LOPES, Reinaldo José; PIRULA. Darwin Sem Frescura: Como a Ciência Evolutiva Ajuda a Explicar Algumas Polêmicas da Atualidade. Rio de Janeiro: HarperCollins, 2019. (PDF).
Uma decepção!
Um livro que tem por finalidade ser
simples, direto, agradável, e apresentar o velho "Darwin sem
frescuras", faz exatamente o contrário. Bote frescura nisso! Leitura
chata, maçante e desempolgante.
Poucos capítulos escapam.
Pirula, Doutor em Zoologia na USP, que já acompanhei em
diversos vídeos, sempre se pautou pela clareza na exposição de suas ideias. No
entanto, na escrita deste livro, vi um Pirula totalmente oposto.
Reinaldo José Lopes, Doutor em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês na USP, um autor que também se pauta pela clareza e leitura atraente, a qual já pude constatar em um de seus livros, também falha miseravelmente nas páginas desta obra.
O livro se propõe aos leigos, mas passa
longe disso. Eles querem ser engraçados, mas suas piadinhas artificiais não
colam em nenhum momento.
Uma pena! Ambos têm uma habilidade brilhante
para comunicar suas ideias, no entanto, deixaram ela de lado neste livro.
Vamos recortar algumas coisinhas desta
obra.
Os autores rechaçam a acusação costumeira
dos criacionistas, de que a evolução é falsa por falta de fósseis
transicionais.
“Fósseis de
transição são as lacunas de evidências mais trombeteadas pelos criacionistas.
Para eles, a ausência dos 'elos perdidos' tornaria a Evolução uma ideia
totalmente falsa. Falsa, na verdade, é essa afirmação dos criacionistas, e é falsa
de muitas maneiras — não só porque os fósseis de transição não são fundamentais
para provar a veracidade da Evolução, mas também porque existem centenas desses
fósseis. Explicando o primeiro erro da afirmação: a genética, a embriologia, a
anatomia comparada, a dinâmica populacional e mesmo experimentos com bactérias
já seriam suficientes para demonstrar a Evolução. Os fósseis constituiriam
apenas um bônus nesse mar de evidências paralelas.” P. 50.
A explosão cambriana, tão propalada pelo
criacionistas, não é tão “explosiva” assim, pois ela levou 40 milhões de anos,
o que acaba solapando a rapidez com que os criacionistas acham que a vida
ocorreu.
“E essa explosão
está registrada num crescente de diversidade que vai de 540 milhões a 500
milhões de anos atrás. Ou seja, a tal explosão, que na visão dos criacionistas
seria a ‘criação de vida do nada’, levou 40 milhões de anos para acontecer.
Isso está mais para um bolo assando que para uma explosão.” P. 81.
Há um capítulo inteiro sobre a
homossexualidade.
“A homossexualidade
aparece em todas as culturas e sociedades humanas, presentes e pretéritas (até
onde podemos averiguar), em uma curiosa proporção que sempre oscila entre 4% e
10% da população. Ou seja, há uma quantidade mais ou menos fixa de pessoas na
humanidade que preferem se relacionar com outras do mesmo sexo.” P. 119.
Existem ainda muitos que acreditam que a
homossexualidade é simplesmente uma escolha do individuo. No Brasil, o
propagador mais conhecido, e, diga-se de passagem, o mais estúpido, é o Silas
Malafaia. Eles usam também a homossexualidade como evidência de que a evolução não
é verdadeira.
“Expliquemos o
questionamento: o fato de alguns preferirem se relacionar com pessoas do mesmo
sexo traz uma consequência óbvia, que é a menor probabilidade de deixar
descendentes. Se você deixa menos descendentes, é esperado que sua linhagem genética
desapareça com o tempo. Seguindo essa lógica, se houvesse algo genético que
favorecesse a homossexualidade, esses genes já deveriam ter sido extintos da
população há muito tempo por mera desvantagem evolutiva. E aí? Para resolver
essa questão, só existem dois caminhos, correto? 1) A homossexualidade não é
inata (e, portanto, seria uma ‘escolha’ dos indivíduos, não tendo nada de
genético); 2) a Evolução não existe. ‘Peguei vocês, seus escritores
evolucionistas marxistas seguidores da agenda gayzista do George Soros’, diria
algum leitor mais raivoso e conspiracionista.” P. 119.
Uma informação de grande importância que
aparece no livro, em vista do atual contexto identitário e idiota que estamos
vivendo, espalhado pelo movimento negro e pessoinhas da esquerda:
“Ao pessoal que condena
o uso do termo mulato por considerá-lo pejorativo, há vários estudos defendendo
a ideia de que ele não deriva da palavra ‘mula’, como se costuma pensar, mas do
termo árabe muwallad — nascido —, que designava o mestiço de árabe com não
árabe na Espanha muçulmana e na África.” P. 120.
Os homossexuais têm um jeito específicio de
ser, têm traços identificáveis - aquilo que pejorativamente chamamos de
boiolagem, viadagem, baitolagem?
“Mas, em linhas
gerais, há uma curva gaussiana (aquelas curvas de gráfico em formato de sino,
em que a parte mais alta indica a maioria) indicando que homossexuais
apresentam, sim, trejeitos identificáveis na maioria dos casos. Isso poderia
ser uma característica cultural? (Afinal, o meio gay acabaria por ‘contaminar’
as pessoas com estereótipos que elas incorporariam por identificação.) Até
poderia, mas tudo indica que essa explicação não faz muito sentido. Isso porque
foram realizados estudos internacionais aplicando os mesmos testes em várias
culturas e continentes diferentes (Américas do Norte e do Sul, Oceania, Europa
e Ásia) e os traços de feminilidade ou masculinidade que distinguem os
homossexuais foram observados com mínimas diferenças em todos os países
estudados. É claro que mais estudos precisam ser feitos para comparar os
resultados com os de outras sociedades, mais fechadas e menos expostas à
cultura de origem europeia.
[...]
Esses traços — tanto de voz quanto de expressão corporal — que podem ajudar a identificar uma boa porcentagem de homossexuais são observados também (prenda a respiração e tente ler o parágrafo até o final antes de fechar o livro e jogá-lo fora)… em crianças . Sim, sabemos que é quase impossível falar sobre sexualidade de crianças, porque, por definição, crianças não possuem nenhuma libido ou interesse sexual. Toda e qualquer tentativa de sexualização de crianças de que temos notícia gera traumas e comportamentos anômalos decorrentes desses traumas. Porém, mesmo antes de os hormônios responsáveis pela libido aflorarem, esses traços ‘acessórios’, por assim dizer, de orientação sexual podem ser detectados. Igualmente em uma porcentagem bem alta (88% em alguns estudos), esses traços acabam por corresponder às preferências sexuais que os indivíduos terão depois da puberdade (e bissexuais ficam em um meio-termo, metade correspondendo, metade não). Essas crianças são chamadas de pré-homossexuais (existe, portanto, o termo pré-heterossexual também) na literatura acadêmica, pois não é possível classificá-las até chegarem a uma fase adulta, mas é possível identificar esses traços que indicam uma probabilidade alta (que nunca é de 100%, vale sempre lembrar) de que serão homossexuais. Um fato interessante é que, em meninas, essa detecção é menos acurada do que em meninos, ou seja, um menor número de meninas com comportamento pré-homossexual vai efetivamente ser lésbica na vida adulta. Mas, mesmo assim, o percentual também é alto.
Em resumo, há
características objetivas de voz e linguagem corporal que podem ser observadas
na maioria dos homossexuais, homens ou mulheres, que se repetem em diferentes
culturas e modelos de sociedade e que são detectáveis pela maioria das pessoas,
sejam homossexuais ou não.” P. 126-127.
Eles fornecem muitas explicações científicas que formam uma base sólida da homossexualidade não como uma escolha livre e espontânea das pessoas, mas de determinantes biológicos. Isso tem feito os religiosos evangélicos ficarem numa bica de sinuca, pois sempre afirmaram que a homossexualidade é escolha pecaminosa dos indivíduos, dizendo que se eles quiserem, podem parar e passar a gostar sexualmente de pessoas do sexo oposto.
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