domingo, 31 de dezembro de 2017

Documentários vistos (28)


Sucesso meteórico. Derrocada meteórica. Excelente documentário. 



Outra grande artista, aliás, a cantora mais premiada da história, que foi vencida (2012) pelo vício em álcool e drogas. O mais trágico é que numa espécie macabra de maldição hereditária, sua única filha morreu três anos depois, também vencida pelo uso de bebidas e entorpecentes. 


Não fui seu fã. Mas estou sempre curioso em saber um pouco sobre a história dos grandes nomes da música mundial. E Bowie está no seleto time dos maiores músicos. "O homem que mudou o mundo" da música. Bom documentário. 


Se fosse para dizer qual o melhor documentário que vi esse ano, seria este aqui! Superou todas as minhas expectativas. Hipnotiza do início ao fim. Da metade para o final, emociona. Não procure aqui, um filme para aprovar ou reprovar o socialismo cubano. Mas claro, o brilhante Jornalista Jon Alpert não se furtará em mostrar as grandes limitações do governo de Fidel Castro. No entanto, sem fazer juízos de valor. Nas entrelinhas, talvez ele queira nos passar o que o socialismo realmente trouxe a Cuba, apesar dele mostrar um grande apreço por Fidel. Documentário nota 1000! 


Seis micro-documentários sobre o lado sombrio da internet. Para citar apenas um dos temas apresentados, crianças das Filipinas, gravam vídeos despidas, obviamente sem nem saber do que se trata muitas vezes e contra as suas vontades, para satisfazer a luxúria doentia de pedófilos ao redor do mundo, que operam na dark web, sites altamente criptografados, que nem o governo consegue penetrar, para identificar os criminosos virtuais. O mais assustador é que muitas vezes, para garantir o arroz na mesa, muitos pais dessas crianças têm relações sexuais com elas gravadas em vídeo. O mundo é um caos! 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Filmes Vistos (15)


Este é um filme daqueles! Bom demais! A despeito de tratar de um assunto tão pesado como o racismo, é um filme leve. 

A história de três mulheres negras, que trabalham na NASA e que foram de primordial importância, para que os EUA conseguissem lançar os seus foguetes tripulados, na corrida espacial contra a URSS, que já estava na frente, nessa disputa, quando lançou o primeiro homem ao espaço, em 1961. Elas, por serem “de cor” enfrentaram o costumeiro e abjeto racismo daquela sociedade, onde nem a NASA estava livre das leis de segregação racial. 

A NASA pressionada pelo governo, para que trouxesse resultados que valessem todo o investimento financeiro jogado nela, estava diante de grandes dificuldades nos cálculos matemáticos, para que as naves tripuladas pudessem ser lançadas com segurança. Coube a uma das “negrinhas”, uma expert em matemática, destrinchar através de números intricados, fórmulas e teorias complexas, o segredo para fazer aquelas geringonças orbitarem a terra. Três amigas, com histórias inspiradoras.


Margareth é uma talentosa pintora, porém, separada de seu marido, numa época (1958) em que mulheres divorciadas eram vistas com muita desconfiança e preconceito. Não será nada fácil mostrar as suas obras de arte pitorescas ao mundo. Num momento de solidão e fragilidade, um oportunista acaba aparecendo em seu caminho, enganando Margareth, casando com ela, e fazendo com que ele se passe como autor dos quadros pintados por ela. Ingenuamente, ela aceita essa enganação, e com o tempo vai percebendo o psicopata com quem se casou. A sua vida é de pura submissão aos caprichos egoístas do marido, que leva todo o crédito pelos seus incríveis quadros, retratando crianças com "olhos grandes". E pasmem, através do contato com testemunhas de Jeová, que batem em sua porta, ela toma coragem e bota a boca no mundo, denunciando o marido, dizendo que ele nunca pintou nenhum dos quadros. Vão a julgamento, e é provado que ele é um charlatão. História real. Margareth ainda é viva, com mais de 90 anos. O pilantrão safado, seu ex-marido, morreu em 2000, desacreditado e na pobreza.


Clássico! 

Eu querendo ser cult, do nada resolvi baixar e assistir. 

Filme produzido durante a segunda guerra (1942), que conta a história de um triângulo amoroso, na cidade de Casablanca, na época território francês. 

Rick, Ilsa e Victor, formam, talvez, o triângulo amoroso mais memorável da história do cinema.


Não sou muito de assistir comédias românticas, mas a descrição desta, me deixou curioso. Filme cativante do início ao fim. Trabalha de maneira excepcional o preconceito, discriminação, nossas hipocrisias... Muitas vezes somos discriminados, sofremos algum preconceito, mas nossa natureza quando se vê diante de algo diferente ou incomum, acaba também olhando preconceituosamente. Falta-nos empatia. 

Filme muito bom. Alguns o criticaram, visto que já existe uma produção argentina e uma italiana, da mesma história. Este é uma versão feita na Colômbia.


E o povo dizendo que Nicolas Cage não tinha feito nenhum filme que preste nos últimos anos. Mas este aqui prova o contrário. Um ótimo suspense, baseado em fatos acontecidos em 1983 no Alasca, que conta a busca incansável de um policial para colocar atrás das grades um serial killer, que matou mais de 21 mulheres.

Filmes Vistos (14)


Não chega a ser tão parado quanto 2001: Uma Odisseia no Espaço, mas exige muita paciência de quem assistir. Todavia, é fantástico. Buracos negros, buracos de minhoca, gravidade, velocidade da luz, tempo, relatividade... Interestelar é uma verdadeira "aula" do que em teoria a Física pode fazer. Este filme foi simplesmente o mais baixado na net em 2015.


Um filme antigo sobre o dia a dia de uma tripulação num submarino nazista, que tinha por objetivo atacar navios ingleses. Muito realista e muito bem feito, com detalhes impressionantes de como era viver dentro desses submarinos por meses. O filme é longo e meio paradão. Acho que um reflexo do que era viver dias e mais dias numa gaiola flutuante, sempre na iminência de serem pegos de surpresa e naufragarem de vez. Nota 10!


Ok, clássico é clássico, mesmo a gente não gostando, o que é o meu caso em relação a esta primeira versão de Spartacus no cinema. É uma grande produção dos anos 1960, que tem muitos pontos positivos, quando trabalha bem, os conchavos políticos do senado na antiga Roma. Mas no geral, não me agradou.


Análises fantásticas já foram feitas aos montes sobre esse grande clássico da literatura mundial, que ainda não tive coragem de ler (são mais de mil páginas!). Mas as sínteses áudio-visuais (filmes) estão aí, para quem não tem a ousadia de se debruçar sobre o livro de Victor Hugo. Esta é de 1998, a segunda que assisti. Apesar de não ser tão detalhista como a de 2000, com os consagrados Gérard Depardieu e John Malkovich. Mesmo assim, é muito boa. E pelo que sei, existe uma versão mais recente, lançada em 2012.



O herdeiro do trono de Bechuanaland, protetorado da Inglaterra, apaixona-se por uma mulher branca, nos dias finais de seus estudos em Direito na Inglaterra, em 1947. Ela morrendo de amores por ele, aceita ir para a África, ajudá-lo na administração de seu país. Problemas sérios de ordem política surgem daí, visto que um homem negro africano (e neste caso, principalmente por ele ser rei) se casar com uma mulher branca inglesa é inadmissível, e, portanto, não será bem visto nem pelo país dele, e muito menos pelo país dela. Terão que enfrentar uma avalanche de críticas de seus familiares e governos. Todo tipo de conchavo diplomático entre a Inglaterra, África do Sul e Bechuanaland, será orquestrado para que ele não assuma o trono e para que o casal não siga a sua vida matrimonial. Lamentavelmente, até Winston Churchill, a quem muito admiro (ou admirava, sei lá), teve um papel vergonhoso em toda essa história. 

Documentários Vistos (27)


Criacionistas, criacionistas... São incansáveis em tentar provar a idade do Universo em apenas 6 mil anos. E por que isso? Porque a Bíblia assim o diz, segundo eles. São contra a evolução, mas são incapazes de tentar apresentar um mecanismo científico, pelo qual os seres humanos vieram a existência. A Biologia evolutiva, com todas as limitações, defeitos, erros metodológicos, algumas fraudes, pelo menos vem propondo mecanismos viáveis, ainda que passíveis de dúvidas e sérias contestações. Mas o que os Cientistas da criação têm feito? De 1 a 10, nota 5 para esse documentário. Só porque acredito em um Criador. 


Escobar foi o Pelé e o Maradona das drogas. É o eterno paradigma dos grandes cartéis de drogas. Mandava e desmandava na Colômbia. Foi um narcoterrorista. Morreu em 2 de dezembro de 1993, com três tiros, quando tentava fugir através do telhado da casa em que estava escondido. Mas até hoje, não se sabe quem o matou de fato. O que sabemos é que para pegá-lo, o governo colombiano contou com a ajuda norte-americana, e teve que se aliar ao criminoso cartel de Cali e aos Lo Pepes (organização também criminosa), ambos inimigos mortais de Pablo Escobar. Se não assim não fosse, Escobar não teria sido pego no final de 1993. Talvez durasse mais alguns meses ou anos, ou quem sabe, com muitíssima sorte (sorte não, milagre mesmo), poderia estar vivo até hoje.


Segundo documentário que vejo de Russell Brand, que é um ex-viciado em drogas, que tem militado nos últimos anos, junto as autoridades inglesas e mundiais, para que o tratamento dos viciados em entorpecentes e álcool, sejam mais eficientes. Para ele, falta empenho do governo da Inglaterra, em tratar os usuários. A política estatal tem trabalhado de forma ineficiente para amenizar o problema de quem sofre desse mal, gastando milhões de forma irresponsável. 


O carinha compra um motel (hotel ao lado de uma rodovia), só para observar os hóspedes transando. Ele mesmo faz sozinho as reformas necessárias para que pudesse vê-las, sem ser descoberto. Durante mais ou menos 30 anos, esse foi o seu lazer noturno, noite após noite, com o consentimento de sua esposa. Não há vídeos, não há fotos, apenas as suas memórias.

Gay Talese, Jornalista conhecido e de grande credibilidade, conheceu Gerald Foos, o voyeur, em 1980, e depois de mais de três décadas, ambos resolvem, enfim, revelarem essa história inusitada ao grande público, através de uma matéria numa revista conceituada e posteriormente num livro. Gerald Foos acredita que seus "crimes" prescreveram, visto que segundo ele, o motel foi vendido em 1997. Portanto, a justiça americana não tem como cair em cima dele. 

Documentário muito bom, que nos surpreende com alguma reviravoltas no final. O livro já está publicado em português. 


Em tom amigável e não critico, o consagrado ator de Hollywood, Morgam Freeman, viaja o mundo em busca de respostas vindas das religiões para as questões centrais da vida humana. Freeman escuta atentamente o que a religião católica, protestante, budista, hinduísta e etc., tem a oferecer a humanidade sobre o que é a vida após a morte, como foi a criação do mundo, sobre os milagres, sobre a existência do mal, sobre quem é Deus, entre outras questões que sempre embaralham nossas cabecinhas inquietas. As respostas por vezes soaram hiper triviais e óbvias, as falas do Freeman também. Ele também conversou com especialistas, para situar o telespectador sobre os avanços científicos alcançados sobre os temas mencionados. São 6 documentários nessa primeira temporada. Eu gostei.

Herege: Por que o islã precisa de uma reforma imediata


ALI, Ayaan Hirsi. Herege: Por que o islã precisa de uma reforma imediata. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

"A vida humana, a liberdade humana, a dignidade humana, tudo isso é mais importante que qualquer texto sagrado". P. 234.

Ayaan Hirsi Ali é Professora da Universidade de Harvard e ex-muçulmana nascida na Somália. Ela rompeu com os ensinamentos do islamismo, o que lhe tem causado um grande ódio por parte do mundo islâmico e de alguns intelectuais ocidentais. A raiva que ela provoca é devido ao seu discurso mais que óbvio: os ensinamentos provenientes do alcorão é a base para toda a violência dos grupos terroristas atuais. A religião islâmica é inerentemente beligerante e agressiva. Ao contrário do mantra midiático, o islã NÃO é uma religião de paz.

Só pessoas cegas ideologicamente não veem dessa forma. Uma maneira simples de se constatar isso é fazendo umas perguntas mui básicas: Por que não vemos igrejas cristãs, outras religiões, ou ideologias secularistas, serem exercidas livremente nos países de maioria muçulmana? Por que as mulheres são tratadas nessas sociedades, como seres de segunda classe? Por que os homossexuais são mortos na cultura maometana? Dezenas de questionamentos podem ser feitos, que solapam esse papinho furado de que o islã é uma religião tolerante e de paz.

Para facilitar o entendimento do que seja os adeptos do islamismo atualmente, Ali faz uma diferenciação didática e útil. Para ela existem basicamente três tipos de muçulmanos:

Muçulmanos de Medina – Extremistas;

Muçulmanos de Meca – Moderados;

Muçulmanos Hereges – Apóstatas.

Os muçulmanos de Medina são a minoria barulhenta, que segue exatamente o que o Alcorão ensina: matar e perseguir quem não segue o islã. É com estes que ela demanda a sua maior preocupação.

"Faz mais de treze anos que venho defendendo um argumento simples em resposta a atos terroristas. [...] Afirmo que é tolice insistir, como fazem habitualmente nossos líderes, que os atos violentos dos islamitas radicais podem ser dissociados dos ideais religiosos que os inspiram. Temos de reconhecer que eles são movidos por uma ideologia política, uma ideologia com raízes no próprio islã, no livro santo do Alcorão e na vida e ensinamentos do profeta Maomé. [...] Deixo claro o meu ponto de vista nos termos mais simples possíveis: o islamismo não é uma religião pacífica." P. 10.

Os muçulmanos de Meca compõem a maioria dos seguidores de Maomé. Eles são pacíficos.  

“Ora, quando afirmo que o islamismo não é uma religião pacífica, não estou dizendo que a crença islâmica torna os muçulmanos naturalmente violentos. Isso, manifestamente, não é verdade: há milhões e milhões de muçulmanos pacíficos no mundo. Estou dizendo que a conclamação à violência e a justificação dela estão explicitadas nos textos sagrados do islã”. P. 15.

“Ed Husain [ex-muçulmano] estima que apenas 3% dos muçulmanos do mundo concebem o islã nesses termos [matam homossexuais; matam adúlteros por apedrejamento; cristãos e judeus são “porcos e macacos; forçam as mulheres a usarem a burca; e etc.]. Mas acontece que 3% de mais de 1,6 bilhões de crentes – 23% da população mundial – são 48 milhões [de muçulmanos prontos a matar em nome de Alá]". P. 23.

Habitantes do Paquistão, Bengala e Iraque, estão entre os mais violentos muçulmanos.

“Três quartos dos paquistaneses e mais de dois quintos dos bengaleses e iraquianos pensam que as pessoas que deixam o islã merecem a pena de morte. Mais de 80% dos paquistaneses e dois terços dos bengaleses e iraquianos acham que a lei da sharia é a palavra de Deus. Proporções semelhantes dizem que o entretenimento ocidental fere a moralidade. Só minúsculas frações dessa população não se incomodariam caso suas filhas se casassem com cristãos. Apenas uma minoria considera que matar mulheres nunca se justifica por motivos de honra. Um quarto dos bengaleses e um dentre oito paquistaneses acha que as explosões suicidas em defesa do islã são frequentemente ou às vezes justificada.” P. 28, 29.

No Brasil ou no ocidente, se alguém queimar páginas da Bíblia ou falar algo que denigra Jesus ou Maria (sua mãe), não será apedrejado, ou colocado no limbo da sociedade. Mas numa sociedade muçulmana, a coisa muda totalmente. Ali dá um exemplo:

"[...] em novembro de 2014, um cristão e sua mulher que moravam em Lahore, Paquistão, foram espancados e queimados vivos em um forno de olaria depois de terem sido acusados de queimar páginas do Alcorão". P. 84.

Ali propõe uma utopia: uma revisão crítica do Alcorão, feita pelos seus seguidores, reconhecendo que o seu livro sagrado não tem lá muita coisa de especial:

"Como a violência cometida em nome do islã é tão frequentemente justificada pelo Alcorão, cabe conclamar os muçulmanos a fazerem uma reflexão crítica acerca de seu texto mais sagrado. Esse processo começa, necessariamente, pelo reconhecimento de que o Livro foi feito por mãos humanas e contém numerosas incoerências." P. 100.

A relativização da Bíblia, por exemplo, existe em maior ou menor grau em praticamente todos os ramos do cristianismo. O que não acontece no islã. Aqui vai uma lista:

1 - Muitos cristãos, incluindo o anglicanismo e o catolicismo, não acreditam na inerrância da Bíblia;

2 - A maioria esmagadora dos evangélicos conservadores e fundamentalistas, não acreditam que as traduções que temos hoje sejam inerrantes, mas apenas os autógrafos;

3 - Permitimos interpretações divergentes do texto, como da história do cristianismo, sem apelar para ameaças a integridade física dos nossos discordantes;

4 – Muitos cristãos e igrejas aceitam a teoria da evolução como a melhor explicação para a origem dos seres vivos, interpretando o Gênesis metaforicamente.

Dezenas e dezenas de exemplos podem ser dados, para a relativização de muitas práticas e crenças que temos em relação ao texto fundante do cristianismo. Mas tais revisões inexistem no islã.

Um dos ensinos mais básicos do islã é tirar a vida de quem não segue a cartilha de Maomé, mediante o suicídio:

"O islã ensina que não há nada mais glorioso do que tirar a vida de um infiel - e melhor ainda se o assassinato custar a vida do matador". P. 121.

Os mais fracos são os mais perseguidos no mundo criado pelo islã:

"Enquanto a regra do direito no Ocidente evoluiu para proteger os membros mais vulneráveis da sociedade, sob a sharia [lei islâmica] são justamente os mais vulneráveis que são mais reprimidos: mulheres, homossexuais, os muçulmanos insuficientemente fiéis ou apóstatas e os devotos de outros deuses.

[...]

Mas nenhum grupo é mais prejudicado pela sharia do que as mulheres muçulmanas - um reflexo, em parte, da cultura tribal patriarcal da qual a lei islâmica emergiu. Repetidamente sob essa lei o valor das mulheres é estipulado em no máximo 'metade de um homem'. A sharia subordina as mulheres aos homens em um sem-número de maneiras: determina sua custódia por homens, dá aos homens o direito de espancar as esposas, de ter acesso irrestrito às suas mulheres e de praticar a poligamia, e restringe os direitos legais das mulheres em casos de divórcio, nos direitos patrimoniais, em casos de estupro, em testemunhos nos tribunais e no consentimento ao casamento". P. 146, 147.

Estarrecedor o que as leis do islamismo faz com as mulheres:

“Em minha Somália natal, uma menina de treze anos contou que foi estuprada por três homens de uma vez. A milícia de Al-Shabaab que então controlava a cidade portuária meridional de Kismayo, onde ela morava, reagiu acusando a menina de adultério, julgou-a culpada e a sentenciou à morte. Sua execução foi anunciada pela manhã por um alto-falante instalado em uma picape Toyota. No estádio de futebol local, partidários da Al-Shabaab cavaram um buraco no chão e trouxeram um caminhão cheio de pedras. Uma multidão de mil pessoas reuniu-se antes das quatro horas da tarde. Aisha Ibrahim Duhulow [...] foi arrastada, debatendo-se aos gritos, para dentro do estádio. Foi preciso quatro homens para enterrá-la até o pescoço no buraco. E então cinquenta homens passaram dez minutos atirando rochas e pedras na menina. Depois de dez minutos, fizeram uma pausa. Ela foi desenterrada, e duas enfermeiras examinaram-na para ver se continuava viva. Alguém descobriu que tinha pulsação e respirava. Aisha foi devolvida ao buraco e o apedrejamento prosseguiu. Um homem que tentou intervir foi baleado; um menino de oito anos também foi morto pela milícia”. P. 153.

O islamismo e sua maneira "amorosa" de tratar os homossexuais:

"Mais de trinta países islâmicos têm leis que proíbem a homossexualidade e a consideram um crime, sujeito a punições variadas, de açoitamentos até prisão. Na Mauritânia, Bangladesh, Iêmen, partes das Nigéria, Sudão, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã, os homossexuais condenados podem ser sentenciados à morte". P 151.

"Como noticiou o semanário Der Spiegel, 'Em Bagdá logo no início do ano começou uma nova série de assassinatos contra homens suspeitos de serem gays. Muitos são estuprados, têm a genitália decepada e o ânus fechado com cola. Seus corpos deixados em lixões ou largados na rua'. Nas palavras do líder da principal organização iraquiana de lésbicas, bissexuais e transgêneros, 'o Iraque é o lugar mais perigoso do mundo para as minorias sexuais'. [...] (Evidentemente a hipocrisia nessa questão é crassa, pois em todos os países islâmicos existem populações significativas de gays e lésbicas. Dada a dificuldade logística de ter relações com mulheres, por exemplo, há muito tempo homens árabes recorrem a outros homens para satisfazer suas necessidades sexuais. No Afeganistão, também, membros ricos de tribos sabidamente compram meninos para seu prazer sexual)." P. 170.

Quanto aos muçulmanos violentos que vive no ocidente, Ali tem este recado a eles:

"Precisamos insistir que não somos nós, no Ocidente, que devemos nos adaptar às sensibilidades muçulmanas; são os muçulmanos [residentes aqui] que devem se adaptar aos ideais liberais ocidentais." P. 216.

Livro muito bom.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Somos Todos Canalhas


FILHO, Clóvis de Barros; POMPEU, Júlio. Somos todos canalhas: filosofia para uma sociedade em busca de valores. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2015. (PDF).

"Por mais interessante que possa parecer o argumento de um pensador, deixar-se seduzir por ele ao ponto de lhe consagrar um altar e desconsiderar todas as ideias discrepantes é contrário ao espírito da filosofia". P. 06.

Clóvis de Barros (Ph.D em Ciência da Comunicação na USP) e Júlio Pompeu (Ph.D em Psicologia na Universidade do Espírito Santo) são ótimos intérpretes da Filosofia, colocando em palavras simples as ideias dos antigos gregos e outros pensadores mais modernos.

Aqui, eles passeiam pela história do pensamento, explicitando formidavelmente os valores políticos, sociais e morais, que fizeram os Filósofos quebrarem a cabeça. Passando pela aristocracia dos valores gregos, com a mudança para valores igualitários, advindos do cristianismo, chegando aos ideais iluministas com Rousseau, Kant, discutindo o utilitarismo de Mill. Por fim, dialogando sobre o tema tão em voga da tolerância. Devo ter me esquecido de alguma coisa que eles trabalham, mas em geral é isso.

PS: não consegui identificar os motivos do título deste livro. Há apenas uma menção aos "canalhas" na última página.

Aqui vai uma longa citação, sobre o ceticismo niilista sobre a busca dos valores:

"Desde que o homem pensa, estamos em busca de valores absolutos tais como o bem, o sagrado, o belo – atemporais e independentes da história. O niilismo, que proclama a morte de Deus, contribuiu largamente para fazer acreditar na sua inexistência. Tanto para o niilismo filosófico quanto para o relativismo ético, toda investigação sobre valores é uma grande bobagem ou uma grande sacanagem; uma tentativa de fazer triunfar uma alegria sobre a atemporais e independentes da história. O niilismo, que proclama a morte de Deus, contribuiu largamente para fazer acreditar na sua inexistência. Tanto para o niilismo filosófico quanto para o relativismo ético, toda investigação sobre valores é uma grande bobagem ou uma grande sacanagem; uma tentativa de fazer triunfar uma alegria sobre a outra em nome de uma verdade absoluta que faz défaut.

O problema é que apesar disso tudo temos que continuar vivendo e convivendo. E, salvo o melhor juízo, nossa vida e nossa convivência continuam dependendo de escolhas. E estas sempre implicarão a identificação do que mais vale a pena. Portanto, ainda que eles sejam uma grande bobagem ou uma grande sacanagem, a verdade é que continuaremos precisando de valores para fazer nossas escolhas, encontrar nossos caminhos, seja na particularidade de nossas vidas íntimas ou na coletividade da nossa ética social.

[...] a convicção de que os valores não passam de uma grande bobagem parece atender aos interesses de muitos. Porque assim estaríamos definitivamente chafurdados no reino da animalidade, onde o triunfo da força é garantidor do triunfo dos apetites, dos prazeres em detrimento do que nos é estranho, alheio e sem importância." P. 07.

Se não temos livre arbítrio para deliberarmos racionalmente sobre a melhor maneira de viver, ainda assim, acreditamos que transcendemos a matéria, e é isso que importa. É isso que escrevem os autores:  

"[...] mesmo que alguém sugira que não há liberdade alguma e que não passamos de células ignorantes, incapazes de identificar a complexa rede de causalidades que nos determina estritamente, o fato é que dentro dessa ignorância nos acreditamos livres, senhores de certa autonomia de escolha, trazendo de novo à baila a necessidade da discussão sobre os valores". P. 07.

A diferença entre nós e os animais é que pensamos racionalmente sobre o nosso agir, já os outros seres vivos agem apenas por instintos. Um dos livros de Rousseau nos dão a base disto:

"[Tenho grande apreço] pelo texto de Rousseau intitulado Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, o qual não canso de citar. Nele, o filósofo suíço explica que o gato nasce sabendo viver como gato. Toda a sua vida será regida pelo instinto. Portanto, tudo no gato é instintivo. Não há a menor possibilidade de ele tomar uma decisão ou fazer uma escolha, porque a escolha na sua vida já é dada pela natureza. Cada movimento seu obedece a uma espécie de programa felino. E é por isso que ele morrerá de fome, mas não comerá alpiste.

O homem não seria assim porque tem condições de escolher e de tomar decisões. Não é 100% regido por seu instinto. Ele é capaz de exercer a sua liberdade justamente porque transcende a sua natureza. E por isso segura um pouco a onda das suas pulsões de vez em quando. Então, Rousseau tem aquela famosa frase: 'No homem a vontade fala ainda quando a natureza se cala.' E a vontade é exatamente essa instância deliberativa, racional, inteligente, que nos faz ir um pouco além da nossa condição instintiva. Costuma-se dizer que o pássaro é livre para voar. Na poesia isso fica bonito. Mas na filosofia sabemos que não há nenhuma liberdade no gesto do pássaro em voo. Ele é escravo do voo, determinado pelo instinto de pássaro. Não há escolha. O voo não é resultado da deliberação, mas uma inexorabilidade da tirania da natureza." P. 98.

Quem nunca valorizou ou gostou de algo, só porque a sociedade, ou pessoas de seu convívio valorizam/gostam?

"Quem nunca se perguntou se aquilo que busca com afinco, que diz que gosta, realmente se trata de algo de que gosta, genuinamente, ou se diz que gosta só porque todos dizem que é algo bom? É o caso quando conquistamos coisas que muitos desejam – os outros nos invejam e parabenizam, mas será que gostamos da coisa conquistada ou dos cumprimentos recebidos? Em resumo, até que ponto a nossa felicidade é mera organização íntima e singular dos nossos afetos e até que ponto essa organização é influenciada pelos outros?" P. 127.

Num país onde a leitura, o estudo, o prazer do conhecimento e da intelecção, é muitas vezes motivo de piada, temos nos últimos anos, um outro agravante: as redes sociais, que democratizaram a mediocridade da grande massa. Estamos sempre ávidos por mostrar como nossa vida é “maravilhosa” e “eletrizante”, e até objeto de inveja dos outros.

"Na falta de recursos intelectuais, educacionalmente adquiridos e desenvolvidos, o que resta é a imitação, adesão irrefletida à moda. Vida sem autonomia intelectual cujo único prazer desloca-se da percepção fantasiosa produzida pelo indivíduo para o aplauso da massa. Não é à toa que estes tempos de educação em baixa, de verdadeira aversão a tudo que lembra atividade intelectual, também são tempos de uma autoexposição inédita. Tempos de privacidade em baixa, fora de moda. É curioso como em menos de cinquenta anos passamos de uma ordem social em que os prazeres eram reservados a espaços íntimos, para poucos, para uma ordem em que os prazeres devem ser fotografados e compartilhados com milhões de espectadores. Antes, o prazer do jantar sofisticado. Agora, o prazer de contar ao mundo sobre o jantar sofisticado. Prazer dos joinhas ou likes do Facebook – como se o jantar perdesse o seu valor como experiência e adquirisse valor como elemento de exposição, como atrativo de aplausos sociais, estes, sim, definidores do prazer." P. 136.

Seria Deus o garantidor dos valores? Como podemos falar neles, sem partimos da premissa de que um Legislador que transcende nossas contingências e contradições é compulsoriamente necessário?

"Os valores são complexos exatamente porque se apresentam como referências por vezes contraditórias que se anulam, que apontam para soluções práticas opostas. Essa complexidade nos dá a chance de escolher, de deliberar individual ou coletivamente, moral ou eticamente, sobre os valores que queremos respeitar. É uma escolha sempre difícil porque, para identificar que valor vale mais, talvez precisássemos de alguma verdade absoluta, uma referência que estivesse no topo da pirâmide e que fosse garantida como fundamento. Talvez por isso muitos tenham dito que sem Deus fica difícil pensar em moral. Se entendermos Deus como o topo dessa pirâmide indiscutível, aí talvez a afirmação faça algum sentido." P. 164.

Mesmo tendo Deus como o topo dessa pirâmide, quais valores derivariam da Divindade Suprema? Este seria/é mais um problema. Mesmo que acreditemos numa verdade absoluta para mensurar os nossos valores, ainda assim, os valores continuariam a serem discutidos ad infinitum. E olha que acredito em Deus... 

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Crer ou cão crer: uma conversa sem rodeios entre um historiador ateu e um padre católico


MELO, Fábio; KARNAL, Leandro. Crer ou cão crer: uma conversa sem rodeios entre um historiador ateu e um padre católico. 1. ed. São Paulo: Planeta, 2017.

Um diálogo! E não um debate de um querendo convencer o outro; seja catequizando o ateu, para que este torne-se um cristão católico; seja a catequese às avessas, de um Historiador querendo incutir o ceticismo, para que o padre torne-se um ateu.

Uma conversa cordial entre dois amigos, que mostram os seus motivos de "crer ou não crer", sem ofender e sem achar que um é superior ao outro.

Gostei.

Algumas falas do Padre Fábio de Melo, 
Mestre em Teologia no Instituto Santo Inácio, em Belo Horizonte:

"Tenho dificuldades em acreditar em um Deus que negocie favores. E o pior, favores que são concedidos mediante exigências sádicas. Alguém promete que atravessará uma passarela de joelhos para que Deus lhe conceda um favor. Há um equívoco por trás dessa compreensão." P. 29.

"Há tanto a evoluir, há tanto a avançar. Pode ser que daqui a algum tempo cheguemos à conclusão de que estávamos errados em matar e comer animais, não sei". P. 35.

"Eu encontrei na religião um conjunto que me anima. Minha religiosidade contempla arte, conhecimento, oração, cuidado com o corpo, terapia. Faço questão de viver uma religiosidade plural, que dialogue com o mundo que me cerca. Mas preciso reconhecer que encontro pessoas que não optaram pela religião e que desfrutam benefícios muito semelhantes aos que eu desfruto com as escolhas que fiz. Pessoas que descobriram o sustento, o ânimo por outras vias.

[...]

Posso identificar em muitas pessoas fora do cristianismo um movimento de evolução, de humanização, de superação daquilo que nos faz retroceder à crueza tribal. Pessoas já maduras para a prática da solidariedade, com senso de justiça apurado. Não estão ali os resultados do cristianismo que tanto que alcançar?

[...]

Encontrei muitos homens e mulheres que não professavam uma fé institucional e que sopravam ânimo em mim. Eu tive professores ateus no curso de Filosofia que me fizeram tão bem quanto os diretores espirituais, porque me aproximaram com muita reverência do mistério humano.

[...]

Hoje, para quem sou, crer como creio, preciso reconhecer as experiências que me foram proporcionadas pelos ateus. Ou pelos indiferentes religiosos, pelos que experimentaram Deus por outras vias". P. 73, 75. 

"Quando movida por interesses políticos, econômicos, ideológicos, a religião torna-se um mero instrumento de poder. Ao abrir-se ao processo mundano, esquecendo-se de que seu papel é promover o amor a Deus e o respeito ao humano, a religião passa a ser um obstáculo ao amadurecimento espiritual. Um discurso religioso tanto pode favorecer a maturidade humana como pode dificultá-la". P. 79. 

"Eu tenho uma repulsa natural ao discurso religioso que tenha como pano de fundo um Deus mercador negociando os seus favores. Eu acho que isso é mesquinho demais para ser cultivado. É um desserviço à fé. [...] Muita gente gravita nessa visão mesquinha de Deus. Para algumas pessoas é assim que funciona. Deus é o mercador com quem se negociam diariamente milagres e favores." P. 111. 

Algumas falas do Leandro Karnal, Doutor em História na USP:

"Quando passei por risco de morte, fiquei curioso se eu apelaria a uma oração, como numa aterrissagem forçada na África. Não aconteceu. Quando vi meu pai num caixão, também imaginei que seria um momento no qual a fé poderia tentar voltar, como memória daquele homem tão católico que eu amava. Não rezei e tive a certeza de que ali se acabava tudo. Meu pai existiria apenas em fotos e na lembrança do bem que fez. Mas, insisto, não foram pessoas ou atos que me afastaram da ideia de um Deus criador. Todo o sistema teológico e explicativo da religião foi parecendo ofensivo à razão e incapaz de se sustentar". P. 41. 

"Nunca considerei as religiões ruins em si (ou pelo menos piores do que todo o resto que criamos), mas passei a considerá-las humanas. Estados ateus matam e Estados religiosos também matam. Cientistas podem eliminar pessoas como inquisidores o fizeram. Mas cientistas e inquisidores são parte da aventura humana, bela e trágica. [...] A questão que tudo isso é humano, explicável, cognoscível, possível de ser dissecado em todas as suas fibras. [...] Nossa consciência humana valida milagres, cria curas, comprova aparições, atesta possessões, entrega-se ao poder de amuletos e sente bem-estar em lugares sagrados. Esse emaranhado de feixes nervosos e neurônios que, desde cognitiva, há 70 mil anos, elabora linguagens complexas também cria e mata deuses. Osíris existiu por mais tempo do que Jesus na crença dos egípcios. Deuses também morrem quando seus adoradores morrem." P. 46, 47-48. 

"Eu acho que nós inventamos essências, uma delas é o amor eterno, romântico; a outra é Deus; a outra é a bondade humana. Inventamos essências que tornam esse vale de lágrimas tolerável. São opiáceos variados em meio a muitas dores. Existe a dor, a solidão, o medo, a finitude representada pela morte, a ausência permanente da paz, o risco da perda de quem amamos, para insegurança quando um filho tarda em voltar para casa... muitas ansiedades. Como não ceder ao consolo da oração, da promessa, da entrega a um poder maior?" P. 57-58. 

"Eu gosto de repetir que se mata em nome de Deus, como por exemplo na Inquisição. Mata-se em nome do ateísmo: os regimes mais genocidas do século XX foram ateus, a União Soviética de Stálin e a China de Mao. Mata-se perseguindo religiosos; Fidel Castro em Cuba, contra a santeria: mata-se em nome do estado e da purificação de raças (eugenia). O que eu acho comum em tudo isso é que gostamos de matar. [...] Então, diferentemente dos divulgadores do ateísmo, como Richard Dawkins, por exemplo, que começa citando John Lennon, 'Imagine um mundo sem Deus, esse é um mundo de paz', eu não acredito nisso, porque o que causa a nossa violência não é Deus ou o ateísmo. [...] As utopias matam muito, Utopias religiosas, utopias socialistas, todas elas. Porque querem produzir um mundo bom, e para esse mundo existir têm que eliminar..." P. 67. 

"O argumento clássico contra os ateus é que eles não explicam a origem de tudo. Tem gente que me pergunta: 'Então de onde você veio?'. Pelo que eu saiba foi da minha mãe. E a mãe dela? E assim até o símio ancestral. Então vem a pergunta: 'De onde veio o macaco?'. Eu digo: 'Da macaca!'. Aí é a minha vez de perguntar: Não é possível então que algo venha de nada? Não. Não é possível que algo gere a partir do nada? Não. Então de onde veio Deus? Ah Deus sempre esteve. Bom, aí no único caso em que essa explicação o favorece, você aceita que o nada gere nada." P. 164.