GRAHAM,
Richard. Escravidão, Reforma e Imperialismo.
São Paulo: Perspectiva, 1979.
Richard Graham (Professor Emérito de História na Universidade
do Texas, EUA) traz nesse livro, uma
coletânea de oito textos de sua autoria escritos nas décadas 1950-1970, sobre o
sistema escravagista e a subserviência do Brasil a Inglaterra, no século XIX. A
princípio pode-se pensar que seus textos sejam chatos e arcaicos, por terem
sido escritos há tanto tempo, porém, a leitura se mostrou muito agradável em
todos os capítulos.
No primeiro capítulo, publicado em 1970, ele faz uma recapitulação dos principais estudos feitos até então sobre a escravidão brasileira. Nomes como Fernando Henrique Cardoso (na época ainda não era bandido), Emília Viotti, Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Paula Belguelman. Na verdade, esses autores foram estudiosos pioneiros nos estudos acadêmicos sobre o escravismo.
No primeiro capítulo, publicado em 1970, ele faz uma recapitulação dos principais estudos feitos até então sobre a escravidão brasileira. Nomes como Fernando Henrique Cardoso (na época ainda não era bandido), Emília Viotti, Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Paula Belguelman. Na verdade, esses autores foram estudiosos pioneiros nos estudos acadêmicos sobre o escravismo.
Graham num certo momento pergunta:
"'Brasil, a terra da harmonia
racial', não será esta frase um meio para encobrir profundas divisões raciais
no país?"
P. 15.
Não tenho dúvidas, de que muitas pessoas que falam isso,
fingem pensar que estamos vivendo numa sociedade igualitária. O que não é o
caso. O Brasil tanto na década em que o texto do Graham foi escrito, como hoje,
quase 50 anos depois, ainda sofre as consequências do escravismo.
A Emília Viotti (Ph.D em História na USP) escreve:
A Emília Viotti (Ph.D em História na USP) escreve:
“A idealização da escravatura, a idéia romântica da
suavidade e brandura da escravatura do Brasil, a descrição do escravo leal e do
senhor benevolente, amigo do escravo – interpretação que acabaram prevalecendo
em nossa literatura e em nossa história – foram alguns dos mitos forjados por
uma sociedade escrava para defender um sistema considerado essencial.” P.
15.
O pior é que ainda existem leigos
que tentam atenuar o sistema da escravidão. São os “seguidores” de Gilberto Freire, mesmo nem sabendo de sua obra Casa Grande e Senzala. Muitas vezes fica implícito
em suas falas, que a escravidão praticada pelos europeus apesar de ser errada,
não foi tão “cruel" assim, visto que na África também existia o ignominioso
escravismo entre as diversas nações ali presentes. Como se um erro fosse
justificativa para se cometer esse mesmo erro, agora perpetrado por outros
povos. Não falo de todos, pois seria um equívoco de minha parte, entretanto,
muitos dos que argumentam por essa via, são racistas sim. Nem tudo é racismo, é
verdade, mas não podemos deixar que o mito tão bem explanado pela Viotti
continue deixando o seu rastro de inverdades.
“O fato de no Brasil de
hoje o pobre ser predominantemente negro e a maioria da gente de cor ser pobre
é a moderna herança de um passado alienante e desumanizante, uma alienação e
desumanização que constituem uma parte excessivamente grande no Brasil atual.” P. 40.
Basta
lembrar que apenas 2,6% dos pretinhos têm diploma universitário e somente 1,9%
são empregadores. Diante desse quadro de desigualdade evidente e gritante, como
podemos dizer que as consequências do passado odioso da escravidão terminaram? Quem
ousaria abrir a boca e dizer que os de cor são mais preguiçosos, menos
inteligentes e, que por isso, estão na base da sociedade brasileira? Se depois
de quase 130 anos que a servidão forçada acabou, o negro contra a sua vontade,
permanece nos trabalhos menos valorizados, é porque algo está muito errado no
sistema social, econômico, político e cultural de nosso país.
Quanto
à mobilidade dos escravos na sociedade escravista, Graham nos diz:
"[...] o escravo [no Brasil] não
era um cidadão, e era-lhe negado o direito de carregar armas, de arrendar ou
possuir propriedades, de vestir certas roupas, andar de bonde, ficar fora de
casa à noite, reunir-se, e ter todas as pequenas liberdades que definem a vida
de um homem livre. O mesmo crime seria punido mais asperamente no escravo do
que nos outros. E os escravos fugitivos eram caçados impiedosamente." P. 32-31.
Esse
livro foi escrito há algumas décadas, talvez algumas dessas características,
não se encaixem nos escravos de ganho (cativos urbanos, que dispunham de uma
ínfima liberdade). Pelo que lembro, pesquisas posteriores evidenciaram uma
maior mobilidade dos cativos. De todo jeito, os negros eram pessoas de segunda
categoria; inferiores; não civilizados, segundo a ótica da população branca,
seja portuguesa ou nascida no Brasil.
Em
1888 veio a tão sonhada liberdade, depois de mais de três séculos, a escravidão
extinguiu-se. Mas o negro ficou abandonado, não houve compensação alguma pelos
maus tratos e humilhações sofridas. Até comemorações houve nas cidades, mas não
passaram de meras frivolidades, diante da nova dura realidade que estava
esperando os recém-libertos.
“No dia 13 de maio de 1888, a
princesa regente assinou a Lei abolindo a escravidão no Brasil sem compensação.
Durante um mês realizaram-se festas em quase todas as cidades do Brasil com
fogos, discursos e desfiles. No interior, contudo, pequeno foi o júbilo. Os
próprios escravos estavam desorientados sem saber o que fazer com a liberdade. Muitos andavam em bandos nas cidades à procura de seus companheiros que
anteriormente haviam fugido das fazendas.”
P. 77.
Uma boa
parte do livro se volta para tensa relação entre Brasil e Inglaterra,
principalmente com o representante inglês, William Dougal Christie. O Brasil se
via submisso à maior potência mundial. Os produtos ingleses tinham grandes
privilégios na importação brasileira.
“Ao mesmo tempo, as mercadorias inglesas
inundaram o mercado brasileiro, e a importação tornou-se a maior preocupação
dos ingleses no Brasil.” P. 131.
O controle comercial
da Inglaterra era hegemônico, nada escapava das mãos dos ingleses. Controlavam a
navegação, eram superiores na tecnologia e indústria.
“Dominavam de tal forma o comércio
brasileiro desse tempo que até as cotações do mercado no Jornal do Comércio do
Rio eram dadas em português e em inglês. [...] O controle inglês sobre o
comércio brasileiro foi resumido pelo ministro brasileiro em Londres que
escreveu em 1854: ‘O comércio entre os dois países é feito com capitais
ingleses, em navios ingleses, por companhias inglesas. Os lucros... os juros,
sobre o capital... os pagamentos de seguros, as comissões, e os dividendos dos
negócios, tudo vai para os bolsos de ingleses’.” P. 132.
O Brasil
tinha deixado de ser colônia de Portugal, mas passava a ser colônia, digamos,
não oficial dos britânicos durante todo o século XIX. A própria Inglaterra se
achava uma nação superior. Os ingleses que aqui se estabeleceram tinham fórum
privilegiado.
A relação
anglo-brasileira constantemente estava sob muita tensão, devido ao tráfico de
escravos, que ainda acontecia por aqui. Como o Brasil não estava cumprindo o
acordo de não traficar mais cativos da África, os britânicos sempre estavam
apresando os seus navios. Às vezes os navios nem transportavam escravos, mas
mesmo assim, os ingleses os apreendiam.
“Navios que não conduziam escravos,
ainda que carregando equipamento para o tráfico de escravos, eram apreendidos
ilegalmente sem indenização posterior; algumas vezes eram concedidas
indenizações, mas elas não eram pagas, e outras vezes o pagamento posterior
pelo prejuízo causado nos navios apresados era pequeno e injusto.” P. 82.
Graham em
dois capítulos discute dois casos específicos que quase colocam o Brasil numa
situação extremamente séria diante da Inglaterra. O primeiro foi o naufrágio do navio britânico
Prince of Wales, no atual Estado do
Rio Grande do Sul, que causou um grande estresse a ambos os países. Christie,
representante da Inglaterra, exigia indenização por parte do governo imperial. O segundo
impasse foi sobre os oficiais ingleses do Forte,
que foram presos, acusados de fazerem badernas. A importância da diplomacia do
Barão de Mauá junto aos ingleses também recebe uma atenção especial.
Depois
Graham volta-se mais uma vez para a escravidão, historiando o movimento
abolicionista e seus principais proponentes, sua política e modo de operar
junto à sociedade, escravos e senhores; e sobre a aceitação do sistema republicano
dos ex-senhores de escravos.
Pronto. Mais
um resumo bem desorganizado de um livro.