sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O que é Etnocentrismo


ROCHA, Everaldo P. Guimarães. O que é Etnocentrismo. 5ª edição.São Paulo: Brasiliense, 1994. 

Link do livro:


Etnocentrismo!

Alunos dos cursos de História, Sociologia, Antropologia e demais áreas das Ciências Humanas, com certeza já se depararam com esse termo. Ele é sempre mencionado como algo ruim, tirânico, ditatorial, desaconselhável, inapropriado e, que, portanto, deve ser evitado pelos discentes, em suas práticas e análises acadêmicas e, até mesmo em suas vidas. Ser etnocêntrico, dirão os Professores, não é legal. É mostrar-se incompreensivo; é mostrar-se imaturo; é mostrar-se preconceituoso; é mostrar-se opressor; é mostrar-se infantil; é mostrar-se prepotente; é mostrar-se autoritário; é mostrar-se dono da razão; é não olhar o “outro” em seus próprios termos.

Mas que ideia/imagem/noção/abstração/entendimento/conceito essa palavra carrega para ser tão rechaçada nos departamentos de humanas? Para responder o que é Etnocentrismo, Everardo P. Guimarães Rocha (Ph.D e Mestre em Antropologia Social do Museu Nacional da UFRJ, e Professor do Departamento de Comunicação Social da PUC/RJ) escreveu esse pequeno livro para a famosa e consagrada série Coleção Primeiros Passos, da editora Brasiliense.

O Etnocentrismo carrega em seu seio, o ponto de vista de que o grupo do “eu” tem valores culturais, sociais, espirituais, religiosos e políticos, melhores que o “outro” grupo. O “outro” é visto com desconfiança; o “outro” é inferior; o “outro” precisa civilizar-se. O “nós” alcançou um status moral elevado e, assim, tem o direito e dever de moralizar o “eles”.  O “outro” precisa aprender com o “nosso” grupo, civilização, povo... Eles carecem de bons modos, de educação.

“No mais das vezes, o etnocentrismo implica uma apreensão do ‘outro’ que se reveste de uma forma bastante violenta. Como já vimos, pode colocá-lo como ‘primitivo’, como ‘algo a ser destruído’, como ‘atraso ao desenvolvimento’, (fórmula, aliás, muito comum e de uso geral no etnocídio, na matança dos índios).” P. 7.

Exemplos clássicos do que seria Etnocentrismo, nos são explicados pelos Antropólogos, que vão viver em lugares remotos, entre povos que possuem uma visão de mundo bastante distinta da nossa. Como eles passam a viver no universo dessas culturas, acabam tendo um olhar mais compreensivo e sem os preconceitos costumeiros, que geralmente nós manifestamos, quando ficamos diante de um costume, hábito ou práxis, que não nos agrada, por não termos aprendido em nossa sociedade e cultura, a agir da maneira que um determinado povo, age, vê o mundo, a vida, deus ou deuses, e as relações interpessoais.

“Ao ‘outro’ negamos aquele mínimo de autonomia necessária para falar de si mesmo.” P. 7.

Acabamos sendo injustos ao analisar uma cultura, segundo nossos padrões de certo e errado. Como a moralidade é relativa, volúvel e arbitrária, não há razão, para nos colocarmos como os donos da verdade absoluta sobre o que um povo, com um legado histórico-social diferente, deve ou não fazer. Eles têm a sua própria moralidade, lógica e racionalidade interna. Não precisam que nós lhes ensinemos como proceder, diante dessa ou daquela situação.

Nesse caso, diante das centenas de estudos etnográficos, históricos e sociológicos, podemos e devemos superar o Etnocentrismo.

“Entender alguns movimentos deste jogo é acompanhar a superação do etnocentrismo na arena do intelecto e da razão e na arena da emoção e do sentimento.” P. 10.

“[...] conhecer a diferença, não como ameaça a ser destruída, mas como alternativa a ser preservada, seria uma grande contribuição ao patrimônio de esperanças da humanidade.” P. 30.

Relativizando o que o autor diz

Numa leitura rápida, apressada e sem análise crítica, a defesa que o Rocha faz da relativização como meio de não julgarmos o “outro” e abandonarmos o Etnocentrismo, é muito bonita e coerente, e parece dignificar o ser humano e as diversas culturas e povos. Mas o tiro pode sair pela culatra.

Concordo com autor que devemos dar voz ao “diferente”. É uma virtude tentarmos entender e compreender, e não julgarmos de forma negativa uma cultura, pelo singelo fato dela parecer  estranha aos nossos olhos. Devemos relativizar muitas de nossas práticas, tomando consciência de que elas são apenas o resultado de várias contingências históricas e sociais que foram se sobrepondo ao longo dos anos e séculos. Aquilo que nós pensamos ser algo inscrito na natureza, nada mais é que o fruto de decisões subjetivas, que atenderam a necessidades locais.

Mas o meu problema com o Rocha, é que ele parece defender a ideia pós-moderna de um relativismo cultural exagerado. O que é facilmente desmascarado como autocontraditório. Ele aceita que relativizemos o que ele diz sobre isso? Ele não estaria sendo Etnocêntrico ao rechaçar o pensamento das pessoas que julgam negativamente a cultura e sociedade de um determinado país, por não estarem em harmonia com os seus valores? Por que a ideia de não julgar nada e nem ninguém deve ter precedência sobre a visão de que se deve julgar os “outros” de acordo com o padrão de certo e errado do “eu” ou dos “nossos”? Certamente a ideia de relativismo cultural, tão aclamada por ele, é contingente e condicionada também! Ou ela estaria inscrita na natureza?

Rocha teria coragem de abrir a boca e dizer que os que discordam dele, estão errados?  E por que estariam? Segundo as premissas adotadas por ele, como sair desse labirinto? Labirinto construído por ele mesmo, e que agora ele não sabe o caminho de volta. 

Chega a ser tão incoerente o que ele fala nesse livro em sua maior parte, que fico abismado, pensando em como ele não percebe as contradições inerentes ao seu sistema de pensamento. Num determinado trecho ele diz:

“Nas relações internacionais, interétnicas, nos costumes políticos, na indústria cultural, sua exploração econômica e até mesmo na observação do comportamento do nosso vizinho ou em vários outros espaços de pensamento e de ação social, muito pouco se relativiza.” P. 37.

Segundo os pressupostos aderidos/professados por ele em todo livro, fica a impressão de que nenhum aspecto de um dado povoado ou tribo deve ser julgado como errado, mas apenas “diferente”. Devemos relativizar sempre. Nessa citação acima, ele vai além, devemos relativizar até mesmo, hábitos e práticas de nossos vizinhos. Se for assim, por que ele vê como algo errado, aqueles que julgam uma cultura como inferior? Ele está disposto a relativizar a sua observação do comportamento do seu vizinho, que afirma com veemência, que a Índia, por exemplo, é um país atrasado espiritualmente? De acordo com os critérios que ele adota, ele deve responder afirmativamente, para manter um mínimo de “coerência” com o que prega e acredita. Entretanto, de qualquer forma, se o fizer, o seu discurso acabará se esvaindo.  

Em complemento, basta dá uma olhada em minha postagem sobre o livro O Básico da Filosofia, neste link:

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Bruna Surfistinha


Quem nunca procurou uma mulher da vida para despejar o esperma acumulado? Quem nunca procurou uma puta para aliviar a tensão do seu pinto nervoso? Quem nunca procurou uma prostituta para lhe fazer, o que suas namoradas e esposas não fazem? Quem nunca foi atrás de uma garota de programa, procurando um sexo oral, um sexo anal, uma fantasia, que suas parceiras nem imaginam realizar? Quem nunca foi, que atire a primeira pedra! Pois bem, eu nunca fui! Eu posso atirar essa pedra! Nunca procurei. Mas falo isso, sem moralismo hipócrita! Sem puritanismo besta, fundamentado numa moral religiosa. Quem quer esse tipo de entretenimento, que o busque. Quanto a mim, é dinheiro demais. Tô fora. Rsrs.

Em 2006, quando trabalhava em um colégio, nas duas horas de almoço que tinha, sempre ia a uma livraria de um shopping perto. Pegava um livro, sentava numa poltrona que eu julgava que já era minha, e ficava lendo ele. Comecei a observar que sempre tinham umas meninas de uma outra escola próxima, lendo um livro de capa preta. Elas tinham um interesse enorme, folheando aquelas páginas, que até então eram um mistério para mim. Dias depois, fiquei sabendo do que se tratava aquele livro misterioso. Eram relatos de uma garota de programa. Raquel Pacheco tinha lançado a sua “obra-prima”, O Doce Veneno do Escorpião. Suas experiências sexuais, com o seu exército de clientes tarados. Tava explicado o porquê do interesse daquelas jovens de 16, 17 anos, em ler com tanta avidez aquelas páginas repletas de putaria.

Li quase todo O Doce Veneno do Escorpião. Li de cabo a rabo, o segundo livro, O que Aprendi com a Bruna Surfistinha, uma mera repetição do primeiro. Apenas relatos do que ela fez na cama com os seus clientes. Meus amigos da Faculdade, que tinham uma certa admiração por mim, até me perguntaram, como eu podia ler uma literatura de um nível tão “baixo”. Mas nem tinha e nem tenho besteira com isso. 

Finalmente, chego ao filme. Fim de noite, procurando um filme na Netflix, encontro essa “pérola” do cinema nacional.

Raquel, filha adotiva, não aguenta mais aquela vidinha “sem graça”. No auge dos seus 17 anos de idade, resolve sair de casa e trabalhar abrindo as pernas. Inicialmente vai para um muquifo de quinta categoria. Em pouco tempo, passa a ser a garota mais requisitada do local. Para atrair clientes, ela “faz tudo”. Aí já viu, né?! Vira a princesinha do local. Alçando vôos mais altos no mundo da safadeza, ela resolve trabalhar sozinha, começa a escrever em um blog, e assim, consegue uma miríade de clientes ávidos em comê-la. Sucesso garantido. Muito sexo, bebidas e drogas. Estas, quase acabam com a sua vida. Muita cocaína consumida. Mas ela consegue superar.

Débora Secco está linda no papel da Bruna. Seios lindos. Bundinha linda. Ótima interpretação.



Temos milhares de “Brunas” nesse Brasil a fora. Milhares de histórias. Muitas, apenas querem sobreviver. Outras querem uma vida de luxo, porém, não terão como ostentar uma vida de festas, viagens, roupas caras e bens materiais, num emprego, ganhando apenas um salário mínimo, ou um pouco mais que isso por mês. Aí, o jeito é dá a b..., o c...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Um Sonho Possível


Um jovem negro, de 17 anos, nascido na periferia de Memphis, no Tennessee, não conhece o pai, a sua mãe é uma drogada, não a vê há muito tempo, não tem casa, não tem familiares, possui apenas duas camisetas para se vestir. Essa é a triste realidade de Michael Oher (Big Mike).

Sua sorte começa a mudar como por um milagre, quando um colégio cristão de alto nível resolve aceitá-lo no seu quadro de alunos. Big Mike passa a estudar nessa escola de pessoas ricas e abastadas da cidade de Memphis, e assim, passa a vivenciar uma outra realidade. Porem, não consegue se adaptar aos estudos, porque não teve uma educação adequada e situação social e familiar favorável.

Um casal, que têm dois filhos estudando na mesma escola que o Mike, resolve adotá-lo, e a vida dele começa a mudar.

Um Sonho Possível é um filme baseado numa história real, que consegue nos passar a linda  mensagem de que é possível sermos altruístas, amorosos e misericordiosos. Uma história que impressiona.

Imaginar que um casal rico, possa levar um desconhecido para dentro de sua casa, parece ser uma história bem surreal. Junte-se a isso, o fato desse desconhecido ser um negro, num Estado, com um histórico de racismo bastante acentuado, como o Tennessee. Mas essa história aconteceu de fato há não muitos anos. E Mike, felizmente, não fez parte das trágicas estatísticas de negros mortos ou presos, na cidade de Memphis, que por sinal, é uma das cidades mais violentas dos EUA.      

Sandra Bullock arrasa no papel da mãe adotiva do Mike. O que lhe rendeu um Oscar. O ator mirim Jae Head, também detona no papel de “irmão” do Mike.  

Um Sonho Possível é mais uma obra cinematográfica que vem se juntar as dezenas de ótimos filmes, que vem nos inspirar a sermos pessoas melhores, mais amorosas, mais humildes... Virtudes estas, que têm faltado a muitos. Inclusive a mim.  

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Amistad


Em um navio negreiro ilegal, negros de Serra Leoa, conseguem escapar dos grilhões e matar os tripulantes. Dois destes são mantidos vivos, para que possam ajuda-los a voltarem para a África. No entanto, os planos são frustrados, e eles acabam sendo presos nos EUA.

Começa-se uma batalha no tribunal para saber com quem ficarão essas pobres almas condenadas à servidão. Pessoas vêm de todos os lados reivindicando o direito à posse desses cativos. A rainha da Espanha, Isabella II, uma pirralha de 12 anos de idade, manda o seu recado do outro lado do oceano, para ferrar com os negros, mas ninguém leva muito em conta o que ela diz. A bichinha ainda nem tirou a cantiga do mijo.

Felizmente, um abolicionista, juntamente com o seu amigo e empregado negro (Morgan Freeman) e um advogado, frustram pelo menos a nível estadual, a pretensão de certos escravistas de possuírem esses africanos. E olha que o poder executivo interferiu de modo desonesto no poder judiciário, mudando o juiz, quando os abolicionistas estavam se saindo melhor nos argumentos. Fizeram isso por temerem uma guerra civil. O seu fantasma já rondava o novo mundo no final da década 1830.

Devido a conchavos políticos, o caso vai parar na suprema corte, e o ex-Presidente dos EUA e Advogado, John Adams Quincy, convence o tribunal, de que os negros do navio espanhol Amistad, não são escravos, portanto, não são bens e propriedades de ninguém, e assim, devem ser soltos.

Amistad é um filme longo, e até cansativo em alguns momentos. Mas vale muito a pena gastar às duas horas e meia, assistindo-o. É mais uma obra do cinema que volta ao passado, para nos lembrar do quanto à escravidão é algo imoral. São assustadoras algumas cenas do filme, quando, por exemplo, mulheres e homens são acorrentados uns aos outros e jogados em alto mar, sem chance alguma de sobrevivência. Isso às vezes era feito, para que o navio não fosse acusado de estar traficando ilegalmente, visto que os navios britânicos estavam sempre patrulhando os mares, para conter o tráfico de escravos.

“É nosso destino como abolicionistas e cristãos, salvar esta gente. Eles são gente, não gado” (Sr. Tappan, abolicionista)

Pena que os cristãos da época não pensavam assim. Legitimavam de todas as formas, inclusive usando a Bíblia para provar que os “de cor” deviam ser escravizados. Ah o amor cristão... Católicos e protestantes juntos no comércio e tortura de pessoas.

Em sua brilhante fala perante a suprema corte, John Quincy Adams (Anthony Hopkins) menciona a Declaração de Independência dos EUA, que diz que “todos os homens são iguais” e que todos têm “direitos inalienáveis”. Eis aí, a hipocrisia, safadeza e incoerência da política e sociedade norte-americana durante o nefasto período da escravidão e segregação. 

"Considerando estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade." P. 9. 

Jogaram a Declaração no lixo. E ainda tinham a cara de pau de mantê-la exposta em seus tribunais, repartições públicas... Vai ver que eles tinham uma definição bem peculiar do que seria “homem”. Nesse caso, o negro não preenchia os requisitos necessários para ser considerado um ser humano, com plenos “direitos inalienáveis”.

Hoje, aqui mesmo no Brasil, existem vários tipos de escravidão, opressão e injustiças. E assim como a sociedade branca de tempos passados, fingimos que as coisas naturalmente devem ser assim, porque sempre foram. Uns sofrem bastante, para que outros sejam felizes. Pensando dessa forma, convenientemente nos inocentamos e nos isentamos de nossas responsabilidades como seres humanos. Nada ou quase nada de empatia e misericórdia para com os que sofrem.  

REFERÊNCIAS

JEFFERSON, Thomas. Declaração de Independência. In: CONSTITUIÇÃO dos Estados Unidos da América e Declaração de Independência. São Paulo: Jalovi, 1987.

Histórias Cruzadas


“Ninguém pode exigir que qualquer mulher branca atenda em ala ou quarto em que homens negros estejam internados. Livros não poderão ser trocados entre escolas de brancos e de negros, e deverão continuar sendo usados pela raça que os usou primeiro. Barbeiros de cor não poderão atender a mulheres e meninas brancas.” (Mississipi – Leis de Conduta)

Um grande e comovente filme, que traz a infeliz história do racismo, na década de 1960 nos EUA. A história se passa na cidade de Jackson, interior do Mississipi, um dos Estados mais racistas da América.

As empregadas domésticas "de cor" são as protagonistas. Elas criam os filhos e filhas das senhoras brancas, educam, dão conselhos, limpam as suas bundas, etc., para depois essas mesmas crianças crescerem, perderem a pureza e inocência, virarem patrões, e finalmente, perpetuar o racismo, preconceito e discriminação ensinados pelos seus pais e sociedade.

O absurdo das humilhações que as negras sofrem nas casas dos brancos são tão grandes, que uma das peruas brancas resolve criar um projeto de lei, para que as domésticas tenham um banheiro separado para fazer as suas necessidades. O motivo: os negros têm doenças diferentes das pessoas brancas. Suas doenças são piores. Eles precisam mijar e cagar em suas próprias privadas. O lema da época era “iguais, mas separados”.

A cena é a seguinte, a gostosinha branca mais racista da trama está com vontade de cagar ou mijar (o filme não diz o que é). Mas ela se recusa a usar o banheiro da casa de sua amiga, porque a exemplo de sua casa, ali também a empregada negra usa o mesmo banheiro.

Aibileen: - Hilly, eu gostaria que você usasse o banheiro.

 Hilly: - Estou bem.

Mãe da Hilly: - Ela só está chateada porque a negra usa o banheiro social e nós também.

Hilly diz a Aibileen: - Não prefere que eles façam as necessidades lá fora? [...] cada centavo gasto com um banheiro para negros será recuperado quando a casa for vendida. É perigoso. Eles têm doenças diferentes de nós.

Histórias cruzadas também tem como protagonista,  uma linda jovem branca, que não se encaixa nos estereótipos e obrigações sociais que a sua cidade impõe. Ela resolve escrever um livro sobre o drama e experiências das domésticas da cidade. Inicialmente duas começam a relatar as suas histórias e depois conseguem angariar mais voluntárias para a composição do livro. Tudo é feito às escondidas, visto que se a cidade souber que uma obra que denuncia os abusos e humilhações que empregadas domésticas vivem diariamente, por anos a fio, está sendo escrita pelas negras residentes de Jackson, a coisa vai ficar feia para o lado delas.

O livro é finalmente publicado, com muitos exemplares vendidos. Mesmo que a situação de humilhação ainda se perpetue por muitos anos, foi um grande passo dado para emancipação dos negros no Mississipi.

Dezenas de anos depois do movimento pelos direitos civis, como será que está essa absurda e delicada questão do racismo no Mississipi, principalmente no interior? Como é a relação entre brancos e negros? A situação financeira dos afrodescendentes melhorou desde então? Ou esse Estado ainda carrega os resquícios da segregação? Para responder algumas dessas perguntas, basta dá uma olhada nessas matérias:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u449367.shtml

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/07/casal-negro-americano-tem-casamento-negado-por-racismo.html

Quanto ao segundo link, ele começa dizendo:

“Um casal do Mississippi, sudeste dos EUA, sofreu um duro golpe quando o pastor da igreja que frequentavam comunicou que o casamento não poderia ser celebrado no local por serem negros, informou o canal ABC.”

“Ele [o pastor] afirmou que vários integrantes brancos da congregação foram contrários, de forma violenta, à celebração do casamento de Charles y Te'Andrea Wilson. Alguns o ameaçaram de demissão.”

Ah, o amor cristão...

Link do filme:

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Área de Caça


Fiquei chocado com o conteúdo desse extraordinário documentário, que denuncia a política de acobertamento de milhares de estupros que acontecem nas universidades norte-americanas, e os diretores, supervisores, professores e reitores dessas instituições nada fazem para punir os estupradores.

As universidades que imaginarmos são cúmplices das agressões que as suas alunas sofrem em seus apartamentos e casas, dentro do campus. As universidades de Harvard, Princeton, Brandeis, Washington, Tulsa, Carolina do Norte, Oregon, Notre Dame, MIT, Miami, Yale, Califórnia, John Hopkins, e dezenas e dezenas delas, estão envolvidas nesse jogo sujo, de não denunciar os alunos que comem suas colegas a força.

Uma das centenas de meninas que foram violadas sexualmente traz a sua história:

“No meu segundo ano, logo após o recesso da páscoa, uma grande amiga minha disse: ‘Você que ir a esta festa hoje?’, e já era bem tarde da noite. Eu comecei a dançar com um rapaz. Ele era bem atraente e um dançarino muito, muito bom e uma pessoa muito legal. Pelo menos, eu achei que era. Tudo aconteceu muito rápido. Na verdade, eu era virgem, então isso torna a situação pior, mas ele começou a me puxar em direção ao banheiro. Ele agarrou a minha cabeça na lateral da minha orelha e a golpeou contra o piso do banheiro. E não parou. Eu não podia me mexer. Eu podia ouvir as risadas do lado de fora da porta. Eu podia ouvir as pessoas dançando. E aquilo me fez perguntar, por que ninguém me vê? Por que ninguém vem ao banheiro? Por que eu não estou gritando?”

Ela continua:

“Quando você está apavorada e não sabe o que está se passando com você, você simplesmente fica ali e espera que não morra. E era isso que eu estava esperando, que eu tivesse mais que 20 anos para viver.”

A maioria dos casos acontece nas festas promovidas pelos alunos e fraternidades. São farras regadas a muita bebida alcoólica e drogas também. Talvez alguns possam querer amenizar a situação, afirmando que meninas decentes não deveriam estar nessas festas. Entretanto, essas meninas vão a estes lugares para se divertirem e não para transarem contra a sua vontade.  Mulher nenhuma pode ter a sua integridade íntima violada por estar bêbada. Caso em que muitas dessas meninas não estavam.

E não surpreende o fato, de que até homens também estão na lista. Claro que são pouquíssimos em relação ao número de mulheres, mas tiveram a sua dignidade destruída por maníacos sexuais descontrolados.

David Lisak (Ph.D em Psicologia na Universidade de Duke) revela:

“Sabemos há, provavelmente, 25 anos, que o problema da violência sexual nos campus das universidades é enorme.”

John Foubert, Professor da Universidade de Oklahoma, especialista na prevenção de agressão sexual, diz:

“Mas acho que muitos pais pensam: ‘Vamos deixar nossa filha lá, e ela terá uma ótima experiência universitária, e tudo será ótimo, porque a universidade tem reputação de ser um lugar seguro’. [Mas] não é.”

Os números são alarmantes. A violência sexual contra as estudantes é um problema gigante nas universidades dos EUA.

“Mais de 16 por cento das estudantes sofrem violência sexual na universidade.”

As alunas estupradas dão queixa, no entanto, a direção das universidades faz vista grossa para o que tem acontecido com muita frequência em seus aposentos. Não dão assistência as vítimas. Questionam a idoneidade dos depoimentos. Tapam o sol com a peneira. Mas por quê? A resposta é simples e óbvia. O deus dinheiro tem precedência sobre a dignidade das alunas. Geralmente os criminosos que cometem as agressões sexuais fazem parte das fraternidades e são atletas do time de futebol ou basquete, da instituição. As fraternidades e os campeonatos universitários geram muitas receitas para os cofres de Harvard, Yale... Elas não querem perder os milhões e milhões que arrecadam todos os anos. Caso elas admitam que existam com certa frequência estupros de alunas em suas dependências, a renda pode cair. Alunos (principalmente mulheres) não vão querer estudar nelas. Então é melhor que as alunas que caíram nessa desgraça, sejam silenciadas ou desacreditadas.

“88 por cento das alunas violentadas nos campus não dão queixas.”

Vendo esse documentário, me lembrei de outro (A Guerra Invisível) que assisti meses atrás, que trata da problemática do estupro nas forças armadas dos EUA. A Guerra Invisível pode ser encontrado nesse link:

https://www.youtube.com/watch?v=M_yZ9ywEOMk

Uma pequena resenha dele nesse blog:

http://dinhosheol.blogspot.com.br/search/label/Liberdade%20de%20Express%C3%A3o

Fica patente que as autoridades estadunidenses estão pouco se lixando para quem sofre de agressão sexual, se está tiver sido perpetrada por um militar ou por um estudante que faça parte do time da universidade.

“Menos de 8% dos rapazes da faculdade cometem mais de 90% das agressões sexuais”. (David Lisak e Paul Miller)

Esses 8% fazem o inferno e são reincidentes. Estupram uma, não se conformam, estupram outra e, assim, por diante. Se forem atletas, estão numa bolha impenetrável.

Aqui vão números que provam a conivência das universidades:

- Universidade de Harvard, 135 denúncias de violência sexual (2009-2013), apenas 10 suspensões relatadas;

- Universidade da Califórnia, em Berkeley, 78 denúncias de violência sexual (2008-2013), apenas 3 expulsões;

- Faculdade de Dartmouth, 155 denúncias de violência sexual (2002-2013), apenas 3 expulsões;

- Universidade de Stanford, 259 denúncias de violência sexual (1996-2013), apenas 1 expulsão;

- Universidade da Carolina do Norte, 136 denúncias de violência sexual (2001-2013), nenhuma expulsão;

- Universidade da Virgínia, 205 denúncias de violência sexual (1998-2013), nenhuma expulsão.

Lamentável tal situação.

Dando uma pesquisada rápida sobre a repercussão Área de Caça teve, é claro que as universidades disseram que ele não é fiel aos fatos. Distorce números e blá blá blá. Conta outra. É claro que eles irão negar com a faca no pescoço, que não são coniventes com tais crimes. Jurarão e venderão a alma ao diabo, afirmando que não protegem os criminosos sexuais.

Eu acredito nessas meninas entrevistadas. Essas universidades são verdadeiras empresas. Estão inseridas no competitivo e cruel mercado de trabalho. Farão de tudo para estarem no alto da torre. Mesmo que para isso, tenham que mentir e proteger criminosos.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

O Teste da Fé


BANCEWICZ. Ruth. O Teste da Fé. Viçosa, MG: Ultimato, 2013.

“Algumas das questões levantadas pela ciência são as mesmas encaradas por qualquer pessoa. O que é esse universo, afinal? Se pararmos para pensar mais profundamente sobre isso, a própria presença do cosmo se mostra um quebra-cabeça. A maior das questões é: ‘Por que existe algo em vez do nada?’. Ela nos leva a toda sorte de buracos negros filosóficos, mas tem de ser encarada. De onde o universo veio? Há um Deus por trás dele? Essas são questões que todos – e não apenas os cientistas – precisam considerar.” P. 69. (John Briant).

O Teste da Fé (livro e DVD) traz o depoimento de duas dúzias de Cientistas cristãos sobre a relação entre Fé, Razão e Ciência. Todos eles têm uma fé cristã pungente e não se envergonham de acreditar na Bíblia e em Jesus Cristo. Só há um porém, aí: ao contrário do que muitos crentes conservadores e fundamentalistas poderiam pensar a priori, eles não são criacionistas, isto é, não defendem, não creem, não militam a favor do ensino, divulgação e pesquisas que tenham como ponto de partida o livro de Gênesis, contrapondo-o a Teoria da Evolução. Todos eles são evolucionistas e não olham para os textos bíblicos da mesma maneira que os Cientistas da Criação os interpretam. Com certeza o Adauto Lourenço (Físico criacionista) não curtiu isso. 

Para muitíssimos Cientistas e estudantes de graduação nas Universidades, é impossível fazer Ciência e manter a fé religiosa de um modo coerente e satisfatório. Até sabem e cultivam amizades com pessoas religiosas que levam a sua crença em Deus a sério, mas veem esse tipo de conduta com muita desconfiança. Alasdair Coles (Professor Sênior de Neuroimunologia Clínica na Universidade de Cambridge) relata a sua experiência quanto a isso:

“Neurologistas acadêmicos representam um grupo de pessoas pouco espirituais. É incomum, para um neurologista, ser ministro religioso oficial, pois conversas sobre religião e espiritualidade não são bem vistas. Não que eu tenha encontrado alguma hostilidade; certamente encontrei curiosidade, mas raramente um suporte positivo. A reação mais comum é o desinteresse ou o sentimento de que tudo isso seria levemente excêntrico.” P. 43.

Não obstante, para Coles, reduzir tudo a explicações naturalistas é limitar o conhecimento e a nossa percepção da realidade.

“Alguém pode explicar uma pintura com base nos produtos químicos que compõem as tintas a óleo. Essa seria uma explicação perfeitamente verdadeira, mas a maioria das pessoas consideraria profundamente insatisfatória como explicação de uma pintura. Elas diriam que ‘há mais nela do que isso; alguém a fez, ela tem um significado que depende dos óleos, mas, em última instância, não tem nada a ver com eles’. Os pensamentos e o comportamento humanos são dependentes, mas, de algum modo, estão separados do material do cérebro.” P. 42.

Como manter a fé num ambiente onde um de seus pressupostos é o naturalismo? Como acreditar piamente na Ciência e ainda crer que um ser obscuro, estranho e inacessível possa interferir na ordem das coisas, mediante orações e preces? Para Jennifer Wiseman (Ph.D em Astronomia na Universidade de Harvard e Chefe do Laboratório de Astrofísica Estelar na Divisão de Astrofísica Ciência na NASA), isso nunca foi um problema:

"Nunca temi que a minha fé fosse ameaçada por frequentar uma universidade secular. [...] Não penso que o mundo físico, das forças materiais, seja tudo o que existe. Acredito que há um Deus Todo-Poderoso que é responsável pelo universo e que há um mundo espiritual que não pode ser medido com nossas ferramentas científicas. É nesse mundo espiritual que Deus também está ativo". P. 49, 53-54.

A Ciência seria uma forma de exaltar o poder e soberania divina.

“Eu penso que a exploração científica é uma forma de glorificar a Deus, pois explora o que ele criou.” P. 58.

Enquanto muitos estudantes cristãos acabam se deparando com muitas questões e descobertas científicas que podem abalar a sua fé, para John Briant (Ph.D em Bioquímica na Universidade de Cambridge, com Pós-Doutorado na Universidade de East Anglia), a sua vida acadêmica sempre foi tranquila quanto a isso:

"A relação entre ciência e fé nunca me assustou. Nunca me pareceu que realmente houvesse um choque entre elas. Tive de pensar a respeito de algumas coisas e elaborá-las, e, embora haja aquelas para as quais nunca teremos uma resposta, isso nunca me assustou". P. 63-64.

Bill Newsome (Ph.D em Neurobiologia no Instituto de Tecnologia da Califórnia e Professor de Neurobiologia na Escola de Medicina da Universidade de Stanford, EUA) admite sem nenhum pudor a precedência da sua fé cristã sobre a ciência:

“Eu amo a minha atividade científica e tenho sido muito gratificado por seu sucesso, mas, se alguém pusesse uma arma na minha cabeça e dissesse: ‘Bill, escolha entre a sua ciência e a sua fé’, não tenho dúvida de que eu escolheria a minha fé antes da minha ciência, pois ela é a parte mais fundamental e mais profunda de quem eu sou como ser humano.” P. 76.

Talvez muitos ateus e pessoas não muito afeitas a religião, que se julguem ultrarracionais, fiquem horrorizadas com tal declaração. Um pecado imperdoável vindo de um Cientista. Em contrapartida, quantos desses "livres pensadores" seriam racionais e imparciais diante das evidências? Quantos aceitariam as descobertas científicas ou evidências filosóficas, que porventura viessem a abalar suas certezas materialistas mais caras? Desconfio da racionalidade e comprometimento desapaixonado na busca da verdade, da maioria dos que esbravejam furiosamente contra a fé, Deus e a religião. Será que muitos deles também não se encaixam no que o Newsome diz logo abaixo?

“Quando vamos a fundo, descobrimos tipicamente que as pessoas que respondem com todo esse calor emocional [contra a fé], normalmente, tiveram em seu passado alguma experiência muito desagradável, a qual é a causa da sua raiva.” P. 85.

Em complemento, cito as palavras de John Polkighorne (ex-Professor de Física na Universidade de Cambridge, Pós-Doutor em Física no Instituto de Tecnologia da Califórnia):

“Lembro-me de um amigo bioquímico, ótima pessoa, que me disse anos atrás: ‘Eu simplesmente não quero que exista um Deus’.” P. 126.

Creio que eles acentuam bem a questão. Salientando também que muitos crentes têm aversão a Ciência com um enorme temor de que esta possa contradizer as suas crenças bíblicas. E na verdade, ela até contradiz mesmo.

Ainda nas palavras do Polkighorne, ele confirma o que eu já tinha lido de outra fonte, de que entre os Cientistas, os Físicos estão entre os que mais estão propensos a crer:

“É provavelmente verdade que os físicos são muito mais abertos a questões de fé do que outros cientistas. Penso que há várias razões para isso. Uma é que os físicos olham a realidade a partir de certa perspectiva, na qual o mundo é belissimamente ordenado e há um tipo de religiosidade cósmica natural que emerge dessa experiência. Não é irracional perguntar se há uma ‘mente’ por trás de tudo isso.” P. 126.

Quanto ao mito popular, que até muitos universitários confusos e apressados pensam, de que a Ciência está baseada estrita e absolutamente em fatos, Polkighorne os contradiz:

“As pessoas dizem que a ciência lida com fatos, certezas e coisas do gênero, mas é claro que isso não é verdade. A atividade científica é a relação entre a teoria e a experimentação, de modo que precisamos da teoria para interpretar o experimento. O experimento confirmará ou refutará a teoria. Isso é algo muito mais sutil.” P. 126-127.

Simon Conway Morris (Professor de Paleobiologia Evolucionária da Universidade de Cambridge, Inglaterra), no DVD afirma que a Teoria da Evolução e ateísmo não caminham necessariamente de mãos dadas.

“Você pode dizer: ‘sou biólogo evolucionista, sou ateu’. Essa é uma posição válida. Eu não a adoto. Mas não podemos afirmar: ‘Evolucionismo e ateísmo caminham juntos’. Isso não tem fundamento. Evolucionismo é uma teoria, tem de estar inserido em um sistema metafísico, e temos de decidir quais sistemas metafísicos é o mais empolgante, qual deles tem mais potencial, qual deles lhes dá coceira nas mãos. Niilismo? Bem, não obrigado.”

Quanto a isso, eu creio que a Teoria da Evolução nos termos em que é formulada, leva forçosamente ao ateísmo. No entanto, alguns Filósofos e Cientistas têm invertido essa relação. Por exemplo, Alvin Plantinga (Ph.D em Filosofia pela Universidade de Yale) tem argumentado que a evolução corretamente interpretada é uma evidência poderosa a favor do teísmo. Seguindo Plantinga, também está William Lane Craig (Ph.D em Filosofia na Universidade de Birmingham, Inglaterra).

Muitos outros Cientistas participaram da composição do livro e documentário, trazendo suas histórias, sua relação com a Ciência, vida acadêmica, Deus, Religião, Jesus, e, como tudo isso afeta as suas vidas. Apenas dei umas pequenas pinceladas dispersas sobre o que dizem alguns deles.

Livro e DVD muito agradáveis de ler e assistir. Mais uma obra em português que vem mostrar a relação entre Ciência e Religião, revelando que ambas podem andar juntas, sem necessariamente se digladiarem.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Apocalypto


Apocalypto, produzido entre 2006 e 2007, retrata um pouco da história dos povos pré-colombianos aqui na América do Sul, mostrando como eles viviam, caçavam e se relacionavam entre si. Mostra mais precisamente os povos que nos são conhecidos como os maias. Um povo que dominou toda a região que hoje nós conhecemos como a América Central e ainda uma pequena parte do país conhecido atualmente por México.

O filme começa mostrando um pouco de como era a vida de uma pequena e inexpressiva tribo que ainda não tinha se submetido ao regime do grande império maia. Essa tribo juntamente com outra é capturada traiçoeiramente pelos guerreiros maias. E assim começa o sofrimento dos homens, mulheres e crianças que dela faziam parte. O interessante é que os guerreiros maias não atacam as crianças; elas são abandonadas e ficam para trás sem rumo a seguir, já que os seus pais foram mortos ou capturados para serem levados ao império desses guerreiros.

O filme é muito interessante e empolgante, pois, percebe-se pelas cenas que foi muito bem feito e produzido. As cenas que compõem as lutas entre os guerreiros são bem violentas e deixam o telespectador bem vidrado nele. É um filme histórico e de ação ao mesmo tempo.

Quando os sobreviventes masculinos dessas duas tribos chegam a capital do império maia, servirão para “matar a sede dos deuses” em sacrifícios. Eles mesmos serão sacrificados para que venha a prosperidade sobre o império. O filme mostra a cidade opulenta dos maias. A imagem que ele traz dessa cidade é assustadora e macabra; um inferno na terra. Mostra os sacerdotes sacrificando pessoas no alto das pirâmides e a população lá embaixo vibrando por cada cabeça cortada que sai rolando escadaria abaixo. São cenas chocantes, no entanto, retratam um pouco do que eram os rituais religiosos dos povos maias.

Um a um os guerreiros capturados vão sendo sacrificados. Mas chega uma hora em que acontece um eclipse solar e os sacerdotes interpretam o fenômeno como uma aprovação e saciedade dos deuses diante dos inúmeros sacrifícios que lhes foram feitos. Alguns desses guerreiros não precisaram ser sacrificados, mas algumas cenas depois são mortos. Porem, um dos guerreiros sobrevive e consegue fugir. Os guerreiros maias vão atrás dele e assim o filme nos proporciona cenas de tirar o fôlego nessa eletrizante perseguição. O guerreiro fujão consegue ser bem-sucedido e reencontra a sua mulher e seus dois filhos. O filme acaba com os espanhóis chegando à praia e o protagonista do filme com a sua família em busca de um “novo começo”, que é o significado do nome “Apocalypto”.

No entanto, apesar de ser um filme que vale a pena ser visto, pelas suas cenas de ação e pelo enredo – a meu ver, tem uma pitada bem sutil de ideologia eurocentrista. De maneira implícita, e poder-se dizer, até de uma maneira subliminar, a película quer evidenciar a “incivilidade”, “crueldade” e “inferioridade” da cultura desses povos perante a “civilidade” e “humanidade” dos europeus. Infelizmente poucas pessoas que assistirem perceberá isso. 

Fica implícito com a chegada dos europeus na praia, que com a sua presença, a “crueldade” desses povos chegará ao fim. Os cristãos, “servos do Deus verdadeiro” irão “trazer a luz” a esses povos “imersos nas trevas”.

O filme realmente é muito bom, mas peca na ideologia em que está comprometido. Uma ideologia eurocentrista e etnocêntrica. Não é à toa, que o filme tem cenas com muito sangue do começo ao fim, dando a entender que esses povos eram bárbaros e precisavam ser “salvos” pelos europeus.
  
Relacionando ele com o livro A América que os europeus encontraram, de Enrique Peregalli (Licenciado em História pela USP e Mestre pela PUC-SP), este trabalha numa linha de pensamento completamente contrária ao que o filme nos passa. Por exemplo, o texto intitulado “O choque de duas civilizações”, ele nos diz que os espanhóis estavam:

“Impacientes por se tornarem ricos, os marinheiros de Colombo não se conformaram com os presentes em ouro e prata dados pelos pacíficos habitantes dos trópicos e começaram a saquear as aldeias indígenas. O total desprezo pela população local pode ser retratado nos divertimentos preferidos dos espanhóis: o tiro ao alvo sobre seres vivos, o espetáculo de verem cães de guerra esquartejarem camponeses, caçada humana, estupros...” P. 05.

Os espanhóis não eram mais evoluídos, civilizados, humanos ou mais próximos de deus que os povos que habitavam a América. Pois eles fizeram muitas atrocidades em busca de riquezas.

“Os europeus dizimaram os construtores de uma civilização que em muitos aspectos superava a sua.” P. 06.

O texto do Peregalli nos diz acertadamente que “existiam nessas terras brilhantes civilizações, em muitos aspectos superiores à européia”. P.69. O Peregalli nos revela os argumentos dos americanistas e eurocentristas em relação à chegada dos europeus a este lado continente.

É bem patente a visão americanista do Peregalli, visto que ele se posiciona terminantemente contra a visão eurocentrista. Por exemplo, ele considera uma falácia, na argumentação eurocentrista, a ideia de que a destruição dos indígenas foi “involuntária”. Pois, ela foi orquestrada e sistematizada para facilitar a extração de riquezas dessas terras. O que se nota, e o texto nos informa muito bem sobre isso – é que a visão eurocentrista é completamente falaciosa. Os europeus chegaram nessas terras, e destruíram sem dó e piedade os povos que aqui já estavam estabelecidos há muito tempo. Eles não queriam “civilizar” esses povos. Queriam apenas as riquezas e o trabalho que os indígenas podiam proporcionar.

O texto exibe uma pequena biografia de Colombo, Pizarro e Cortés – as três figuras que foram bastante importantes para a colonização da América. Colombo foi um pragmático em assuntos de navegação, religioso em sua interpretação do mundo que acabava de conhecer e muito conivente com os abusos sexuais e violência de seus homens para com os índios. Cortéz foi um intelectual e um geopolítico. E finalmente, Pizarro, um analfabeto muito ambicioso e considerado o mais sanguinário dos conquistadores espanhóis.

Em minhas considerações, admito que o Peregalli não é conclusivo em seus argumentos. A sua obra não encerra o debate nessa polêmica questão. Algumas de suas argumentações para legitimar o pensamento americanista precisam ser melhoradas. No entanto, entre escolher a visão eurocentrista implícita no filme Apocalypto e a visão do Peregalli, com certeza fico com a segunda. Pois vejo que a América Latina até os dias atuais sofre as consequências dos mandos e desmandos que os europeus fizeram aqui.

REFERÊNCIAS

PEREGALLI, Enrique. A América que os europeus encontraram. São Paulo: Atual, 1994. 

Tabu América Latina: Espetáculos Únicos


Até onde vai o direito dos animais?

Quais são os limites que nós, seres humanos, devemos ter no tratamento que dispensamos a eles?

Seriam as rinhas de galo, moralmente erradas?

Os rodeios, onde touros são feridos até a morte, não são contra o princípio da empatia que devemos ter, visto que os animais também são seres sensíveis (sentem dor)?


A NatGeo levanta nesse episódio da série Tabu América Latina, essas e outras perguntas, que eu mesmo, não consigo ter respostas coerentes e satisfatórias. Ao mesmo tempo em que senti indignação ao ver touros, cavalos e galos, por meio do seu sofrimento e dor, servirem para o puro entretenimento e lucro de seus organizadores e apostadores, sinto que esse meu senso de “empatia” e de “justa indignação” perante os maus tratos desses animais, dá de cara com a parede, quando lembro que todos os dias, saboreio uma coxa de frango, um bife de carne...


Muito simples de entender: Podemos apontar o dedo em riste e jogar na cara desses filhos da puta que fazem essas rinhas, o seguinte:

“Vocês se divertem e ganham dinheiro, com o sofrimento e tortura desses animais. Vocês queriam estar no lugar deles? Queria ver, se fossem vocês! Não se incomodam com o fato de que eles sofrem bastante, e não queriam estar lutando? Não lhes resta um pingo de consideração e empatia?”

São apontamentos legítimos? Sim, são. Mas eles poderiam legitimamente responder:

“Vocês se deliciam e ganham dinheiro, com a morte desses animais para se alimentarem. Eles vivem em gaiolas minúsculas, tomando hormônios e outras coisas mais, para engodarem, além de suas capacidades naturais, para vocês encherem a pança. Vocês queriam estar no lugar deles? Queria ver, se fossem vocês! Não se incomodam com o fato de que eles sofrem bastante, e não queriam lhes servir de alimentos? Não lhes resta um pingo de consideração e empatia?”

Como se vê aquele que atirou a pedra primeiro, pode esperar, que ela virá como um bumerangue de volta. Não são questões fáceis. É um problema ético muito difícil e espinhoso.

E mesmo eu me alimentando todos os dias de carne, ainda acho que uma sociedade mais evoluída (mais evoluída segundo que padrão?) não deve tolerar nenhum tipo de rinha de galos, touradas ou quaisquer outros eventos que venham torturar os animais. Incoerente? Sim, incoerente. Como eu disse, não tenho uma resposta adequada e justa para a questão. Mas quem diabo se importa?  

África


Cinco documentários espetaculares foram feitos para a série África. Todos com imagens de encher os olhos, com filmagens incríveis da fauna e flora do continente, que merecidamente é conhecido com a Mãe África.


O deserto de Kalahari, o deserto do Saara, o Congo entre outros lugares são registrados, com toda a sua diversidade de vida e exuberância. A BBC como sempre, primou pela perfeição e excelência, em mais um de seus documentários sobre a natureza.


Claro, que já estamos acostumados a ver, até mesmo na TV aberta, produções sobre a natureza africana – leões, gnus, leopardos, elefantes, crocodilos, águias, rinocerontes... Mas nunca é demais rever toda essa bicharada.


Apesar de os países africanos estarem entre os mais pobres e oprimidos do planeta, devido às espoliações dos países europeus, num passado não muito distante, guerras civis, corrupção, entre diversos fatores sociais e até religiosos, a África coloca tudo isso de ponta-cabeça com a sua maravilhosa e multifacetada natureza.


Fantástico os cinco documentários!  

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Conheça os Mórmons

Documentário sobre os mórmons, produzido pela própria igreja deles (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias). São apresentadas seis famílias que fazem parte desta igreja. Suas histórias de vida e relacionamentos com a sua religião e comunidade são mostrados, evidenciando uma existência “feliz” e cheia de “significado”. Famílias perfeitas, sorridentes, que encontraram a “verdade” que os “libertaram”.

O vídeo não tem a finalidade de expor as doutrinas peculiares do mormonismo em relação às outras denominações cristãs. Não se preocupa em dizer o motivo de acreditarem no Livro de Mórmon como escritura sagrada em pé de igualdade ou até acima da Bíblia.

É fácil produzir um documentário-propaganda de qualquer religião. Basta colocar na tela pessoas felizes, sorridentes e aparentemente satisfeitas com a crença que abraçaram. Adventistas do Sétimo Dia, Testemunhas de Jeová, Assembleia de Deus, podiam certamente produzir filme semelhante, afirmando que “encontraram” deus em suas respectivas igrejas.

O que essas igrejas não escancaram nesse tipo de vídeo-propaganda são os podres que carregam. Elas não dizem como são encarados aqueles, que um dia tomam coragem de abandonar as crenças que todos compartilham, pelo fato de não acreditarem mais nas maluquices que elas ensinam. Ai, meu amigo, muitas vezes, quando isso acontece, o cacete come. Em algumas, a pressão é menor, noutras, a pressão e perseguição atingem níveis absurdos.

Essa é a pluralidade da fé e da crença. A subjetividade em seu grau máximo. A religião consegue transformar e mudar as pessoas. Às vezes para melhor; às vezes para pior. A(s) religião/religiões organizada(s) é (são) parte essencial das sociedades. Querer ir contra isso, é querer ir contra a essência humana na busca pelo transcendente. Cabe a cada um, buscar aquilo que lhe faça bem.

Mas aí entra uma questão muito importante: e se aquilo que me faz bem está baseado em mentiras? Vale a pena viver na ilusão e proteção que a ignorância me dá? É exatamente isso, que penso da igreja mórmon, na medida em que não existe uma evidência ínfima que seja de que o Livro de Mórmon seja verossímil do ponto de vista histórico. Se tal crença está ancorada num livro que diz ser a palavra de deus, no entanto, se o mesmo é inverídico, conforme nos mostra a História e a Arqueologia, o que sobra para os mórmons? O “ardor” que eles dizem sentir no peito provando que tal livro e igreja são a verdade? Isso é o suficiente para pessoas inteligentes, racionais e que pensam criticamente ou serve para pessoas frágeis emocionalmente, que precisam desesperadamente serem consoladas?

No final das contas a igreja mórmon é mais uma religião/igreja que reivindica arrogantemente, sem nenhuma modéstia, a pecha de única igreja verdadeira e baluarte da única fé que honra a deus. O pior que sem nenhuma evidência, mas apenas baseados num livro obscuro que não possui nenhum indício que comprove historicamente, pelo menos uma história (estória) narrada em suas páginas, como já tinha dito.

Um livro que li há muitos anos, Os Fatos Sobre os Mórmons, é simplesmente demolidor em refutar as reivindicações mórmons, sobre Teologia e História. Talvez eu ainda faça uma postagem resumindo-o.

Lembro que na parte final dele, mostra-se um breve panorama da igreja mórmon no Brasil. Contando-nos o fato constrangedor de que até 1978, a igreja não aceitava que pessoas negras pudessem se tornar líderes de suas comunidades, visto que eram consideradas inferiores. Uma lamentável herança do racismo entranhado vindo dos EUA, lugar de onde essa igreja se originou.

Mesmo com todas as críticas que tenho a essa religião, ainda tenho mais simpatia por ela do que pelas testemunhas de jeová. Estes são mais alienados. Nas experiências que tive com membros de ambas as religiões, pude constatar que os primeiros estão mais abertos ao diálogo. As testemunhas nem ler literatura de outras religiões podem. Se forem pegas, estão lascadas. Serão disciplinadas. E se continuarem na "rebeldia", a excomunhão, ou desassociação, termo que elas preferem, é o caminho. 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Dawg Fight


O que o futuro reserva para milhares de jovens negros da periferia da grande cidade de Miami, EUA? Muitos são vagabundos e não valem o chão que pisam. Mas numa proporção muito maior, existem pessoas que querem ter um lugar ao sol, e para isso procuram trabalho e muitas vezes não conseguem. O que fazer?

Dhafir Harris, um morador de um desses guetos, começou a organizar lutas de boxe, no quintal de uma casa. Recrutando vários jovens da comunidade, para lutarem entre si, para que eles pudessem ter dinheiro para poder alimentar e ajudar suas famílias. O negócio deu tão certo, que os vídeos das lutas bombaram no Youtube, e as lutas começaram a ganhar uma proporção jamais imaginada por ele e seus pupilos. Toda a vizinhança e pessoas de outros bairros iam assistir as lutas e fazer suas apostas.

Alguns jovens se destacaram, e foram contratados para lutarem profissionalmente MMA. Harris não tinha nenhum lucro nessas lutas de fundo de quintal, o pouco dinheiro que arrecadava, era para pagar os gladiadores que entravam em seu ringue.

O problema encontrado por eles, é que as lutas de rua são proibidas, são ilegais em Miami. A qualquer momento a coisa podia ficar feia para Dhafir. Caso algum lutador morresse em combate, tanto Dhafir como o oponente que o tivesse “matado”, seriam automaticamente presos, e passariam algumas décadas na cadeia.

No final do documentário, o próprio Dhafir, profissionaliza-se e começa a treinar pesado para sua primeira luta em um octógono. Tardiamente com 32 anos, ele começa a lutar oficialmente no MMA, e ganha a sua primeira luta contra Killa Gorilla, em um nocaute de poucos mais de dois minutos de luta.

Muito legal ver esse tipo de iniciativa de uma comunidade que infelizmente não tem uma perspectiva de vida garantida como a sociedade dos brancos. Se o Estado não provê os meios necessários, justos e adequados para essas pessoas ascenderem na vida, eles precisam procurar os seus próprios meios.

O caminho trilhado não precisa ser o das drogas, tráfico, roubo e outras coisas ilícitas. Dhafir observou um potencial vencedor nesses jovens, e muitos deles puderam ter uma chance real de poderem mudar de vida e terem um futuro melhor.  Confiou nesses jovens e em si mesmo, e bons resultados apareceram com muito suor, garra e determinação.

Que as coisas deem certo para todos eles. Que o mundo da criminalidade passe longe de seus pensamentos.