HAM, Ken. Criacionismo: Verdade ou Mito? Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
Livro produzido pela
instituição norte-americana Respostas em Gênesis, que tem por finalidade provar
que a Teoria da Evolução não tem nenhum poder epistêmico para explicar a vida
biológica, colocando em seu lugar o Criacionismo Bíblico da Terra Jovem.
Coitados!
Se a Teoria da Evolução
não estiver correta, não será a concepção imaginativa patrocinada por esse
livro que irá substituí-la.
O pior é que os autores
são Cientistas, ora com Doutorado, ora com Mestrado. Isso só prova uma coisa:
titulação acadêmica, embora tenha o seu devido e reconhecido valor, não imuniza
ninguém, contra idéias tolas.
Os escritores dessa obra
juram que o universo, os seres humanos, os animais, plantas, bactérias, vírus
etc., têm apenas 6 mil anos de existência. É uma saraivada de besteira em quase
todas as páginas.
A capa parece daqueles
livros infantis, cheios de ilustrações coloridas para entreter as crianças.
Seria até melhor que assim o fosse.
Mas estou com eles num
ponto: na crença de que existe um Deus que criou toda essa bagaça aqui. E
algumas pouquíssimas coisas que escreveram são válidas.
Ken Ham, Bacharel em
Ciência Aplicada pelo Instituto de Tecnologia de Queensland, na Austrália, e
Jason Lisle, Ph.D em Astrofísica na Universidade do Colorado, EUA, perguntam:
“De todo modo, é lógico
aceitar a existência de um Ser eterno? Será que a ciência moderna, que produziu
nossa tecnologia de computadores, o ônibus espacial e os avanços médicos, pode
sequer levar em conta essa noção?” P. 11.
Acredito que pode.
Uma das questões que
mais os inimigos de Darwin têm trazido para o debate público é o problema da
perda de informação genética nas mutações. Lee Spetner, Ph.D em
Biofísica pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, é chamado a falar:
“Não foi observada nem uma
única mutação [uma das molas propulsoras da evolução] que acrescente um pouco
de informação ao genoma. Isso, com certeza, mostra que não existem as milhões
sobre milhões de mutações potenciais que a teoria exige. Pode bem não haver
nenhuma mutação. O fracasso em observar até uma mutação que acrescente
informação é mais apenas o fracasso em encontrar sustentação para a teoria; é
uma evidência contra a teoria. Temos, aqui, um sério desafio para a teoria
neodarwinista.” P. 19.
Werner Gitt, especialista
em Teoria da Informação e Diretor do Instituto Federal e Tecnologia em
Brunsvique, Alemanha, também é outro que toca nesse ponto:
“Essa noção é central nas
representações de evolução, mas as mutações só podem causar mudanças em
informação existente. Não pode haver multiplicação na informação, e os
resultados, em geral, são prejudiciais. Não podem surgir novos códigos, para
novas funções nem novos órgãos; as mutações não podem ser a fonte de nova
informação (criativa).” P. 19.
Se nos
processos de mutação, necessariamente se perde informação genética, como é
possível acontecer à transformação de uma espécie mais simples (em termos genéticos)
para uma mais complexa? Parece que deve haver mais informação! Não obstante, é
exatamente a via oposta o que ocorre nos processos mutacionais, sendo estes
benéficos ou perniciosos.
Não sou Biólogo, na verdade, sou bem LEIGO, mas
essa questão parece ser bem intrigante. Em conversa com o Filósofo Marcus
Valério, conhecido por sua intrépida e bem sucedida defesa da evolução, ele me
disse que esse papo de “origem e aumento da informação” é pura bobagem
criacionista, se constituindo em seu “quinto estágio de desenvolvimento” na
guerra contra a Teoria da Evolução.
Terry
Mortenson, Ph.D em História da Geologia na Conventry University, Reino Unido,
revela uma das crenças chaves do criacionismo defendido no livro:
“[...]
informações cronológicas da Bíblia deixam evidente que a semana da criação
aconteceu há cerca de apenas 6.000.” P.
32-33.
Pois é, até pessoas com
formação acadêmica acreditam que a Terra e o Universo têm apenas 6 mil anos de
existência. Esse tipo de declaração só atrapalha a relação entre Ciência e
religião. O pressuposto fundamental desses criacionistas é que se a Bíblia é um
livro inspirado pelo próprio Deus, então todo o empreendimento científico deve
estar submetido a ela. Se a Ciência moderna entra em conflito com a
interpretação que eles têm do Gênesis, é claro que essa “ciência” não é Ciência
coisa alguma, mas erros de homens que estão comprometidos com falsas
pressuposições.
Sobre a biogênese, um
dos autores, Jason Lisle, Ph.D em
Astrofísica na Universidade do Colorado, EUA, escreve:
“Há uma lei da vida bem
conhecida: a lei da biogênese. Essa lei simplesmente afirma que a vida sempre
vem da vida. É isso que a ciência observacional nos diz; os organismos
reproduzem outros organismos segundo sua própria espécie. Historicamente, Louis
Pasteur refutou uma forma de geração espontânea; ele demonstrou que a vida vem
da vida anterior. Desde essa época, percebemos que essa lei é universal - e não
conhecemos nenhuma exceção a ela. Claro que isso é exatamente o que esperaríamos da Bíblia. De acordo com
Gênesis 1, Deus criou de forma sobrenatural os primeiros tipos diversos de vida
sobre a Terra e os fez produzir segundo sua espécie. Perceba que a evolução de
moléculas para o homem viola a lei da biogênese. Os evolucionistas acreditam
que a vida foi formada (pelo menos, uma vez) de forma espontânea a partir de
matéria química nao-viva". P. 44.
Ele comete alguns
equívocos bem evidentes. A lei da biogênese diz apenas que vida física só pode
ser gerada por outra vida FÍSICA. Sendo assim, pelo menos a princípio, ela contraria
tanto o criacionista, como o evolucionista. O próprio Lisle diz "que essa lei é
universal - e [que] não conhecemos nenhuma exceção a ela". Mas logo em seguida, ele afirma uma exceção à mesma: Deus, um ser
espiritual e, portanto, não físico, criou todas as formas de vida. Portanto,
esse argumento precisa ser reformulado. Outros elementos científicos, e uma boa
injeção de filosofia são precisos para que o argumento dele seja válido,
consistente e coerente. Por enquanto, sua conclusão não se segue das premissas.
Lisle costuma sempre
invocar as Leis da Lógica em suas investidas contra o ateísmo.
"É possível imaginar
um universo no qual as leis da física sejam diferentes; mas é difícil imaginar
um universo (consistente) no qual as leis da matemática sejam diferentes. As
leis da matemática são um exemplo de 'verdade transcendente'. [...] Todas as
leis da natureza, da física e da química à lei da biogênese, dependem das leis
da lógica. As leis da lógica, como as da matemática, são verdades
transcendentes. Não se pode imaginar que as leis da lógica poderiam ser algo distinto
do que são. [...] Sem as leis da lógica, o raciocínio seria impossível. P. 48, 49.
Agora esse infeliz
acertou. Os filhotes de Foucault só faltam ter um infarto, quando ouvem isso.
Que tenham.
Lisle em seguida
pergunta:
"Mas de onde vem as
leis da lógica? O ateísta nao pode explicar as leis da lógica, embora possa
aceitar que existam a fim de ter algum pensamento racional." P. 49.
Num mundo estritamente
material, como as leis da lógica, que são imateriais poderiam existir?
Monty White, Ph.D em
Química na Universidade de Aberystwyth, Reino Unido, trás o repetido, porém,
relevante problema dos fósseis:
"Não
se pode exagerar o fato de que há muitos locais no registro fóssil em que se
poderia esperar que encontrássemos essa abundância de formas intermediárias -
porém, elas não estão lá. Todos os evolucionistas sempre apontam um punhado de
formas transicionais altamente questionáveis (por exemplo, equinos), ao passo
que deveriam ser capazes de nos mostrar milhares de exemplos
incontestáveis". P. 306.
Geralmente
os evolucionistas quando ouvem que o registro fóssil é uma evidência contrária
a evolução gradualista, dizem que os criacionistas estão sendo desonestos, pois
já foram encontrados vários fósseis intermediários. Entretanto, o evolucionista
Eugene Koonin, Ph.D em Biologia Molecular na Universidade Estadual de Moscou,
Rússia, estaria sendo desonesto quando fez está afirmação?
“As principais transições em evolução biológica mostram o
mesmo padrão de súbita emergência de diversas formas em um novo nível de
complexidade. As relações entre os principais grupos dentro de uma nova classe
de entidades biológicas emergentes são difíceis de decifrar e não parecem
encaixar no padrão de árvore que seguindo a proposta original de Darwin,
permanece a descrição dominante da evolução biológica. Os casos em questão
incluem a origem das moléculas complexas de RNA e os desdobramentos das
proteínas; os principais grupos de vírus; árquea e bactéria; e as principais
linhagens dentro de cada desses domínios procarióticos; os supergrupos
eucarióticos; e os filos animais. Em cada uma dessas conexões importantes na
história da vida, os ‘tipos’ principais parecem surgir RAPIDAMENTE e PLENAMENTE
equipados com as características de assinatura do respectivo novo nível de
organização biológica. ‘GRAUS’ ou FORMAS INTERMEDIÁRIAS DIFERENTES ENTRE OS
TIPOS NÃO SÃO DETECTÁVEIS”. (Ênfase
acrescentada). P. 87-88.
(MAGALHÃES, Francisco Mário Lima. Design Inteligente: A Metodologia de
Convergências das Ciências Sob a Ótica da Criação. São Paulo: Reflexão, 2014).
Bodie Hodge, Mestre e
Bacharel em Engenharia Mecânica na Universidade do Sul de Illinois, a exemplo
de Lisle, fala sobre o pepino que os ateus têm diante da imaterialidade das
Leis da Lógica.
“[...] a lógica não
é uma entidade material, por isso ela se torna um problema para o ateísta materialista que nega o reino imaterial. De
uma perspectiva materialista, o pensamento lógico é a mesma coisa que o
pensamento ilógico – apenas uma reação química que ocorre dentro no cérebro.
Assim, de um ponto de vista materialista, a percepção da lógica deve-se a um
processo aleatório. [...] em uma visão de mundo puramente materialista, não há
base para existir lógica nem verdade, uma vez que elas são imateriais”. P. 217.
É isso mesmo! Como disse
no início, estou com eles na crença de que existe um Deus. Um ser superior que
trouxe tudo à existência: o cosmos e a vida biológica. Algumas objeções que
eles lançaram contra a Teoria da Evolução, acho que são válidas. Mas a avalanche
de besteiras que escrevem, é de espantar!
Repetindo o que escrevi
lá em cima, aqui vai uma lista básica do que ensinam:
Universo – surge há 6
mil anos;
Humanidade – surgiu há 6
mil anos;
Todos os animais e
plantas - surgiu há 6 mil anos;
Homens e dinossauros -
foram contemporâneos;
Idiomas – surgem de uma
hora pra outra na Torre de Babel;
Dilúvio de Noé – explica
toda geologia do planeta.
Para defender todos
esses pontos fazem uma mistura descarada e cara de pau de suposta ciência e teologia.
Quando convém, usam a ciência, quando ela não pode lhes ser útil, invocam a
Deus, e assim, vão construindo o seu “criacionismo científico”. Dessa maneira,
convencem os incautos de suas igrejas.
Felizmente, grandes
mentes cristãs protestantes, entre Teólogos, pastores, Filósofos e
Historiadores, discordam veementemente deles.
Fiquei impressionado com
esse trecho:
“O
ministério Answers in Genesis (AiG [Respostas em Gênesis]) afirma continuamente
que alguém pode ser cristão independentemente de sua posição em relação à idade
da Terra ou evolução. Todavia, esses cristãos, como a AiG também indica, não
estão sendo coerentes.” P. 212.
Um
mínimo de bom senso pelo menos. Tiveram a decência de não condenar ao inferno,
quem discorda deles. Ate quem é evolucionista pode ser cristão.
Um
criacionista vendo essa postagem pode disparar: “Você
ainda não refutou com provas nenhuma afirmação que os autores fazem nesse
livro.” Respondo:
E precisa? Eles não mostraram absolutamente nenhuma evidência concreta, apenas
especulações fantasiosas. Até cristãos conservadores, como Norman Geisler,
William Lane, Hugh Ross, Bruce Waltke, Timothy Keller, entre outros, já
escreveram livros e artigos refutando-os. Boa retórica não prova nada.
Respondendo a pergunta que o título faz:
O criacionismo é verdade ou mito?
O criacionismo defendido pelo Ham e seus coleguinhas é MITO.