sexta-feira, 26 de maio de 2017

A Intolerância da Tolerância


CARSON, Donald. A Intolerância da Tolerância. São Paulo: Cultura Cristã, 2013.

"Longe de promover a paz, a nova tolerância está se tornando cada vez mais intolerante, fomentando a miopia moral, provando ser incapaz de engajar-se em discussões sérias e competentes sobre a verdade, deixando males pessoais e sociais inflamarem e permanecendo cega às percepções políticas e internacionais do nosso perfil cultural tolerante." P. 140.

Carson denuncia a (nova) tolerância como basicamente intolerante e incoerente. Para a (nova) tolerância, todas as ideias e ideologias se equiparam no mesmo nível. Portanto, ninguém pode abrir a boca e dizer que o outro está errado. As pessoas são sensíveis demais, podem se ofender. Naturalmente como Teólogo que é, ele leva esse problema para o campo da religião.

Podemos dizer que o islamismo, por exemplo, é uma religião e visão de mundo equivocada? Até podemos. Mas em certos círculos, onde a (verdadeira) tolerância deveria ser a mediadora no conflito de ideias, afirmar coisas contra Maomé, contra o Alcorão, pode jogar a vida acadêmica do Professor ou do estudante para o saco, sob a acusação de intolerância caso façam tal afirmação.

A coisa se inverteu. Em nome da tolerância (falsa tolerância, diga-se de passagem), na verdade o que tem prevalecido é a intolerância. Reformularam de tal modo o conceito de tolerância, que este perdeu o antigo e verdadeiro sentido.

A antiga ideia de Tolerância pode se resumir na frase erroneamente atribuída a Voltaire: "Posso discordar do que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de poder dizê-lo."

Agora o novo conceito é: "Você não pode dizer que a cultura árabe (ou qualquer outra cultura, religião...) está errada, visto que isso se caracteriza como ofensa e intolerância para com eles. Em nome da tolerância não toleramos que você abra a boca para afirmar que os outros estão errados. Você está sendo desrespeitoso."

Para quem pensa que isso é bobagem, Carson enumera vários exemplos recentes de cerceamento de opinião nas várias instâncias da sociedade de seu pais, os EUA e da Inglaterra. Tristemente as Universidades estão se tornando em antros de intolerância, que impendem o diálogo sincero de ideias.

É o pós-modernismo em ação, com a sua negação dos valores; da verdade; das metanarrativas...

É legítimo termos convicção de que nossa religião é a melhor

"Não há nada de errado em acreditar que sua religião monoteísta é a melhor, contanto que você viva de acordo com uma conduta moral e deixe que os outros pensem que a religião deles é a melhor." P. 18.

A Crença nos Absolutos atacada 

“A Declaração de Princípios sobre a Tolerância (1995) das Nações Unidas afirma: ‘A tolerância (...) envolve a rejeição do dogmatismo e do absolutismo’. Mas por quê? Uma pessoa não pode afirmar que determinado dogma seja correto, sustentando-o de modo absoluto e, ao mesmo tempo, insistir que os outros tenham o direito de sustentar opiniões conflitantes como dogmaticamente verdadeiras? Na verdade, a afirmação ‘A tolerância (...) envolve a rejeição do dogmatismo e do absolutismo’ não soa, de certo modo, um tanto dogmática e absoluta?

Thomas A. Helmbock, vice-presidente executivo da fraternidade norte-americana Lambda Chi Alpha, escreve: ‘A definição da nova tolerância é que todas as crenças, todos os valores, todos os estilos de vida e todas as percepções de afirmações sobre a verdade dos indivíduos são iguais (...) Não há hierarquia da verdade. Suas crenças e minhas crenças são iguais e qualquer verdade é relativa’. Se, porém, a nova tolerância considera todos os valores e todas as crenças como posições dignas de respeito, podemos razoavelmente nos perguntar se isso inclui o nazismo, o stalinismo e o sacrifício infantil - ou as respectivas posições do Ku Klux Klan e de muitos outros grupos de supremacia racial.” P. 22.

A Universidade e sua Intolerância

“[...] algo muito interessante é o modo como as universidades, historicamente os baluartes da liberdade de expressão e de pensamento, têm, em nome da tolerância, demonstrado uma intolerância impressionante”. P. 38. 

Tolerância e Intolerância é algo intrínseco as todas as culturas

"Toda cultura e toda era necessariamente mostra certa tolerância e certa intolerância. Nenhuma cultura pode ser tolerante ou intolerante com tudo: é simplesmente impossível. Uma cultura que tolera o genocídio (por exemplo, os nazistas) não tolerará, digamos, os judeus a quem deseja exterminar ou a prática homossexual. Uma cultura que tolera quase todos os tipos de relacionamentos sexuais poderá, no entanto, rejeitar, por exemplo, o estupro ou a pedofilia ou, em muitos casos, a bigamia e a poligamia". P. 53.

A Intolerância dos muçulmanos 

“É importante notar que, na maior parte dos países muçulmanos, e certamente onde quer que a sharia seja aplicada, os não muçulmanos podem se converter ao islamismo, mas muçulmanos não podem se converter a nada. Sempre haverá sanções e, nos casos mais rigorosos, a punição é a morte. A afirmação de que o islamismo em seu cerne é uma religião de paz e tolerância não se sustenta muito bem se uma pessoa aplicar este simples teste duplo: (a) Os membros do ummah, o povo muçulmano, são livres para se converter a outra religião sem temer punições? (b) Os membros de qualquer religião ou não religião propagam suas crenças [em países muçulmanos] de modo tão aberto como os muçulmanos o fazem?” P. 73.

“De modo mais geral, quando líderes mundiais temem a violência, atentados à bomba e homicídios generalizados por causa da perspectiva da queima de uma cópia do Alcorão, mas não temem que haverá violência, atentados à bomba e homicídios generalizados por causa da perspectiva da queima de uma cópia da Bíblia, o que isso lhe diz sobre os níveis de tolerância dessas duas religiões?” P. 74.

A Intolerância para com os judeus

"Será que precisamos ressaltar que o antissemitismo na Europa está tendo um retorno terrível e impressionante? O número de judeus agredidos (principalmente se estiverem usando solidéus ou são identificáveis de outra forma) e o número de sinagogas danificadas e, ocasionalmente, destruídas, tem aumentado significativamente. O Congresso Judaico Mundial afirma que hoje o antissemitismo na Europa é o mais acentuado desde 1945.

Alguns anos atrás, um grupo de nações da União Européia mostrou que cerca de 60% dos europeus acham que Israel é a maior ameaça para a paz mundial - não a Coreia do Norte, não o Sudão, nem o Irã. Isso resulta da confluência de fontes altamente diversificadas: o racismo ressurgente de estilo nazista da extrema direita, o antissemitismo econômico e político da extrema esquerda (Israel e os Estados Unidos como o inimigo comum) e o ódio religioso dos judeus encontrado entre boa parte da população muçulmana europeia crescente". P. 90-91.

A Tolerância não vem só do secularismo

“O mito não é que as pessoas seculares possam ser tolerantes, pois muitas vezes o são. O mito da tolerância secular é que a tolerância vem naturalmente à pessoa secular; enquanto a intolerância vem naturalmente à pessoa religiosa. O mito sugere que, devido à sua virtude de ser secular, a pessoa esteja, de alguma forma, imune à tentação de difamar e perseguir o 'outro'. Isso é um mito, no sentido vulgar de que é uma crença sustentada com frequência e sem fundação sólida; mas também é um mito no sentido técnico - um conto moral que apoia e alimenta a cultura e as crenças daqueles que o sustentam.” P. 95. - John Coffey, Professor de História Moderna na Universidade de Leicester, Inglaterra. 

"[...] o relatório 'Mapeando a Homofobia na Austrália', recentemente publicado pelo Austrália Institute, diz que 62% dos cristãos evangélicos são homofóbicos. Com base em quê? A pergunta feita às pessoas foi se elas concordavam ou não com a seguinte afirmação, 'Acredito que a homossexualidade seja imoral'. Caso concordassem, eram classificadas como homofóbicas. Em outras palavras, sem qualquer engajamento moral com as complexidades em torno da sexualidade humana, uma classe inteira de pessoas foi meramente rotulada com a vergonha suprema: intolerância". P. 132.

Liberdade de religião 

"Um extenso legado de reflexão argumenta que se a liberdade de religião é progressivamente aparada, é apenas uma questão de tempo para que a liberdade, concebida em sua forma mais abrangente, também seja progressivamente aparada. Não é por acaso que a liberdade de religião é muitas vezes chamada de primeira liberdade - não meramente em seqüência histórica, mas também em seu poder fundacional." P. 150.

A Tolerância dos cristãos

"[...] para sermos justos, se algum imã na Arábia Saudita queimasse a Bíblia, seria difícil imaginar grupos de cristãos em alguma parte do mundo procurando uma mesquita para botar fogo". P. 162.

Rejeitando o relativismo

"Temos - interpreto assim - razões boas, mas não infalíveis para nossas perspectivas; e outros, com crenças diferentes, pensam que têm razões boas, mas não infalíveis para suas perspectivas. E mesmo se alguns de nós tivermos perspectivas infalivelmente verdadeiras, não podemos convencer a todos desse fato. No entanto esse fato, o fato de que pluralismo epistemológico não nos leva, ou não deveria nos levar, a pensar que o ceticismo é verdadeiro ou mesmo que o relativismo, o primeiro primo do ceticismo, é verdadeiro." P. 168.

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