sexta-feira, 4 de março de 2016

Adivinhe quem vem para jantar

Link para baixar o filme:

https://mega.nz/#!rphhCLhS!tyrQ52YHSv_SZU3NA_SeJnTrU8R01ZWwKrY_Wt2rqGQ

Não seria exagero dizer que esse filme ESPETACULAR, seja, talvez, o melhor filme que já vi! É uma obra prima do cinema. Sensacional, formidável, impecável, inteligente... Todos os elogios possíveis a essa pérola do cinema mundial. É lindo. É maravilhoso. Fiquei atônito. Empolgo-me para falar desse longa.

As interpretações de todos os personagens beiram a perfeição. Os diálogos, nem se fala. E o tema? Explosivo na época em que foi lançado. E lá vou eu, mencionar mais uma vez a tão falada década de 1960. Década das árduas lutas pelos direitos civis. Os “de cor” reivindicando da sociedade e do governo norte-americano, plenos direitos de cidadania, que sempre lhes foram negados.


Joanna Drayton (Katharine Houghton ) é uma linda mulher de 23 anos, filha de pais ricos, que conhece no Havaí, o proeminente Médico John Prentice Jr (Sydney Poitier). Ambos se apaixonam logo de cara. E durante a curta estadia nessa ilha, resolvem se casar.

Até aí, tudo bem, afinal de contas, são duas pessoas solteiras e jovens, que optam por oficializar, perante a sociedade e Estado, mediante o matrimônio, o amor que sentem um pelo outro. Nada fora do padrão; do comum; do corriqueiro; do saudável; do bom senso; da decência; dos bons e aceitáveis costumes. É exatamente esse tipo de procedimento, que a então sociedade em que vivem, espera de pessoas verdadeiramente comprometidas e que levam a sério a vida a dois.


O problema, e bote problema nisso, é que um dos pombinhos enamorados é negro.  O Dr. Prentice é torradinho/pretinho/escurinho. Se hoje em dia, mais de meia década depois, muitas vezes, ainda vemos com uma certa estranheza, um negro e uma branca namorando > noivando > casando, principalmente, se ela for loira e linda, como é o caso da noiva do Prentice, imagine o quanto não era algo de outro mundo e totalmente inaceitável, para a maioria das pessoas dos EUA, se deparar com tal situação, naquele contexto racista e discriminatório?! Mesmo a história se passando em San Francisco, cidade mais aberta, liberal e menos preconceituosa, se comparada aos Estados sulistas do Mississipi, Alabama e Tennessee.

O casal apaixonado chega a San Francisco, para dar a notícia aos pais de Joanna, de que em breve irão se casar. Joanna ou Joey, bastante entusiasmada, não vê a hora de falar aos pais a grande novidade, visto que ela teve uma educação diferenciada. Recebeu de seus pais uma educação moderna e não baseada no racismo vigente em derredor. Dessa forma, por que temer a reação de seus pais? Eles mesmos lhe disseram na mais tenra idade, que todos são iguais e devem gozar de plenos direitos como cidadãos.

Enquanto Prentice está no escritório da casa, telefonando para os seus pais, Joanna estava contando para Christina Drayton (Katharine Hepburn), sua mãe, sobre o maravilhoso, inteligente e homem perfeito, que conheceu.  Ele, então, aparece na sala, a cara de assustada da Senhora Christina, quando o vê, é emblemática. Quase que ela tem um infarto fulminante. Apesar dela não ser racista (ou pensa que não é), não está acreditando que sua única filhinha linda e tão amada, está noiva de um afrodescendente. Sua mãe está engasgada com o que está acontecendo. A própria Joanna diz a ela:

“Ele acha que você vai desmaiar, porque ele é negro.”


O engraçado é que a própria Tillie (Isabel Sanford ), empregada da casa, uma negra, não aceita de forma alguma, que a sua querida menina, que viu crescer e ajudou a criar, pretende se casar com um preto. Para ela é uma tolice e disparate sem tamanho tudo isso. Cada um deve ficar na sua. Prentice é um negro aproveitador, segundo ela. É aí que se encontra mais um dos vários pontos positivos do vídeo. Mostrando a realidade de que muitos negros, também, tinham sérias reservas, em relação aos casamentos exogâmicos.


Pouco tempo depois, enquanto Joey, Prentice e Christina estão no jardim da casa, fazendo um lanchinho, o pai de Joey, Matt Drayton (Spencer Tracy), chega. Ele é surpreendido pela bombástica notícia. Durante todo o desenrolar da história, ele sente uma dificuldade muito maior que a sua mulher em aceitar tal situação. Apesar dele ser dono de um jornal liberal e antirracista de San Francisco, agora ele está de fato, sendo provado quanto as convicções que tanto defendeu ao longo do anos. Todo o seu discurso moderno e avesso ao preconceito só se aplica aos negros que não estejam, porventura, cortejando a sua filha?! Se a resposta for sim, ele não estaria comprometendo seriamente a sua coerência e integridade ideológica?!

Ele e sua esposa vão para o escritório e ela dispara:

“[...] E se ela (Joanna) é assim, foi porque nós a criamos assim mesmo. Respondemos as suas perguntas; ela escutou as nossas respostas. Dissemos a ela que era errado acreditar que gente branca era sempre superior à gente negra, ou mulatos, vermelhos ou amarelos, pouco importa. Gente que pensa assim, era errado em pensar assim. Por vezes, por ódio, sempre por estupidez. Mas sempre, sempre errados. Era o que dizíamos. E quando dissemos, nada acrescentamos, como: ‘Nunca se apaixone por um homem de cor’.”

Logo após ela dizer tudo isso, eles recebem uma ligação informando quem verdadeiramente é o recém-noivo de sua filha. Informação essa, solicitada por seu pai. Realmente Prentice é Médico, mas não é qualquer Médico. Todas as credenciais possíveis ele já conseguiu, apesar de sua juventude. A lista de seus feitos na Medicina é gigantesca. Uma boa sacada do roteirista, em “exagerar” nas qualificações acadêmicas do Prentice. Pois dessa forma, caso os pais da Joey não aceitem o casamento, não será porque ele é um vagabundo, ou um zé ninguém, mas sim, porque é uma pessoa de “cor”.

Um novo personagem é incorporado a toda essa confusão.  O monsenhor Mike Ryan (Cecil Kellaway), que a exemplo dos demais, tem uma desenvoltura marcante no desenvolvimento do enredo. É um padre simpático, carismático e que dá total apoio ao casamento de Prentice e Joanna. Vários diálogos são travados entre ele, e seu melhor amigo, o pai de Joey. O religioso sempre dando alfinetadas e jogando argumentos para que seu amigo deixe de birra e abençoe o casamento de sua filha. Um velhinho muito agradável, esse padre. Uma figura.


E para fechar, caminhando para o final, os pais de Prentice, viajam de Los Angeles, para conhecer a noiva de seu filho. Eles se assustam, quando descobrem que a amada de seu filho, é branca. O pai, John Prentice (Roy E. Glenn), vira uma estátua, e a semelhança do pai de Joey, é muito mais enfático que a Senhora Mary Prentice (Beah Richards), em aprovar esse casamento. Ele é ignorante e marrento, tentando persuadir o seu filho a desistir dessa “loucura”.


Nos minutos finais do filme, depois de ouvir umas verdades bem ditas da mãe do Prentice, e refletir muito sozinho no jardim, o pai de Joanna, reúne todos na sala, e diz:

“[...] Existem 100 milhões de pessoas, bem aqui, neste país, que ficarão chocados e ofendidos e desgostosos quanto a vocês dois. E vocês terão que superar tudo isso. Talvez cada dia, pelo resto de suas vidas. Vocês poderão tentar ignorar essas pessoas, ou sentir pena delas, por seus preconceitos e intransigência. Seus cegos e odiosos temores. Mas quando for necessário, vocês vão ter que se unir um ao outro, e dá as costas a toda essa gente.”


O seu discurso é mais extenso, ele resume todos os acontecimentos, pensamentos, dúvidas e temores do dia, e chega a mais razoável conclusão: de que os dois devem e têm o direito de se casarem e serem felizes.

Filme nota 1000!

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