domingo, 31 de janeiro de 2016

An Honest Liar


Meu primeiro contato com James Randi foi através do programa Fantástico, na rede Globo. Acho que há uns 15 anos, ou mais. O velhinho sósia do Papai Noel desafiava qualquer um a lhe provar que tinha poderes paranormais. Caso provassem concretamente que possuíam poderes não explicados pela Ciência, o Noel lhes premiaria com 1 milhão de verdinhas. A Globo durante alguns domingos ia mostrando o barbudo desmascarando um por um, os charlatães que reivindicavam ter alguma habilidade extra-sensorial.

Até hoje, 2016, nenhum conseguiu provar absolutamente nada. E o prêmio continua dando sopa, sem ninguém apto a ganhar a bolada. Randi, mais dia menos dia, vai pro saco, e nada de ver um mísero caso de paranormalidade.

Esse documentário espetacular nos brinda com a fantástica história desse mágico incrível, que vem ajudando a sociedade crédula a ter um olhar mais cético em relação a esses curandeiros, que sempre estão que nem carrapatos, prontos a sugar o dinheiro dos mais ingênuos e necessitados. E porque não dizer, burros/jumentos/idiotas?!

Antes de começar a desmascarar os falsos profetas, Randi trabalhou durante vários anos, fazendo mágica. Era conhecido como o Incrível Randi. Seu grande ídolo foi Houdini, talvez o maior de todos os mágicos. Com o tempo, a compaixão pelas pessoas enganadas, fez com que Randi travasse uma longa e dura batalha contra os caras de pau.

A sua clássica e mais conhecida batalha, melhor dizendo, guerra, foi contra o FDP Iuri Geller, um israelita nojento, que jurava ter poderes psíquicos, e vivia nos programas televisivos enganando o público e apresentadores. O pior de tudo isso, é que mesmo Randi, indo aos programas e fazendo as mesmas coisas que o Geller fazia, muitas pessoas ainda acreditavam na idoneidade deste. Esse tipo de pessoa tem é mais que se lascar mesmo. Vão ser burros assim no inferno.

Este é o lema de Randi:

“Não tem problemas [em] enganar [as] pessoas, desde que esteja fazendo isso para ensinar-lhe uma lição, que melhorará seu conhecimento de como o mundo real funciona.”

Um amigo seu, diz:

“Ele ama mágica. Ele passou sua vida inteira como artista, como mágico. Então ele realmente fica chateado quando alguém usa as técnicas de mágica, para qualquer outro propósito que não seja o entretenimento. Especialmente para convencer pessoas de que há algo de paranormal acontecendo, ele abomina isso.”

Infelizmente não temos no Brasil, programas de TV voltados para desmascarar o que ocorre nas igrejas evangélicas. O público ignorante e semianalfabeto dessas igrejas doam rios de dinheiro para macedinho, malafaia, soares, waldomiro, isso para mencionar apenas os mais conhecidos, pois existem milhares e milhares de pastores enganando por aí. Mas como eu disse, essas pessoas merecem ser roubadas, porque se fazem de cegas. Algumas, é claro, estão ali, por causa do desespero de uma vida e família destruídas, e não veem outra solução para os seus problemas. Porém, depois de um tempo, muitos deveriam se dar conta da roubada em que estão, mas passam a ser mais fanáticos ainda. O que resta para esses? Um FODA-SE bem grande.

Um dos grandes pilantras que o Randi desmascarou em rede nacional, juntamente com a sua equipe, foi o pastor Peterr Poppof. Nunca tinha ouvido falar desse vigarista. Ele era uma figura proeminente no meio carismático evangélico dos EUA. Randi mostrou quem realmente ele era, fazendo com que o seu ministério viesse a falência. Seria uma vitória se os pastores daqui tivessem seus templos sem otários para lhes dar dinheiro.

Randi é uma espécie de “um mentiroso honesto”, visto que engana para trazer a verdade. É isso que um de seus amigos pensa.

“Isso é o que significa ser 'um mentiroso honesto'. É a diferença entre usar a enganação para esconder a verdade e usar a enganação para revelar a verdade.”

Repetindo mais uma vez, o desafio de entregar 1 milhão de dólares a quem provar que tem poderes sobrenaturais continua. O velhinho parecido com o Papai Noel vai partir sem ter presenciado um único caso de curandeirismo genuíno. Quanto aos pastores, padres, médiuns, pais de santo, xamãs e etc., que juram ter poderes vindos do além para curar as pessoas, esse é o recado do Randi, numa entrevista, que li no site Terra:

“Esses charlatões custam às pessoas milhões de dólares todos os anos, roubando a segurança emocional, desapontando, enganando e mentindo para quem acredita neles. É uma coisa horrível. Sei que essas pessoas que dizem ter poderes sobrenaturais não têm poder nenhum e desmascará-las é a coisa certa a fazer”. [1]

Bota pra LASCAR neles, Randi!

É um documentário espetacular, que mostra a vida de um verdadeiro profeta. E aqui vai um recado dele para todos nós:

“Não importa o quão inteligente ou educado você seja, você pode ser enganado.”

REFERÊNCIAS

Clima Imprevisível


Existe uma concordância geral entre os Cientistas, de que o clima no planeta não está ficando nada bom. Tornados cada mais vez mais destruidores; furacões cada vez mais devastadores; nevascas cada vez mais fortes. Enchentes, secas e invernos rigorosos.

Países de primeiro mundo como os Estados Unidos, sofrem todos os anos com tornados furiosos, que castigam religiosamente muitas cidades do interior do estado de Oklahoma, por exemplo.

Furacões passam arrastando tudo o que vê pela frente nas Filipinas, EUA, Índia e no Brasil.

Nevascas avassaladoras atingem a Inglaterra, prejudicando a criação de ovelhas nas montanhas.

Isso e muito mais é documentando e interpretando nesse vídeo, cuja previsão não é nada confortável para o futuro humano nas próximas décadas.

O aquecimento do ártico está fazendo com que o oceano aumente de temperatura, isso desencadeia uma série de reações em seu interior, formando furacões, ciclones...

O aquecimento global, como resultado da emissão gigantesca de gases tóxicos na atmosfera é o principal fator dessas mudanças climáticas, que têm assustado a comunidade de pesquisadores.

“Invernos mais frios, verões mais quentes, secas, enchentes, tempestades, incêndios florestais e furacões girando descontroladamente. O clima já está mudando. E isso é apenas o começo. Quão ruim o clima pode ficar? A reposta depende da quantidade de dióxido de carbono e de outros gases do efeito estufa que liberamos no ar.”

Um Cientista alerta:

“O dióxido de carbono aumentou, durante minha vida, 330 ppm para 400 ppm. Durante a vida do meus filhos, provavelmente vai atingir 800 ppm. Nó não vimos nada igual.”

O resultado é um futuro cheio de catástrofes e destruição.  

Joseph Fritzl: A História de um Monstro


O mundo inteiro ficou chocado com a espantosa história de Joseph Fritzl, que manteve a sua filha Elizabeth, presa em um porão durante 24 anos (1984-2008), na Áustria. Nesse período, ele a estuprou milhares de vezes, tendo vários filhos com ela. Um período cárcere total, sem direito a ver a luz do dia, sem ver mais ninguém, além do monstro do seu pai. Fora os espancamentos e coisas mais. Um simples objeto; uma propriedade; um lixo humano; era assim que ele via sua filha. O tratamento que ela sofria era pior que um negro nos tempos mais nefastos da escravidão.

Ele conta que teve um pai muito ruim e cruel. A sua mãe se separou dele, e Fritzl passou a sua infância morando apenas com ela. Ele admite que tinha desejos sexuais em relação a ela, mas sempre manteve-os sob controle. Quando mais adulto, o seu histórico de violência começou logo cedo. Estuprou uma mulher, foi preso por isso. Porém, só ficou 1 ano e 6 meses na cadeia. Depois tentou estuprar outra mulher. Não obteve êxito. Ela diz que guarda os traumas dessa tentativa de estupro até hoje. E o safado ainda disse que um dia a estupraria.

O casamento de Fritzl, sempre foi marcado pela total submissão de sua mulher. Completamente passiva em relação a tudo que ele dizia e determinava. Uma mulher fraca e sem opinião. Talvez por medo, ou por estar totalmente cega e apaixonada por ele.

Dentre alguns filhos, eles tiveram Elisabeth, uma menina que ele simplesmente não gostava, por mais que fosse sua filha. Ele então coloca seus desejos doentios em ação. Pede para um amigo seu, ajudá-lo a construir um porão em sua casa.

Em 1984, ele a prende, e nunca mais ninguém volta a vê-la até 2008. Nesses terríveis/horríveis/tristes anos que se seguiram, foram só de sofrimento físico, psicológico e arrisco dizer, até espiritual para Elisabeth. Molestada, estuprada, espancada e toda sorte de maldades investidas contra ela, pela própria pessoa que a colocou no mundo, seu pai.

“Eu sabia que Elisabeth não queria as coisas que fiz com ela. Sabia que a machucava. Mas o desejo de finalmente provar o fruto proibido foi forte demais. Era como um vício.” (Joseph Fritzl).

O pior, que a casa dele, era uma espécie de hotel, flat, pousada, quartos para se alugar. Pessoas que moravam ali há vários anos, deram seus depoimentos no vídeo, e alegam nunca terem visto nada muito suspeito. Curiosamente apenas o cachorro de um inquilino, que morava num apartamento, acima do porão, percebia que havia alguma coisa lá embaixo, pois ficava olhando para o chão e arranhando-o. Lembrando essas atitudes do seu cão, o seu dono, hoje sabe o motivo.

Finalmente, em 2008, Fritzl não pôde mais esconder as atrocidades cometidas contra a sua filha. Foi preso. E Elisabeth saiu de sua injusta prisão e escravidão.

Mas não precisamos ser Psicólogos ou Psiquiatras, para saber, que a escravidão emocional, psicológica e espiritual permanecerão para sempre em sua vida. Nada de fantasia e palavras confortantes aqui. Visto que o sofrimento que ela passou é indescritível. Deixemos a espiritualidade boba e enganadora para aqueles que não querem enxergar os recantos sombrios da existência.

Uma pena que não tem esse vídeo no Youtube. Apenas na Netflix. 

Atrás das Grades


O México talvez seja o país do mundo que mais sofre as consequências das guerras dos poderosos e incansáveis cartéis de drogas. Todos os anos na grande cidade de Juarez, milhares de assassinatos ocorrem em decorrência da carnificina desses grupos, que querem ter o poder absoluto na entrega dos entorpecentes.

De acordo com o vídeo, enquanto que em El Paso, cidade do Texas, EUA, existe uma média de apenas oito assassinatos por ano; na cidade vizinha de Juarez, em território mexicano, são oito assassinatos por dia. Multipliquei esses oito assassinatos diários por 365 dias e deu a assustadora cifra de 2920 mortes por ano. Isso faz de Juarez uma das cidades mais violentas do planeta.

Num certo momento, houve cerca de 50 assassinatos em três dias, devido à guerra entre o cartel Bazzio Azteca e outras gangues. Famílias são devastadas e destruídas, e a polícia pouco faz para conter a onda de violência. Muitos corpos acabam sendo pendurados nas pontes e viadutos da cidade. As coisas estão fora de controle.  Um policial faz uma previsão nada boa:

“As coisas não estão melhorando. Está muito claro que estão piorando. Nos próximos cinco anos, acho que veremos mais violência. E ela vai continuar fazendo estrago.”

Na opinião dos policias e agentes penitenciários de El Paso, na cidade mexicana, os policias são corruptos e não existe lei na cidade, por isso a violência reina. Mas em El Paso, as coisas funcionam, e os bandidos são presos e punidos. A prisão El Paso County Jail abriga os mais perigosos traficantes desses grandes cartéis e gangues, em especial, os bandidos do cartel Barril Azteca.

O presídio é de segurança máxima, porém, os agentes da polícia precisam estar muito atentos a tudo o que acontece atrás das grades. A Barril Azteca surgiu e se organizou dentro da cadeia, e todo cuidado é pouco, quando o assunto é lidar com os demônios que estão infestando o lugar.

A grande preocupação dos policiais é evitar que ela ganhe força e poder entre os presidiários. Quando a coisa aperta, agentes da SRT, grupo da Swat, são chamados para pôr um fim nas rebeliões feitas pelos presos.

O documentário trata basicamente da vida interna dessa prisão e de todo trabalho, habilidade e inteligência que os agentes têm que ter, para sempre estar um passo a frente dos bandidos, que sempre estão à espreita, observando tudo, prontos a darem o primeiro bote, caso tenham uma chance.

Voltando a questão da violência e número de assassinatos, já há alguns anos, a cidade de Natal-RN tem aparecido na lista das cidades mais violentas do mundo. Sempre fui cético em relação a essas pesquisas, mas se em Juarez, que é uma cidade incontestavelmente violenta, com uma média de 2920 assassinatos ao ano, com uma população de mais ou menos 2,6 milhões de habitantes, e Natal, uma cidade com 803 mil habitantes, tem uma média de 931 assassinatos por ano, proporcionalmente, no quesito morte, a cidade brasileira é tão ou quase tão violenta quanto à cidade de Juarez. E olha que por aqui, não existem esses cartéis de drogas gigantes e poderosos como os da cidade mexicana. Imagine se tivesse!  

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Depois que o Pornô Acaba


Pornografia!

Todos já vimos (pelo menos os homens), nos masturbamos e idealizamos em nossos olhares gulosos, “comer” as gostosas desses filmes adultos. A fascinação de muitos, já começa na infância, e se estende pela adolescência, chegando à fase adulta, e não raras vezes, o desejo e vontade de ver esse tipo de entretenimento se prolongam por toda a vida.

No vídeo em questão, são entrevistados alguns dos atores e atrizes pioneiros dessa indústria tão rica e tão cobiçada por muitos. Algumas atrizes que ainda atuam, também dão os seus depoimentos, sobre como é viver nesse meio tão louco e perigoso.

Não é incomum, essas pessoas falarem sobre vícios em drogas, bebidas, depressão e tantos outros sentimentos negativos que podem vim, por estarem tão imersas nesse universo e não se sentirem bem, nessa profissão. As mulheres são as que mais se abrem (não há duplo sentido aqui) sobre as suas frustrações, medos e arrependimentos. Creio que muitas são sinceras em seus desabafos.

Algumas entrevistadas viraram religiosas, e se dizem extremamente arrependidas pela vida “devassa” que tinham quando faziam esses filmes “nojentos”. Outras já não têm mais idade para a coisa, também não eram muito felizes, mas não carregam tanto remorso ou arrependimento pelo que fizeram.

Nina Artley, atriz pornô da velha guarda que atua, fala algo bastante pertinente sobre o remorso e rejeição que muitas pessoas que fazem filmes adultos sentem posteriormente:

“Algumas estrelas pornô ‘encontram’ Deus e abandonam. Mas são pessoas que precisavam mesmo sair, e não tinham determinação para fazê-lo. Então, procuram algo externo para ajudá-las a sair. Existem várias pessoas no meio que não deveriam mesmo estar aqui, porque têm conflitos. Se eu tivesse sido criada para ter vergonha do meu corpo e para discriminar os homens e seus desejos horríveis, mas fizesse filmes pornôs por outros motivos, eventualmente, as coisas sairiam do controle. Só consigo negar por certo tempo. As pessoas tentam negar. Reprimem seus sentimentos com drogas e álcool ou o que quer que seja. Depois de seis meses, um ano, cinco anos, dez anos, não importa, elas dizem: ‘Quer saber? Não posso mais’. A religião, especialmente a ocidental e, especialmente, o Cristianismo, diz: ‘Eu te amo, eu te perdoo, você pode voltar para casa agora. E eu não o colocarei para fora’. Então, isso é poderoso demais e incrivelmente potente, ter alguém para lhe dizer finalmente: ‘Não tenho vergonha de você. Eu te amo. Você é bem vindo aqui’.”

Não tem como ignorar o que ela disse. A força psicológica que as religiões têm, seja para o bem ou para o mal, é incrivelmente poderosa. E é claro, que se você vive numa sociedade, mesmo que hipocritamente, condena/rechaça/repudia o sexo explícito e proibido dos filmes pornográficos, a despeito de milhões de litros de esperma derramados assistindo essa putaria toda, é evidente que mais cedo ou mais tarde, o sentimento de culpa e pecado virá na mente de muitos daqueles (principalmente mulheres) que fazem parte do show e foram condicionados a pensar assim.

O documentário nos brinda com a velha guarda dessa indústria tão potente e que teima em permanecer mesmo com a pirataria online ou em DVD. A indústria ainda tem muito fôlego. E não podia ser diferente, o sexo e suas fantasias fazem parte da essência do ser humano. A não ser que a frigidez ou outros problemas entrem no caminho. Alguns pensam mais na coisa, outros nem tanto, mas o sexo sempre foi e é, uma parte muito importante nos relacionamentos humanos.

XVÍDEOS, RETUBE, PORNTUBE e tantos sites, estão com força total aí. Rsrs. 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Filha da Índia: A História de Jyoti Singh



“Segundo os últimos números oficiais, uma mulher é estuprada na Índia a cada 20 minutos. Mas muitos estupros não são denunciados.”

Uma linda garota, filha de pais pobres, com muitos sonhos, e uma vontade imensa de vencer e crescer na vida, para ajudar aos seus pais e ser útil a sociedade. Mas seis demônios, frutos de uma sociedade machista e doentia, puseram um fim trágico, a vida de Jyoti Singh, num estupro coletivo, extremamente violento e monstruoso, na capital da Índia, Nova Dhéli.

Voltando do cinema com um amigo da faculdade de Medicina, Singh e seu colega foram surpreendidos por esses seis filhos das trevas, que os colocaram dentro de um ônibus escolar e a estupraram. Não bastasse a violação da sua intimidade, eles a agrediram de tal forma, que ela em alguns dias depois, veio a óbito.

Em 17 de dezembro de 2012, um dia após o estupro, a população foi às ruas, pedir justiça. Milhares de estudantes enfrentaram a truculência da polícia, exigindo mudanças. As mulheres que durante todos esses anos, e por que não dizer milhares de anos, foram reivindicar mais igualdade. Algo que elas não têm nesse país, pois sofrem as consequências de serem consideradas seres de segunda classe, nessa nação.

Mukesh, de 28 anos, é o único dos estupradores que é entrevistado para o documentário. Vejam o que ele diz:

“Uma mulher decente, não andaria por aí, à noite. A mulher é muito mais responsável pelo estupro do que o homem.”

“Homens e mulheres não são iguais. A mulher deve fazer o serviço de casa, e não ficar por aí, em boates e bares à noite, fazendo coisas erradas e usando roupas erradas. Só 20% das mulheres são boas.”

Percebe-se uma frieza e indiferença total ao crime cometido. Para ele, a mulher não vale muita coisa. Entretanto, deve ser observado que a cultura em que ele vive, produziu esse tipo de pensamento. O patriarcado de milhares de anos impingiu na mente dos homens indianos a idiota ideia, de que eles têm direitos a isso e aquilo, e as mulheres só têm deveres e obrigações para com eles.

A mãe de Singh, emocionada, fala como foi o encontro dela com a filha no hospital:

“Ela me viu e começou a chorar. Eu disse para ela não se preocupar, pois tudo ficaria bem. Eu disse: ‘Seja o que for, ficaremos com você’.”

Sobre os estupradores, o pai da vítima desabafa:

“Chamá-los de humanos é difamar a humanidade. E sabemos que até os monstros têm limites. Eles são diabólicos. Eles passaram de todos os limites do mal. Nem o diabo confessaria um crime tão bárbaro.”

A sentença de 5 dos 6 réus foi à pena de morte, porém, um morreu na prisão, antes da pena ser aplicada. O sexto era menor idade, 17 anos, quando cometeu o crime e, assim, a sua punição foram apenas 3 míseros anos. Igualzinho aqui no Brasil, onde um marginal que não completou 18 anos, é tratado com mansidão e a pão de ló.

Não é dito quando os 4 foram executados. Se é que já foram. Tomara que sim. Se já estão mortos, com certeza, foram bem recepcionados no inferno.

No final do vídeo são mostrados os números de estupros em alguns países. É alarmante o grande número de mulheres, que são estupradas e violentadas, e acabam não denunciando a polícia. A impunidade também é grande nos países de primeiro mundo, como EUA e Inglaterra. O que impressiona é o número assustador de estupros que acontecem na África do Sul. A cada 26 segundos, uma mulher é estuprada nesse país. Sim, sim, é isso mesmo. 26 segundos, e não minutos!

E os estupradores são punidos?
...

Globo Repórter: Viagem a Índia


“1 bilhão de pessoas [em 2002]. Mais de 5 vezes a população do Brasil. A Índia é o segundo país mais populoso do mundo. Só fica atrás da China. E um dos mais pobres também. Já dá para imaginar a dimensão do problema social indiano. Existe muita miséria.”

Procurando documentários sobre a Índia, acabei assistindo esse antigo episódio do Globo Repórter de 2002. Um documentário que trata de modo geral, algumas características desse país tão populoso e muitas vezes tão estranho aos nossos olhos.

Começamos pelo Panda Vermelho, um animal que só existe nas florestas indianas, e que ainda os Cientistas não conseguiram catalogar a que família ele pertence. Sunita Pradhan (Ph.D em Zoologia, North Bengal University) fez uma pesquisa exaustiva sobre esse animal, resultando em sua tese doutoral. Foram 7 meses para achar o pequeno animal.

A vaca depois é a protagonista, é de conhecimento comum, que esse animal é sagrado nesse país, e, portanto, não pode ser comido. Porém, um detalhe curioso que não sabia: a vaca não é sagrada em todo país. Embora não seja dito em que região as mimosas podem ser saboreadas.

“Os indianos amam as vacas. São muito gratos a ela.”

Já por aqui, poucos de nós, ocidentais, nos preocupamos com esse animal. Ignoramos o sofrimento que milhões deles passam nos açougues, para nos alimentar. Isso, porque nos foi passada a inverídica informação de que não podemos viver sem carne. Fui convencido de que o melhor é não comer carne (só na teoria, pois na prática...), através do documentário A CARNE É FRACA, que pode ser visto aqui:


Indo para a região da Caxemira, lugar de conflito entre Índia e o Paquistão, o repórter irá filmar um tradicional casamento arranjado. Mas como ocidental, corre perigo de vida, por causa dos extremistas muçulmanos que têm um ódio endêmico e intolerante para com aqueles que não comungam de sua religião. O repórter Luís Nachibin revela:

“Eu passei cinco dias, aqui na Caxemira, e praticamente não coloquei o pé na rua, por ordem da polícia local. Eu, jornalista estrangeiro, com uma câmera de vídeo, seria uma presa rara e fácil para os terroristas. Se eles me pegassem, certamente conquistariam a atenção do mundo inteiro.”   

Quanto ao casamento, os noivos foram prometidos desde que nasceram, há 27 anos. Nunca se viram, nunca conversaram nem por telefone, carta, email, whatsapp, tinder, badoo, skipe, facebook... ops, nessa época não existiam essas redes sociais. Rsrs.

Apesar dos muitíssimos problemas sociais existentes, como a extrema pobreza da maioria esmagadora da população, a criminalidade não é proporcional à miséria que reina soberana na Índia. Mais uma vez invocando Nachibin, que diz:

“Andei de trem ordinário, fui a alguns dos bairros mais miseráveis do planeta, sempre com uma câmera de vídeo no ombro, e jamais percebi qualquer ameaça de roubo. O povo indiano aceita a própria condição social, sem cobiçar os bens do próximo. Essa aceitação, em parte, é resultado da forte religiosidade da população.”

Interessante e louvável isso. Excetuando a triste segregação que o sistema indiano de castas impõe a milhões de seus cidadãos. Mas o foco aí é o roubo, o furto, o assalto, isto é, a violência para tomar ilegitimamente aquilo que não é seu. Aqui no Brasil, sabemos como a coisa funciona. A criminalidade reina.

O vídeo é bom, trás muito mais coisas, mas por ora, é isso. 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Antes que seja tarde - Filme


Link do filme:


Lendo o livro Antes que seja tarde, várias vezes os autores mencionam em suas páginas o filme de mesmo título, que sua igreja tinha produzido como parte do Global Freedom, projeto que tem por finalidade trabalhar em prol da liberdade, dignidade e fim do sistema de castas dos dalits na Índia.

O poder de um drama é muito poderoso em fazer as pessoas mais receptivas a uma causa. Por isso, a igreja do sr. Matthew Cork, resolveu gravar um filme que pudesse mostrar a violência que as crianças dalits sofrem. Vítimas não apenas da pobreza extrema, preconceito e discriminação, mas também do terrível tráfico sexual.

Crianças de apenas 4 anos de idade, são vendidas e escravizadas para satisfazer a libido doentia de homens maus, egoístas e inescrupulosos. Uma realidade que acomete milhões de crianças indianas, que são negociadas pelos próprios pais, muitos destes (como é o caso do filme), nem sabendo do negro destino que as espera, pensando que elas terão uma vida melhor.

Antes que seja tarde nos conta a história de Caden, um mauricinho idiota, mimado e muito rico da Califórnia, que não anda muito bem em seu namoro e com a separação de seus pais. Ele resolve com outros três amigos tão idiotas quanto ele, viajar para a Índia, e conhecer seus lugares exóticos. Sair da sua rotina de menino rico e fútil.

Na Índia, um pai e sua filha dalit, chamada Annika, vão lhe pedir dinheiro, pois faz três dias que ela não come. Caden se recusa a dar dinheiro a eles, e manda o pai de Annika arranjar um emprego. Algumas reviravoltas acontecem, fazendo com ele fique com a consciência pesada, por não tê-los ajudado. Ele acaba encontrando Karin, pai da garota, e este lhe diz que a vendeu, pois foi lhe prometido que ela teria uma vida melhor.

Caden não se conforma com isso, e diz a Karin, que ela está correndo perigo. Ambos vão atrás dela, em vários lugares de prostituição infantil na Índia, e a história termina com ela resgatada, e voltando a viver com o seu pai.

O filme tem uma carga religiosa cristã muito forte, visto que foi produzido por uma igreja. O protagonista Caden está em conflito com Deus, por este não ter evitado o divórcio de seus pais. Reclama o tempo todo de que Deus não ouve e não responde as suas orações, resultando no seu afastamento da igreja e dos caminhos de Deus.

Esse pano de fundo religioso pode não agradar a muitos telespectadores. Pode soar apelativo e proselitista. Chega a ser chato em alguns momentos a insistência nesse “relacionamento” mal resolvido entre Caden e seu deus. Mas como o filme foi produzido por uma igreja, não há nada de anormal nesse tipo de abordagem.

De qualquer maneira, apesar de alguns diálogos mal feitos e as interpretações regulares de seus atores, a história é boa e de extrema importância. Ela chama a atenção para algo terrivelmente real. Isso por si só, é o suficiente.

NUNCA SEREMOS LIVRES ATÉ QUE TODOS SEJAM

Que um futuro mais digno e feliz seja a sorte dessas crianças que tanto sofrem.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Antes Que Seja Tarde


CORK, Matthew; KEMP; Kenneth. Antes que seja tarde. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 2014.

Não esperava ver um livro desse quilate, publicado pela Graça Editorial. Ela é campeã em vender lixos de autores como o Kenneth Hagin, T. L. Osborn e tantas outras porcarias. Mas esse livro aqui é diferente e valeu muito a pena tê-lo lido.

A capa por si só, já chama a atenção de qualquer um. A criança indiana com lágrimas nos olhos e o subtítulo NENHUM DE NÓS ESTÁ LIVRE ENQUANTO UNS SÃO ESCRAVIZADOS é muito forte e impactante.

Muitas pessoas desinformadas têm a ingênua e fantasiosa ideia de que a escravidão terminou nos séculos anteriores. Pensam que vivemos uma era pós-escravista e pós-racista. Enquanto sociedade global e globalizada, estamos alguns passos a frente de nossos antepassados, somos evoluídos e superiores moralmente, dizem elas.

Mas as coisas nem sempre são como nós as idealizamos. Não obstante, o apartheid ter oficialmente acabado na África do Sul, em 1994, depois de muitas lutas e sangue derramado, e a segregação dos negros ter sido “banida” na década de 1960, com a luta pelos direitos civis, nos EUA - a discriminação, o preconceito, o racismo e a escravidão ainda permanecem na Índia e países vizinhos como o Nepal, Bangladesh e Paquistão. Um contingente expressivo de mais 250 milhões de pessoas, apenas na Índia, são vítimas diariamente, há milênios, de grande violência e castração de suas dignidades, por não fazerem parte das castas “superiores”.

“O drama desse povo é particularmente terrível. Fome, doença, abusos, exploração, violência física e espiritual, agressão à dignidade humana. Tudo é tangível. Incomparável.” P. 120.

“[...] mais de 250 milhões presos a um sistema por mais de três milênios, uma população inteira condenada ao abandono, exploração, isolamento, opressão e dificuldades. Em suma, excluídos de quaisquer benefícios sociais.” P. 122.

Este livro nos trás a infeliz situação dos dalits na Índia. Para as castas superiores, eles são os intocáveis, os inferiores, os sub-humanos, a escória da sociedade, os peões e todos os adjetivos ruins que imaginarmos. Não há esperança para eles no sistema religioso hindu. Arrisco dizer, que para 99% deles, não há mobilidade social alguma. É um sistema cruel, opressor e desumano. Os dalits são o grupo humano mais oprimido de todos os tempos. Nada os supera.

“Espera-se que os dalits cumpram funções sociais básicas: cuidar de dejetos humanos e animais, do lixo. Não são considerados humanos. Não têm acesso à educação. São usados e abusados em becos ermos da cidade e das densas florestas do interior da área rural e não possuem recursos ou direito à justiça. Não há proteção legal, acesso aos tribunais, eles não têm voz política nem esperança de melhoria de vida.” P. 35.

Mais informações e fatos chocantes e bárbaros são trazidos sobre os dalits:

“[...] Outras ocupações impuras incluem abate, curtume, remoção e descarte de animais mortos, limpezas de latrinas à mão e manejo de carcaças podres.” P. 142.

A religião hindu como discurso autoritativo divino, legitimador e legal, tem um papel de proeminência na configuração opressiva e discriminatória da sociedade indiana de castas.

“Dalith são escravos. Espera-se que eles sirvam às castas superiores. O hinduísmo ensina-lhes que o drama deles é resultado de algum crime terrível cometido em uma vida passada. A posição que ocupam na sociedade é seu destino. Pensar em fugir disso seria violar a regra do carma, a lei de causa e efeito, e tal infração nesta vida resultaria em um sofrimento maior na próxima. O destino é a casta. São o que são: escravos.” P. 141.

Udit Raj, um proeminente indiano dalit, uma das raras pessoas que conseguiram “escapar” do apartheid da Índia, também reconhece o papel nefasto do hinduísmo na perpetuação do sistema de castas:

“Os deuses e as deusas hindus deram aos dalits apenas indignidade, fome e escravidão. Recusamo-nos a continuar a aceitar esse código de dominação por mais tempo. Os dalits precisam se libertar das algemas de seu passado de opressão e iniciar um renascimento por meio da educação e conscientização acerca dos direito humanos.” P. 98.

O relativismo cultural entra em colapso diante dessa triste situação. Como os relativistas culturais poderão argumentar em favor da não intervenção e ajuda externa (objetivo desse livro) para minar essa desumana forma de organização social? Se eles forem contra, podemos concluir que são a favor de que milhões de pessoas continuem sendo tratadas como inferiores e sub-humanos? Eles não estão, dessa maneira, apoiando o etnocentrismo das castas “superiores”? Concordo com o André Luiz dos Santos, Ph.D em Antropologia na Universidade de Londres e Professor da Unicamp, quando ele diz:

“Não há razão para querer imortalizar as facetas culturais que resultam da miséria e da opressão.” P. 20. [1]

Não querendo imortalizar as facetas culturais que resultam da miséria e da opressão”, o Matthew Cork, um pastor norte-americano, saiu de sua zona de conforto, e se propôs a fazer algo por esse povo indiano.

“Era hora de deixar para trás tudo o que havia levado comigo, livrar-me de preconceitos e pressupostos, desse complexo de superioridade norte-americano natural, construído em grande parte pela mídia.” P. 27.

Como ele mesmo diz, agora ele tinha uma visão pela qual valeria morrer”. P. 36.   Juntamente com a sua igreja, ele se comprometeu a construir 200 escolas (dentre 1000) para crianças dalits – o futuro e a esperança de um povo tão sofrido.

“As crianças são o futuro. Essas jovens mentes podem absorver novas possibilidades. Estão famintas por conhecimento, abraçam a ideia de que foram feitas de modo incrivelmente maravilhoso e de que há potencial ilimitado além das precárias condições em que vivem.” P. 36.

Páginas a frente ele retoma o papel transformador que as crianças podem ter, caso tenham uma educação emancipadora.

“De algum modo, sabíamos que, se houvesse escolas suficientes e crianças com uma visão de mundo ampla e desperta, talvez o sistema de castas sucumbisse sob o terrível peso do próprio abuso cruel, sendo exposto como realmente é: a escravidão dos dias atuais. P. 119-120.

Um filantropo muito rico que fundou uma escola para crianças dalits, mostra-se esperançoso com os resultados que a educação desses pequeninos pode gerar:

“Nossa intenção é que essas crianças quebrem todas as barreiras sociais. Esperamos que se tornem os líderes empresariais e intelectuais da próxima geração.” P. 133.

Dentro dessa perspectiva e visão, diga-se de passagem, tarefa mui grandiosa e árdua, Cork e sua igreja tiveram a ajuda inestimável de Joseph D’ Souza, um indiano corajoso e cabra macho, que pouco se lixou para a sua casta “superior” e se casou com uma dalit. Vivenciando diariamente a discriminação que sua esposa e todos os dalits sofriam, ele resolveu lutar pela eliminação desse sistema segregador e escravizante. Ele diz:

“O trabalho que estamos realizando tem consequências sociais históricas. As iniciativas terão implicações nacionais para milhões de pessoas da geração emergente. Uma coalização de líderes de várias origens religiosas e políticas se uniram na urgência de erradicar um sistema que massacrou o espírito de todo um povo por centenas e, talvez, milhares de anos. Este é um momento crucial na história da Índia.” P. 33.

Na verdade, muito antes do Cork está envolvido na causa, o D’ Souza já trabalhava há anos pela libertação dos dalits. Esse livro conta-nos como eles se conheceram e sua posterior sociedade para a construção das escolas para as crianças intocáveis. Cork relembra quando foi à primeira vez a Índia, e se deparou com os pequeninos:

“Sabia sobre o tráfico humano e o fato chocante de que essas crianças não eram simples pedintes de rua, e sim propriedades de exploradores que as soltavam atrás de estrangeiros com dinheiro no bolso. Tudo o que elas conseguem obter dos pedestres a caminho de seus afazeres vai diretamente para os cofres do líder da quadrilha. Essas crianças perdidas eram máquinas de fazer dinheiro para seus ‘tutores’.” P. 29.

Essas crianças são vítimas do tráfico humano, estupros e toda sorte de perversidade que homens inescrupulosos, com a ajuda do Estado e da religião hindu, podem perpetrar.

“O mundo precisa entender que a escravidão persiste. Ainda hoje, crianças são compradas e vendidas como bugingangas. Meninas ainda bem pequenas são forçadas a entrar no obscuro e ilícito comércio sexual. Na infância, são forçadas a esmolar nas ruas e levar o que recebem para encher os bolsos de bandidos, que abusam delas à noite.” P. 184.

Ele continua:

“Outras crianças são obrigadas a trabalhar em fábricas por muitas horas, sob intenso calor e metas de produção rígidas, tudo isso em condições precárias, excluindo esses jovens de qualquer possibilidade de educação. As escuras ruas da abarrotada cidade se transformam em um mercado onde adolescentes são oferecidos por dinheiro para satisfazer o furor de seres primitivos e imorais, que sequer pensam no impacto daqueles poucos minutos abjetos sobre aquelas vidas.” P. 184-185.

Diante desse quadro tão assustador e nefasto, Cork é um pastor evangélico que arregaçou as mangas, juntamente com a sua igreja e investiram recursos e mais recursos para ajudar na erradicação do sistema de castas na Índia. Esse livro conta como foi essa aventura, que gerou e tem gerado muitos frutos.

Não são todos os pastores que são corruptos e gananciosos. São de pessoas e igrejas assim, que o mundo precisa. Não importa de que religião ou igreja seja. Contanto que tal religião ou igreja não trabalhem para a alienação humana, a exemplo do Hinduísmo, todas podem e devem lutar pela emancipação e dignidade humana. Coletiva ou individualmente.

REFERÊNCIAS

[1] - SANTOS, José Luiz. O Que é Cultura. 16ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Retorno à Historia do Pensamento Cristão


GONZÁLEZ, Justo. Retorno à história do pensamento cristão. São Paulo: Hagnos, 2011.

Link do livro em PDF:


Justo L. González (Ph.D e Mestrado em Teologia Histórica na Universidade de Yale, EUA) é um dos escritores protestantes que mais admiro e leio. Ele foge do estereótipo fundamentalista-conservador, algo tão comum nos arraiais evangélicos. Algumas de suas obras sobre a história da igreja têm se destacado, por se diferenciar dos livros que sempre apresentam o atlântico norte, como o ápice do Cristianismo. González rompe com isso, e mostra que a pujança da cristandade e o seu eixo, agora se encontram na América do Sul, no oriente e no continente africano e asiático. Eis aí, uma de suas peculiaridades.

O livro a que venho resumir, segundo o próprio autor, é uma nota de rodapé, isto é, um apêndice de sua obra A História do Pensamento Cristão (publicada pela editora Cultura Cristã em três volumes, no Brasil), escrita muitos anos antes, mas que precisou ser revisitada, o que gerou esse retorno a ela. Uma interpretação da primeira obra, onde nesta, ele apenas expôs o que era o consenso entre os acadêmicos sobre os temas apresentados. Dessa vez é o González quem dá as cartas.

Em linhas gerais, foram três, os tipos de Teologia que perpassaram a história do Cristianismo, que são mais bem representadas pelos Teólogos e Pais da Igreja, Tertuliano, Orígenes e Irineu. Teologia do tipo A, B e C, classifica o autor. Mesmo que elementos da Teologia do tipo A estejam na Teologia do tipo C, e características desta, façam parte da Teologia do tipo B, e vice-versa, há peculiaridades que as distingue uma das outras.

Fatores de ordem social, cultural e econômica, logicamente forjaram a estrutura de cada uma dessas teologias, fazendo com que os três Teólogos edificassem suas apologias, escritos e interpretações bíblicas, para responder aos problemas e inquietações que eles se depararam ao logo de seu ministério cristão. Nenhuma dessas construções teológicas surgiram no vácuo, argumenta González.

“Quando nos aproximamos delas [as escrituras], não o fazemos com a mente totalmente em branco para deixar que as Escrituras nos falem. Pelo contrário, estando ou não cientes disso, ao nos aproximar das Escrituras, trazemos conosco toda uma tradição de interpretação escriturística que nos leva a entender o texto bíblico de um modo particular. Em outras palavras, todos lemos a Bíblia através de óculos que nos foram legados por nossa tradição, e da cor de suas lentes depende grande parte do que podemos ou não enxergar nas Escrituras.” P. 16.

O que ele diz aí é muito pertinente. Sempre somos tentados a interpretar os escritos da história, ancorados numa ilusão de que seremos eminentemente objetivos. Não vem a nossa mente, que somos produtos de um tempo histórico específico e, assim, trazemos conosco toda uma tradição de interpretação.

Como aconteceu com Tertualino, Orígenes e Irineu, se repetiu com Lutero, Calvino, Teólogos católicos e etc. Nossa Teologia pretende responder as problemáticas do nosso tempo. E quando vamos aos textos fundantes, nossa leitura sempre estará enviesada pelos nossos óculos construídos e reconstruídos, conforme a situação política, social, econômica e cultural que nos cerca.

Para González, a Teologia do tipo C, de Irineu, é a que mais se aproxima dos ensinos de Jesus e do Novo Testamento. A geografia, o lugar de onde Irineu exerceu o seu pastorado, tem papel importante nisso. 

“Em razão de a Palestina, Antioquia e a Ásia Menor serem terras onde ocorreram muitos dos acontecimentos narrados no Novo Testamento, os cristãos dessa região tinham raízes mais profundas na história do evangelho do que seus correligionários de Alexandria ou Cartago. Para eles, a essência da fé não se encontrava em uma série de verdades imutáveis vindas do céu [Teologia do tipo B], mas em certos acontecimentos que haviam ocorrido ali mesmo e entre as pessoas que tinham lhes legado a fé.” P. 37.

Apesar de Tertuliano e Orígenes depositarem sua fé no mesmo Cristo, suas abordagens, de certa forma serviram para que interesses escusos adentrassem ilegitimamente na práxis e ensinamentos da igreja.  

“Os outros dois tipos de teologia abriram caminho na sociedade greco-romana justamente por interpretar a fé em termos de duas tradições às quais essa sociedade dava alto valor. O tipo A faz uso da lei e da ordem (primeiro da lei romana, e depois da germânica ou sálica, da napoleônica, etc.) como seu ponto de contato com a sociedade e seus valores. O tipo B faz a mesma coisa com a filosofia (primeiro com a platônica, e depois com a aristotélica, a cartesiana, a hegeliaana, a do processo, etc.). Tudo isso implica que os dois primeiros tipos de teologia, ainda que seus expositores não o soubessem ou desejassem, acabaram servindo aos interesses dos poderosos e da elite intelectual. Embora, a princípio, os poderosos e os intelectuais tenham se oposto ao cristianismo, que foi objeto de zombaria por parte dos filósofos e de perseguição por parte dos governantes, quando finalmente o cristianismo se tornou a religião do Império, essas mesmas elites preferiram que ele fosse interpretado em termos da lei ou da filosofia, e não de uma história que resultaria no estabelecimento de uma nova ordem.” P. 104.

Num quadro explicativo, são sintetizadas as características de cada uma dessas teologias.


González interpreta e analisa toda a história do pensamento cristão dentro dessas três perspectivas teológicas. Passando pela Teologia Escolástica, Teologia dos Reformadores, Teologia Liberal, Teologia Fundamentalista, até os dias atuais - ora identificando aspectos da Teologia do tipo A, como a Teologia dominante, considerada a ortodoxa, tanto entre católicos e protestantes; ora identificando a Teologia do tipo B, como uma espécie de contestação aquela. A Teologia do tipo C, relegada a diminutos momentos.

No século XX, mediante as inúmeras teologias que surgem, sobretudo as teologias feministas, da libertação, Concílio do Vaticano II, os escritos de Karl Barth, teologia de Lund na igreja luterana, ocorre uma redescoberta da Teologia do tipo C.

“As diversas teologias da libertação — não somente as latino-americanas, mas também as negras, feministas e outras — orientam-se instintivamente pelas perspectivas do tipo C. Em razão de todas elas terem surgido dentro de contextos de opressão e se nutrirem da esperança de uma nova ordem.” P. 166.

É aí, que González não agradará as alas conservadoras e fundamentalistas do protestantismo e do catolicismo. Ele não se alinha ao conservadorismo tão comum na comunidade evangélica norte-americana e do lado sul da América. Percebe-se em seus livros uma atitude ecumênica e de aproximação com as várias tradições da cristandade.  Nem tampouco ele seria um liberal, ele rejeita, por exemplo, as reformulações existencialistas de Bultman, por estas não fazerem jus ao espírito do Novo Testamento. O aparato liberal não faz parte da teologia defendida pelo González.

“[...] o ‘proposicionalismo’ conservador quanto a ênfase na experiência dos liberais fracassam juntos com o fracasso dos mitos fundamentais da modernidade.” P. 173.

Essa é a visão do Teólogo luterano George Lindbeck, com a qual o autor concorda. E assim, ele rechaça o conservadorismo e o liberalismo teológicos. Ambos são produtos da cosmovisão falida do modernismo.

A Teologia do tipo C, dos primórdios do Cristianismo, propagada por Irineu de Lião, é a abordagem que mais se aproxima dos ensinos de Jesus e dos apóstolos, e com certeza, ela não está mancomunada com o fundamentalismo e liberalismo, pondera González.

Livro recomendado.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Egito Revelado: Cleópatra


A última rainha do Egito. A mulher que conseguiu por quase 20 anos, conter o avanço romano sobre as terras dos faraós. 3000 anos de civilização chegam ao fim com a sua morte. Os encantos, mistérios e legado de um povo, chegam ao seu destino final.

Quase não se tem vestígios arqueológicos sobre Cleópatra, muitos, provavelmente foram destruídos ou desapareceram. Mesmo com toda a limitação que os artefatos e documentos nos impõe - a rainha Cleópatra - hoje tem uma nova história reconstruída pelos estudiosos, que vem desmentir as alegações romanas, altamente difamatórias sobre ela. Quanto a isso, Robert Bianchi, Ph.D pelo Instituto de Belas Artes da Universidade de Nova Iorque, dispara:

“Os romanos deturparam a história de Cleópatra. Fazendo dela, uma prostituta lascíva. Uma sedutora inconsequente, que entrava e saía da cama de qualquer romano que a desejasse.”

Como eu tinha dito no resumo de um documentário anterior que vi há poucos dias, eu também pensava que ela era uma espécie de maníaca sexual, que tinha ido pra cama com toda uma legião de soldados romanos. Quando surge esse tipo de relato fantasioso sobre alguma personagem histórica conhecida, somos propensos a acreditar logo de cara, acriticamente, sem questionar. O assunto envolvendo sexo chama logo a nossa atenção. E se for referente à difamação de alguém, aí é que damos crédito a esses tipos de estórias. Não que ela não pudesse ser uma mulher louca pela coisa, mas o respeito pelos dados históricos deve prevalecer.

Na contramão do que os romanos disseram acerca dela, o renomado Arqueólogo Zahi Hawass (Ph.D e Mestre em Egiptologia na Universidade da Pensilvânia, EUA) é só elogios a rainha:

“A vida de Cleópatra é um mistério. Mas ela foi uma rainha mágica. Sua beleza conquistou o coração dos dois homens mais poderosos da Terra.”

Cleópatra foi à última rainha da dinastia dos ptolomeus. Foram cerca de 300 anos que essa família governou o Egito. No início de seu reinado, Cleópatra aliou-se ao homem mais poderoso de Roma, Júlio César e teve um filho com ele, Cesário. Seu reinado foi na cidade de Alexandria, o centro intelectual do mundo naquela época, que abrigava em sua famosa biblioteca, mais de 700 mil pergaminhos sobre as mais diversas áreas do conhecimento. Era o centro mundial da difusão do saber.

“A biblioteca de Alexandria era o coração do mundo de Cleópatra. [...] ela [a biblioteca] teria abrigado mais de 700 mil pergaminhos. Gerações de ancestrais de Cleópatra foram implacáveis na ambição de transformar a cidade em um centro internacional de ensino e conhecimento.”

Cleópatra tinha uma mente sagaz, mostrando-se muito competente no nível intelectual. Era poliglota. De origem helenista, ela soube fundir a cultura do Egito e a grega. Ela que não era nada besta, tratou logo de assimilar a religião egípcia, declarando-se deusa do Egito. Mais uma vez destaco aqui as palavras de Hawass:

“Ela possuía tanta cultura para ser rainha do Egito, porque viveu na cidade mais sofisticada e maravilhosa do mundo, naquela época.”

A derradeira rainha do Egito sempre foi tema de livros, filmes e muitos documentários. E ainda muitos virão. Independente dos poucos vestígios documentais que temos sobre os seus feitos, ela já virou um mito. Ela é um ícone. Cleópatra faz parte da cultura pop.

Não obstante, ser muito difícil aparecer mais vestígios arqueológicos sobre ela, devemos torcer para que algo novo surja, seja das areias, templos, palácios ou algum pergaminho, e lance mais luz sobre o seu reinado e pessoa.