terça-feira, 1 de março de 2016

Beasts of no Nation


Primeira película produzida pela Netflix!

É boa?

É não. É ótima! É triste! É terrivelmente chocante!

Entra século e sai século; entra década e sai década; entra ano e sai ano; e sempre, teimosamente, algum país africano está afundado na lama podre e nojenta de uma guerra civil. Sempre os civis são os que sofrem os efeitos colaterais da guerra. São assassinados pelos seus próprios patrícios, que juram lutar pela soberania da nação e restabelecer a cidadania da população oprimida.


Agu é um garotinho, que vive em uma zona de proteção militar com sua mãe, pai, irmão mais velho e irmão mais novo. Apesar dos poucos recursos disponíveis, eles vivem relativamente em paz, enquanto o país está em guerra. Ele pode brincar com os amigos, pode conversar e pedir comida aos soldados, ir a igreja rezar e o seu irmão pode paquerar as meninas da vizinhança. Comparado a outras regiões da Nigéria, mesmo com várias limitações, Agu e sua família, ainda conseguem ter uma vida “normal”.

Tudo começa a desabar, quando eles têm que fugir, por causa das forças inimigas estarem prestes a invadir a sua região. O seu pai consegue pagar um homem que leva pessoas para a capital. Ele insiste para que o maluco que faz a lotação, deixe o seu filho Agu ir também. Pedido negado. Só podem ir, a mãe e o bebê. Agu, juntamente com seu pai e irmão mais velho ficam. Agora eles têm que se virar e sobreviver, para quem sabe, consigam chegar à capital.

As forças inimigas conseguem capturá-los. Seu pai e irmão são fuzilados, mas ele consegue escapar, correndo para a mata. Vários soldados vão atrás dele, muitos tiros são disparados, no entanto, ele não é atingido. Infelizmente, uma milícia de rebeldes, denominada Força de Defesa Local (FDL), e liderada por um perverso comandante, pega o pequeno e inocente Agu na floresta.

Agu passa a ser treinado pelo exército da FDL. Come o pão que o diabo amassou. Passa por rituais religiosos de purificação, para ter o corpo protegido pelos espíritos. E não tem outra escolha, senão matar aqueles que o seu comandante tirano, julga como inimigos. Sua inocência aos poucos vai para o espaço. De criança pura e inocente, Agu agora é um adulto em miniatura, que mata, que usa heroína e comete crimes de guerra, assassinando crianças e mulheres inocentes. Impressionantemente, ele ainda guarda um sentimento, de que suas atitudes não estão certas. Ele sempre fala com Deus, posto que sua consciência o acusa, dizendo que ele está fazendo coisas moralmente erradas.

As ambições de seu líder, não se concretizam. O exército do qual Agu faz parte, mesmo obtendo vitórias importantes em suas guerrilhas, não atingiu seu objetivo maior, ganhar a guerra, e tomar o poder. As manipulações psicológicas e coerções físicas de seu líder, não deram em nada. Redundou em fracasso.

Agu e os outros soldados se rendem. Jogam as armas. Não querem mais guerrear. Reconhecem a derrota. Estão cansados de tanto sangue, carnificina, violência e banalidade da vida, que eles próprios ajudaram a criar. Foram caça e tornaram-se caçadores.

Agu, agora passa a viver num lugar tranqüilo, perto da praia, com outras crianças, onde tem um teto, comida, água e educação. Parece que os horrores da guerra estão se dissipando. Provavelmente, não em sua mente. Mas pelo menos, não precisará mais matar e cometer atos horrendos.


Beasts of no Nation é um filme de primeira linha. Sabia de antemão, que iria me chamar à atenção e fazer refletir.


Como julgar as atitudes do protagonista Agu? Uma criança que perdeu a sua família, e devido às circunstâncias em que se encontrava, não tinha como dizer não as ordens do maldoso Idris Elba, comandante da FDL, pois seria torturado e morto. Difícil julgar. Agu comete muitos crimes de guerra. O filme deixa claro, que ele mesmo tinha consciência desse fato. No entanto, fica evidente, que tanto ele, como os outros soldados, sendo adultos ou crianças, foram vítimas de um sistema cruel criado pela guerra. Numa visão fatalista, parece que parte de seus destinos era matar.

Tomando emprestadas as palavras do Jornalista Eduardo Galeano, quando ele se refere à América Latina, os países africanos ainda estão com as suas veias abertas. Rios de sangue jorram nesse continente. Estancá-los é muito difícil.  


Link do filme:

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