HAWKING, Stephen; MLodinow, Leonard. O Grande Projeto. São Paulo: Nova
Fronteira, 2011. (PDF).
“Este
livro tem suas raízes na noção de determinismo científico, o que implica [...]
que não existem milagres, ou exceções às leis da natureza.” P. 21.
Dois Físicos proeminentes, Hawking (Professor de Matemática na
Universidade de Cambridge) e Mlodinow (Ph.D em Física na Universidade da
Califórnia), escreveram este livro para apresentarem a sua resposta científica
(eu diria metafísica) a estas perguntas:
“EXISTIMOS,
CADA UM DE NÓS POR UM CURTO PERÍODO e neste período exploramos apenas uma
pequena parte de todo o universo. Mas os humanos são uma espécie curiosa. Nós
nos perguntamos, procuramos respostas. Viver nesse vasto mundo que é ao mesmo
tempo gentil e cruel, e olhar para o imenso céu acima, as pessoas sempre
fizeram muitas perguntas: Como podemos entender o mundo em que nos encontramos?
Como o universo se comporta? Qual é a natureza da realidade? De onde veio tudo
isso? O universo precisou de um criador? A maioria de nós não gasta muito tempo
preocupando-se com essas questões, mas quase todos nos preocupamos com elas uma
parte do tempo.” P. 05.
Na mesma página, vem o primeiro vacilo deles:
“[...] a
filosofia está morta. A filosofia não tem acompanhado a evolução da ciência
moderna, particularmente da física. Os cientistas se tornaram os portadores da
tocha da descoberta, em nossa busca pelo conhecimento”. P. 05.
Quanta besteira, quanto ao enunciado de que a “filosofia está morta”!
Este livro é um amontoado de afirmações metafísicas. Impressiona que dois
Físicos do quilate do Hawking e Mloding digam um impropério destes. Para fazer Ciência todos de modo consciente ou inconsciente, vão munidos de pressupostos filosóficos.
Ainda na mesma página, mostram que a visão legada do senso comum foi
sendo solapada pelas descobertas no campo da Física. Aquilo que pensávamos ser
uma realidade dada e fácil de perceber com os nossos olhos e outros sentidos,
revelou-se inadequada.
“Até o
advento da física moderna, em geral se pensava que todo o conhecimento do mundo
poderia ser obtido através da observação direta, que as coisas são o que
parecem ser, como são percebidas através de nossos sentidos. Mas o sucesso
espetacular da física moderna, [...] que se choca contra a experiência do
dia-a-dia, mostrou que não é esse o caso. A visão ingênua da realidade,
portanto, não é compatível com a física moderna”. P. 06.
Para responder as perguntas iniciais, citadas lá em cima, eles propõem,
o que chamam de teoria-M, uma espécie de modelo quântico que engloba várias
teorias da Física concordantes entre si, em substituição a velha Teoria de
Tudo, que os Físicos sonham em formular. Nessa teoria-M, o universo em que
vivemos é apenas um entre milhares de milhares de milhares; surgimos do nada; e
um Ser superior é totalmente descartado.
“Descreveremos
como a teoria-M pode oferecer respostas à questão da criação. De acordo com a
teoria-M, o nosso não é o único universo. Ao invés disso, a teoria-M prevê que
um grande número de universos foram criados a partir do nada. Sua criação não
exige a intervenção de algum ser sobrenatural ou um deus. Pelo contrário, estes
múltiplos universos surgem naturalmente da lei física. Eles são uma previsão da
ciência. Cada universo tem muitas histórias possíveis e muitos estados
possíveis em momentos posteriores, ou seja, em momentos como o presente, muito
tempo depois de sua criação. A maioria desses estados será muito diferente do
universo que observamos e bastante inadequada para a existência de qualquer
forma de vida. Apenas alguns poucos permitiriam a existência de criaturas como
nós. Assim, nossa presença seleciona a partir desta vasta série apenas aqueles
universos que são compatíveis com nossa existência. Apesar de sermos fracos e
insignificantes na escala do cosmos, isto faz de nós em certo sentido os
senhores da criação.
Para
compreender o universo no nível mais profundo, precisamos saber não só como o
universo se comporta, mas por quê.
1. Por
que existe algo ao invés de nada?
2. Por
que existimos?
3. Por
este conjunto específico de leis e não algum outro?
Esta é a
Questão Fundamental da Vida, do Universo e de Tudo.” P. 08.
O que me surpreendeu foi o suposto pós-modernismo dos autores. A
citação a seguir falar por si mesma:
"O
realismo dependente de modelo pode fornecer um quadro para discutir questões
como: Se o mundo foi criado há um tempo finito, o que aconteceu antes daquilo?
Um filósofo cristão, Santo Agostinho (354-430), disse que a resposta não era
que Deus estava preparando o inferno para as pessoas que fazem tais perguntas,
mas que o tempo era uma propriedade do mundo que Deus criou, e que o tempo não
existia antes da criação, que ele acreditava tinha ocorrido não fazia muito
tempo. Esse é um modelo possível, que é favorecida por aqueles que sustentam
que a explicação dada no Gênesis é literalmente verdadeira, embora o mundo
contenha evidências fósseis e outras evidências que o fazem parecer muito mais
velho. (Eles foram colocados ali para nos enganar?) Pode-se também ter um
modelo diferente, em que o tempo volta 13,7 bilhões anos até o big bang. O
modelo que explica mais sobre nossas observações atuais, incluindo as provas
históricas e geológicas, é a melhor representação que temos do passado. O
segundo modelo pode explicar os registros fósseis e radioativos e o fato de que
recebemos a luz de galáxias milhões de anos-luz longe de nós e, portanto, este
modelo - a teoria do Big Bang – é mais útil que o primeiro. Ainda assim, não se
pode dizer que qualquer um dos modelos é mais real que o outro." P. 30.
Mas não nos enganemos, para eles, de maneira contraditória, visto que
até especulam que podemos ser meras personagens de computador, evocando o filme Matrix, não
há Deus.
“Nosso
universo e suas leis parecem ter um design que é ao mesmo tempo feito sob
medida para nos apoiar e, se quisermos existir, deixa pouco espaço para
alterações. [...] Muitas pessoas gostariam que usássemos essas coincidências
como prova do trabalho de Deus. [...] Mas, assim como Darwin e Wallace
explicaram como o projeto aparentemente miraculoso de formas de vida podia
aparecer sem intervenção de um ser supremo, o conceito de multiverso pode
explicar o ajuste fino das leis físicas sem a necessidade de um criador
benevolente que fez o universo em nosso benefício”. P. 96, 97.
As leis da física já atuavam no início do universo, tal como a lei da
gravidade, e assim, tudo surgiu do nada.
“Porque
existe uma lei como a gravidade, o universo pode e se criará partir do nada
[...]. A criação espontânea é a razão pela qual existe algo ao invés de nada,
por que o universo existe e por que nós existimos. Não é necessário invocar
Deus para iluminar o papel de toque azul, e colocar o universo em movimento”. P. 105.
Os autores também defendem o determinismo químico e biológico de nosso
comportamento. Não temos livre arbítrio. Somos o que somos, por causa do que
acontece no “invisível” nível molecular. Não existe liberdade de NADA. Eles
chegaram aonde chegaram em suas interpretações sobre o universo, não por uma
liberdade intelectual em perscrutá-lo, mas porque as células em ebulição de
seus corpos e o meio ambiente determinaram o que eles acham que é a história ou
histórias do universo.
Por diversas vezes, me deparei com páginas e mais páginas, das quais
não entendi bulhufas. O livro é direcionado ao majoritário público leigo, mas
não consegue ser atrativo em sua maior parte. Talvez, por mais que os Físicos
simplifiquem os intricados e complexos fenômenos da Física, chega um momento
que não dá para facilitar mais.
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