"Você pode ser dono de um cavalo, de uma mula, ou vaca ou boi, mas você não pode possuir um filho de Deus." - Newton Knight.
Em 1776 na Guerra da Independência, os Estados Unidos
consegue se libertar do jugo da Inglaterra. A partir daí, a ex-colônia inglesa
deslanchar como potência no cenário global, aumentando sua economia e
população. O norte se industrializa; o sul continua rural. Há um impasse entre
norte e sul: ambos têm interesses distintos e antagônicos em como conduzir sua
política, sociedade e economia. O norte pressiona o sul a acabar com a
escravidão. O sul, baseado exclusivamente na monocultura do algodão, com
grandes senhores latifundiários, não aceita em hipótese alguma que sua mão de
obra gratuita e forçada, seja liberta. O norte almeja mais mercado consumidor,
mas os negros sendo escravos, nada consomem, precisam ser “livres” para terem
algum poder de compra. Esse é mais ou menos o contexto em que se desenrola a
história real desse filme. Existiram outros fatores que levaram a Guerra de
Secessão (1861-1865), mas o sistema escravagista é o que interessa a Um Estado
de Liberdade.
Newton Knight, personagem protagonista, faz parte do
exército dos confederados – os estados do sul, que não compactuavam com o fim
da escravidão. Depois que seu sobrinho morre por levar um tiro numa trincheira,
ele deserta e vai para casa levando o seu parente morto para a sua mãe. Os desertores
eram severamente punidos. Os homens chamados para guerra tinham que permanecer nela
até segunda ordem. Entretanto, para Newton, não havia motivos para ele lutar.
Ele acaba se metendo em mais confusões quando impede que
soldados do governo arranquem os poucos recursos que os moradores têm, como
milho, comida, tecidos, algodão, dinheiro... Estava estipulado pelo governo que
10% dos recursos dos sulistas podiam ser pegos pelos soldados, para ajudar na
guerra. Porém, eles não pegavam apenas o dízimo da produção dos camponeses. Na verdade,
era o contrário, eles só deixavam 10% dos recursos, as vezes nem isso.
Apontando as armas para esses furtadores do Estado, Newton
arranja mais problemas, tendo que fugir para o pântano e se juntar a negros
fugidos, que lá já estavam escondidos. Com a ajuda de outros negros e de uma
comerciante da cidade mais próxima, eles formam um pequeno exército, que obtém
êxito em desarticular os sulistas escravagistas. Um considerável pedaço do
Mississipi e outras regiões são tomados por esse regimento de desertores negros
e brancos. Newton mostra-se um intrépido defensor da liberdade.
Chega o ano de 1865, mês de abril, e a guerra chega ao seu
fim, com os estados da União – que lutavam para que a escravidão terminasse - sendo
os ganhadores desse episódio sangrento. A escravidão já não existia mais. Agora
os negros são livres como os brancos, pelo menos em teoria. Um Estado de
Liberdade nos conta uma realidade bem diferente. Os negros sulistas continuam
trabalhando nas plantações de algodão, num regime de semiescravidão. Quase nada
mudou. A Klu Klux Klan é formada,
assassinando vários negros. As dificuldades para os afrodescendentes eram
gigantes.
Nas eleições que se aproximam, negros agora podem votar, mas
quando o resultado das urnas saem, vê-se que seus votos não foram computados. Um
caminho longo e difícil seria traçado, para quem sabe então, terem os seus
direitos realmente respeitados.
Intercalando entre o século XIX e século XX, o filme se
lança décadas a frente num tribunal onde o descendente de Newton e Rachel (uma
escrava), fenotipicamente branco, mas com uma conjuntura genotípica mista, é
julgado por ter violado as leis do Mississipi, ao se casar com uma branca. Ele
mesmo sendo branco na aparência é considerado negro pelo Estado, por ser filho
de uma mulher de “cor”. Ele é considerado culpado.
Vemos que o caminho do racismo foi e ainda é, uma batalha
muito além da Guerra da Secessão.
A trilha sonora também é muito boa! Um Estado de Liberdade poderia ter muito a dizer, mas cai em clichês e não acrescenta nada à discussão de temas como racismo e preconceito. Como filme de guerra, tem seus momentos, mas como história de um homem interessante fica devendo, afinal. A premissa é interessante, apresentando momentos de drama, ação e até romance ao investir na relação entre Knight e a escrava Rachel. Um Estado de Liberdade peca ao tentar abraçar o mundo. Ao invés de focar em uma história específica, busca ser um épico sobre toda a luta contra o racismo e a escravidão, o que não funciona. Um dos principais méritos da produção é conseguir ser atual em seus debates e discussões. O que diz mais sobre o tempo em que vivemos do que sobre o filme em si. Matthew Macconaughey entrega outra grande atuação em Um Estado De Liberdade, infelizmente o roteiro não acompanha seu talento e a narrativa peca em muitos pontos, inclusive na falta de desenvolvimento do personagem principal. Apesar da forte história de um homem que se opôs a tudo que considerava errado durante e após a Guerra Civil dos EUA, o longa é mais uma obra incapaz de causar impacto.
ResponderExcluirComo faz um bom tempo que assisti esse longa, há muitas cenas que não lembro mais. Uma das coisas que achei interessante, mesmo que pudesse ser melhor trabalhada, é a questão referente ao genótipo/fenótipo que o filme traz, que mesmo uma pessoa sendo fenotipicamente branca, mas possuindo um de seus progenitores negros, era considerada negra e privada de direitos. Confesso que até o momento, ainda não pesquisei mais a fundo essa faceta do racismo norte-americano.
ExcluirDe qualquer maneira, mesmo levando em conta as observações que você mostrou, o filme é bastante válido em mostrar um passado horrendo naquele país, sobretudo quando lembro que existem livros e movimentos modernos que tentam distorcer e minimizar os crimes cometidos contra os negros.
"Um dos principais méritos da produção é conseguir ser atual em seus debates e discussões".
Obrigado por opinar. Grande abraço.