OLIVEIRA, Ivan de. Consumidores da fé. São Paulo: Reflexão, 2015.
Ivan de Oliveira (Ph.D e Mestre
em Direito pela UNIMES/SP; Pós-Doutor em Direito na Universidade de Coimbra, em
Portugal; Bacharel em Direito na UMC/SP; Mestre em Ciências da Religião e
Bacharel em Filosofia e Teologia pela Universidade Mackenzie, São Paulo) nos
traz a sua pesquisa sobre os “consumidores da fé” que perambulam que nem zumbis
nas ditas igrejas neopentecas.
É sabido que neopentecostalismo
(universal do reino de deus, internacional da graça de deus, renascer em
cristo, mundial do poder de deus...) mostrou-se uma força religiosa e social
muitíssimo poderosa em solo brasileiro nas três últimas décadas. Essas igrejas
inseridas num contexto capitalista, onde o consumo é a bola da vez, não
escaparam do que o autor chama de “Indústria Cultural”, termo que pegou
emprestado das conceituações de alguns teóricos da Escola de Frankfurt, na
Alemanha.
E já que mencionei a Escola de
Frankfurt, o ponto negativo que vejo no livro, são as várias páginas escritas
no início explicando e historiando a dita escola. O Oliveira menciona até quem
foi os seus diretores ao longo dos anos. Precisava disso? Qual a relevância de
enumerar cronologicamente a direção dessa instituição? Absolutamente nenhuma.
Se autor tinha como aporte teórico as ideias dos pesquisadores dessa escola,
poderia ser mais sucinto em sua exposição e ir direto ao seu objeto de pesquisa.
Separei alguns trechos que achei
relevantes.
“No mercado de consumo não há
circulação somente de coisas consideradas pelo critério de utilidade ou pelo
custo da produção, mas o grande peso que se leva em conta na circulação de
produtos e serviços são os símbolos agregados às coisas negociadas.” P. 72.
Esses “símbolos agregados às
coisas negociadas” é o que pesa bastante no âmbito religioso neopenteca (e não
somente nele, mas noutros seguimentos religiosos), visto que o valor agregado,
agora é direcionando a um bem de consumo “sagrado/consagrado/ungido/de Deus”. O
consumidor não está adquirindo algo deste “mundo”, contingente ou supérfluo,
mas um produto que o “liga” ao próprio Criador e suas benesses.
Nesse contexto, muitos
fiéis-consumidores podem cair em maus lençóis. A coerção psicológica de certos
líderes religiosos mostra-se descaradamente cruel. “Há líderes que evocam para si a
condição de plenipotenciários, detentores da verdade última, deslegitimando
qualquer critica por parte dos fiéis”. (P. 91). Exemplos de fiéis-consumidores que
colocaram essas igrejas no pau proliferam Brasil a fora. Em muitos casos, essas
instituições foram obrigadas pela justiça a ressarcirem os “rebeldes” que lhes
denunciaram.
“As expressões religiosas de
massa assemelha-se, em muitos momentos, a um verdadeiro Shopping Center. Basta,
nesse sentido, que o consumidor da fé, apresente suas intenções que, ao que
parece, há um grupo [de] líderes religiosos prontos para atenderem a demanda.”
P. 36.
Basta ver a proliferação de
livros de autoajuda católicos, evangélicos e espíritas. Cada seguimento
querendo o seu quinhão financeiro. Nesse quesito o catolicismo é perito desde a
Idade Média, com a venda de lugares nos céus, santinhos, crucifixos, imagens e
todo tipo de parafernália “sagrada”.
“Numa realidade social em que
tudo pode ser alvo de consumo, os fieis não têm dificuldades de se
transformarem em consumidores dos bens representativos do sagrado. Com essa
avidez pelo consumo, os viciados em consumos de bens e serviços no mercado de
consumo, não apresentam dificuldades em [consumir] bens simbólicos de religião,
pois o próprio símbolo é conferido em ambientes mágico-religiosos.” P. 73.
A mentalidade consumista (do
convertido) que antes consumia coisas “mundanas” e “sacrílegas”, tais como
bebidas, cigarros e etc., agora dá lugar aos bens “sacros”, vindos do “céu”. Os
exemplos pipocam: DVDs, CDs, livros... Fora os bens abstratos (esses são os
piores), como a coerção para dar o dízimo/trízimo/oferta para obter a benção de
deus nas finanças, saúde... Bens abstratos que se transformam em bens
concretos, na cabecinha deles.
No meio neopentecostal, o rebanho
em questão, acaba trocando um determinado tipo de vício e escravidão, quando
era do “mundão”, por outro, que em não raras ocasiões é até bem pior. Tornam-se
reféns de pastores que lhes incutem um terror psicológico bastante eficiente e
difícil de erradicar. Visto que agora, se eles não acatarem os “ensinamentus di
amor”, vindo desses “homis di deus”, estarão assinando o seu atestado de
rebeldia contra o todo-poderoso. E aí, meu fí, prepare us coru.
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