O
grande Charles Darwin, criador da teoria da evolução das espécies, destoava do
pensamento hegemônico da sociedade europeia e de seu país, a Inglaterra
vitoriana, de que existiam raças superiores, sendo estas, os europeus, enquanto
que as raças inferiores, eram os nativos da América, asiáticos e africanos?
Darwin estava à frente do seu tempo nessa delicada e triste questão da história
humana?
De
acordo com Thiago Lustosa Jucá, Bacharel em Biologia, Mestre e Doutor em
Bioquímica na Universidade Federal do Ceará, o velho Darwin não era racista.
“Darwin
vinha de uma família liberal e antiescravagista, o que o impedia de diferenciar
as pessoas segundo os critérios de raça e muito menos adotar convicções
racistas. Inclusive, ao constatar a escravidão de perto no Brasil, Darwin
deixou registrado em seu diário de bordo, em 1832, que 'nunca mais voltaria a
um país em que houvesse escravidão'." P. 43.
JUCÁ, Thiago Lustosa. Afinal, Por Que a Ciência é
Uma Janela Aberta de Leitura do Mundo? Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2020.
Fiquei
embasbacado, quando li isso. Visto que a realidade foi exatamente o contrário
do que ele afirma. Darwin não se diferenciava dos demais quanto a considerar
certos grupos de pessoas inferiores. Isso era praxe na Europa do século XIX.
Cientistas, Filósofos, políticos, religiosos e pessoas comuns, tinham plena
certeza de que eles, europeus brancos, estavam acima dos demais povos quanto a
inteligência, perspicácia, civilidade e outras coisas mais. A Europa era o
ápice da civilização, dos bons costumes, da boa maneira de viver e se portar.
Enquanto que as outras sociedades e povos estavam aquém dessas virtudes.
O
pesquisador do darwinismo Iba Mendes, cita o Nélio Marco, Professor de
Metodologia de Ensino de Ciências Biológicas da USP, que mostra muito bem o
racismo do senhor Darwin.
“Escreveu
Darwin numa carta a um amigo, W. Graham, em julho de 1881, pouco antes de
morrer: ‘Posso contestar que a seleção natural mais fez para o progresso da
civilização do que V. parece inclinado a admitir... As chamadas raças
caucasianas mais civilizadas derrotaram o turco falso na luta pela existência.
Olhando para o mundo num futuro não muito distante, creio que um número
considerável de raças inferiores terão sido eliminadas pelas raças mais
altamente civilizadas através do mundo!’.
Pelas
passagens já reproduzidas e por tantas outras que se encontram em seus
escritos, não resta dúvida de que Darwin era um cidadão orgulhoso de sua
nacionalidade. Mais que isto, estava convencido de que a sociedade baseada na
competição generalizada era a única forma de se atingir o estágio ‘superior’ de
‘civilização’. Ainda jovem, a bordo do Beagle, lamentou as relações
igualitárias que os índios da Terra do Fogo mantinham.
Escreveu
ele em seu diário: “A perfeita igualdade entre os indivíduos que compõem as
tribos da Terra do Fogo deverá retardar-lhes, por muito tempo, a civilização
(...) até que algum chefe se levante com poder suficiente para garantir-se a
posse de vantagens adquiridas, simples animais domésticos por exemplo, parece quase
impossível que o estado político do país possa melhorar. Atualmente, o simples
pedaço de tecido que se dá a um índio é rasgado em mil pedaços para contentar a
todos, nenhum ficando mais rico do que o outro.
Era
com esses olhos que Darwin observava a natureza à sua volta. Vendo uma pradaria
sul-americana coberta por uma única espécie vegetal, não tardava a pensar que o
lugar tinha sido originalmente ocupado por muitas espécies nativas, que teriam
sido exterminadas pela conquistadora. E indo além, adiantava que tal espécie
era europeia! Só podia ser mesmo. Europeus massacrando nativos e impondo seu
domínio em terras distantes não era nada de incomum naqueles
tempos." P.
92.
Iba
Mendes ainda faz citação direta do livro de Darwin A Origem do Homem e a Seleção
Sexual, que diz:
“Em
algum período futuro não muito distante se medido em séculos, as raças
civilizadas do homem exterminarão e substituirão, quase com certeza, as raças
selvagens no mundo todo. Ao mesmo tempo, os macacos antropomorfos... serão sem
dúvida exterminados. A brecha entre o homem e seus parentes mais próximos será
ainda mais larga, pois ela se abrirá entre o homem num estado ainda mais
civilizado, esperamos, do que o próprio caucasiano, e algum macaco tão inferior
quanto o babuíno, em vez de, como agora, entre o negro ou o australiano e o
gorila.” P. 78-79.
Iba
Mendes cataloga muitos outros ditos de Darwin, que claramente expõem a sua
visão de que existem raças superiores (ingleses, europeus) e raças inferiores
(negros).
MENDES, Iba. O Maravilhoso Mundo de Darwin. Poeteiro
Editor Digital São Paulo – 2016.
O documentário Onde Darwin Errou?, do Nildo Viana, Doutor em Sociologia na Universidade de Brasília, detalha muito bem o racismo de Darwin, apesar do seu horrível conteúdo ideológico marxista. Pode ser assistido aqui:
“Inclusive, ao constatar a escravidão de perto no Brasil, Darwin deixou registrado em seu diário de bordo, em 1832, que ‘nunca mais voltaria a um país em que houvesse escravidão’.”
Isto em nada ajuda no argumento de que Darwin não era racista. Uma coisa não exclui a outra. Robert J. Richards, Ph.D em História da Ciência pela Universidade de Chicago, escreve o seguinte:
"Apesar de Darwin reconhecer a existência de raças mais elevadas e mais baixas, ele certamente não acreditava que isto justificava um tipo de tratamento menos que humano para os mais baixos na escala." P. 178.
NUMBERS, Ronald L. Terra Plana, Galileu na Prisão e Outros Mitos Sobre Ciência e
Religião. 1º Ed. - Rio de Janeiro:
Thomas Nelson, 2020. (PDF).
Abraham Lincoln e os estados da União lutaram contra os confederados na Guerra Civil Americana para acabar com a escravidão, todavia, eles continuavam sendo racistas. A população americana na época dos direitos civis, na década de 1960, não era a favor que a escravidão dos negros voltasse, mas disto não se segue que grande parcela dela não era irredutivelmente racista. Ser contra o sistema de trabalho forçado não diz nada sobre olhar para os outros como iguais. É apenas uma condição que nem é necessária, na medida em que se investiga a escravidão antiga, onde o escravo era o que era, não por ser um ser humano inferior, mas, sim, por ser um cativo de guerra.
Que fique claro, que isso em nada depõe contra a veracidade ou não da teoria da evolução proposta por Darwin. Como já disse, o contexto social e cultural do meio em que ele cresceu e viveu, era puramente racista. Quando nascemos em um ambiente assim, é muito difícil suplantar os valores que nos são passados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário