terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Filmes Vistos (17)


Existe vício em drogas, vício em bebidas, vício em internet... e também vício em pornografia e sexo. Esses dois últimos são os vícios apresentados neste filme. Para quem pensa que isso é besteira, não é. Como todo vício, a pornografia e o sexo desenfreado, são destrutivos, são alienantes, e bastante prejudiciais a uma vida normal e saudável. É um labirinto difícil de sair. Terapia do Amor de maneira leve, mas séria, aborda muito bem a vida de alguns viciados, que lutam diariamente contra essa vontade compulsiva em fazer sexo, se masturbar e ver pornografia. Uma verdadeira guerra no território mental e físico.


Inglaterra, começo do século XX. O país que tinha sido pioneiro na abolição da escravatura, décadas atrás, é o mesmo que deixa muitas de suas mulheres em regime de semi-escravidão nas fábricas e ainda nega-lhes o direito de voto. Mas surgem mulheres guerreiras e corajosas, que estão dispostas a pagarem um alto preço pelo sufrágio universal. 

Em uma das cenas, a protagonista presa, resolveu fazer greve de fome, as autoridades não aceitando que uma das rebeldes vire mártir, foram até a cela, e com a ajuda de outras mulheres, colocaram um funil em sua boca, para que ela coma a força. Pois bem, o fato de muitas mulheres da época, oprimirem e aceitarem que as suas iguais fossem maltratadas e relegadas a seres de segunda classe, não minimiza em nenhum milímetro a causa feminista de querer o sufrágio. Só porque mulheres também faziam parte do lado opressor, não quer dizer que a luta das sufragistas era ilegítima, e que o governo não precisava reparar aquela situação injusta e cruel. Digo isto, porque vez por outra vejo argumentações estúpidas (e racistas?), trazendo exemplos de negros que tinham escravos no Brasil Colonial, e assim, tentam deslegitimar a luta dos movimentos negros atuais, como se o erro de uns negros (e mesmo que tivessem sido muitos) minimizasse drasticamente a opressão mortal iniciada pelos brancos.


Impressiona-me que pessoas estudadas ainda tenham a audácia de defender o comunismo soviético. A história de Milada Horáková é mais um exemplo, dentre milhões, de que o socialismo implantado no leste europeu foi um atraso na política e na vida de seus cidadãos. Este filme trata de uma falsa democracia implantada na Checoslováquia, na década de 1940, tendo como foco a perseguição sofrida por Milada, onde ela foi presa e brutalmente torturada na prisão, para que admitisse os crimes de sabotagem contra governo "democraticamente estabelecido". Seu final foi a morte por enforcamento. Há um leve puxa-saquismo para o bloco capitalista liderado pelo tio Sam, porém, isto em nada, alivia a responsabilidade das barbaridades cometidas pelo bloco socialista.


Retrata em toda a sua crueza os horrores da escravidão norte-americana, que alguns ainda disseram, ou por ingenuidade ou má fé mesmo, que lá, os escravos foram tratados com mais humanidade, se comparado com o tratamento aqui no Brasil.

O Nascimento de Uma Nação tem cenas que chocam, meu estômago se revirou com algumas. Este longa conta a história de Nat Turner, um escravo pacífico, que sabia ler, e que era um pregador da bíblia, que ajudava aos fazendeiros a manterem os escravos submissos e obedientes, pois assim, estariam obedecendo a vontade divina. Mas chega um momento que não dá mais para aguentar tanto sofrimento e injustiça, e se apossando de uma nova visão do texto sagrado, ele junta um grupo de escravos para se rebelarem contra os brancos que os escravizam.

A carnificina, então começa. As cenas em que os escravagistas são mortos são um alento para quem vê, apesar de serem bem violentas, mas diante daquele contexto de vingança bem justificada, foi bem feito pra eles. Não dá pra ter pena alguma. O sangue pulsando no peito do ex-senhor de Turner, com uma machadada desferida pelo seu ex-escravo, torna-se uma coisa linda de se ver. Infelizmente, a história não é como queremos que ela seja, visto que no final do filme, o mal vence.

É uma história baseada em fatos reais, ocorrida na década de 1830, e nós sabemos que a Guerra Civil Americana só viria a acontecer 30 anos mais tarde, levando os negros a conseguirem a sua "liberdade".


Este é o primeiro filme que vejo, que mostra o contato da humanidade com seres extraterrestres, onde a nossa raça é a vilã, destruidora do planeta alheio, querendo explorar e roubar os recursos naturais, matando e destruindo a natureza. Avatar é uma ótima crítica ao modo como os governos e multinacionais têm tratado a nossa fauna e flora, com o único objetivo de enriquecer, sob o pretexto do desenvolvimento. E um dos agravantes é a passividade dos "bons" - nós, que nada, ou pouco fazemos para impedir, e no pior cenário: quando fazemos parte da destruição ativamente. O que os humanos fazem em Pandora, planeta dos avatares, é o que nós estamos fazendo há décadas, para sustentar nossas vidinhas modernas e "felizes", debaixo de desculpas esfarrapadas de que temos essa ou aquela necessidade que precisam ser saciadas, mas que nunca são alcançadas, e assim, somos obrigados a explorar mais e mais.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Documentários Vistos (29)


Perfeito, genial, magnífico. A mãe África, apesar de todos os seus problemas sociais e políticos, consegue dar um show de exuberância e beleza no seu Reino Encantado. Uma explosão de cores e vida em suas florestas, rios, planícies e savanas. A BBC sempre com documentários em sua plenitude máxima.


Um país de grandes contrastes em sua natureza. Por um lado, montanhas desérticas, por outro, a riqueza da flora e fauna da Amazônia. Um pouco de cada coisa do Peru, praias, oceano, natureza, as misteriosas pinturas gigantescas de Nazca, ruínas de Machu Pichu, cultura peruana e etc.


Juro que queria ter a coragem de virar vegetariano ou vegano, sendo este último, a proposta deste documentário. Qual é a Saúde, por um lado é tendencioso, mas traz informações verdadeiras e fatos perturbadores sobre a associação nojenta do governo com as indústrias dos alimentos e dos remédios. Médicos e instituições que deveriam zelar pela saúde da população, fizeram um pacto com o diabo (multinacionais), para juntos lucrarem às custas das doenças de toda a sociedade. Nesse ponto, o documentário acerta em cheio.

O idealizador Kip Anderson demoniza todo tipo de carne e dá um status de messianidade ao veganismo, que mudará DRASTICAMENTE para MELHOR, a saúde, em apenas 14 dias, daqueles que adotarem um modo de vida sem carnes e seus derivados. Ele entrevista pessoas muitos doentes, que tomam vários comprimidos por dia, pessoas que estão, na verdade, moribundas, e como num toque de mágica, depois que passam a se alimentar sem carnes e laticínios, estão com as suas saúdes extremamente melhores. Digo MELHORES mesmo. Sinceramente, apesar de me deixar persuadir em vários momentos pelos argumentos apresentados, sinto que esses pacientes foram forjados. Se a alimentação vegana causa os benefícios exibidos, caramba, estamos diante então da solução de praticamente todos os problemas de saúde. O veganismo seria a "salvação" da humanidade.

É um filme rico em informações, mas que precisa ser bem dosado em muitos momentos. Pareceu-me utópico demais.


Esporte extremo, que exige treinamento e modo vida extremos. Homens barrigudos, mas que nem por isso, menos fortes, que competem entre si, para saberem quem é literalmente o homem que tem a maior capacidade física de levantar pesos sobre-humanos. Esporte perigoso - eles sabem disso. Precisam comer exageradamente. E nessa dieta, vai quase tudo. Precisam de camadas de gorduras para terem a força quase sobrenatural que possuem. É enfatizado diversas vezes, o quanto é torturante ter que comer a toda a hora. A alimentação torna-se a parte mais custosa e difícil da preparação. O Arnold Classic Strongman em Ohio é o campeonato almejado pelos quatro competidores biografados nesse documentário. Logicamente, apenas um sairá vencedor. É um documentário muito mais empolgante que o Generation Iron.


E quando pensamos que a estúpida e bestial prática de se arrancar os clitóris de crianças ficou no passado, ou apenas sobrevive em pequenas aldeias na África, ei que A Maçã de Eva nos diz exatamente o contrário. Milhões (e não milhares) de meninas foram rasgadas/dilaceradas, em nome de um costume cultural do mal. Ainda em muitas regiões da África (e não somente nela), meninas são submetidas a clitoridectomia, contra as suas vontades. Os males advindos desse procedimento são imensos e levados para o resto da vida.

O que é de estarrecer é que ainda existe quem defenda a não intervenção externa para dar um basta a esses costumes primitivos e bestiais. São os defensores do multiculturalismo, para quem todos os hábitos culturais se equivalem e não são nem melhores e nem piores que os outros. De maneira contraditória, acusam quem pensa diferente deles, de etnocêntricos. Lembro das palavras de Zigmunt Bauman, que são um belo chute no traseiro dos relativistas:


"A nova indiferença à diferença apresenta-se, em teoria, como uma aprovação do ‘pluralismo cultural’. A prática política constituída e apoiada por essa teoria é definida pelo termo ‘multiculturalismo’. Ela é aparentemente inspirada pelo postulado da tolerância liberal e do apoio aos direitos das comunidades à independência e à aceitação pública das identidades que escolheram (ou herdaram). Na realidade, contudo, o multiculturalismo age como uma força socialmente conservadora. Seu empreendimento é a transformação da desigualdade social, fenômeno cuja aprovação geral é altamente improvável, sob o disfarce da ‘diversidade cultural’, ou seja, um fenômeno merecedor do respeito universal e do cultivo cuidadoso. Com esse artifício linguístico, a feiúra moral da pobreza [ou extirpação do clitóris] se transforma magicamente, como que pelo toque de uma varinha de condão, no apelo estético da diversidade cultural". P. 33.


BAUMAN, Zigmunt. A Cultura no Mundo Líquido Moderno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2013. (PDF).

A Cultura no Mundo Líquido Moderno


BAUMAN, Zigmunt. A Cultura no Mundo Líquido Moderno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2013. (PDF).

Bauman (Professor de Sociologia da Universidade de Leeds e Varsóvia) é um dos teóricos mais lidos dos últimos anos. Suas análises sagazes da sociedade atual conseguem explicar muito bem o modo como temos vivido nas últimas décadas. Dezenas de livros sobre a sociedade hodierna são de autoria desse Sociólogo polonês, que tem servido de base para que outros acadêmicos construam as suas posições, teses e interpretações sobre como temos vividos nossas relações com o consumo, com os familiares, amigos e etc. 

Aqui está a definição do termo que o fez ficar tão conhecido:

“Uso aqui a expressão 'modernidade líquida' para denominar o formato atual da condição moderna, descrita por outros autores como ‘pós-modernidade’, ‘modernidade tardia’, ‘segunda modernidade’ ou ‘hipermodernidade’. O que torna ‘líquida’ a modernidade, e assim justifica a escolha do nome, é sua ‘modernização’ compulsiva e obsessiva, capaz de impulsionar e intensificar a si mesma, em consequência do que, como ocorre com os líquidos, nenhuma das formas consecutivas de vida social é capaz de manter seu aspecto por muito tempo. ‘Dissolver tudo que é sólido’ tem sido a característica inata e definidora da forma de vida moderna desde o princípio; mas hoje, ao contrário de ontem, as formas dissolvidas não devem ser substituídas (e não o são) por outras formas sólidas – consideradas ‘aperfeiçoadas’, no sentido de serem até mais sólidas e ‘permanentes’ que as anteriores, e portanto até mais resistentes à liquefação. No lugar de formas derretidas, e portanto inconstantes, surgem outras, não menos – se não mais – suscetíveis ao derretimento, e portanto também inconstantes.” P. 11.

Bauman é cirúrgico em sua análise das relações de consumo que nos são "impostas". Somos manipulados a ter necessidades que nunca serão satisfeitas, pois novas aquisições nos serão oferecidas, com a promessa de que com elas, agora sim, seremos plenamente supridos. Mas nunca conseguimos chegar a esse nirvana; a esse estado de torpor. Então um novo ciclo se inicia ad infinitun. Somos geralmente feitos de trouxas, e raramente nos damos conta disso. São os males do capitalismo, numa sociedade relativista.

“Uma economia líquido-moderna, orientada para o consumidor, baseia-se no excedente das ofertas, no rápido envelhecimento e no definhamento prematuro do poder de sedução. [...] Um suprimento ininterrupto de ofertas sempre novas é imperativo para a crescente circulação de produtos, com um intervalo reduzido entre aquisição e alienação; as ofertas são acompanhadas pela substituição por produtos ‘novos e melhores’. [...] A função da cultura não é satisfazer necessidades existentes, mas criar outras – ao mesmo tempo que mantém as necessidades já entranhadas ou permanentemente irrealizadas. Sua principal preocupação é evitar o sentimento de satisfação em seus antigos objetos e encargos, agora transformados em clientes; e, de maneira bem particular, neutralizar sua satisfação total, completa e definitiva, o que não deixaria espaço para outras necessidades e fantasias novas, ainda inalcançadas.” P. 14.

Aqui é um bom diagnóstico do que é a nossa relação de consumo hoje em dia:

 “Se você não quer afundar, deve continuar surfando, ou seja, continuar mudando, com tanta frequência quanto possível, o guarda-roupa, a mobília, o papel de parede, a aparência e os hábitos – em suma, você. Uma vez que os esforços coordenados e resolutos do mercado de consumo fizeram com que a cultura fosse subjugada pela lógica da moda, torna-se necessário – para ser uma pessoa e ser visto como tal – demonstrar a capacidade de ser outra. [...] As pessoas que se apegam a roupas, computadores e celulares de ontem significam a catástrofe para uma economia cuja principal preocupação, e cuja condição sine qua non de sobrevivência, é o descarte rápido, e cada vez mais abundante, na lata do lixo, dos bens comprados e adquiridos; uma economia cuja coluna vertebral é a remoção do lixo”. P. 19-20.

Moda Líquida, segundo Bauman, que mais uma vez acerta na mosca. Tudo é volúvel, sujeito a desaparecer, a ser ultrapassado quando menos esperamos. E para não "morrermos afogados", cedemos, consumindo, consumindo e consumindo, para entrar na moda. É uma verdadeira paranoia, sobretudo, quando vejo neguinho/a todo ano, por exemplo, trocando de celular, porque precisa estar com o aparelho mais moderno, se não "pira" - precisa livrar-se do que já "não serve". Não que eu não tenha muitas vezes também, tal vontade, afinal, estamos todos dentro dessa teia esquizofrênica de consumo.

O velhinho da Polônia nos premia com uma sagaz crítica ao multiculturalismo, filhote querido do pós-modernismo, ou nas palavras Jonathan Friedman, citadas por Bauman, “modernistas sem modernismo”:

"Em suas consequências práticas, a filosofia do ‘multiculturalismo’, tão em voga entre os ‘modernistas sem modernismo’, refuta seu próprio valor teoricamente promulgado de coexistência harmoniosa de culturas. De modo consciente ou involuntário, de propósito ou por negligência, essa filosofia apóia tendências separatistas e, portanto, antagônicas, tornando assim ainda mais difícil qualquer tentativa de estabelecer seriamente um diálogo multicultural.

[...]

A nova indiferença à diferença apresenta-se, em teoria, como uma aprovação do ‘pluralismo cultural’. A prática política constituída e apoiada por essa teoria é definida pelo termo ‘multiculturalismo’. Ela é aparentemente inspirada pelo postulado da tolerância liberal e do apoio aos direitos das comunidades à independência e à aceitação pública das identidades que escolheram (ou herdaram). Na realidade, contudo, o multiculturalismo age como uma força socialmente conservadora. Seu empreendimento é a transformação da desigualdade social, fenômeno cuja aprovação geral é altamente improvável, sob o disfarce da ‘diversidade cultural’, ou seja, um fenômeno merecedor do respeito universal e do cultivo cuidadoso. Com esse artifício linguístico, a feiúra moral da pobreza se transforma magicamente, como que pelo toque de uma varinha de condão, no apelo estético da diversidade cultural". P. 33.

O discurso multiculturalista traz em si, o germe inerente da contradição. Promove aquilo que diz combater. Perpetua as facetas da opressão. Bauman ainda desfere páginas a frente, várias críticas a esse pensamento insustentável, mas que teima em estar na pauta de vários intelectuais.

E aqui vai uma palavrinha aos atuais “detentores do conhecimento”, que penso eu, se aplica direitinho aos defensores multiculturais:

"Enfrentar o status quo exige coragem, considerando-se o enorme poder das forças que o sustentam; coragem, porém, é uma qualidade que os intelectuais, antes conhecidos por sua bravura ou por seu destemor simplesmente heróico perderam nas suas empreitadas em busca de novos papéis e novos ‘nichos’ como especialistas, gurus acadêmicos e celebridades midiáticas". P. 35.

O livro ainda se aplica em falar sobre a cultura na Europa, que graças ao seu processo de unificação, tem sobrevivido aos males da globalização (que corrói a soberania do Estado-nação), preservando a sua identidade.

E por fim, a produção da cultura e sua atual relação com o mercado, são o tema do derradeiro capítulo. E mais uma vez, Bauman em suas análises, não vê com bons olhos, a submissão da arte ao deus mercado.

“Submeter a atividade cultural aos padrões e critérios dos mercados de consumo equivale a exigir que as obras de arte aceitem as condições de ingresso impostas a qualquer produto que aspire à categoria de bem de consumo – ou seja, justificar-se em termos de seu valor de mercado atual.” P. 73-74.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Santos Fortes: Raízes do Sagrado no Brasil


FERNANDES, Luiz Estevam; KARNAL, Leandro. Santos Fortes: Raízes do Sagrado no Brasil. Rio de Janeiro: Anfiteatro, 2017.

Karnal (Ph.D em História na USP) e Fernandes (Ph.D em História na Unicamp), trazem neste livro, uma ínfima parcela do panteão de santos (ou semideuses) do catolicismo romano, que estão presentes na devoção de milhões dos católicos do mundo inteiro, em especial, os fiéis brasileiros. Ambos os Historiadores são ateus, no entanto, nutrem um profundo respeito pela religiosidade que irão historiar. Aqui e ali, vemos algumas pitadas de humor e de ironia, talvez uma crítica velada a cachorrada que é essa miríade de intercessores mortos do catolicismo romano? Afinal ninguém é de ferro, e é muito difícil se isentar de alguma crítica, quando se fala na história dessa instituição. Os autores advertem aquelas pessoas que se julgam mais racionais e inteligentes que os devotos dos santos fortes:

“Bom senso é aquilo que apenas eu tenho. Infelizmente, a fé do outro está sempre errada e Deus se comunica de forma reta apenas comigo. Somente eu sei que estas pessoas cometem um equívoco porque são diferentes de mim e não interpretam a Bíblia, a Torá ou o Corão da maneira correta – a propósito, a minha. [...] A virtude presumida pode ser mais grave no Juízo Final do que uma singela devoção ao bem.” P. 13.

Eles têm razão. Estou pronto a admitir, que me julgo mais racional (virtude presumida) que os veneradores (adoradores) desses semideuses católicos, mas também, estou pronto a recuar e, dizer que, em muitos outros aspectos da minha vida, eu sou irracional, passional, subjetivo ao extremo, ao passo que muitíssimos devotos dos santos, estão há anos luz de mim, em inteligência, sagacidade e objetividade em outras áreas. Ninguém é frio, calculista, realista e objetivo, em todas as áreas da existência. Viver assim seria insuportável. Precisamos cultivar pensamentos mágicos.

Para quem dirige suas orações aos santos, pouco importa o que a igreja tem a dizer sobre eles, seja aprovando ou reprovando. Discursos vindo da Teologia não tem lugar na cabecinha de quem acredita que foi abençoado por esses mediadores do céu.  

"Os devotos dos santos fortes não se preocupam com teologias elaboradas em gabinetes e bibliotecas. Não debatem as sutilezas conceituais da latria (adoração devida a Deus), dulia (veneração de santos) e hiperdulia (dedicada à Virgem Maria). Apenas sentem que precisam de ajuda. Teologia é recurso mental sofisticado. A necessidade imediata e prática dispensa esse tipo de sutileza. O fiel não é metafísico; o aqui e agora é mais forte do que a especulação sobre as causas primeiras. A fé de alguém diante do seu santo de eleição não diminuiria diante dos protestos de todos os teólogos e, obviamente, não depende da aprovação deles." P. 13.

O monte Olimpo do Vaticano é tão cheio de intermediadores de Deus, que muitos estão tirando férias há séculos, por não terem mais terráqueos que peçam as bênçãos celestiais a eles.

"Por fim, há santos absolutamente anônimos para a imensa maioria das pessoas, mesmo as católicas. São milhares de obscuros bispos da Alta Idade Média, abades dos confins do mundo, condessas de lugares ermos e mártires sem muito holofote. [...] Dos milhares de santos do panteão católico, constituem a maioria, perdidos nas brumas do tempo e enterrados nas areias do esquecimento". P. 22-23.

Sou um cético inveterado ao modo de o catolicismo guiar as pessoas em suas devoções espirituais, entretanto, sou o primeiro a baixar a guarda, quando surgem problemas em minha vida, dos quais acredito que são mais fortes do que posso suportar. Portanto, não tenho vergonha de pedir uma ajudinha do céu, mesmo que tal pedido chegue aos céus entrelaçado com muita desconfiança e ceticismo (talvez não passem do teto). Nós, humanos, somos frágeis demais, para aguentar as pedradas da vida, sozinhos. Quanto a isso, subscrevo as palavras abaixo:

"Para todos os seres humanos chega um dia de angústia no qual os recursos humanos disponíveis estão barrados. Pode ser uma doença sem cura, uma crise financeira aguda ou uma angústia com um filho. A impotência diante das fatalidades, o mundo hostil e as ciladas dos inimigos terrenos e espirituais sobrepujam a força da alma angustiada. Esse é o momento da intercessão, do auxílio, da busca do além para o aqui e agora." P. 57-58.

O livro contará a história de vários santos: São Jorge, São Sebastião, São Judas Tadeu, São Longuinho, Santo Expedito, Maria, São João Batista, Santa Bárbara, Santo Antônio, entre outros. Alguns são santos canônicos (aprovados pela igreja), outros foram aclamados pelo povo, como o padre Cícero, no interior do Ceará.

Sobre o popular Chiquinho de Assis:

"Francisco nunca se ordenou. Não era padre, de fato. Logo, nunca pôde presidir uma missa. Tampouco se encaixou no modelo monacal de sua época, o do isolamento em fortalezas de Deus chamadas mosteiros, rezar pela salvação de uns poucos e, no processo, garantir a própria entrada no Paraíso. O novo modelo de santo era o do frade, o irmão consagrado. Sua atuação podia se dar em conventos, mas preferencialmente devia se dar no mundo, em meio ao pecado. Menos estudo e mais ação. Pregar de maneira itinerante, de acordo com a necessidade do lugar e das pessoas. Pregar a toda criatura, humana ou não. Uma visão ecológica e holística da natureza como criação divina, sem hierarquias". P. 108.

Chiquinho conseguiu convencer várias pessoas a viverem sem nada, apenas de doações, esmolas, da maneira mais simples possível. Atraiu a atenção de muitas cidades. Num determinado momento, a igreja sempre com sede e fome de poderes ilimitados, teve receio do aumento dos seguidores de Chiquinho.

"Receava-se a expansão da ordem franciscana. Se os ideais de pobreza e desapego não fossem suficientemente controlados, o que seria da instituição mais rica da Idade Média?" P. 113-114.

Mas a grande ironia da coisa foi que:

"Menos de um século depois de sua morte [de Francisco], a ordem franciscana era tão rica quanto qualquer outra. A própria Basílica de Assis, ricamente adornada por dois gênios, é prova disso. Cada cena da vida de Francisco que ilustra o templo é antagônica ao custo que aquela arte de vanguarda teve à ordem. [...] Assim, os franciscanos chegariam ao século XVI como a ordem mais importante da Europa". P. 119.

Muitos que eram santos, já não são tão santos assim.

"Bárbara é mais um dos milhares de santos mártires dos primeiros séculos do cristianismo. Sua existência concreta é altamente questionável. No movimento de verificação e atualização de sua lista hagiológica feito pelo Vaticano nos anos 1960, retirou-se a santa do rol de mártires oficiais. Ou quase. Ela ainda consta do martirológico, mas a data de 4 de dezembro, sua festa, e mesmo o seu nome foram removidos do calendário da Igreja na reforma de 1969. Isso significa que a Igreja reconhece o culto e a popularidade de Bárbara, mas não afirma categoricamente sua existência." P. 163.

E nós, brasileiros, já temos os nossos santos. Há poucos anos, não tínhamos nenhum, apenas beatos. Agora são dezenas.

"[...] até pouco tempo, o maior país católico não tinha santos nativos. João Paulo II canonizou Madre Paulina. O nacionalismo queria mais, pois a santa viveu aqui, mas nasceu na Itália. Vieram Frei Galvão e suas pílulas mágicas. Nascido em Guaratinguetá, tornou-se o primeiro santo tupiniquim com eira e beira. Em outubro de 2017, o papa Francisco anunciou a canonização de trinta novos santos brasileiros: os mártires de Cunhaú e Uruaçú, no Rio Grande do Norte. Nada mal. Saímos de nenhum para dezenas de santos oficiais em pouco mais de uma década e meia." P. 182-183.

E ainda existem, digamos, os santos apócrifos:

"O Brasil, bem como qualquer país de matriz católica, está cheio de santos fora do altar, esperando o reconhecimento da Igreja. Ou nem necessitando dele. A canonização é espontânea. O postulante a santo pode ser um padre ou um bandido, pobre coitado ou ricaço com fama de evérgeta, criança ou velho". P. 184.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O Deus da Idade Média: Conversas com Jean-Luc Pouthier


LE GOFF, Jacques. O Deus da Idade Média: Conversas com Jean-Luc Pouthier. 2º Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

Le Goff, consagrado Historiador da terceira geração do Annales, é uma das vozes mais requisitadas quando o assunto é o período medieval, que tradicionalmente é recortado entre a queda do império romano do ocidente (476) a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos (1453). O colapso do império de Roma que lentamente foi se efetivando com as migrações e invasões bárbaras, finalmente cedeu a uma nova forma de governo, ou melhor dizendo, governos (os feudos). As instâncias políticas, sociais, jurídicas, econômicas e religiosas, sofreram progressivas mudanças, ocasionadas pela fusão entre o modo de ser romano e a cultura germânica, não esquecendo, é claro, das concepções religiosas/teológicas legadas pelo cristianismo. O comércio do mediterrâneo não desapareceu, mas declinou consideravelmente com as migrações urbanas para o meio rural (90% de toda a população), como resultado da desintegração do Estado romano, que já não podia controlar as invasões.   

Com o imperador Constantino, a religião do homem da Galiléia passa a ser praticada sem os entraves do estado (313). Décadas depois com Teodósio, ela passa a ser a religião oficial do império romano (380). O mundo ocidental europeu começa a se formar. A igreja católica foi sem dúvida a maior instituição da Idade Média, controlando a vida de reis, cavaleiros e servos.

Adentrando o livro propriamente dito, ele é em forma de entrevista, onde o Historiador e Jornalista Jean-Luc Pouthier é o entrevistador. Em tom respeitoso e não crítico, Le Goff passa a falar dos aspectos religiosos que existiram no medievo, enfatizando as mudanças e evoluções de como o europeu passou a ver Jesus, Deus, o Espírito Santo, a igreja...

Em certo momento ele diz:

“A imagem de Deus numa sociedade depende sem dúvida da natureza e do lugar de quem imagina Deus. Existe um Deus dos clérigos e Deus dos leigos; um Deus dos monges e um Deus dos seculares; um Deus dos poderosos e um Deus dos humildes; um Deus dos pobres e um Deus dos ricos. [...] as imagens de Deus mudam com o correr do tempo”. P. 11, 12.

Tenho a impressão de que muitos Teólogos fundamentalistas gabaritados não entendem isso. Parece que muitas vezes escrevem, dissertam, falam sobre o cristianismo e teologias cristãs, como se a mesma fé e o mesmo modo de se relacionar com o divino, fossem uniformes ao longo desses quase dois mil anos, não atentando para as grandes mudanças que ocorreram e ainda ocorrem nesse relacionamento do homem e das comunidades com Deus. A visão do que é pecado muda. A visão do que Deus deseja, muda. A maneira de como se relacionar com a igreja e o mundo, muda.

Quanto à cobrança de dinheiro feita pela igreja no mundo medieval, o livro explica:

“Na Idade Média, no sistema político feudal, como de um modo geral no conjunto da existência, a Igreja desempenha um papel essencial. É preciso ver isso de um nível econômico e social muito humilde, o do imposto, do pagamento de foros. A Igreja cobrava dízimos e sustenta os senhores que cobram foros. E na vida do dia-a-dia, nos sermões, a Igreja afirma que o dízimo não é dado a ela, o que seria constrangedor, mas a Deus, ou com mais rigor, a São Pedro. Por outro lado, os padres, os monges, explicam que pagar os foros aos senhores é fazer a vontade de Deus, porque Deus lhes confiou um poder de comando que corresponde a suas intenções”. P. 82.

Acho que me enganei, a esperteza de como legitimar a doação de grana para os cofres da igreja continua a mesma, ou muito semelhante, agora com o agravo de não somente a igreja católica cobrar, mas também das igrejas protestantes.

Era somente pela exclusiva mediação da igreja, que as pobres pessoas podiam adentrar ao céu. 

“Os principais instrumentos da dominação da Igreja foram a consolidação da teologia e a prática dos sacramentos. O século XII é aquele em que se estabelecem firmemente os sete pecados capitais, os sete dons do Espírito Santo e os sete sacramentos. E como a Igreja é a única a distribuir os sacramentos, o homem não pode se salvar não a ser pela Igreja e graças à Igreja”. P. 88.

“Era muito difícil, insisto neste ponto, para os homens e as mulheres da Idade Média ter um contato direto com Deus, isto é, um contato sem a mediação da Igreja. Portanto, através dela é que muitos cristãos e cristãs da Idade Média buscaram um acesso a Deus que sentissem como contato verdadeiro e individual. A Igreja, para satisfazer a essa aspiração sem renunciar a seus privilégios e à sua dominação, fez com que evoluísse o sistema dos sacramentos, sistema que tinha a vantagem de tornar sua intervenção obrigatória, preparando uma relação direta da pessoa batizada com Deus”. P. 98.

Como a teologia católica mudou, hoje não é mais assim.

A igreja dispunha de vários meios para manter os seus fiéis sob as suas rédeas. Eis mais um:

“Outro meio utilizado pela Igreja para manter sua situação privilegiada entre Deus e o fiel foi, durante muito tempo, fazer com que se falasse latim com Deus. Quando os valdenses, no fim do século XII, quiseram ler a Bíblia numa tradução em língua vernácula [o francês que nascia], foram condenados, ainda que suas crenças e suas práticas fossem, no conjunto ortodoxas. Com efeito, os cristãos e as cristãs da Idade Média parecem ter sofrido de certo modo uma frustração no seu relacionamento com Deus, e é provável que esse sentimento de frustração tenha sido uma das condições favoráveis ao nascimento Reforma, na qual muitos pensaram achar um acesso mais autêntico e mais direto a Deus”. P. 100.

As igrejas protestantes estão sujeitas a tantas críticas quanta a católica, mas o aparecimento delas, em todo caso, foi uma benção para a humanidade. O cristianismo saiu do curral romano e se diversificou, diluiu o seu centro de poder. Acho que nunca é demais lembrar disso, mesmo sabendo que os ramos protestantes têm dado péssimos exemplos de moral e conduta, não conseguindo estar a altura de seus discursos morais tão elevados.  

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A Filosofia da Adúltera


PONDÉ, Luiz Felipe. A Filosofia da Adúltera. São Paulo: Leya, 2013. (PDF).

“Filosofar é aprender a morrer, diziam os estoicos, e eles tinham razão: enquanto não perdemos o medo de perder tudo, não começamos a viver”. P. 08.

“[...] o esforço socrático pela verdade é, na realidade, um abrir-se para a certeza da possibilidade de que estamos errados no que pensamos”. P. 51.

Mais um livro do Pondé (Doutor em Filosofia na USP) lido.

Em A Filosofia da Adúltera, substancialmente não há nada de novo que eu não tenha lido nos outros livros dele. Pondé é um crítico contumaz da sociedade contemporânea, e para isso, fez uso neste livro dos insights do seu guru maior, Nelson Rodrigues (1912-1980), Jornalista, escritor, crítico da sociedade, e nas palavras de Pondé, o Filósofo Selvagem. 

Filósofo, sociólogo, teólogo, cientista político, além de dramaturgo, jornalista e escritor de romances, Nelson merece constar na lista dos pensadores brasileiros mais originais”.  P. 14.

É um livro de “meditações rodrigueanas”. P. 13. Nelson foi uma espécie de profeta de sua época; as mazelas culturas que tanto o sr. Nelson combateu em seus escritos, aumentaram exponencialmente nos dias atuais, de acordo com Pondé.

“Escrevo à medida que leio Nelson Rodrigues, assim como quem medita sobre a maior forma de alegria, aquela de dizer apenas o que se quer dizer”. P. 08.

“De Nelson para cá tudo piorou muito (aliás, esta é uma tese que sustento nestes ensaios: tudo de ruim que Nelson identificou, só ficou pior)”. P. 62.

“Filosofar” tendo como protagonista a figura da mulher adúltera é uma metáfora usada como recurso literário, pois “este livro é escrito sob o espírito da adúltera. A mulher que representa a condição humana como escrava do desejo. Que experimenta o tédio miserável da carne. Que conhece a tristeza da cobiça. Que sente o peso do abandono e da mentira social”. P. 05.

“Os ensaios deste livro foram escritos sob o signo da adúltera: são as confissões de um desgraçado que luta constantemente para não se perder no próprio desejo e em suas inconsistências. A filosofia selvagem brota desse combate e do medo que me acompanha o tempo todo”. P. 16.

A natureza humana é contingente; suscetível as mais vis paixões; é fraca; é indolente; é invejosa; é vaidosa; nunca se contenta com nada. E nesse não contentamento, pensamos que temos o direito a felicidade plena e completa – busca-se a todo custo o ser feliz e ser amado, mas:

 “[...] não há dúvida de que a felicidade sistemática nos faz estúpidos”. P. 36.

“Para ele [Nelson], e concordo, é na doença, e não na saúde, que está nossa coerência. O tédio, por exemplo, nos ensina mais sobre nós mesmos do que a alegria”. P. 48.

“[...] a vaidade de querer ser amado pode ser uma das maiores formas de escuridão. [...] Só os melhores entre nós, talvez, consigam entender que viver em busca da autoestima é uma das maiores formas de escuridão que existe. Vaidade é o nome elegante para o vazio que nos define. [...] Sempre que vivemos pela vaidade (o que nos acomete quase todo o tempo), vivemos presos no vazio.” P. 65.

Mesmo sendo ateu, o autor vê o ensinamento cristão sobre o pecado, como uma interpretação muito útil e proveitosa da nossa condição humana deplorável. Abjeta é a posição marxista que a tudo contamina e nada sabe interpretar sobre a realidade passada e presente. Nesse ínterim, Pondé chama “Rousseau, Marx e Foucault [de] (grandes marqueteiros)”. P. 18. Aqui está um pouco de nossa condição:

“Vítimas da herança maldita de Adão e Eva, homens e mulheres arrastariam pelo mundo uma razão submetida a uma vontade orgulhosa, violenta e obcecada pelo sexo e poder. Desejosos de amor, mas incapazes de vivê-lo ou mesmo vê-lo. Cegos e autômatos, caminhariam pela Terra deixando um rastro de desespero e desencontro com os outros e consigo mesmos”. P. 14.

“[...] desejamos um amor ideal, mas ele não existe. Como não existe, caímos em desgraça inevitavelmente, daí decorre tudo o mais. Uma das piores formas dessa idealização do amor é seu mal infinito: queremos sempre mais e, quanto mais queremos, mais dependentes e inseguros ficamos. Ciúmes, delírios de traição, impotência de controlar o outro. Por isso, a adúltera representa o necessário fracasso de um animal atormentado por um desejo de amor sempre impossível. O pecado moral nasce dessa vontade esmagada”. P. 17.

O pensamento esquerdista é uma quimera, mas tomou conta de quase todos os setores universitários, lamenta o Filósofo da USP.

Preferem ideias ao sofrimento real. Nós, que vivemos no início do século XXI no Brasil, sabemos que a esquerda, apesar do sofrimento de alguns poucos, saiu vitoriosa da ditadura, dominando as instâncias de razão pública em larga escala, passando pelos tribunais, escolas de magistratura, universidades, escolas, mídia etc. A esquerda é uma falsa vítima e uma falsa virtude. Nelson percebeu como ninguém o mau-caratismo da esquerda e sua moral abstrata.” P. 24.

Filho da esquerda é o movimento feminista, ao qual Pondé faz duras críticas:

“O feminismo é a nova forma de repressão da sexualidade feminina, e logo será de toda forma de sexualidade”. P. 20.

“O imortal hábito feminino é gostar de ser objeto sexual. Sentir-se cachorra, fácil, vadia, pelo menos por meia hora.

Recentemente um psicanalista comentou sobre como mulheres inteligentes, donas de sua vida, podiam, no segredo da confissão analítica, se queixar de que seus parceiros não sabiam tratá-las como vagabundas, que eram frouxos. Que queriam ser humilhadas e submetidas no sexo. O psicanalista via nisso uma contradição: emancipação versus querer ser objeto, sentir-se vagabundas por alguns minutos, dominadas.

Nelson acertou em cheio quando disse que a objetividade idiota das ciências humanas iria se tornar cega para enxergar as coisas humanas. Ver contradição na fala dessas mulheres é ser vítima da crença de que sexualidade é política. A física aqui é melhor do que a política. O fato de a mulher ser penetrada, “receber” (o erotismo da palavra “violada” está aí), ficar de quatro, revela mais da alma feminina do que o blábláblá da Simone de Beauvoir, que confunde queixas quanto a poder trabalhar fora de casa com gosto sexual e com natureza feminina.

A alma feminina pode pilotar aviões, mas quer ser a puta de um homem. Sem sua puta ela sucumbe à tristeza do desejo. O imortal hábito feminino é o hábito de ser objeto”. P. 53.

“NÃO QUERO SER BONITA” - Disse a aluna de psicologia da PUC. Para ela, isso era uma forma de afirmação de sua dignidade. Meu Deus, como uma mulher pode chegar a esse ponto de negar que o pulmão não quer ar?” P. 90.

Paro por aqui. 

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Filmes Vistos (16)


Um filme que a crentaiada certamente não irá gostar. Resumindo: um crente tenta convencer um ateu de que Deus existe. Ambos se chateiam um com o outro, por suas visões antagônicas. O ateu passar a traçar a mulher do crente. Este fica sabendo da traição de sua esposa, e trama um plano maléfico para matar os dois, pensando estar plenamente "santificado, legitimado e justificado" diante de Deus, para fazer tal coisa. A última parte termina com uma cena, que fará muitos crentes chorarem de raiva. Aprovado, recomendado.


"É irônico como os brancos nos odeiam tanto, sendo que tantos deles foram criados por mulheres negras."

Filme ambientando na década de 1960. Sabe, aquele período turbulento no tio Sam, quando pessoas de "cor" estavam lutando pela plena igualdade civil, numa terra de racistas, onde não poucos enricaram ás custas deles? 

Filme leve e gostoso de se ver, apesar de retratar os maus tratos de um pai pela filha e de brancos espancando negros, por estes estarem ocupando os seus lugares de direito naquela sociedade. 

Uma menina branca chamada Lily, por acidente, ainda muito criança, com uma arma mata a própria mãe, quando esta estava sendo espancada pelo marido. Ela cresce sem o amor de seu pai, que tem uma indiferença enorme por ela, e ainda mente, dizendo que a mãe dela não a amava e os abandonou. 

Depois que a empregada doméstica negra (Rosaleen) deles é espancada na rua, por homens brancos, Lily foge com ela, sem rumo, chegam a uma cidade, e são acolhidas com muita hospitalidade numa casa de três negras. Lily passa a ser aprendiz no apiário (criação de abelhas). 

Uma linda história de amor, compaixão e companheirismo, surge nesse lar. 

Obra belíssima.


História real que conta a trajetória de um solista (tocador de violoncelo) diagnosticado com esquizofrenia, que devido ao seu sério problema de saúde mental, vira mendigo nas ruas de Los Angeles, até que um jornalista (O Homem de Ferro) do Los Angeles Times, observando o seu exímio talento musical, se interessa em ajudá-lo. Surge uma bonita e conturbada amizade entre os dois, com o Tony Stark fazendo de tudo para que ele saia das ruas. Mas será uma tarefa difícil. História bonita. Gostei. 


"Pode parecer estranho, mas o assassinato e estupro [cometido por um serial killer] indicam que o assassino pode ter [tido] relações sexuais com o cadáver, sem se importar se passou um ano. A decomposição e até mesmo os vermes podem excitá-lo." -Ted Bundy, serial killer.

Perturbador! Esta é a conclusão mais adequada a este filme. Talvez não seja exagero dizer, como muitos sites falam, que é o filme de terror mais sombrio já feito. Se não for, com certeza está entre os primeiros. Um terror psicológico cruel! É o desespero da aflição - é a aflição do desespero.


Complexo, ritmo lento, quase parando, me deu sono... Várias interpretações podem ser dadas ao que o diretor e autor, quiseram passar.. Em muitos momentos, tive a impressão (acho que estou errado) que este filme incentiva o tipo de relação que mostra (se for isso mesmo, lamentável). De todo modo, em certa medida, já vivemos a realidade que esta película mostra. Novas relações estão surgindo com a proximidade tão intensa que temos com a tecnologia "internética". No caso da película em questão, relações amorosas com sistemas operacionais. O Japão está vivendo isso há algum tempo já, com jovens que "preferem" namorar personagens virtuais a mulheres de carne e osso. Bizarro? Bizarro sim, causa-nos estranhamento. Mas a vida é assim, dinâmica, "nada do que foi será...". Cada vez mais amamos a humanidade, e odiamos as pessoas, assim como o Filósofo Rousseau. Ou sei lá, sempre fomos assim, e a tecnologia só está escancarando isso.