MACARTHUR, John. Fogo Estranho. Rio de
Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2015.
John Marcarthur é um pastor calvinista fundamentalista
muito respeitado e conhecido por escrever com contundência assuntos polêmicos e, muitas vezes, expor suas ideias com furor e raiva. Praticamente em todos os
seus livros, percebe-se uma fúria “santa” e “justa” vinda de suas palavras.
Várias de suas obras estão disponíveis em nossa língua, e sempre estão eivadas
de algum tema explosivo do meio evangélico.
Fogo Estranho não é diferente. O seu modo
peculiar de escrever com veemência continua nessa obra. Ele vem tratar de maneira totalmente crítica
e negativa, o movimento pentecostal/carismático, em toda sua existência de
pouco mais de 100 anos. Macarthur não poupa ninguém. Desde os primeiros
pentecostais até os atuais seguidores desse movimento, para ele, são tudo
farinha do mesmo saco. Não há uma experiência genuína com o Espírito Santo, que
lhes capacita a falar em outras línguas, curar doentes, decretar vitórias nas
finanças e todas essas extravagâncias das igrejas carismáticas. É tudo balela;
é tudo mentira; é tudo imaginação; é tudo emocionalismo.
Neopentecostalismo, evangelho da
prosperidade, curas pela confissão positiva, são todos filhos do movimento
penteca, surgido no início do século XX. Nesse caso, Macarthur irá irritar os
pentecostais “clássicos” que alegam não aprovar as práticas curandeiras e
supersticiosas que ocorrem a granel, em muitas denominações carismáticas. O
autor coloca todas as manifestações carismáticas no mesmo pacote e as joga num
saco de lixo. Nenhuma absolutamente nenhuma é digna de credibilidade e tem
respaldo nas escrituras sagradas.
E como é a coisa mais fácil do mundo
encontrar histórias mentirosas e descaradas no movimento carismático, Fogo Estranho não deixa de mencionar vários relatos bizarros de líderes pentecostais
proeminentes. Aqui vai um exemplo, sobre um dos mais destacados líderes
pentecas:
“Benny Hinn [...] com uma estranha profecia [afirma] que se
os telespectadores da TBN [maior canal evangélico do planeta] colocarem os
caixões de seus entes queridos falecidos na frente de um aparelho de televisão
e a mão do morto tocar a tela, as pessoas ‘serão ressuscitadas dentre os mortos
[...] aos milhares’.” P. 30.
Hinn é um dos pregadores evangélicos que
sempre está dando a cara por aqui, no Brasil. Pastores ladrões como ele, sabem
que a sua presença rende $$. O que ele fala, o povo evangélico muito bobo e
crédulo acredita. É esse mesmo povo que vive falando mal e condenando os
católicos por serem tão tolos em acatar os ensinos vindos do Vaticano. Dá para
acreditar nisso? Eles apenas trocaram os ensinamentos fantasiosos do
catolicismo, por outros tão fantasiosos quanto, ou até piores, em algumas
situações. Chega a ser uma situação cômica, para não dizer trágica.
Fogo Estranho passeia pela história funesta
de muitos líderes carismáticos, que se mostraram completamente desonestos e
mentirosos, mas que infelizmente, continuam a enganar milhões de pessoas nos
EUA e países do terceiro mundo. Muitas histórias são tão absurdas, que pessoas
que não conhecem esse ambiente, ficariam céticas se ouvissem os milhares de relatos
sem noção que esses pastores e líderes disseram vivenciar.
Outro exemplo trágico de como a loucura e
arrogância chegou a níveis alarmantes no movimento carismático, são as afirmações
de Peter Wagner, conhecido nome, que ajudou a popularizar as supostas
manifestações divinas nas igrejas evangélicas.
“Eu sabia que Deus queria que eu empregasse a autoridade
apostólica que ele havia me dado e decretasse, de uma vez por todas, que a
doença da vaca louca chegasse ao fim na Europa e no Reino Unido. Foi o que fiz.
[...] Era dia 1 de outubro de 2001. Um mês depois, um amigo meu enviou-me um
artigo de jornal da Inglaterra, dizendo que a epidemia tinha sido interrompida
e que o último caso notificado da doença da vaca louca foram em 30 de dezembro
de 2001, um dia antes do decreto apostólico!” P. 107.
Esse é o tipo de pessoa que as milhares de
igrejas pentecostais/carismáticas aplaudem e reverenciam. Esse charlatão jura
que ele pôs fim, com o seu decreto de merda, a doença da vaca louca na Europa. Entretanto, Macarthur
diz “Wagner,
aparentemente, desconhece o fato de que a doença ainda existe na Europa, de
modo que 67 casos de vacas infectadas foram registrados só em 2009”. P.
107.
Os exemplos podem ser multiplicados,
triplicados, quadruplicados, quintuplicados... A saga pentecostal/carismática
de inventar milagres e histórias sobrenaturais pululam aos milhões nos vários
livros e revistas publicadas todos os anos. E por mais que esses fantasiosos
relatos sejam refutados e provados falsos, sempre haverá um contingente enorme
de neófitos que acreditarão nessas estórias.
E o que dizer do sinal mais distintivo do
pentecostalismo, o polêmico ato de falar em línguas estranhas? Quem já visitou
uma igreja pentecostal, provavelmente se deparou com pessoas em estado de
transe, balbuciando, gritando e falando uma suposta língua sobrenatural vinda
diretamente de deus. É algo bizarro! Assustador, em alguns casos! Pessoas em
transe articulando um palavreado sem nexo, sem sentido, pensando que estão
sendo o alvo do todo poderoso lá em cima.
Os Linguistas que pesquisaram a glossolalia
das igrejas pentecas, são quase unânimes em dizer que são apenas falas
desarticuladas. Não são línguas de verdade. Mas os pentecostais teimosos em
legitimar a sua fé e experiência de êxtase religioso, preferem ignorar esses
estudos. O engraçado é que se esses estudos acadêmicos confirmassem de alguma
forma a balbúrdia das línguas praticadas nessas igrejas, os pentecostais seriam
os primeiros a citarem essas pesquisas como evidência de que sua prática da glossolalia
é verdadeira. Mas como esse não é o caso, eles preferem ignorar as pesquisas
seculares, vindas de “incrédulos” que não conhecem a deus e suas manifestações.
Macarthur cita o Professor de Linguística
da Universidade de Toronto, William Samarin, que diz:
“Não há mistério sobre a glossolalia. Amostras gravadas são
fáceis de se obter e analisar. Elas sempre acabam por ser a mesma coisa:
sequências de sílabas, compostas de sons retirados de todos aqueles que o
orador conhece, reunidos mais ou menos ao acaso, mas que, no entanto, surgem
como unidades semelhantes a palavras e frases por causa do realismo, do ritmo e
da melodia semelhante a linguagem. Glossolalia é, de fato, como a linguagem, em
alguns aspectos, mas isso é só por que o orador (inconscientemente) quer que
seja seja como linguagem. No entanto, apesar das semelhanças superficiais, a
glossolalia não é fundamentalmente uma linguagem. Todos os tipos de glossolalia
que já foram estudados não produziram recursos que cheguem a sugerir que eles
refletem algum tipo de sistema de comunicação [...] Glossolalia não é um
fenômeno sobrenatural [...] Na verdade, qualquer um pode produzir glossolalia
se for desinibido e descobrir qual é o truque.” P. 154.
Samarin continua: "Quando o completo aparato da ciência
linguística faz pressão sobre a glossolalia, ela acaba revelando ter apenas
aparência de linguagem.” P. 155.
Por uma questão de justiça, existem Linguistas que defendem um ponto de vista contrário. O pentecostal Gutierrez
Siqueira cita em seu blog, o Linguista Michael T. Motley, da Universidade da Pensilvânia, para quem a
glossolalia das igrejas pentecas se caracteriza como uma linguagem. Explicando
a tese do Motley, Siqueira chega à conclusão de que “nem a linguística ainda tem uma palavra final
sobre a glossolalia”. É interessante o texto do Siqueira defendendo
a legitimidade das línguas. Mesmo que eu prefira, baseado também no bom senso,
a tese do Samarin.
Vale acrescentar que o fenômeno das
línguas, não é exclusivo das igrejas evangélicas. A glossolalia está presente
no catolicismo, mormonismo, unicismo, seitas orientais, religiões tribais, etc.
Se os estudos linguísticos apontassem uma estrutura gramatical, fonética e sintática, as línguas estranhas faladas nessas outras comunidades
religiosas, o Siqueira e os pentecostais atribuiriam tal estrutura de linguagem
a quem? A Deus? Ao diabo?
Macarthur apesar de ser exagerado em muitos
pontos, ser carrancudo e um fanático religioso, acerta e muito na escrita desse livro. Deixemos o seu legalismo e fundamentalismo besta de lado. Ele desmascara as bobagens do meio
pentecostal/carismático, que já ultrapassaram as raias do absurdo. É preciso que
haja vozes ferozes e por vezes raivosas, para criticar e expor os abusos desse
meio religioso.
Quanto aos faladores de línguas, estes
continuarão pensando que são os canais de deus.
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