LENNOX, John. A Ciência Pode Explicar Tudo? São Paulo: Vida
Nova, 2021.
O veinho John Lennox é um
Matemático e Filósofo da universidade de Oxford, que vem se destacando nos
últimos anos no Brasil, com os seus argumentos em favor do teísmo, através de
livros, vídeos e por cauda do seu conhecido debate com o seu colega de Oxford,
o Biólogo Richard Dawkins, onde fica notório que o Lennox se saiu bem melhor na
exposição das ideias. Li dois de seus livros, dentre eles Porque a Ciência Não
Consegue Enterrar Deus, que achei bastante persuasivo. Li também Cristianismo:
Ópio do Povo?, livro mais simples, em coautoria com o seu amigo David Gooding. Agora,
li este. Livro pequeno, simples, mas não menos interessante e persuasivo em
muitos momentos.
Lennox é um teísta cristão desde
muito jovem, entrando na academia universitária como cristão e permanecendo
inabalável e irredutível nesta posição até hoje. Mas ele relata que logo nos
primeiros anos, foi pressionado a abandonar suas convicções teístas, visto que
se assim não fizesse, não progrediria no meio acadêmico. A história mostrou que
o seu interlocutor estava redondamente enganado. Lennox é um respeitado
acadêmico em sua área de atuação (Filosofia da Ciência e Matemática), e
coleciona uma série de debates com estudiosos que estão na elite do pensamento
ateu, como o já mencionado Richard Dawkins, como também o Eticista Peter
Singer, o Jornalista Christopher Hitchens, ao qual Lennox o chama de pensador
cuidadoso e ponderado, dentre outras personalidades do ceticismo ateu.
“[Há] um
lado sombrio da academia. Há alguns cientistas que se apresentam com ideias
preconcebidas, e que não querem realmente debater as evidências e parecem
determinados a não buscar a verdade. Eles estão interessados em propagar as
noções de que a ciência e Deus são incompatíveis e de que as pessoas que
acreditam em Deus são simplesmente ignorantes. Isso, obviamente, não é
verdade.” P. 24-25.
A propaganda de que Ciência e
Religião estão em pé de guerra não para na boca dos ignorantes em história. No
entanto, Colin A. Russel, Ph.D em História e Filosofia da Ciência na
Universidade de Londres, é citado dizendo estas palavras:
“A crença
comum de que [...] o verdadeiro relacionamento entre religião e ciência nos
últimos séculos tem sido marcado por hostilidade profunda e duradoura [...] não
apenas é historicamente incorreta, mas, na verdade, trata-se de uma caricatura
tão grotesca que o que realmente precisa ser explicado é como ela pode ter
alcançado qualquer grau de respeitabilidade.” P. 34.
Quem não conhece a célebre frase
de Carl Sagan e repetida pelo seu substituto Neil DeGrasse Tyson na série
Cosmos?
“No início
de sua conhecida série da televisão, Cosmos, o astrônomo e cosmólogo americano
Carl Sagan afirmou: ‘O cosmo é tudo o que existe, já existiu e sempre
existirá’. Essa não é uma afirmação da ciência; não deve ser colocada na mesma
categoria, por exemplo, da afirmação científica de que a gravidade obedece à
lei do inverso do quadrado. A afirmação de Sagan é simplesmente uma expressão
de sua crença ateísta. O problema é que muitas pessoas dão a todas as
afirmações de cientistas a autoridade devida apropriadamente à ciência,
simplesmente porque foram feitas por um cientista.” P. 35-36.
Esse tipo de idolatria deve
acontecer muito com o falecido e renomado Físico Stephen Hawking, que em seu
último livro, escreveu que o universo surgiu do nada. Lennox não deixa passar
essa contradição.
“Stephen
Hawking afirmava que Deus não é
necessário para explicar por que o universo existe, em primeiro lugar – por
que existe algo em vez de nada. Ele acreditava que a ciência poderia fornecer a
reposta. Escreve assim: ‘Uma vez que há uma lei a da gravidade, o universo pode
criar-se e se criará a partir do nada.’
Essa
afirmação parece científica, e
certamente foi escrita por um cientista. Contudo, além de não ser científica, não é nem mesmo racional, como um pouco de lógica rudimentar demonstrará.
A
afirmação de Hawking é autocontraditória: ‘Uma vez que há uma lei como a da
gravidade’ – ou seja, visto que há alguma coisa – ‘o universo [...] se criará a
partir do nada’. Hawking assume que a lei da gravidade existe. Ela não pode ser
considerada nada, logo, ele é culpado dessa contradição flagrante.
Observe
cuidadosamente o que Hawking afirma: ‘Uma vez que há uma lei como a da
gravidade...’. Quando li isso pela primeira vez, pensei: ‘Com certeza ele quis
dizer: ‘Uma vez que há a gravidade...’ Pois, o que uma lei da gravidade
significaria se não houvesse gravidade para ela descrever? Além disso, não é só
os cientistas que não criaram o universo; a ciência e as leis da física
matemática também não o fizeram. Ainda assim, Hawking parece pensar que
poderiam, muito bem, tê-lo feito.
[...]
A ideia
[...] de leis físicas trazendo o
universo à existência poder parecer fascinante, mas, na realidade, não faz
sentido algum. [...] a lei da gravidade de Newton não explica a gravidade. Além
do mais, ela certamente não cria a
gravidade. Na verdade, as leis da física não são apenas incapazes de criar
qualquer coisa; elas também não podem ser a causa de qualquer coisa.” P. 49-50, 51.
Continuando...
“Por fim,
a afirmação de Hawking de que ‘o universo pode criar-se e se criará a partir do
nada’ não faz sentido. Se eu digo, que ‘X cria Y’, isso pressupõe à existência
de X em um primeiro momento, para trazer Y à existência. Se eu digo que ‘X cria
X’, pressuponho a existência de X para explicar a existência de X. Pressupor a
existência do universo para explicar sua existência é logicamente incoerente.” P.
53.
Lennox toca num ponto, que sempre
me chamou muita atenção: a incompatibilidade entre racionalidade e ateísmo, no
sentido de que este diz que as nossas capacidades de raciocinar surgiram do
caos irracional. O universo resulta da aleatoriedade/acaso/irracionalidade,
segundo os ateus. Então como podemos confiar em nosso raciocínio? Que
justificativas epistêmicas o ateu tem para poder dar credibilidade ao que ele pensa
sobre o mundo? Se tudo foi gerado pela irracionalidade, porque o ateísmo seria
superior aos demais pensamentos que ele julga serem irracionais, quando a sua
própria cosmovisão recai na mesma categoria, visto que ela também foi gestada
no mesmo mundo que é efeito da absurdidade e ilogicidade? Mas todos, crentes e
descrentes, acreditam que podem apreender algo verdadeiro e confiável sobre o
mundo que os cerca. Mas parece que o ateu não tem como justificar adequadamente
isso.
“Meu
professor de mecânica quântica em Cambridge, o catedrático Sir John
Polkinghorne, escreveu: ‘A ciência não explica a inteligibilidade matemática do
mundo físico, pois é parte da fé [observe
o uso explícito da palavra] fundacional da ciência que isso seja assim...’ pelo
simples motivo de que não podemos começar a nos envolver na física sem
acreditar em sua inteligibilidade.
Sobre qual
evidência, portanto, os cientistas baseiam sua fé fé na inteligibilidade
racional do universo, que os permite fazer ciência? O primeiro ponto a ser
observado é que a razão humana não criou
o universo. Esse ponto é tão óbvio que, à primeira vista, pode parecer
trivial; mas é, na realidade, de fundamental importância quando nos propomos a testar
a validade de nossas capacidades cognitivas. Além de não termos criado o
universo, não criamos nossa própria capacidade de raciocinar. Podemos
desenvolver nossas faculdades racionais pelo uso, mas não as originamos. Como é
possível, então, que o que se passa em nossa minúscula cabeça possa fornecer
algo que se aproxime de uma verdadeira explicação da realidade? Como é possível
que uma equação matemática desenvolvida na mente de um matemático possa
corresponder ao funcionamento do universo?
[...]
Às vezes,
em conversas com meus companheiros cientistas, pergunto a eles:
- Com o
que você faz ciência?
- Com a
minha mente – dizem alguns; e outros que sustentam a opinião de que a mente é o
cérebro dizem:
- Com meu
cérebro.
- Fale-me
sobre seu cérebro. Como ele surgiu?
- Por meio
de processos naturais, irracionais e não guiados.
- Por que, então, você confia neles? –
pergunto. Se você acreditasse que seu computador fosse o resultado final de
processos irracionais e não guiados, você confiaria nele?
- Nem por
um segundo – vem a resposta.
-
Obviamente você tem um problema, então.” P. 61, 62.
John Gray, ateu e Professor de
Filosofia na Universidade de Oxford, reconhece:
“O
humanismo moderno é a fé de que pela ciência a humanidade pode conhecer a
verdade – e assim ser livre. Porém, se a teoria da seleção natural de Darwin
for verdadeira, isso se torna impossível. A mente humana está a serviço do
êxito evolutivo, e não da verdade.” P. 63. [1]
Lennox nos seis últimos capítulos
se volta mais especificamente para o Cristianismo, argumentando que a Bíblia é
confiável, apelando para vários argumentos, como a defesa da ressurreição de
Jesus, a confiabilidade histórica do Novo testamento, a preservação da sua
mensagem original, apesar de dois mil anos de existência, etc.
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[1] Vários Cientistas e Filósofos creem que a teoria da evolução é compatível com a existência de Deus. Deus iniciando o processo evolutivo, este geraria não apenas a sobrevivência, mas uma racionalidade confiável. Se o processo evolutivo for apenas gestado pela cegueira do acaso, não há como justificar racionalidade alguma.
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