segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Foucault em 90 Minutos


STRATHERN, Paul. Foucault em 90 Minutos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. (Versão em PDF).

“Cada sociedade possui o seu regime de verdade, sua ‘política geral’ de verdade: ou seja, os tipos de discurso que aceita e faz funcionar como verdade.” – Michel Foucault

Esse cara ainda é muito importante nos cursos de História, Sociologia. Tive um Professor tão louco por Foucault, que se possível, ele comeria a merda do Filósofo francês! Foucault é idolatrado pelos miguxinhos da área de humanas; é uma espécie de libertador e guru. Se for na área da sexualidade, ele se torna um semi-deus, messias.

Paul Strathern (Professor de Filosofia e Matemática na Universidade de Kingston, Londres) traz uma pequena biografia do pensador francês. Além de suas idéias no campo intelectual, não é raro, quando se fala em Foucault, falarmos de sua homossexualidade. É assim que começamos as citações do presente livro.

[...] fora pouco a pouco tomando consciência de que era homossexual. Isso não apenas era ilegal naquela época, como, em Poitiers, impensável”. P. 09.

Numa sociedade preconceituosa, não foi fácil para ele, lidar com sua condição sexual. Com ele aconteceu, o que ocorre aos milhares de jovens homossexuais:

“Os primeiros anos de Michel Foucault na ENS [École Normale Supérieure] assistiriam a uma série recorrente de incidentes. Numa ocasião, feriu seu peito com uma navalha; em outra, teve de ser contido quando perseguia um estudante com um punhal; e ainda em outra, quase conseguiu cometer suicídio ao tomar uma overdose de comprimidos. Bebia muito e, de vez em quando, experimentava drogas (coisa que só uma pequena minoria possuía naqueles longínquos dias). Em certas ocasiões, desaparecia noites a fio, entrando em colapso depois, pálido e com olheiras profundas, voltando deprimido ao seu dormitório. Poucos adivinharam a verdade. Sofria com o que havia ocorrido em suas solitárias expedições sexuais.” P. 09

Até em um hospital psiquiátrico foi internado durante um tempo:

“Foucault era incapaz de conviver consigo mesmo, e nenhum dos estudantes no seu dormitório queria conviver com ele. Viam-no como louco perigoso, qualidades que só faziam ser exacerbadas com seu inquestionável brilhantismo. Ardorosamente agressivo na argumentação intelectual, era bem capaz de recorrer à violência. Seus colegas evitavam sua companhia e ele começou a desenvolver doenças psicossomáticas. Longos turnos numa cama solitária no sanatório o poupavam da existência comunitária do dormitório, e ali lia voluptuosamente, até para padrões da ENS [École Normale Supérieure].” P. 09-10.

E qual a contribuição dele para os estudos historiográficos? Ela pode ser resumida neste enunciado:

A história não estava registrando a verdade do passado, mas revelando a verdade do presente. Assim era a orientação do pensamento de Foucault.” P. 10.

Para ele, não existe verdades históricas. O historiador está desprovido de objetividade, quando vai chafurdar os antigos documentos existentes. Há interesses de poder em jogo na interpretação dos fatos.

Com o tempo, e racionalizando a sua sexualidade, ele passou a aceitá-la:

“O jovem estava se tornando maduro numa velocidade excepcional, tanto acadêmica como pessoalmente. Sua crescente segurança intelectual casava bem com seu autoconhecimento emocional. Aprendia a aceitar a própria homossexualidade, e a violência de sua personalidade era acalmada por ocasionais práticas sadomasoquistas.” P. 11.

Na ebulição das questões políticas, Foucault filiou-se ao Partido Comunista Francês.

“Tendo se acertado com a própria sexualidade e aceitado a posição central que esta ocupava em sua vida, ficou decepcionado ao ver a homossexualidade ser desprezada pelo partido como mera ‘decadência burguesa’.” P. 12.

Espertinho, passou a ensinar “putaria” as suas ingênuas alunas:

“Foucault dava conferências sobre literatura francesa para turmas com estudantes majoritariamente do sexo feminino. De maneira característica, escolheu um aspecto bastante restrito do assunto, intitulando o seu curso de ‘A concepção do amor na literatura francesa, do Marquês de Sade a Jean Genet’. É difícil imaginar qual foi a impressão daquela plateia de saudáveis garotas suecas de 18 anos sobre essa combinação de sadismo, sodomia e degeneração devassa”. P. 14.

O teórico francês escreveu uma volumosa obra, chamada A História da Loucura. O que os Psiquiatras chamam de “loucura”, assim como os Historiadores quando historiam os eventos passados, não é nada menos que classificações e enunciações contingentes, arbitrárias, ligadas ao poder. O “louco” não é um louco de verdade. Ele apenas tem um saber diferente.

“A postura frente à loucura era, na verdade, uma questão de percepção e prática sociais”. P. 15.

Simplificando o relativismo dele:

"Se nosso modo de pensar era sempre determinado por uma episteme (ou paradigma), tudo indicava que nunca poderíamos chegar à ‘verdade’. Assim, se todas as epistemes eram contingentes, como poderíamos provar que uma episteme era melhor que a outra? Não poderíamos. Logo, toda verdade era relativa; só dependia de como as coisas eram vistas. [...] A questão é que uma episteme (ou paradigma) se mostrará mais útil (ou, teoricamente, mais fecunda) do que a outra. Ela proporcionará uma aproximação maior da imagem perfeita e inatingível (em outras palavras, da ‘verdade absoluta’) daquilo que realmente acontece. Algo inegavelmente acontece, mas nosso aparato perceptivo nos capacita a experienciar somente certos efeitos desses acontecimentos. A crença em nossa habilidade de descobrir a verdade absoluta acarreta a crença de que nosso aparato perceptivo — e sua extensão nos instrumentos científicos — está totalmente adequado à realidade. Nossos olhos registram apenas a luz entre os raios ultravioleta e infravermelho. Como podemos saber se nossos instrumentos científicos, que são apenas uma extensão do nosso campo perceptivo, não são igualmente limitados?” P. 22.

Resta perguntar, se ele nos permite relativizar o que ele diz. Totalmente nonsense.

Voltando a sua sexualidade:

“[...] havia também um lado mais obscuro que poucos, apenas os mais íntimos, dos seus amigos percebiam. Cada vez mais frequentemente, o elegante intelectual em sua gola alta e veludo cotelê se transformaria numa exótica criatura da noite, vestida em couro e fazendo a ronda dos bares sadomasô. Aqueles que o encontravam nesses trajes definem a experiência como sinistra.” P. 27.

Independente de qualquer coisa, Strathern faz uma observação mui verdadeira:

“É fácil condenar a conduta sexual de Foucault. Como pode um filósofo sério se comportar dessa forma? O que teriam dito Platão e Spinoza? No entanto, poucos de nós vivemos como gostaríamos. A vergonha (e/ou a hipocrisia) é uma sutileza aparentemente inevitável da existência social civilizada”. P. 27.

O livro fecha com essa citação:

FOUCAULT: “Não é tão simples assim — alguém fazer o que gosta … e espero morrer de uma overdose… de um prazer de qualquer tipo. Porque eu acho que é realmente difícil e sempre tive a sensação de que não sinto o prazer, o prazer completo total, e, para mim, ele está relacionado com a morte.”

ENTREVISTADOR: “Por que você diz isso?”

FOUCAULT: “Porque penso que o tipo de prazer que considero o prazer real seria tão profundo, tão intenso, tão irresistível que eu não sobreviveria a ele. Morreria.” Prossegue até relatar que um dos momentos mais felizes de sua vida foi ao ser atropelado por um carro (quando estava alucinado por ópio): “Tive a impressão de que estava morrendo e foi, realmente, um prazer muito, muito intenso… Foi, e ainda é, uma de minhas melhores lembranças.” P. 35. 

sábado, 12 de novembro de 2016

Em Favor da Dúvida


BERGER, Peter L.; ZIJDERVELD, Anton. Em Favor da Dúvida. Rio de Janeiro: Campus, 2012. (PDF).

"Se não tivéssemos as dúvidas, onde, então, haveria uma certeza jubilante?" P. 04. - Johann Wolfgang von Goethe (importante literato alemão dos séculos XVI-XVII)

Peter Berger (Ph.D em Sociologia, ex-Professor nas Universidades Rutgers, de Boston, da Geórgia e da Carolina do Norte.) e Anton Zijderveld (Ph.D em Filosofia na Universidade Erasmus de Rotterdam), fazem um inteligente apelo a favor da moderação em questões religiosas, políticas e morais.

Religião, seitas, tradicionalismo, ceticismo, moralidade, fundamentalismo, relativismo, marxismo, Estado, democracia, instituições civis, secularização...

Disparam suas críticas com muita agudeza contra o marxismo, fundamentalismo e relativismo.

Incentivam a dúvida SINCERA, e rejeitam a dúvida pela DÚVIDA. A dúvida SINCERA nos conduz a convicções fundamentadas. A dúvida pela DÚVIDA paralisa.

"Tanto a incerteza extrema quanto a certeza extrema são perigosas. [...] Segue-se a isso que é necessário buscar ocupar um posicionamento moderado, equidistante do relativismo e do fundamentalismo". P. 67.

Os autores entram brevemente no campo moral, fazendo críticas tanto aos que são contra, quanto aos que são a favor do aborto, mostrando as falhas argumentativas de ambos os lados.

Berger e Zijderveld posicionam-se totalmente contrários a tortura, perpetradas por alguns governos, para arrancar confissões de criminosos, alegando que tal prática fere a dignidade humana, por mais que o torturado seja realmente culpado.

E também são veementemente contra a pena de morte, enfatizando que nesse caso, a Europa é moralmente superior a América, nesse quesito, por tê-la eliminado há muitos anos.

Quanto a esses três pontos mencionados (aborto, tortura e pena de morte), não sou contra nenhum, dependendo do contexto em que eles estão inseridos, é claro.

Aborto: não consigo me alinhar aos que o igualam a assassinato, pelo menos quando ocorre nas primeiras semanas de gravidez, e estupro. Mas não consigo compactuar com muitos do grupo pró-escolha, que defendem o aborto até os últimos estágios da gravidez.

Tortura: criminoso hediondo tem que ser torturado mesmo, caso sua confissão possa levar as autoridades a prender os bandidos. Se possível, arrancando as unhas, os dedos, levando choques... Tem que sofrer mesmo.

Pena de Morte: que seja aplicada a pessoas que de fato foram provadas culpadas por crimes horrendos. 

Alguns trechos:

“Os protestantes continuaram a executar hereges e queimar bruxas em fogueiras com o mesmo entusiasmo que seus adversários católicos”. P. 08.

Um típico exemplo de fanatismo que não foi exclusividade do catolicismo, mesmo que em menor grau, suponho.

“O que ocorre em condições de autêntica pluralidade [de ideias, visões de mundo, religiões] pode ser incluído em uma categoria utilizada na sociologia do conhecimento: "contaminação cognitiva". Isso se baseia em uma característica básica humana: se as pessoas dialogam umas com as outras, com o tempo começam a influenciar o modo de pensar uma das outras. À medida que tal "contaminação" vai ocorrendo, as pessoas têm cada vez mais dificuldade de caracterizar as crenças e os valores alheios como perversos, insanos ou nocivos. Lenta, porém inevitavelmente, dissemina-se o pensamento de que talvez os outros tenham razão. Com esse modo de pensar, a visão de realidade antes aceita sem questionamento é abalada”. P. 14.

Viva a “contaminação cognitiva”. Isso é ótimo.

“A noção de contaminação cognitiva, antes mencionada, tem raízes no seguinte fato básico: na qualidade de seres sociais, somos continuamente influenciados pelas pessoas com as quais dialogamos. Esse diálogo, mais ou menos inevitavelmente, alterará nossa visão da realidade. É um fato, portanto, que, se quisermos evitar essa mudança, precisaremos escolher com muito cuidadoas pessoas com quem conversamos. O psicólogo Leon Festinger cunhou o conceito extremamente útil de "dissonância cognitiva" - significando informações que contradizem visões previamente mantidas - ou, mais precisamente, visões previamente mantidas nas quais temos algo a perder.

[...]

O que Festinger descobriu não deveria nos surpreender: as pessoas tentam evitar a dissonância cognitiva. A única maneira de evitá-la, contudo, é evitar os 'portadores' da dissonância. [...] Portanto, os indivíduos que sustentam a posição política X evitarão ler jornais que tendem a apoiar a posição Y. De forma similar, esses indivíduos evitarão conversar com Y-istas e buscarão conversar com X-istas. Quando as pessoas têm grande interesse pessoal em determinada definição da realidade, como uma posição religiosa ou política profundamente arraigada ou convicções que se relacionam diretamente a seu estilo de vida [...], farão de tudo para criar defesas tanto comportamentais quanto cognitivas." P. 29.

Todos fazemos isso em maior ou menor grau. Melhor manter nossas "verdades" intocadas, né não?! Muitas certezas e verdades foram gravadas a ferro e fogo em nossas mentes! Quem são os outros para destruir "verdades" tão preciosas e fundamentadas na realidade?! Mesmo que essas "verdades" sejam mentiras, melhor permanecer nelas. Primeiramente, compromisso com nosso conforto emocional-cognitivo! Lasque-se a Verdade.

“[...] em todo relativista há um fanático esperando para se manifestar no derradeiro absoluto e, em cada fanático, há um relativista esperando para ser liberado de quaisquer e todos os absolutos”. P. 40.

Nas universidades, muitos Professores relativistas são os mais convictos. Na prática negam o que falam em seus discursos rebuscados e enganosos.

Algumas refutações ao relativismo:

“Todas as formas de relativismo contradizem a experiência da vida comum, fundamentada no bom-senso. [...] O bom-senso está ciente de uma realidade externa que resiste aos nossos desejos e que pode ser objetivamente acessada por procedimentos razoáveis. Até um teórico pós-modernista vive no dia a dia com base nessa premissa. Suponha que um pós-modernista procure o médico para uma consulta. Ele quer saber se um tumor é benigno ou maligno. Ele espera que o médico lhe dê uma resposta com base em métodos objetivos de diagnóstico e que o faça independentemente de sentimentos pessoais em relação ao paciente. Ou suponha que um estudante tenha submetido um trabalho escolar. Ele espera que o instrutor lhe dê uma nota "justa" - isto é, que o faça objetiva e independentemente de quaisquer sentimentos pessoais. [...] Há algo de errado com uma teoria que contradiz a experiência que se evidencia com clareza na vida cotidiana. O propósito de uma teoria é elucidar a experiência, e não negá-la.” P. 52-53.

"O fato de a verdade ser passível de refutação não significa que não exista uma verdade 'indubitável'. Temos, para começar, as regras básicas matemáticas, que ninguém, em sã consciência, sujeitaria à dúvida ou à refutação. [...] Basta dizer que há proposições básicas na lógica, como o silogismo, que, em geral, são consideradas indubitáveis - isto é, absolutamente verdadeiras. 'Os seres humanos são mortais; Sócrates é um ser humano; logo, Sócrates é mortal.' Esse é um exemplo do silogismo mais básico, contendo uma verdade indubitável". P. 68, 69.

Eles admitem que esse tipo de proposição, apesar de se mostrar verdadeira em quaisquer circunstâncias, ainda sim, não "diz respeito à verdade e à certeza pelas quais ansiamos na vida cotidiana". P. 69. Isso procede, mas mesmo assim, é sempre bom ver Sociólogos de peso, que não se curvaram diante dos contra-sensos do pós-modernismo. A busca pelas verdades mais elevadas, se é que podemos dizer assim, continuam. E não será o preguiçoso modo de pensar dos pós-modernos, que irá refutar a existência das Verdades Objetivas, Absolutas, ou Universais.

"A verdade é perpetuamente obscurecida pela dúvida e pela insegurança. Só o 'verdadeiro crente', que adotou fervorosamente um ou outro 'ismo' religioso ou filosófico, conseguirá abafar aos gritos as vozes da dúvida". P. 70.

"Darwin é, para muitos ateus, uma espécie de profeta semirreligioso, o fundador de uma doutrina chamada darwinismo". P. 80.

Ah, isso ele é mesmo. Muitos ateus se ancoram no barbudin da era vitoriana, para legitimar seu desdém pela divindade.

“Os verdadeiros crentes fundamentam sua existência sobre a suposta rocha de uma verdade indubitável que oferece inúmeras ‘verificações’ - isto é, provas de sua verdade indubitável. No entanto, os que duvidam - aqueles que têm uma vida de dúvida sincera e coerente – buscam ‘refutações’ - isto é, casos e situações duvidáveis. Mais cedo ou mais tarde, em um lento processo evolucionário, um indivíduo pode aproximar-se de algo semelhante à verdade - ou, por assim dizer, à verossimilhança (literalmente, ‘algo que se assemelha à verdade’).” P. 83.

Espero estar no segundo grupo. Entre "aqueles que têm uma vida de dúvida sincera e coerente".

Outra contestação ao pós-modernismo:

“Se [como diz o relativismo] "vale tudo", tanto cognitiva quanto moralmente, um posicionamento desse tipo se torna basicamente irrelevante: se não existe verdade, o próprio posicionamento do indivíduo passa a ser uma escolha completamente arbitrária. Se o relativismo for cognitivamente aplicado, a teoria do mundo plano deve receber o mesmo status epistemológico que a astronomia moderna - ou, para um exemplo mais atual, o criacionismo e a evolução precisariam receber a mesma importância em um currículo escolar. O relativismo também tem consequências normativas: ele argumentaria que a "narrativa" do estuprador não é menos válida que a 'narrativa' de sua vítima.” P. 86.

Um dos melhores livros do ano. Disso não tenho dúvida.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Guia Politicamente Incorreto do Sexo


PONDÉ, Luiz Felipe. Guia Politicamente Incorreto do Sexo. São Paulo: Leya, 2015. (Versão em PDF).

Link para o livro em PDF:


Como não é novidade, mais um livro da série “Politicamente Incorreta”, alvo de muitas críticas negativas.

Devo concordar!

Pondé (Ph.D em Filosofia pela USP) deixa muito a desejar em muitos de seus aforismos (textos curtos, pequenos, sucintos). Alguns são bem superficiais; fora da realidade, creio eu. Fala muitas tolices em vários deles.

O livro é contrabalançado pelas boas críticas desferidas contra o tosco feminismo moderno, que está imbuído de idéias contraproducentes e ilusórias. Os estardalhaços da esquerda, com sua estúpida ideologia de gênero (não rejeito toda a ideologia), não escapam das alfinetadas de Pondé.

Pondé escreve algumas coisinhas pornográficas, aqui e ali. Querendo chocar, no primeiro parágrafo, ele já começa nesse tom:

“De quatro, ela gemia. Por trás, ele a penetrava e doía. O amor anal é sempre selvagem e mais íntimo do que todos os outros. Gemia de dor, as lágrimas escorriam pelos lábios. Ele puxava seus cabelos loiros com força. Sentia-se uma cadela, momento supremo, pedia que a tratasse por cachorra. Um filósofo diria: eis a mulher.” P. 8.

E assim, ele inicia sua jornada no Guia Politicamente Incorreto do sexo.

“Pouco é necessário dizer sobre a origem e a natureza da praga do politicamente correto. Muitos autores, e eu mesmo, já escrevemos contra ela: trata-se de uma forma de censura do pensamento, dos gestos e da linguagem. [...] Acrescentaria apenas que o terreno da vida sexual é um dos campos em que ela, esta pauta do politicamente correto, faz maior estrago, tornando a vida sexual e afetiva um inferno maior do que já é, impondo-nos agendas políticas que são desejadas por uma minoria de pessoas mal-amadas de alguma forma”. P. 11.

As feministas que mais parecem homens se encaixariam perfeitamente nessa descrição. Mas lembrando que os setores das igrejas cristãs estão afundados no politicamente correto. Controlam se possível, até as posições que seus fieis podem ou não podem fazer dentro de seus quartos.

“O desejo pela mulher é, e sempre foi, um pilar da história humana. A fantasia de tê-la como objeto sexual move o mundo. Por isso, sempre digo que entre as pernas das mulheres se encontram segredos essenciais para a alma masculina e para o mundo como um todo. Infeliz aquele que nunca provou seu gosto.” P. 15.

O Pondé gosta do sexo oposto? Rsrs. Ou ele está tentando disfarçar? Páginas à frente, ele escreve:

“Sim, este livro é escrito por um homem que gosta de mulher. Não me venham cobrar outros pontos de vista”. P. 23.

Deixando de lado sua sexualidade, ele traduz o que TODO homem fantasia. Ele esclarece:

“[...] todo homem que gosta de mulher, gosta dela, antes de tudo, como objeto. Mas a estupidez é assumir que essa frase exclui a alma ou qualquer coisa além do corpo. Tudo nela pode ser objeto de desejo.” P. 23.

“Uma mulher que se sente feia é como um universo criado por um deus mau. Claro, os feinhos e as feinhas são contra a beleza porque não conseguem atingi-la e, sempre que se deseja muito algo e não se atinge, a alma deforma de inveja.” P. 16.

A crítica aí é dirigida as feministas e "feministos". Os "abiguinhos" que até a beleza querem relativizar, por não serem vistosos.

“Pessoas muito limpas não deveriam emitir opiniões sobre sexo. Uma cama muita limpa é um atestado de insanidade sexual. Uma mulher cheirosa demais dá medo. Gostar de cheiro de sexo é condição fundamental para falar de mulher. Uma mulher sem cheiro de fêmea é uma morta.” P. 17.

Eita, Pondé tá cheio das saliências. Todo saidinho. 

“Um dos maiores problemas dos debates politicamente corretos sobre sexo é o fato apontado pela autora americana Phyllis Schafler: esse debate é dominado por mulheres que não tiveram sorte no amor e, por isso, só conheceram homens ruins. Daí, elas tiram a conclusão de que todos os namorados e maridos das outras são trastes como os delas. No fundo, esse ódio é fruto, como sempre, não de um argumento racional, mas de uma paixão ferida.” P. 19.

Outro disparo contra as feministas. 

“Meio doce-azedo é o sabor da mulher. Cada vez mais exige-se coragem para prová-lo. Escondido, ali, entre as pernas, lugar de segredos. [...] Quando você cresce, você quer chupar o seio porque mulher é coisa gostosa e geme quando se sente assim. Quando uma mulher geme não é apenas porque ela goza de prazer, é porque ela goza ao se sentir gostosa. Nenhum homem tem inveja do seio nem do útero. Homem tem pavor da dor de parto e se sensibiliza com ela. Tampouco tem medo da vagina. Homem quer penetrar na vagina ou chupá-la.” P. 22.

Se mostrando "saliente", "imoral" e "cabido". 

"[...] Foucault (século 20) foi quem deu o tapa final para muita gente pensar que sexo é política: para ele, o mundo é apenas um conflito entre formas de dominação (as formas de 'homogeneidade' da qual ele fala). Tudo é construção social discursiva. O que é isso? Suspeito que muitos foucaultianos repetem essa ideia sem saber direito o que é, mas, na prática, em termos de sexo, isso deságua na ideia de que um discurso social constrói as identidades sexuais a partir de formas de dominação, estabelecendo, por exemplo, que mulheres gostam de ser penetradas e possuídas e que homens têm que gostar de fazer isso com as mulheres (coisa que ele, Foucault, não apreciava muito)." P. 26.

Em tudo que é pensamento lixo, Foucault está envolvido. Pondé continua:

"Na ponta final dessas políticas do sexo (ou teorias de gênero) está a ideia de que a humanidade não está dividida na díade macho-fêmea, mas sim que essa díade é uma construção do discurso patriarcal opressor. Sei que isso dá sono para qualquer um que já viu uma mulher gemendo de tesão, mas vamos adiante nessa coisa. O resultado é que chegamos assim à ideia de que sexo politicamente correto é sexo que desfaz qualquer forma de 'opressão' política do corpo (da mulher, quase sempre). A semelhança com a idéia de culpa cristã via a crença de que temos uma 'vontade pecadora' (no caso das políticas do sexo, a 'vontade pecadora' seria a 'vontade patriarcal opressora') é enorme, daí a semelhança com o puritanismo. A diferença é que o pecado dá tesão, enquanto o papo político dá sono." P. 26.

"[...] Nelson Rodrigues dizia que a prostituição não é a profissão mais antiga da mulher, mas sua vocação mais antiga. Sua ideia não é maldizer as mulheres (só o imbecis pensam assim), sua ideia é enaltecer ocaráter erótico e pecaminoso do desejo que se tem pelas mulheres. Ideias como essa do Nelson são como verdadeiros 'marcadores' contra o sexo correto. Quando ouvida, quem se revolta contra ela é um analfabeto em sexo. E, infelizmente, o lugar onde se encontram mais analfabetos no Eros é onde se acumulam inteligentinhos: o mundo da cultura e do pensamento. As universidades contemporâneas são lugares sem nenhum Eros e com muita política." P. 29.

Sobre nós, homens, gostarmos de apreciar duas mulheres se pegando:

"Um dos maiores mistérios para as mulheres é entender a razão de os homens adorarem ver duas gatas em ação. O fato de cenas assim estarem no mercado (e o mercado é sempre um sábio da natureza humana e, por isso mesmo, é detestável para quem teme esta mesma natureza) de filmes pornô hétero é indicação de que homens gostam disso. A beleza aqui é dobrada. Muitas mulheres, contaminadas pela praga do politicamente correto que vê machismo até no Papai Noel, acham que isso é puro machismo". P. 40.

Ele continua:

"Outras imaginam que seja desejo de dominação, como se Foucault (que inventou esse negócio de “dominação” porque gostava de rapazes fortes com roupas de couro) entendesse alguma coisa quando se referiu ao desejo masculino por uma mulher. Não. Pouco importa a razão de os homens sonharem em ver duas gatas em ação. Ninguém sabe a razão desse desejo. E, como tudo que é mais forte ou importante em nós, pouco se sabe a causa, e quase sempre pouco importa saber." P. 40.

A “vitória” de Eva sobre Deus:

"Mesmo diante de Deus, o homem escolheu a mulher. Fosse Eva uma feia, a Criação estaria no seu lugar até hoje. [...] Como alguém pode dizer que a Bíblia é machista quando Eva venceu Deus no prólogo do drama cósmico?" P. 48.

Caramba, nunca tinha pensando dessa forma!

"Todo mundo um pouco mais velho se lembra do coração disparado no momento de chamar uma menina para dançar. O poder dela de destruir sua noite diante de todos era avassalador e, ao mesmo tempo, encantador. Um 'não' encerrava uma carreira por alguns dias. Um 'sim' colocava o vencedor da noite nos céus. Se ela fosse linda, a vitória era esmagadora." P. 54.

Hoje numa festa ou micareta, caso você leve um fora, é só partir para a outra garota ao lado. 

“Aulas sobre sexualidade em escolas deveriam ser objeto de muito cuidado por parte dos pais. [...] Por quê? Porque quem disse que podemos confiar cegamente em quem decidiu dar aula de sexualidade para as crianças? E não me refiro à suspeita de taras sexuais por parte desses professores. Acho que suas principais taras são ideológicas. Querem fazer a cabeça das crianças com suas bobagens.” P. 65.

Continuando:

“[...] a principal razão, suspeito, é simplesmente a motivação ideológica de falar para as crianças o que eles, professores, acham que seja certo em matéria de sexo. Nelson Rodrigues já suspeitava das aulas de educação sexual, e isso porque ele não chegou a ver gente que pretende dizer aos alunos que meninos que agem como meninos são machistas e meninas que gostam de meninos são oprimidas.” P. 65.

Continuando:

“Ensinar às crianças que não devemos fazer bullying com colegas em sala de aula é uma coisa boa. Ensinar aos meninos que eles são opressores das meninas é, talvez, uma das piores formas de bullying que já existiram na face da Terra. E não vejo nenhuma educadora dizer que esses professores estão fazendo bullying com seus alunos quando os fazem se sentirem culpados porque são meninos.” P. 65.

Fantástico!

“Que a pedagogia é um dos ramos do saber em que menos devemos confiar nos últimos anos é sabido por qualquer um. Vejam: uma das últimas novidades das escolas que torturam meninos (e meninas também, porque reprimir meninos é reprimir meninas, apesar de que hoje em dia queiram dizer que homens e mulheres não são seres interdependentes) é o dia em que meninos devem ir vestidos de meninas e meninas vestidas de meninos”. P. 67.


[...]


"A pergunta é: para quê? E por quê? Para nada, apenas para satisfazer as bobagens teóricas que animam grande parte da pedagogia nos últimos tempos.” P. 67.


[...]


“Devem pensar que assim acabarão com os preconceitos. Não, vão piorá-los. E também a violência vai piorar porque todas as práticas politicamente corretas são exatamente o que elas pretendem combater: violência simbólica”. P. 67.

A ideologia doentia sobre gênero nos centros do "saber":

"Os departamentos universitários que estudam sexualidade (ou gênero) têm novas exigências de pureza para seus pesquisadores. Além do fato de que, para esses estudos de gênero, homens e mulheres não existem em si, mas são criações de uma sociedade patriarcal opressora (frases como essa dão sono para quem passou da idade infantil), a universidade, transformada plenamente em instância totalitária, agora exige cada vez mais pureza de gênero para seus pesquisadores.

Sabe-se há muito tempo que os estudos de sexualidade nas universidades eram privilégio de mulheres (normalmente sem muito sucesso afetivo estável) e gays. Agora isso não basta. Se você quiser provar sua lealdade ao partido de gênero você deve ser no mínimo um transexual, melhor se for transgênero.

Se você for gay, deve fazer algum tipo de intervenção que transforme você num transexual feminino para garantir que não é um gay reacionário. Se for mulher, já não basta essa condição porque você pode ser heterossexual, e, portanto, uma colaboracionista que deseja o opressor. Melhor se for lésbica. O caráter perverso e totalitário é evidente, mas, antes de tudo, o ridículo salta aos olhos de qualquer pessoa razoável". P. 73.

O mito da "cultura do estupro":

"Estupro é uma praga ancestral e tem a ver com uma mistura de força física maior do homem e sua eterna e miserável insegurança diante de sua fêmea. É uma praga e deve ser combatida sem pena nem dó. Mas outra coisa é a afirmação de algumas chatinhas de que todo homem é estuprador". P. 76.

[...]

"Mulheres que fazem essa afirmação são semelhantes a homens que afirmam que toda mulher é vagabunda e não merece confiança. O fato de que a mulher gosta do homem que a submete ao seu desejo (ao desejo dela por ele, antes de tudo) e a faz desejar ser penetrada e possuída é absolutamente desconhecido por essas puritanas modernas, que arrastam seu rastro de solidão, ódio e histeria pelo mundo afora." P. 76.

Programa Roda Viva: Luiz Felipe Pondé


Excelente programa com o Filósofo, Luiz Felipe Pondé (Doutor em Filosofia pela USP e pela Universidade de Paris - VIII. Pós-Doutorado pela Universidade de Tel Aviv, Israel). Com uma sagacidade e inteligência ímpar, Pondé articula com maestria suas ideias sobre Deus, ateísmo, sentido da vida, religião, feminismo, políticas públicas, marxismo, esquerda, direita, psiquismo humano, aborto, catolicismo, casamento gay, verdade, dentre outros temas.

Um dos assuntos que mais me chamou a atenção foi sobre sua visão sobre a natureza humana. Para ele:

"O ser humano é fraco, medroso, precário, mentiroso sobre suas próprias angústias. Inclusive por razões sociais – não dá pra você sair por aí falando de tudo que você tem medo. [...] A hipocrisia é parte da base da moral pública”. 

Todos nos encaixamos nesses adjetivos. Ninguém escapa, segundo Pondé. Parece que para ele, não há verdadeira abnegação, desprendimento e altruísmo, todos esses atos vêm acompanhados de um certo interesse que nos traga alguma vantagem, e venha suprir a nossa miséria. Creio que ele está correto em suas ponderações. Até o mais devoto religioso, é “abnegado”, “amoroso” e “dedicado”, porque espera a recompensa lá na frente. 

Como me deu uma certa preguiça de transcrever certas falas dele nesse programa, copiei e colei um trecho do que ele disse a revista “Veja” no mesmo ano em que essa entrevista foi exibida (2011), visto que representa muito bem o que foi dito nela:

“Opero no debate público assumindo os riscos do niilismo, e sou muitas vezes acusado de niilista. [...] Sou basicamente pessimista, cético, descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la. Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica.”

Filosofia para Corajosos


PONDÉ, Luiz Felipe. Filosofia para Corajosos. São Paulo: Planeta, 2016. (Versão em PDF).

Link do livro para baixar:

http://lelivros.top/book/baixar-livro-filosofia-para-corajosos-luiz-felipe-ponde-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/

Apesar do sensacionalismo do título dessa obra, Pondé é um cara que gosto de ouvir! Sempre gostei de suas palestras e entrevistas! E agora, acabo de terminar um segundo livro de sua autoria.

Com Ph.D em Filosofia na USP, e Pós-Doutorado na Universidade de Tel Aviv, nesse seu recente livro, ele dispara todo o seu veneno contra a sociedade contemporânea, que segundo ele, é a sociedade mais hipócrita, doente e retardada da história.

É um Pondé abusado, chato, marrento, birrento, pessimista e, digo até, contraditório e marqueteiro, ou sendo mais compreensível com ele (como se ele se importasse com isso): paradoxal.

Livro bom! Livro recomendado!

Alguns trechos que julguei interessantes:

"Pensar para onde vamos depois da morte ou como nos sentimos quando sabemos que vamos morrer levanta, de cara, uma questão, entre tantas outras: por que o susto em saber que vamos morrer quando sabemos o tempo todo que vamos morrer um dia?" P. 15.

Quem é que não se caga de medo, por esse iminente dia?! Eu me cago todinho.

"E se não existir vida após a morte, tudo é permitido? E senão existir Deus, tudo é permitido? [...] Essa pergunta é muito importante porque implica o seguinte: se morro e viro pó e ninguém descobre os absurdos que fiz na vida, e não existe alguém ou algo que me faça pagar pelo que fiz nesta vida 'no outro mundo', isso significa que tudo bem matar. Será que a vergonha de fazer algo errado basta para limitar meu comportamento? Acho que não. E você? Mas o fato de, talvez, precisarmos de um 'Deus' para garantir a moral e o bem não implica a sua existência, certo? O mais legal da filosofia é você aprender a pensar sem medo das respostas.Talvez Deus não exista e ainda assim continuemos a precisar que Ele exista. Enfim, questões sem fim." P. 16.

Questão espinhosa. Muitos dos religiosos mais moralistas da história fizeram coisas horríveis em nome de Deus. Para eles, como Deus tem existência concreta, então tudo é permitido fazer, para defender a reputação dele, frente aos hereges.

“Quem nunca leu nada não tem opinião sólida sobre nada, apenas achismo, uma opinião vazia, como dizia Platão, quando fazia a diferença entre ter opinião (doxa) e conhecer algo (episteme). Conhecer demanda trabalho, conversar com outras pessoas e ler alguns livros. Na maioria dos casos, conversar com mortos. Uma opinião vazia, qualquer bêbado tem.” P. 22.

A maioria dos brasileiros. A preguiça para pensar, ler e estudar, é generalizada.

“Para dizer que existe evolução moral na humanidade seria necessário termos um critério absoluto, universal e seguro do que é certo e do que é errado. E isso não existe.” P. 36.

Existe esse critério? Os apologistas evangélicos dizem que sim. Seria o próprio Deus. Mas é difícil extrair do livro que eles dizem seguir a risca, absolutos morais.  São os que mais esbravejam contra a relativização dos valores, mas relativizam, suavizam, minimizam, atenuam, as passagens de matanças de crianças e velhos no Antigo Testamento.  

"Vale a pena ser honesto? Será? Minha tendência é achar que não. [...] Para começo de conversa, podemos suspeitar que a honestidade seja falsa ou fruto de falta de oportunidade de agirmos de outra forma. Para piorar, a verdadeira virtude é silenciosa e não faz marketing de si mesma, o que em nosso mundo dominado pelo marketing, fica difícil de ser sustentado. O mundo contemporâneo é tagarela por natureza." P. 41, 42.

Até vale. Mas até quando raramente fazemos algum ato de “caridade”, gostamos que os outros notem a nossa “bondade”. Eu sou assim. Quem sabe, não posso adquirir alguma vantagem disso no futuro, não é mesmo?!

"Essa ideia de que ser religioso implica alguma forma de carência cognitiva é comum entre pessoas que se julgam mais cultas. Tenho dúvidas de que isso seja uma verdade evidente. [...] O século XX foi mortífero não em nome de Deus, mas em nome da política. Esse é um fato que, muitas vezes, escapa aos nossos péssimos professores de história que ensinam bobagens para nossos alunos". P. 44.

Esse mito de que gente religiosa é (sempre) mais fraca intelectual e emocionalmente, ainda perdura em alguns círculos.

Pondé continua:

"Na minha experiência pessoal, acadêmica ou  na mídia, não me parece que pessoas não religiosas sejam mais sábias do que pessoas religiosas. Muita gente para de crer em Deus ou deuses e passa a crer em si mesma [...], o que acho uma bobagem ainda maior se levarmos em conta a fragilidade de nossos pequenos 'eus'." P. 44.

Independente de termos crenças religiosas ou não, somos frágeis, carentes, dependentes, egoístas, angustiados, perdidos, aflitos... Diante disso, como ter fé em nós mesmos?


“A ideia mais comum de sobrenatural é que ele seja o mundo dos mortos que se relacionam com os vivos. [...] A questão essencial aqui é: por que esses mortos 'precisam de nós, meros vivos?'. Porque não existem e são criações humanas. Esses espíritos nunca sabem além do que sabemos: precisamos amar uns aos outros, fazer menos guerra, ter menos poluição e combater o apego material. Quem precisa de espíritos do além para saber que estamos num atoleiro moral neste mundo dos vivos?" P. 57-58.

[...]

"Resta nos perguntarmos a razão de, depois de tanto conhecimento científico acumulado, tanta gente ainda se sentir atormentada e atraída por esse tipo de coisa. A primeira conclusão é que permanecemos, em alguma medida, na pré-história, amedrontados pela escuridão do mundo e de nós mesmos." P. 58.

As ladainhas do espiritismo, ainda enganam muitas pessoas. 

“Uma das perguntas que julgo mais inúteis em filosofia é se Deus existe. [...] crer em Deus é mais fruto de causas extrarracionais como educação, traumas infantis, ambiente cultural familiar, ter um 'cérebro de crente' do que pensar que crer em Deus é fruto de uma cadeia lógica de provas a seu favor. A mesma coisa vale para a descrença. Dito de outra forma, não acredito que crer em Deus seja uma coisa que você escolhe, assim como você escolhe uma marca de sabonete ou uma marca de carro com base na lógica custo-benefício". P. 58, 60.

[...]

"Acho que argumentos que tentam provar a existência de Deus são inúteis. Muita gente tenta provar a existência de Deus dizendo que o universo 'necessita' de um princípio ordenador de tudo, o que eu julgo infantil como argumento. Tudo isto aqui pode ser fruto de um grande acaso num espaço de tempo inimaginável no qual os elementos se arrumam e desarrumam, e no meio deles nós surgimos e desaparecemos. Deus existe? Eu nunca fui crente. Mas isso não me impede de julgar Deus uma hipótese elegante para a existência das coisas, uma vez que um ser como Ele me parece misterioso e interessante de conhecermos, ainda mais se for uma 'pessoa'". P. 61.

Discordo dele. A questão da existência de Deus é um ponto crucial na Filosofia.  E também não acho que os argumentos pró e contra sejam (sempre) inúteis.

E terminando as citações:

“Os alunos chegam à universidade sabendo nada, lendo nada, tendo uma opinião sobre tudo. Todos vão mudar o mundo para melhor, e os outros não querem saber de muita coisa. Claro, existem as exceções". P. 92.

Hahaha. E num é não?! Mas nem os Professores muitas vezes não sabem nem o que estão ensinando.