terça-feira, 15 de agosto de 2017

A 13ª Emenda: De Escravo a Criminoso em uma Emenda


O início de 13ª Emenda já deixa escancarado que há algo de muito errado no sistema carcerário estadunidense:

“Vamos ver as estatísticas. Os EUA abrigam 5% da população mundial, mas 25% dos prisioneiros do mundo. Pensem nisso.”

“Um em cada quatro seres humanos com suas mãos nas grades, algemados, estão presos aqui na terra da liberdade.”

“Tínhamos uma população carcerária de 300 mil pessoas em 1972. Hoje, temos uma população carcerária de 2,3 milhões de pessoas.”

Esses números no seco, sem nenhuma explicação adicional já dizem muita coisa. Existe uma política sinistra nas prisões norte-americanas. E os afro-americanos desde seu início são os grandes “felizardos” entre os presos. Visto que desde que terminada a Guerra Civil em 1865, cerca de quatro milhões de negros no sul do país, ficaram “livres”. Como lidar com esse contingente gigantesco de pessoas, que antes eram escravas, mas agora, sob a “proteção” da 13ª emenda, eram pessoas “livres”? Não demorou muito para que o racismo tão onipresente continuasse com a sua face cruel. Negros eram presos por coisas banais, tais como “vadiagem”. As prisões começaram a lotar de afro-americanos. Surgia a imagem distorcida do negro como estuprador de mulheres brancas. A ironia é que na história dos EUA, muitos brancos estupraram mulheres negras do que o contrário. O filme o Nascimento de Uma Nação foi um grande instrumento midiático para firmar a visão do negro como um ser animalesco, perante a já sociedade racista. O que vem depois, injustiças, crimes e barbaridades, feitas por uma sociedade que se considerava boa e justa. 

“Milhares de afro-americanos mortos por quadrilhas sob a crença de que tinham cometido algum crime.”  

Em praticamente todas as mortes sofridas, não havia crime algum. O terrorismo estava implantado e aprovado. Então é aprovada a infame Lei de Jim Crow, que segregava os negros, relegando-os a pessoas de segunda categoria. Apenas legalizava o que já vinha acontecendo desde que foram “libertos”.

“Aprovaram leis que relegaram os afro-americanos a um permanente status de segunda classe.”

Enquanto a segregação se arrastava ao longo dos anos, surge o Movimento Pelos Direitos Civis. Agora a luta tinha começado pra valer. Negros foram as ruas em protesto contra as humilhações sofridas. E não foi fácil. Até o presidente da nação Richard Nixon (1969-1974) de maneira sutil queria calar a aprisionar esses “pretos metidos”. Aí começa a germinar o boom do sistema penitenciário. O seu palavreado de “Lei e Ordem” e “Guerra às Drogas”, eram simplesmente uma maneira velada de dizer: “Prendam esses negros!” Além de querer calar a esquerda antiguerra do Vietnã, e também encarcerar hippies. Era uma política de difamação e mentiras jogadas na mídia.

“Um membro do governo de Nixon admitiu que a guerra às drogas tinha o único objetivo de prender negros. Ele disse: ‘A campanha de Nixon em 1968 e a Casa Branca de Nixon depois disso tinham dois inimigos: a esquerda antiguerra e os negros. Sabíamos que não podíamos tornar legal ser contra a guerra ou os negros. Ao fazer o povo associar os hippies à maconha e os negros à heroína e então criminalizá-los pesadamente, poderíamos interferir nessas comunidades. Prender seus líderes, invadir suas casas, impedir suas reuniões e difamá-los noite após noite nos noticiários. Nós sabíamos que estávamos mentindo sobre as drogas? Claro que sim.”

Ronald Reagan chega à presidência, incorporando o discurso de “Guerra às Drogas”, onde recursos financeiros vultuosos são empregados para prender usuários e traficantes. O problema estava aí: tratar simples usuários como bandidos. Algo vigente até hoje. O crack era um problema nos bairros negros, e a cocaína nos bairros brancos. A disparidade é que um negro pego com 30 gramas de crack (usuário) sofria a mesma punição carcerária de um branco com 3 quilos de cocaína (traficante). Estava mais do que óbvio que existia uma política racista e preconceituosa, pronta para prender afro-americanos.

“Sharanda [negra] passou os últimos 16 anos na prisão e vai morrer por lá, porque foi condenada à prisão perpétua sem condicional. Seu único crime? Transportar cocaína. E quando eu digo ‘único crime’ eu quero dizer ‘único crime’. Ela não teve outras prisões. Exigiram que o juiz condenasse Sharanda à prisão perpétua.”   

Conforme os presidentes foram se sucedendo, a coisa só piorou – seja com Bush pai, Clinton (apesar deste ser democrata). O caso de Clinton é especial, pois ele sancionou leis que prolongavam mais ainda os anos de prisão, por coisas banais. Ele mesmo reconheceu seu erro em anos recentes. Mas provavelmente sabia que essa política não era boa, quando a implementou. No entanto, precisava agradar o eleitorado.

O ALEC  e o CCA empresas privadas estavam/estão por trás dessa estratégia mordaz de encarceramentos em massa. A CCA tem muito a lucrar com as prisões feitas. Quanto mais presos e quanto mais tempo eles passarem trancafiados, mais dinheiro para os cofres dela. É aquela velha e conhecida verdade de que Multinacionais e Estado se juntam para benefício próprio, as custas do sangue dos que não podem lutar contra eles. As grandes vítimas: negros e imigrantes.

O que fica muito claro com A 13ª Emenda é que a justiça criminal dos EUA não é tão justa quanto nós brasileiros costumamos pensar. Muitas vezes pensamos que a grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa. Que o seu quintal é mais florido, mais bonito. Nossa justiça brasileira é um caos, mas a estadunidense não fica atrás no quesito justiça. Ela também é caótica. Políticos, juízes, promotores e empresários, estão todos juntos nesse empreendimento macabro.

“O complexo industrial presidiário, o sistema, a indústria, é um monstro. Come negros e latinos no café da manhã, no almoço e no jantar.” 

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