sexta-feira, 16 de abril de 2021

Darwin Sem Frescuras

 


LOPES, Reinaldo José; PIRULA. Darwin Sem Frescura: Como a Ciência Evolutiva Ajuda a Explicar Algumas Polêmicas da Atualidade. Rio de Janeiro: HarperCollins, 2019. (PDF).

Uma decepção!

Um livro que tem por finalidade ser simples, direto, agradável, e apresentar o velho "Darwin sem frescuras", faz exatamente o contrário. Bote frescura nisso! Leitura chata, maçante e desempolgante.

Poucos capítulos escapam.

Pirula, Doutor em Zoologia na USP, que já acompanhei em diversos vídeos, sempre se pautou pela clareza na exposição de suas ideias. No entanto, na escrita deste livro, vi um Pirula totalmente oposto.

Reinaldo José Lopes, Doutor em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês na USP, um autor que também se pauta pela clareza e leitura atraente, a qual já pude constatar em um de seus livros, também falha miseravelmente nas páginas desta obra.

O livro se propõe aos leigos, mas passa longe disso. Eles querem ser engraçados, mas suas piadinhas artificiais não colam em nenhum momento.

Uma pena! Ambos têm uma habilidade brilhante para comunicar suas ideias, no entanto, deixaram ela de lado neste livro.

Vamos recortar algumas coisinhas desta obra.

Os autores rechaçam a acusação costumeira dos criacionistas, de que a evolução é falsa por falta de fósseis transicionais.

“Fósseis de transição são as lacunas de evidências mais trombeteadas pelos criacionistas. Para eles, a ausência dos 'elos perdidos' tornaria a Evolução uma ideia totalmente falsa. Falsa, na verdade, é essa afirmação dos criacionistas, e é falsa de muitas maneiras — não só porque os fósseis de transição não são fundamentais para provar a veracidade da Evolução, mas também porque existem centenas desses fósseis. Explicando o primeiro erro da afirmação: a genética, a embriologia, a anatomia comparada, a dinâmica populacional e mesmo experimentos com bactérias já seriam suficientes para demonstrar a Evolução. Os fósseis constituiriam apenas um bônus nesse mar de evidências paralelas.” P. 50.

A explosão cambriana, tão propalada pelo criacionistas, não é tão “explosiva” assim, pois ela levou 40 milhões de anos, o que acaba solapando a rapidez com que os criacionistas acham que a vida ocorreu.

“E essa explosão está registrada num crescente de diversidade que vai de 540 milhões a 500 milhões de anos atrás. Ou seja, a tal explosão, que na visão dos criacionistas seria a ‘criação de vida do nada’, levou 40 milhões de anos para acontecer. Isso está mais para um bolo assando que para uma explosão.” P. 81.

Há um capítulo inteiro sobre a homossexualidade.

“A homossexualidade aparece em todas as culturas e sociedades humanas, presentes e pretéritas (até onde podemos averiguar), em uma curiosa proporção que sempre oscila entre 4% e 10% da população. Ou seja, há uma quantidade mais ou menos fixa de pessoas na humanidade que preferem se relacionar com outras do mesmo sexo.” P. 119.

Existem ainda muitos que acreditam que a homossexualidade é simplesmente uma escolha do individuo. No Brasil, o propagador mais conhecido, e, diga-se de passagem, o mais estúpido, é o Silas Malafaia. Eles usam também a homossexualidade como evidência de que a evolução não é verdadeira.

“Expliquemos o questionamento: o fato de alguns preferirem se relacionar com pessoas do mesmo sexo traz uma consequência óbvia, que é a menor probabilidade de deixar descendentes. Se você deixa menos descendentes, é esperado que sua linhagem genética desapareça com o tempo. Seguindo essa lógica, se houvesse algo genético que favorecesse a homossexualidade, esses genes já deveriam ter sido extintos da população há muito tempo por mera desvantagem evolutiva. E aí? Para resolver essa questão, só existem dois caminhos, correto? 1) A homossexualidade não é inata (e, portanto, seria uma ‘escolha’ dos indivíduos, não tendo nada de genético); 2) a Evolução não existe. ‘Peguei vocês, seus escritores evolucionistas marxistas seguidores da agenda gayzista do George Soros’, diria algum leitor mais raivoso e conspiracionista.” P. 119.

Uma informação de grande importância que aparece no livro, em vista do atual contexto identitário e idiota que estamos vivendo, espalhado pelo movimento negro e pessoinhas da esquerda:

“Ao pessoal que condena o uso do termo mulato por considerá-lo pejorativo, há vários estudos defendendo a ideia de que ele não deriva da palavra ‘mula’, como se costuma pensar, mas do termo árabe muwallad — nascido —, que designava o mestiço de árabe com não árabe na Espanha muçulmana e na África.” P. 120.

Os homossexuais têm um jeito específicio de ser, têm traços identificáveis - aquilo que pejorativamente chamamos de boiolagem, viadagem, baitolagem?

“Mas, em linhas gerais, há uma curva gaussiana (aquelas curvas de gráfico em formato de sino, em que a parte mais alta indica a maioria) indicando que homossexuais apresentam, sim, trejeitos identificáveis na maioria dos casos. Isso poderia ser uma característica cultural? (Afinal, o meio gay acabaria por ‘contaminar’ as pessoas com estereótipos que elas incorporariam por identificação.) Até poderia, mas tudo indica que essa explicação não faz muito sentido. Isso porque foram realizados estudos internacionais aplicando os mesmos testes em várias culturas e continentes diferentes (Américas do Norte e do Sul, Oceania, Europa e Ásia) e os traços de feminilidade ou masculinidade que distinguem os homossexuais foram observados com mínimas diferenças em todos os países estudados. É claro que mais estudos precisam ser feitos para comparar os resultados com os de outras sociedades, mais fechadas e menos expostas à cultura de origem europeia.

[...]

Esses traços — tanto de voz quanto de expressão corporal — que podem ajudar a identificar uma boa porcentagem de homossexuais são observados também (prenda a respiração e tente ler o parágrafo até o final antes de fechar o livro e jogá-lo fora)… em crianças . Sim, sabemos que é quase impossível falar sobre sexualidade de crianças, porque, por definição, crianças não possuem nenhuma libido ou interesse sexual. Toda e qualquer tentativa de sexualização de crianças de que temos notícia gera traumas e comportamentos anômalos decorrentes desses traumas. Porém, mesmo antes de os hormônios responsáveis pela libido aflorarem, esses traços ‘acessórios’, por assim dizer, de orientação sexual podem ser detectados. Igualmente em uma porcentagem bem alta (88% em alguns estudos), esses traços acabam por corresponder às preferências sexuais que os indivíduos terão depois da puberdade (e bissexuais ficam em um meio-termo, metade correspondendo, metade não). Essas crianças são chamadas de pré-homossexuais (existe, portanto, o termo pré-heterossexual também) na literatura acadêmica, pois não é possível classificá-las até chegarem a uma fase adulta, mas é possível identificar esses traços que indicam uma probabilidade alta (que nunca é de 100%, vale sempre lembrar) de que serão homossexuais. Um fato interessante é que, em meninas, essa detecção é menos acurada do que em meninos, ou seja, um menor número de meninas com comportamento pré-homossexual vai efetivamente ser lésbica na vida adulta. Mas, mesmo assim, o percentual também é alto.

Em resumo, há características objetivas de voz e linguagem corporal que podem ser observadas na maioria dos homossexuais, homens ou mulheres, que se repetem em diferentes culturas e modelos de sociedade e que são detectáveis pela maioria das pessoas, sejam homossexuais ou não.” P. 126-127.

Eles fornecem muitas explicações científicas que formam uma base sólida da homossexualidade não como uma escolha livre e espontânea das pessoas, mas de determinantes biológicos. Isso tem feito os religiosos evangélicos ficarem numa bica de sinuca, pois sempre afirmaram que a homossexualidade é escolha pecaminosa dos indivíduos, dizendo que se eles quiserem, podem parar e passar a gostar sexualmente de pessoas do sexo oposto.

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