. Ainda outros afirmaram que toda a cena foi uma armação de uma mulher perspicaz e um cúmplice, para tirar vantagem da condição perturbada do rei para fazê-lo crer que estava realmente em contato com o falecido profeta.” P. 220.

PURKISER, W. T. Comentário Bíblico Beacon: Josué a Ester. 4° Impressão. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
-------------------------------------------------------------------------------------

“Há diversas correntes de interpretação desse episódio. Duas se destacam: 91) Deus, de modo sobrenatural, fez Samuel aparecer a Saul mesmo depois de morto; (2) o ser que apareceu em forma de Samuel era um espírito mau. [...] Essa não é uma questão fechada, certa. No entanto, o que é certo é que a consulta aos mortos é expressamente proibida na Bíblia, que causa repugnância em Deus.” P. 444.

Bíblia Brasileira de Estudo. São Paulo: Hagnos, 2016.
-------------------------------------------------------------------------------------

“O Saul que estava para enfrentar um ataque violento dos filisteus vindo do norte era um Saul desesperado e sem nenhuma palavra de orientação da parte de Deus. Ele tivera capricho de banir todos os adivinhos e médiuns (28.3), mas em pânico consultou uma médium (28.2ss.). A cena misteriosa mostra Saul implorando fervorosamente um conselho do profeta a quem havia desobedecido vezes seguidas em vida. Samuel é retratado tão destemido no além como nos dias em que estava na terra, trazendo do mundo dos mortos apenas uma versão mais mordaz do que anunciara em Gilgal (15.17ss.): a desobediência de Saul lhe custara a coroa.” P. 193-194.

LASOR, William (Org). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999.
-------------------------------------------------------------------------------------

“Quando Samuel apareceu, a mulher pareceu aterrorizada e gritou (11, 12). Seus encantamentos costumeiros tinham sido uma impostura, mas agora, para seu terror, Deus enviou Samuel para pronunciar a condenação de Saul. [...] Aceitando a narrativa em seu sentido natural, ela certamente indica uma real aparição de Samuel. O significado claro só é negado porque muitos se recusam a acreditar na possibilidade de alguém aparecer vindo da região da morte, enquanto que outros se recusam a acreditar que deus permitisse que uma mulher pudesse invocar a presença de um de seus santos. Deus, entretanto, enviou Samuel para confundir a necromante e para pronunciar a sentença de contra Saul”. P. 320.

DAVIDSON, F. (Org). O Novo Comentário da Bíblia. 3ª Ed. - São Paulo: Vida Nova, 1997.
-------------------------------------------------------------------------------------

"O relato da ocasião em que Saul buscou conselho do falecido Samuel através da médium de Em-Dor (1 Sm 28) expõe a fraude do espiritismo. Na sessão espírita, a feiticeira, descrita como uma ba‘alath-’ob, “meretriz de um espírito familiar”, esperava manifestar o espírito de “controle” que se faria passar por Samuel, mas ao invés disso gritou aterrorizada pelo que aconteceu. Neste caso único Deus soberanamente permitiu que o verdadeiro espírito de Samuel falasse a fim de pronunciar uma séria censura ao rei apóstata. Normalmente o suposto espírito falaria algo um pouco favorável; neste caso único o inquiridor (Saul) foi condenado a morrer no dia seguinte, uma advertência válida para todo o tempo vindouro." P. 682.

PFEIFFER, Charles F.; REA, John; VOS, Howard F. (Orgs). Dicionário Bíblico Wycliffe. Ed. - Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
-------------------------------------------------------------------------------------

“A necromancia era tão contraria aos mandamentos de Deus que seus praticantes estavam sob pena de morte (Dt 13). As experiências incomuns dos necromantes não provam que eles tenham poder para invocar os mortos. Por exemplo, a médium de En-Dor não pode arrancar Samuel das mãos de Deus contra o Seu querer. Mas neste incidente em particular, parece que Deus reprovou a apostasia de Saul, quer tenha sido por um Samuel reavivado, quer por uma visão de Samuel. Os médiuns não têm poder para invocar os espíritos dos mortos, visto que isto e repreensível a Deus e contrário a Sua vontade.” P. 114.

VINE, W. E.; UNGER, Merril F.; WHITE JR.; William. Dicionário Vine: O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
-------------------------------------------------------------------------------------

“O espírito de Samuel apenas relembrou a Saul aquilo que ele já sabia”. P. 461.

Bíblia de Estudo Esquematizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.
-------------------------------------------------------------------------------------

“Em 28. 1-25 temos o relato do desvairado Saul, procurando, por meio da médium de En-dor, a ajuda do falecido Samuel. Aparição [de Samuel] anunciava a derrota de Israel e a morte de Saul e de seus filhos. O desastre sobreveio a Saul na batalha contra os filisteus, no monte Gilboa (31. 1-13).” P. 1227.

DOUGLAS, J. D. (Org.). O Novo Dicionário da Bíblia. 3ª ed. rev. - São Paulo: Vida Nova, 2006.
-------------------------------------------------------------------------------------
"Consultar médiuns ou espíritas era prática proibida, [...] como bem sabia Saul. Anteriormente, ele havia proibido médiuns no reino. Mas, devido a sua desobediência, Saul perdera o contato com Deus e buscava, desesperado, saber o futuro. Quer Samuel tenha de fato aparecido, quer a mulher tenha fingido, os resultados foram os mesmos: Saul foi embora com mais medo do que antes." P. 378.

Bíblia de Estudo Facilitado. São Paulo: Mundo Cristão, 2013.
-------------------------------------------------------------------------------------

“O caráter deste acontecimento há muito é objeto de discussão – se o espírito realmente era Samuel, ou como a médium pôde comandar o espírito do profeta Samuel, agora morto. No que se refere ao narrador, este é, de fato, o espírito de Samuel, já morto. Ele é chamado de ‘Samuel’ nos vs. 15-16. [...] É difícil pensar que o narrador acreditava que isto era uma ilusão encenada pela mulher ou algum espírito demoníaco para enganar Saul”. P. 511.

Bíblia de Estudo NAA. Barueri, SP: Sociedade Bíblia do Brasil, 2018.
-------------------------------------------------------------------------------------
“O caso da feiticeira de En-dor é evidentemente um caso excepcional pretendido por Deus para trazer o julgamento ao rei Saul. [...] A mulher, tomada de terror, abandona o seu papel como médium e o espírito de Samuel fala diretamente a Saul.” P. 529.

CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática Vol. 1 e 2. São Paulo: Hagnos, 2003. 
---------------------------------------------------------------------------------------

"Samuel não é o único profeta que aparece de além da sepultura. Em dado momento da vida de Jesus, ele leva Pedro, Tiago e João para cima de uma montanha, e ali Jesus é transfigurado em sua glória celestial - e Moisés e Elias aparecem junto com ele". P. 209.

CHESTER, Tim. 1 Samuel Para Você. São Paulo: vida Nova, 2019.
---------------------------------------------------------------------------------------

"Saul procura uma Pitonisa e a pitonisa invoca a Samuel - e parece assustada quando Samuel mesmo responde à chamada (v. 12). Que fosse Samuel mesmo quem 'subiu' não é somente o que a Escritura diz, mas com isso concordam ' Justino Mártir, Orígenes, Agostinho e outros, e a maior parte dos comentadores judaicos." P. 355.

Bíblia de Estudo Explicada. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
---------------------------------------------------------------------------------------

"A descrição mais vívida de um médium e sua habilidade está registrada em 1 Samuel 28, a infame bruxa de En-dor consultada pelo Rei Saul. Tais indivíduos praticavam feitiçaria, bruxaria, adivinhação ou fórmulas de encantamento (Dt 18.11; 2Rs 21.6; 2Cr 33.6). Parece, no entanto, que a habilidade primária do médium consistia em invocar e consultar os mortos ou fantasmas em favor de outros (Dt 18.11; 1 Sm 28; Is 8.19; 29.4). De acordo com 1 Samuel 28, isso era possível e aconteceu de fato. Porém, aquela pode ter sido a exceção e não a regra." P. 327.

VANGEMEREN, Willen A. (Org.). Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento Volume 1. 1º Ed. - São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
---------------------------------------------------------------------------------------
"Ela fica em choque quando vê Samuel, talvez indicando que seja uma falsa médium que realmente não pode se comunicar [com ] um morto nem falar com ele e simplesmente leva adiante seu ofício através do uso de ventriloquia e prestidigitação. Mas Samuel realmente surge da sepultura. Não há nenhum sentido em todo o texto se não for realmente o grande profeta." P. 524.

Bíblia de Estudo Thomas Nelson. 1 Ed. São Paulo: Thomas Nelson, 2021.
---------------------------------------------------------------------------------------
"[...] ele [Saul] estava desesperado por algum tipo de direção quanto ao seu dilema atual, tão desesperado por uma palavra de Deus que se disfarçou e partiu em uma perigosa viagem rumo a En-Dor, a fim de consultar uma dos poucos adivinhadores que permaneciam na região. Assegurando à feiticeira que ele cuidaria para que ela não se metesse em apuros por causa da prática ilegal, Saul lhe pediu que trouxesse Samuel dos mortos. Quando, para sua surpresa, o profeta apareceu, ela percebeu quem Saul devia ser, mas continuou sua tarefa. Samuel, cuja aparição logo fez com que Saul se prostrasse, rosto em terra, diante dele, obviamente não estava contente em ser perturbado. Saul pediu a Samuel instruções, mas não recebeu nenhuma garantia nem conselho. Em vez disso, recebeu uma dura repreensão por sua desobediência no passado e uma notícia de gelar o sangue:

Saul e seus filhos morreriam nas mãos dos filisteus no dia seguinte. O rei desmoronou de medo, e a médium, então, cuidou dele, preparando-lhe uma 'última refeição', da qual ele e seus companheiros comeram antes de retornar para casa." P. 193.

PETERS, Angie. Guia Fácil Para Entender a Vida de Davi. 1. ed. - Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017.
---------------------------------------------------------------------------------------
O Comentário Bíblico Moody chega a dizer que a maioria dos estudiosos ortodoxos afirmam que o nosso amiguinho Samuca apareceu. 

Norman Geisler, Teólogo conservador, em suas obras não bate o martelo, mas deixa claro que a interpretação de que foi Samuelito é viável. 

Eugenne Peterson, conhecido como o pastor dos pastores, é outro que diz que foi Samuel, em sua Bíblia de Estudo A Mensagem. 

O Teólogo calvinista Augustus Nicodemus é outro que admite ser o aparecimento de Samuel a melhor interpretação. 

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Deus



FILHO, Juvenal Savian. Deus. São Paulo: Globo, 2008.

O tema Deus sempre suscitou o interesse dos grandes Filósofos da antiguidade, idade média, idade moderna e idade contemporânea. “Quem é Deus?”, “Que é Deus?” e questionamentos e reflexões filosóficas similares nunca deixaram de estar na pauta da tradição dos grandes pensadores que já deram as caras por aqui. Ora, uns rejeitando a sua existência, outros admitindo-a, outros se abstendo de bater o martelo... Como reiteradas vezes o Filósofo Luiz Felipe Pondé (Professor da USP) pontuou, apesar de ser ateu, a ideia/conceito de Deus produzido no Ocidente é filosoficamente muito sofisticada. Como não ficar abismado com o argumento ontológico do Arcebispo Anselmo (1033-1109)? Podemos até não concordar, refutar, ou nem entender apropriadamente a sua linha de raciocínio, mas que é um pensamento engenhoso, ah, isso é.

Entre os Filósofos da Religião contemporâneos, quem ousar não reconhecer a engenhosidade dos escritos do Filósofo cristão Alvin Plantinga (Professor na Universidade de Notre Dame), que tem colocado boa parte da comunidade de acadêmicos para discutirem as suas concepções sobre Deus e sobre a crença cristã. Posso ainda citar outro Filósofo cristão, Richard Swiburne (Professor na Universidade de Oxford)que trilhando um caminho epistêmico distinto, e até antagônico ao de Plantinga, também deu grande impulso a Filosofia teísta nas últimas décadas. E para não ficar apenas entre Filósofos cristãos, fica aqui a lembrança do eminente Antony Flew (Professor da Universidade de Oxford), que ganhou grande notoriedade por seus escritos anti-teísticos por cerca de cinco décadas, criando novas formas de pensar a temática “Deus”, dando grande dor de cabeça aos pensadores cristãos.  

Chega de enrolação, vamos ao livro Deus, de Juvenal Savian (Ph.D em Filosofia na USP), que traz uma pequeníssima contribuição introdutória ao assunto.

Ele nos diz, que ao contrário do que se pensa, a maioria dos Filósofos não rejeitam a existência de deus.              

"Uma imagem que se criou a respeito dos filósofos é a de que eles são contra Deus. De acordo com essa imagem, os filósofos são pessoas tão racionais a críticas que não poderiam engolir a ideia de que exista Deus. Quanto à religião, pior ainda... Só mesmo uma pessoa inculta poderia aceitar essas crendices infantis... essa imagem corresponde à realidade? Não, não corresponde. Se fizermos uma estatística, há mais filósofos que afirmam a existência de Deus do que filósofos que a negam. É curioso notar que mesmo filósofos racionalistas, que não definem a fé como uma atividade racional, muitas vezes afirmam a existência de Deus como Criador ou produtor da ordem no mundo." P. 23.

Este trecho por si só, pode precisar de maiores esclarecimentos, visto que poderíamos perguntar se esses Filósofos que ele está se referindo o são no sentido strictu sensulato sensu, ou englobando os dois? O que quero dizer, esses pensadores são aqueles que chamamos Filósofos clássicos (strictu sensu), ou ele está colocando nesse time qualquer um que adquire o seu certificado de Doutor em Filosofia (
lato sensu) [1], mas que não criou necessariamente nenhum argumento novo que possa contribuir para novas ideias e debates sobre Deus? Sabemos que conseguir boas titulações, ensinar em grandes Universidades e ter grande prestígio entre os seus pares, não torna por si só, ninguém em um FILÓSOFO, visto que saber articular bem as ideias da Filosofia, ter uma mente enciclopédica sobre a história do pensamento grego antigo, passando pelo medieval, moderno e contemporâneo, torna o camarada em um exímio Historiador da Filosofia, mas se ele não criou novos argumentos, não pode se enquadrar no seleto grupo dos grandes Filósofos.

Pois bem, como estou enrolando mais uma vez, conforme vamos passando as páginas da obra do nosso Juvenal, fica claro que ele está se referindo ao grupo restrito dos Filósofos clássicos, como Platão, Aristóteles, Agostinho, Pascal, Descartes, Voltaire, Bergson... Eu até desconfio que se fossemos contabilizar os Professores de Filosofia universitários aqui no Brasil e lá fora, o número de pensadores céticos ultrapassaria o de crentes.   

Para certos pensadores da antiguidade clássica, pensar o Universo sem um ser superior não tinha cabimento algum.

"[...] para alguns filósofos gregos e romanos, ou afirmamos a existência de um ser divino ou tudo o que nos parece ocorrer no mundo não fará o menor sentido, será absurdo." P. 25.

Isto continua sendo um ponto crucial defendido pelos pensadores cristãos atuais, como o Filósofo Willian Lane (Ph.D em Filosofia pela Universidade de Birminghan) e James Porter (Ph.D em Filosofia pela Universidade do Sul da Califórnia), que escreveram juntos a monumental obra Filosofia e Cosmovisão Cristã, que em seu primeiro capítulo fala sobre “O Absurdo da Vida Sem Deus”.

Nosso amigo Juvenal mostra-se favorável a religiosidade que pulsa tão latente no ser humano, não imputando a ela, uma fraqueza intelectual e moral, alienação e etc. 

“[...] a experiência religiosa não parece propriamente uma ‘invenção’, uma prática convencional, mas algo ligado às camadas mais profundas disso que se costumou chamar de ‘natureza humana’. Seja como for, certas críticas à prática religiosa mostram-se inválidas, como é o caso, por exemplo, da crítica feita por alguns filósofos seguidores de Marx e Nietzche, quando dizem que a prática religiosa é uma violência à condição humana, uma diminuição do humano ou um instrumento de dominação social.” P. 21.

Juvenal não deixa claro se acredita ou não na divindade, de todo modo, mostra-se bem favorável ao pensamento teísta, fazendo uma distinção muito importante, que muitos críticos teimam em não atentar.

"Antes de tudo é preciso distinguir entre Deus e as religiões, sabendo que Deus não pode ser responsabilizado pelas incoerências cometidas pelas religiões. Além disso, é preciso lembrar que nem toda religião pratica violência. Mesmo os aspectos negativos do passado cristão na Idade Média, por exemplo, não podem nos impedir de ver as intermináveis contribuições que a fé cristã trouxe para o desenvolvimento do mundo ocidental." P. 66.

Lendo isto, lembro de que nas minhas humildes leituras já me deparei com vários autores que mesmo não sendo cristãos, reconhecem a grande contribuição moral e intelectual que o Cristianismo legou ao mundo. Clóvis Filho (Ph.D em Ciências da Comunicação na USP), no seu livro Ética e Vergonha na Cara, reconhece que a ideia de igualdade entre os seres humanos é fruto do pensamento cristão. Enquanto que a ideia de virtude grega é aristocrática, poucas pessoas a possuem, no Cristianismo ela é democratizada, não há escolha de uns em detrimento dos outros.

No entanto, dando uma de advogado do Diabo, durante séculos e mais séculos de hegemonia cultural e espiritual no Ocidente, é mais do que natural que a religião cristã tenha deixado coisas boas. Devemos ver grande coisa nisso? Até os portugueses que espoliaram o Brasil, deverá também ter alguma listinha de coisas benéficas que aqui fizeram. Acho que não devemos supervalorizar demais os benefícios do Cristianismo, assim como devemos sabe dosar as críticas a ele. Há exageros grandes demais tanto entre os seus defensores como entre os seus detratores.

Nosso autor passa então a trazer o que os Filósofos têm a dizer sobre Deus. Entra nessa lista: Platão, Aristóteles, Fílon de Alexandria, Tomás de Aquino, Kant, Voltaire, Pascal, Espinosa, Hegel, Lévinas e muitos outros.

A parte mais interessante do livro é a parte final intitulada Ensaiando Leituras, onde ele traz pequenos excertos dos Filósofos trabalhados.

Um livro diminuto, com apenas 106 páginas, mas que é um bom começo para quem está interessado em começar a adentrar esse terreno tão importante que é o pensar sobre Deus.  

[1] Eu sei que o Doutorado é pesquisa strictu sensu. Há um recorte bem restrito sobre o quê trabalhar na tese. Mas ficou claro o que eu quis dizer no texto.