quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Gaiaku Luiza: Força e Magia dos Voduns


Culto aos orixás, voduns, inquices... A contemporaneidade não conseguiu extinguir esse modo de religião tão pitoresco. Na verdade, apesar de haver em algum grau uma descaracterização da religiosidade afro, em alguns lugares, noutros, como na cidade de Cachoeira, Bahia, o Candomblé consegue manter suas raízes. Pelo menos é o que dizem os seus adeptos.

A mãe de santo Gayaku Luiza é a protagonista desse documentário. Possuindo a avançada idade de 95 anos, ela ainda traz nesses longos anos de vida, uma lucidez incomum, e uma memória de dá inveja aos mais jovens. Uma verdadeira enciclopédia e fonte de conhecimento sobre os antigos mistérios do mundo da magia, trazidos pelos seus antepassados. E o mais curioso é que Luiza serviu de inspiração na década de 1930, quando tinha 28 anos de vida, para a canção "O que é que a baiana tem", de Dorival Caymmi.

Como já tinha falado no documentário sobre o Candomblé em Maragogipe, essa religião traz um senso fortíssimo de identidade, ancestralidade, de se pertencer a um grupo, de se sentir gente, de ser acolhido, de saber que seus predecessores tem um abrangente legado cultural, religioso e espiritual. Quem vai negar-lhes isto?

Assim como noutras cidades e regiões da Bahia, Cachoeira é um centro irradiador da cultura religiosa afro-brasileira. Pelas imagens nota-se, como alguns entrevistados dizem, que existe um ambiente propício e receptivo a dar continuidade aos cultos africanos que ali se estabeleceram, e que estão sendo tão bem preservados pela mãe Luiza. O tombamento torna-se urgente.

Podemos não acreditar na veracidade metafísica da espiritualidade afro, mas devemos acreditar que é de inestimável importância cultural preservar os seus lugares de culto.

A história de ser do nosso país está calcada na herança sócio-cultural-religiosa dos povos negros.

Isso não quer dizer que o Candomblé e similares não podem ser criticados e contestados, porém, sua importância histórica é palpável.

O documentário foi gravado em 2004, e a mãe Luiza faleceu em 2006.

E já que é costume eu sempre alfinetar as religiões de matriz africana, lá vai: os filhos de santo, ogãs, pais e mães de santo, babalaôs e muitos simpatizantes, alegam em uníssono, que o panteão das divindades vindas da África são poderosos, fazem isso, e fazem aquilo. Mas caramba, as regiões que ainda prestam cultos a esses orixás e voduns, como por exemplo, a Nigéria, estão imersas na pobreza e miséria. É razoável pensar que todo esse panteão de deuses poderosos, pudessem fazer algo a mais pelos seus discípulos nesse mundo tão cruel. No entanto, o que vemos é que os povos que os cultuam estão há séculos na merda.

Cadê Xangô, Oxossi, Ogum, esses orixás só servem para incorporar e fazer os seus "cavalos" fazerem caretas, dá cambalhotas e mugangas? Essas forças da natureza não poderiam mexer os pauzinhos e reverter o quadro político desses países e, assim, construírem um país mais humano e justo para os seus dedicados “cavalos”?

Apesar do sarcasmo, essa é uma pergunta séria! A vantagem que esse panteão grego atualizado fornece aos seus fiéis seguidores é apenas terapêutica, deixando-os na miséria? A política e sujeira das autoridades são mais fortes que o poder dos orixás, criadores dos elementos naturais?

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A Ciência da Morte


Morte!

Final de nossa existência!

Ida ao desconhecido!

Familiares, amigos e sonhos, deixados para trás.

Quem não a teme?

Quantos de nós, já não refletimos sobre ela?

Quantas vezes também fingimos que ela não existe, ou pensamos irracionalmente que ela não nos alcançará?

Até os mais esperançosos religiosos sabem, que se as coisas caminharem como caminham, ela é o endereço certo de todos. Sejam crentes ou descrentes. Ela não faz distinção. Podemos até prolongar por meio da tecnologia, ciência e medicina, nossa frágil estadia por aqui, mas um dia ele nos pega pra valer.

Algumas pessoas mesmo assim, tentam burlar a inexorável vinda da morte. Recorrem a Criogenia, uma forma de manter seus corpos ou cérebros "intactos", para quem sabe, no futuro, Deus sabe lá quando, a medicina esteja avançada a tal ponto, que seus corpos possam ser "ressuscitados".

Para isso, pagam uma quantia bem generosa, para que possam estar congelados a temperaturas baixíssimas, esperando o dia de suas "ressurreições".

Pessoalmente, acho o projeto da Alcor, empresa que guarda e congela esses corpos, uma besteira sem tamanho. Essa balela de Criogenia já está no mercado desde a década de 1960, e duvido muito que daqui a 200 ou 300 anos, caso a raça humana sobreviva, esses corpos ainda estarão sendo conservados por ela. Estão pegando o dinheiro dos bestas esperançosos, que acham que acordarão num futuro distante, prontinhos, com suas memórias incólumes, para vivenciar novas aventuras na terra dos viventes.

Quem pode pagar a bagatela de ter a sua carcaça congelada mediante vários produtos químicos, são só pessoas com recheados recursos financeiros, é claro. Fica implícito, que essas pessoas e a própria Alcor, têm a firme crença de que não existe vida mental fora do corpo. Sem ladainha: são ateus. Eles não depositam fé alguma numa vida após a morte, mediante a intervenção de alguma divindade ou força cósmica. Mas agora estão depositando sua fé de que a existência pós morte pode tornar-se realidade com a ajuda única e exclusiva da Ciência. A mãozinha de alguma divindade maluca inventada pelas religiões está totalmente descartada.

E os tradicionais enterros? Muitas pessoas agora estão optando pela cremação. Esta forma de dá o último adeus ao defunto é muito mais vantajosa no quesito ecológico, visto que não contamina o solo e economiza espaço. No quesito financeiro, ela também se mostra bem mais viável. No entanto, a maioria das pessoas ainda teimam, em enterrar seus entes nos tradicionais caixões de madeira, aço, ferro, alumínio, plástico e a merda toda. Não é mencionado no vídeo, mas essa teimosia é herança do catolicismo.

Tudo bem que o cadáver, já não possui sensação alguma, mas acho meio mórbido, você deixar um ente querido, apodrecer e ser comido pelos vermes. Grotesco, não é? Os defensores do enterro tradicional podem retrucar e dizer o mesmo sobre a cremação. Mas o fato é que esta não é danosa a natureza.

Enfim, um dia essa porra baterá as nossas portas. Espero que ela esteja a milhares de quilômetros da minha. Tenho medo. Nada mais humano, que temê-la. Sei que existem muitos malucos que parecem não estar nem aí para ela. Não estou entre eles.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Fantasmas da História: As Bruxas de Salém


Salém, conhecida cidade do Estado de Massachusetts, EUA, por ter em seu passado a infame matança de supostas bruxas e bruxos, que segundo os seus habitantes, jogaram suas imprecações diabólicas sobre a cidade, ocasionando surtos de histeria, inclusive nas crianças.

Os fatos se passam no ano de 1692. Salém, cidade de pequeno porte, habitada por protestantes puritanos, crentes na ação ativa do demônio.

Depois da filha e sobrinha, de um pastor da cidade, terem ataques corriqueiros muito estranhos e assustadores de histeria, sem explicação natural para aquilo, eles atribuíram tais surtos, a ação do demônio, mediante sua serva, uma negra escrava, que cuidava das duas crianças. Acusaram-na de se valer do vodu haitiano, para prejudicar as meninas. O destino dela? Enforcamento.

A paranóia se espalhou pela cidade. Pois não apenas ela estava sendo acusada de bruxaria, mas centenas de pessoas foram intimadas a prestar depoimento, visto que eram suspeitas de praticarem o mal. Desde pessoas pobres, que mal podiam se defender, a pessoas abastadas, não obstante, sendo julgadas e condenadas, os seus valiosos bens seriam confiscados.

O mais bizarro disso tudo, é que até hoje, os moradores de Salém alegam terem visto os fantasmas das vítimas que foram mortas injustamente, vagando pelos locais onde os nefastos eventos ocorreram.

Vultos, calafrios, mal-estar, sensação de não estar só... Seriam tais sensações frutos da imaginação dessas pessoas, ou realmente os espíritos das vítimas de Salém, ainda não encontraram o seus descanso, e por isso andam perambulando nesses lugares?

Salém continua sendo uma cidade misteriosa, por causa desses estranhos acontecimentos que ainda ocorrem em pleno século XXI.

Para os que juram que tiveram uma experiência incomum e anormal, é difícil refutá-los, contra-argumentando-os dizendo-lhes que foram vítimas de suas próprias imaginações. Vai ver que eles realmente tiveram contatos genuínos com o sobrenatural.

Vendo o vídeo, logo me veio à mente o papel que o fanatismo religioso teve nesses episódios. A visão cristã puritana teve o seu quinhão de culpa nesses julgamentos grotescos?

Certamente tem a sua parcela de culpa, mas ao mesmo tempo, não podemos ser reducionistas e responsabilizar somente a visão religiosa de seus carrascos. Lembrei do que bem disse o John D. Woodbridge, Ph.D em História na Universidade de Toulose, na França:

"Quando se desvendam os episódios que levaram aos julgamentos, descobre-se que existem muitos fatores que os precipitaram. Existem questões referentes a pessoas que tramaram para tomar terras de outros; existe questões referentes a histeria; existem questões de crença em aparições astrais, pelas quais as pessoas testemunhavam que alguém fez alguma coisa ainda que se encontrassem em outro lugar. Quando se estuda o contexto legal dos julgamentos, existem variáveis que levam a questões não relacionadas com o cristianismo." P. 285.

Quando perguntado se as igrejas de Salém são inocentes nessa questão, Woodbridge responde:

"Pode não ser uma total excusa do cristianismo nos julgamentos, contundo os historiadores que trabalham com questões dessa natureza sabem que não se deve procurar uma única causa para explicar tais acontecimentos. A vida é mais complicada do que simplesmente dizer que o 'o cristianismo' foi o culpado. [...] Os historiadores reconhecem que o enredo é muito mais complexo do que simplesmente culpar as igrejas." P. 285.

STROBEL, Lee. Em Defesa da Fé. São Paulo: Vida, 2002.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Ética e Vergonha na Cara


CORTELLA, Mário Sérgio; FILHO, Clóvis de Barros. Ética e Vergonha na Cara. São Paulo: Papiro 7 Mares, 2014. (PDF).

Venho trazer aqui, mais um livro escrito por dois intelectuais queridinhos do grande público. Acadêmicos populares, que vem ganhando muito destaque nos últimos anos. Mário Cortella (Doutor em Educação na PUC-SP) e Clóvis Filho (Doutor em Ciências da Comunicação na USP).

O livro é basicamente um diálogo super inteligente entre os dois. Concordam em tudo. Não é debate, não é um confronto de ideias. O tema gira em torno da ética do cotidiano, como o título já diz.

Num determinado ponto do diálogo, Barros fala:

Quando visitamos empresas, geralmente nos deparamos com o banner de valores. E, em alguns, podemos ler: HONESTIDADE, CRIATIVIDADE, TRANSPARÊNCIA; em seguida, o invariável: FOCO NO RESULTADO. Um fato interessante é que a palavra foco inevitavelmente vem acompanhada da palavra resultado, como se fosse uma obviedade. Não sei também se você, Cortella, já refletiu sobre a bobagem que é fazer uma lista em que um dos itens tem a palavra foco. Porque nesse caso ficam anulados os outros itens. Se o oftalmologista diz: ‘Foque a terceira letra’, todas as outras letras perdem o foco.” P. 13.

As empresas acabam se contradizendo. O foco delas é o FOCO. Honestidade e Transparência, em não raras vezes não são os meios para se chegar ao fim (FOCO). E a Criatividade? Esta é usada para alcançar o FOCO, sem muita (ou nenhuma) relação com aquelas. Como Barros fala um pouco antes:

“A lógica do resultado, da meta e do sucesso acaba se impondo de tal forma que os procedimentos e a maneira de atingir um objetivo acabam sendo sucateados e colocados como uma questão menor”. P. 13.

Ele pergunta:

“[...] se uma conduta vale em função do seu resultado, qual é o bom resultado que me autoriza a concluir que agi adequadamente?” P. 18.

Qual é a lógica empresarial?

“Não vamos ser hipócritas. A definição dos resultados é um gesto de poder que deixa bem claro o que importa. E o curioso no caso das organizações é que elas são muito pouco cínicas e dissimuladoras. Afinal, o foco é no resultado, só não vê quem não quer. Qualquer outro princípio é válido desde que não comprometa o princípio maior, que é o do resultado. Enquanto estivermos apoiados nessa lógica, parece-me absolutamente compreensível que as pessoas ‘colem’, que comprem as respostas do concurso público, porque fomos treinados para isso.” P. 21.

Acho extremamente difícil encontrar uma empresa que trabalhe de maneira totalmente idônea. Mas diante dos altos impostos cobrados, por exemplo, pelo Estado brasileiro, fica muito difícil trabalhar na base da Honestidade e Transparência. Qual é a empresa que nunca sonegou um imposto sequer? Devem todas serem condenadas? Talvez não. O governo de certa forma estimula-nos a ir contra as leis, quando cobra demais, e não repassa em infra-estrutura, educação, saúde e segurança, os impostos recolhidos. Ou melhor dizendo: os impostos que nos são roubados. Bem, os autores não concordarão com essa minha “defesa” de sonegação de impostos. Seria uma atitude cínica de minha parte, na visão deles.

A Ética conforme Barros diz, é transcendente. Nós, humanos, temos a capacidade de abstração; de racionalização; de introspecção. Não agimos somente por instinto, como os outros animais. Temos as prerrogativas da escolha.

“O homem transcende a sua natureza. Ele inventa, cria, improvisa, inova, empreende, pensa em soluções nunca antes pensadas para situações nunca antes vividas. E tenho a impressão de que, se não se entende isso, a ideia de ética fica 'capenga'. Porque a ética surge por isso. Ela é a transcendência em relação à natureza; a necessidade de encontrar caminhos quando o instinto não responde mais; a necessidade de perceber que vontade não é desejo, porque vontade, muito mais do que uma inclinação do corpo, é uma decisão racional, elaborada e criativa sobre para onde queremos ir. E, por isso, claro está que cabe ao homem fazer o que nenhuma outra criatura mais precisa fazer, como já mencionei: inventar, criar, improvisar, inovar, empreender e, sobretudo, refletir sobre a melhor maneira de conviver.” P. 25.

“Ou seja, as relações sociais, os papéis sociais são o que são, mas poderiam ser  diferentes. Porque não somos regidos pela nossa natureza, podemos transcendê-la. Devemos transcendê-la. Devemos sempre buscar, portanto, uma solução de convivência que nos pareça mais adequada”. P. 26.

Cortella concorda:

Gosto de refletir sobre isso. Trabalho um pouco essa ideia que você expôs quando digo que a ética é uma transgressão da biologia, isto é, uma transgressão da natureza. Toda a ética, no meu ponto de vista, é transcendental sem ser necessariamente religiosa ou metafísica. Claro que é possível ter uma ética religiosa ou metafísica, sem dúvida. Aliás, estão aí os fundamentos kantianos, os fundamentos aristotélicos, os fundamentos platônicos... até Espinosa vai dar certa fundamentação metafísica à questão ética. Mas penso que a ética é transcendência nesse sentido rousseauniano que você usou do ir além-corpo, além-biologia, além-natureza; isto é, ruptura, estilhaçamento daquilo que é o instinto indomável que nós não temos”. P. 27.

Cortella conclui:

“Assim, o que nos caracteriza é a possibilidade que a formiga, o gato e o pássaro não têm, isto é, a possibilidade de escolher a conduta. Inclusive, escolher errado. E escolher certo ou errado é justamente o campo da ética como princípio.” P. 27.

Segundo Cortella, “a ética implica necessariamente conduzir a si mesmo.” P. 28.

De onde vem a ideia de que a virtude é algo que por vontade própria escolhemos fazer? E a ideia de igualdade? Barros responde:

“O que é mais bonito no pensamento cristão – com o perdão pela ousadia – é a própria mudança da ideia de virtude. Para os gregos, a virtude é a própria força, é o talento natural, digamos, atualizado. A virtude é a própria beleza, a própria rapidez, é um atributo da natureza de um corpo. No pensamento cristão, a virtude deixa de ser isso. Ela passa a ser aquilo que livremente decidimos fazer com os talentos que são os nossos. Fiz minha tese de doutorado na França com a ajuda do professor Bourdieu. Eu conversava com ele e tinha a nítida sensação de que não jogávamos na mesma divisão, porque seu patamar de intelecção é outro. Ele falava e eu, muito mais novo, quase um moleque, procurava aprender... O que diria um grego? ‘Há uma discrepância de virtude porque ele tem uma capacidade intelectiva que você não terá nunca.’ O que dirá o pensamento cristão? ‘Não é bem assim. Vai depender do que ele decidir fazer com o talento que é o dele e vai depender do que você decidir fazer com o talento que é o seu.’ Podemos não perceber, mas isso é redentor. Porque a própria ideia de igualdade, que é absolutamente fundamental em qualquer reflexão sobre ética, surge aí. A ética grega é uma ética aristocrática”. P. 35-36.

Inflitrados: Mongols


Mongols, gangue de motoqueiros vagabundos, que fazem todo tipo de merda pelas estradas e cidades norte-americanas. Drogados, assassinos, traficantes de drogas e armas. Por aí, percebe-se a qualidade dessas almas sebosas.

O nome da gangue é inspirado em Gengis Khan (1162-1227), imperador mongol que conquistou inúmeros territórios (China, Sudeste Asiático e Coreia), com suas táticas de guerra bastante eficientes.

Ciconne e Billy Queen, agentes federais, resolvem por conta própria, investigar e colher provas de que os Mongols estão envolvidos em várias práticas criminosas, mas para isso, precisam se infiltrar na gangue. Billy Queen se arriscar a fazer o trabalho de espião. Se disfarça de motoqueiro, muda toda a sua aparência, ficando barbudo, cabelo grande e todo mulambento, para convencer os Mongols, de que ele pode fazer parte do clube infernal deles.

Queen tem experiência em infiltrações, visto que já se infiltrou entre os skinheads, grupo neonazista, onde presenciou inúmeros crimes, inclusive crueldades com animais, quando eles pegavam gatos, para serem estraçalhados pelos seus cães pitbulls. Além disso, Queen participou da guerra do Vietnã. Portanto, o seu currículo lhe dá a estrutura necessária, para mais uma tarefa delicada e difícil.

Diz o documentário, que os Mongols apesar de ser uma gangue com menos membros que os Hell's Angels, eles são mais perigosos.

Queen consegue uma identidade falsa e começa a sua saga para conhecer os bastidores criminosos dos Mongols. Através de uma informante não muito confiável, chamada Sue, ele é levado, a um bar frequentado pelos membros da gangue. Ele é apresentado inicialmente a dois, e então passa a frequentar esse bar, para ganhar a confiança de todos ali. Aos poucos ele vai conhecendo os Mongols e se entrosando com eles. Sendo chamado para ir a um encontro do clube. O que caracterizou um notável avanço nas investigações.

Porém, sua vida pessoal e familiar, fica bastante prejudicada com seu novo disfarce e missão. Sua relação com seus dois filhos pequenos e com sua namorada anda cada vez mais complicada, pois ele tem dado pouca atenção a eles. E o pior: não pode revelar os detalhes de seu trabalho, por ser altamente sigiloso e perigoso. Até a diretora da escola de seus filhos, acredita que esta diante de um maloqueiro, devido a sua aparência, quando ele vai a uma reunião de pais. Os contatos com os filhos vão ficando cada vez mais raros. Sua namorada depois de tanto tempo sendo "negligenciada" por Queen, o deixa.

Mas ele continua seu trabalho para colher provas que incriminem os Mongols. No início nem orçamento tinha para a missão, mas a agência ATF reconhece o árduo trabalho feito por ele, e então entra na jogada, lhe dando apoio para que as investidas dele tenham sucesso.

Passam-se os meses, e a cada passo, ele vai ganhando espaço na organização. É posto a prova quando lhe é oferecida uma carreira de drogas para consumir. O grande problema é que é vedado qualquer consumo de entorpecentes  a agentes federais, mesmo estando infiltrados. Felizmente ele engana o seu parceiro, fazendo este acreditar que consumiu a droga.

Como já me alonguei demais, finalmente depois de dois anos conhecendo os detalhes nefastos da gangue e se tornado membro efetivo, ele resolve encerrar tudo, visto que já não aguentava mais a pressão de tudo aquilo. Até o seu psicológico estava bastante perturbado.

A polícia apreende várias armas, drogas e dinheiro, prende vários membros dos Mongols; são jogados e condenados. Muitos já estão soltos, e Billy Queen, agora precisa ter muito cuidado para não ser pego por eles.

Queen admite que se pudesse voltar atrás não faria de novo o que fez. Sua vida pessoal foi pelos ares. Seus dois filhos já não tem mais contato com ele. E ainda por cima, ele não pode vacilar, pois as ratazanas dos Mongols podem estar a espreita querendo caçá-lo para se vingar de sua "traição" ao grupo de motoqueiros que o acolheu e lhe deu lugar de honra entre eles.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O Livro Secreto da América: América Nazista


“Devemos assegurar a existência de nosso povo e o futuro para nossas crianças brancas.” – Adolf Hitler

O legado de terror de Adolf Hitler não acabou. Ele tem muitos seguidores nos EUA. Brancos que se julgam superiores a judeus, negros e imigrantes latinos. O objetivo deles? Destruir a todos. O neonazismo é permitido na terra do tio Sam. Discursos de ódio podem ser proferidos a vontade, e nada ocorrerá a quem dissemina violência verbal. O governo teme esses grupos, mas a primeira Emenda Constitucional garante a livre expressão de ideologias, mesmo que elas sejam para disseminar o extermínio de outros grupos.

Assustador isso! Eu mesmo tenho nojo de nosso Brasil, devido a tantas injustiças e descalabros do governo, em suas três instâncias (municipal, estadual e federal). Mas aqui, grupos assim, não podem expressar abertamente suas ideias assassinas. Claro que sei, que o contexto histórico-cultural da sociedade norte-americana é bem diferente do nosso. No entanto, independente das peculiaridades sociais daquela nação, é inadmissível, que mais de 200 grupos racistas possam propangadear abertamente suas tolices assassinas sem nenhuma punição. O racismo é algo tão entranhado lá, que nem o governo tem condições de coibir algo que eles sabem ser totalmente incompatível com os princípios democráticos que eles tanto dizem prezar.

Lamentavelmente triste! Uma questão levantada por um neonazista é que se os negros enchem a boca e dizem que têm orgulho de serem negros, porque os brancos quando fazem isso, são moralmente condenados? Bom, minha resposta é que os negros assim o fazem, devido a um passado de escravidão, opressão, preconceito e discriminação, sendo estas três últimas ainda bem presentes. Dessa forma, o que eles estão dizendo é que têm orgulho de serem negros, apesar de sofrerem todas as agruras que a vida lhes reservou, por exclusivamente terem a pele escura. Eles têm orgulho de não renegar a cultura negra, que foi tão menosprezada pelo etnocentrismo branco. Não faz muito sentido dizer que se têm orgulho de ser branco, quando seus antepassados e você, não sofreram as consequências do preconceito alheio, simplesmente por terem a pele mais clara.

Tudo bem existem negros fanáticos, que passam da conta, que tudo acham que é discriminação e etc. Erros de avaliação sempre haverá. Mas o que é incontestável é que foram os de “cor” que foram levados à força para América, e comeram o pão que os brancos amassaram. Existem, é verdade, comunidades de negros, que vêem os brancos como inimigos e tal, mas repito, isso em nada altera o passado de opressão que houve e que há. Se há essa rivalidade em não poucos lugares dos EUA, é porque os “mais claros” iniciaram isso, privando os “pretos” de direitos básicos, arrancando-lhes a sua humanidade. E convenhamos: branco que sai por aí dizendo que tem orgulho de ser branco, tem 99% de chance de ser racista.

As palavras de Hitler lá em cima são sagradas aos grupos neonazistas. Imbuídos de um sentimento de superioridade física, mental e espiritual, querem banir da terra, todos os seus “inimigos”. Conseguirão? O desejo diabólico de Hitler terá êxito, nas mãos de seus fantoches atuais? Dificilmente. Entretanto, o governo dos EUA tem um árduo trabalho pela frente, sobretudo, quando juízes, advogados, empresários, militares e policiais, comungam da mesma visão genocida desses grupos de ódio, até fazendo parte deles.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Candomblé e Umbanda

Candomblé: Orixá Ninú Ilê


Antigo documentário sobre o Candomblé gravado em 1978. De lá para cá, muita coisa mudou. O cuidado e atenção dispensados a cada detalhe, já vi alguns adeptos lamentarem que não existem mais, em muitas comunidades. Nem o culto nesse vídeo podia ser gravado. Os espíritos da comunidade não permitiam. Hoje em dia, os orixás e cia perceberam que não podem deixar de acompanhar os avanços tecnológicos e por isso, já se deixam serem filmados? Não esquecendo, é claro, que segundo eles, Ogum é o orixá da tecnologia. 

Candomblé: Folhas Encantadas


O Candomblé é uma religião que dá muita ênfase aos poderes que emanam das folhas, de acordo com os seus fieis. No vídeo em questão, a mais importante mãe de santo contemporânea, Stella de Oxossi, mostra-se uma pluralista religiosa. Ela diz que o Candomblé não é melhor que as outras religiões, mas apenas uma maneira encontrada por ela de cultuar o divino. Todos devem seguir intensamente os ensinos de suas religiões – servir a comunidade religiosa, conforme foi chamado. Um fato curioso que ela menciona é que muitas pessoas que estão profundamente envolvidas no “axé’, quando perguntadas qual religião professam, respondem que são católicas. Para ela, isso está errado, elas não devem negar o Candomblé. Particularmente gostei muito da fala dela.

Casa de Santo (Maragogipe)


Na cidade de Maragogipe, interior da Bahia, o Candomblé, proporciona um sentido de identidade, de se sentir especial, e de “ser” gente, aos seus habitantes. Essa religião traz coesão a sociedade maragogipana.

Mesmo sendo um crítico desses mitos e religiosidades tacanhas disseminados a torto e a direito em solo brasileiro, devo admitir que a religiosidade, neste caso, a religiosidade de matriz africana, bem ou mal traz em seu bojo um senso muito forte e imponente de ancestralidade, dando um lugar de honra aos seus aderentes, que ainda se sentem muito estigmatizados e vítimas de discriminação. É a válvula de escape deles, diante de um mundo tão hostil e cheio de problemas. De maneira similar, temos também nossos caminhos religiosos ou filosóficos, que nos servem como terapia diante das vicissitudes da vida.

O que é Umbanda 


Um documentário bem didático sobre as origens e práticas da Umbanda! Uma religião tipicamente brasileira, que traz em suas crenças e práticas, elementos das religiões africanas, indígenas, do kardecismo e do cristianismo.

O bom seria que o brasileiro não precisasse desse tipo de muleta para viver bem em sociedade e consigo mesmo. Mas nós, muitas vezes somos muito frágeis emocionalmente, e assim, precisamos nos apegar à algo. Se aproveitando da instabilidade psicológica de muitos, essas religiões vem e arrebanham um número muito alto de fiéis. 

Umbanda é Brasil


Micro documentário feito com intuito de desmistificar algumas ideias sobre a Umbanda. Por exemplo, pensa-se que a Umbanda é uma religião afro-brasileira. Mas não é. É uma religião criada no Brasil, por um brasileiro que incorpora elementos da religiosidade trazida pelos negros africanos. Assim como ela trouxe para a sua liturgia elementos da pajelança, catolicismo e kardecismo. As diferenças em relação ao Candomblé são substanciais, de acordo com os entrevistados. É uma verdadeira miscelânea de crenças e atos litúrgicos. É uma religião brasileira.

Uma garota que participa de um culto umbandista e vai se consultar com um suposto espírito provido de uma visão de mundo mais apurada e cheio de sabedoria, nas palavras dela, esses foram os “maravilhosos” conselhos dele: 

“Ele falou coisas sobre perspectiva de vida, sobre minhas dúvidas quanto ao meu futuro. Sobre seguir o seu coração, fazer o que você acha certo, e tomar isso como seu rumo, como um propósito pra você viver. Seguir o que você acha certo”.

Puta merda! A menina vai se consultar com esse suposto ser de luz, pra ele lhe dar esse tipo de conselho?! Essa menina não tem Facebook não?! Porque esse tipo de ajuda ela consegue em 5 minutos com o Face dela aberto. Não precisa ir num terreiro se submeter a baforadas de charutos na cara pra receber esse tipo de conselho LIXO; de quinta categoria; filosofia barata e sem valor. Espírito de araque.

“Seguir o que você acha certo” – existe pior pensamento do que esse?! “Seguir seu coração” – é de embrulhar o estômago. 

sábado, 14 de janeiro de 2017

Ensaios Sobre a História da Igreja


GONZÁLEZ, Justo. Ensaios Sobre a História da Igreja. São Paulo: Hagnos, 2010.

Quarto livro do Justo González (Ph.D e Mestre em Teologia Histórica na Universidade de Yale, EUA) postado por aqui. Mais uma obra dando uma verdadeira aula de como se deve estudar a história do cristianismo. González foge do modo usual de se olhar o passado da igreja cristã. Para começo de conversa, ele é um Historiador protestante com tendências bem ecumênicas. O seu olhar para o catolicismo romano, para exemplificar, é bem mais conciliatório e positivo do que da maioria das igrejas evangélicas na América Latina, que demonizam a igreja romana.

“[...] um dos males que o cristianismo evangélico latino-americano sofre é o da proliferação de facções e seitas, cada uma com a própria verdade, cada uma acusando a outra de não ser verdadeiramente cristã, e todas acusando o catolicismo romano de não ser cristão, ou até de ser o anticristo. As igrejas que têm um pouco mais de abertura para outras igrejas (ou – Deus não o permita! – para o catolicismo romano) são acusadas de serem ‘ecumênicas’, e, portanto, de não serem verdadeiramente ‘cristãs’, ou pelo menos de não serem ‘evangélicas’.” P. 25.

Eu não vejo com bons olhos, nem o catolicismo e nem esse montante de seitas e facções evangélicas lixo. São tudo farinha do mesmo saco.

Deixando os mais fanáticos seguidores de Calvino bufando de raiva, González revela a contingência das formulações calvinistas, que nunca foram e nunca serão sinônimo da ortodoxia que todos os cristãos devem adotar.

“[...] quando começo a entender que as posições desenvolvidas, por exemplo, pelo calvinismo ortodoxo, que desembocaram no Sínodo de Dort, não expressavam apenas considerações bíblicas ou doutrinais, mas também conflitos econômicos e sociais na Holanda do século 17, fica muito difícil tomar tais posições como medida final de ortodoxia nas circunstâncias muito diferentes do século 21.” P. 27 

Sabiamente ele coloca um freio de que também, não se deve aceitar qualquer merda que se fale por aí, propagadas pelas inúmeras seitas protestantes, que Deus sabe lá de que esgoto saíram.

“Entretanto, os estudos históricos também nos ajudam a julgar com mais cuidado essa profusão de doutrinas exóticas, de exoterismos gnósticos, de espiritualismos hedonistas que se multiplicam hoje em dia, e que claramente ficam de fora do âmbito tradicional da fé cristã. Desse modo, tais estudos nos auxiliam não apenas a tomar cuidado com o sectarismo injustificável, mas também a perceber os erros inaceitáveis de muitas das novas seitas que nós vemos surgir a nossa volta”. P. 27.

Os determinantes históricos, por mais que os mais empedernidos insistam, moldam a hermenêutica da Bíblia, nessa linha de pensamento, González expõe:

“Se a história da igreja é a história da interpretação bíblica, o próprio estudo mostrará para o estudante o caráter polissêmico do texto bíblico, interpretado em diferentes circunstâncias por pessoas com experiências e preocupações, determina ainda significados diferentes. O que, por sua vez, o forçará a enfrentar semelhantes questões como a tensão entre a tal polissemia, por um lado, e a autoridade e a alteridade dos textos, por outro.” P. 28.  

Em certos seminários, os alunos saem piores do que quando chegaram, pensando seriamente que somente a confessionalidade daquela instituição consegue abarcar corretamente o significado das escrituras. São centros de estudos mais preocupados em alienar seus discentes, do que em formar pensadores críticos.

Sobre como se deve estudar a história da igreja, González sabiamente escreve:

“A história já não pode ser lecionada como se seu tema fosse o passado. A história de se apresentar como o passado lido a partir do presente e em direção ao futuro. Tai idéia, que teria sido considerada como heresia por alguns de meus mestres de história, é lugar-comum nestes dias em que nos damos conta de que as supostas objetividades da modernidade não eram tão objetivas quanto pensávamos”. P. 28-29.

[...]

“Não basta, por exemplo, debater a simonia do século 15: é necessário também abordar como as circunstâncias econômicas presentes corrompem ou ameaçam corromper a vida eclesiástica de hoje. Não basta discutir como a igreja enfrentou as tendências gnósticas que a ameaçavam nos primeiros séculos: é necessário também discutir de onde e por que aparecem atualmente semelhantes tendências e como devemos reagir a elas.” P. 29.

A cada parágrafo mais lucidez é lançada, para um estudo histórico responsável:

“Mas o certo é que a nossa interpretação do passado reflete sempre nossa circunstância presente e, portanto, queiramos ou não, existe um ciclo presente/passado/presente semelhante ao ciclo ação/reflexão/ação e paralelo a ele. Se com honestidade fizermos ver a nossa estudantes que nossa leitura da história tem muito a ver com o nosso lugar social e com os nossos interesses, explícitos e implícitos; se, igualmente, lhe fizermos perceber que as histórias que outras pessoas escreveram antes também refletiram o presente desses historiadores, estaremos estimulando nossos alunos a refletir sobre o passado e a construído o passado a partir de sua prática e fé, e, da mesma forma, a construir sua prática de fé à luz de seus estudos históricos.” P. 29-30.

O estudo cuidadoso da geografia é bastante salutar aos estudantes de história. Segundo o autor, é escasso o conhecimento dos alunos sobre a geografia dos eventos estudados. O que gera uma deficiência cognitiva entre os lugares e seus personagens. A importância do estudo da Geografia é o primeiro requisito proposto para se estudar a história do cristianismo – González até trata mais especificamente desse tema em outro livro (Mapas Para Futura História da Igreja – Editora: CPAD).

“[...] muitos estudantes de história da igreja tentam aprender as controvérsias cristológicas, com seus conflitos entre as escolas alexandrina e antioquenha, sem ao menos se dar ao trabalho de olhar em um mapa onde ficam Alexandria e Antioquia. Ou estudam sobre os ‘Grandes Capadócios’ sem averiguar do que se trata a Capadócia, e muito menos como ela é. Ou aprendem de memória que Lutero nasceu em Efurt, que foi professor em Wittenberg, que esteve na Dieta de Worms, mas eles não fazem a menor ideia sobre a relação geográfica existente entre esses lugares.” P. 34.

Não me lembro de nenhum Professor meu, no curso de História, falar sobre a importância de se devotar tempo especial aos mapas, para conhecer a relação existente entre os países, cidades, locais, e seus protagonistas. Certamente, essa deficiência não é exclusiva nos alunos de cursos teológicos. 

Nenhum Historiador é especialista em todos os eventos da história

“Certamente, até os mais destacados e famosos historiadores da igreja, aqueles que realizam as investigações históricas mais profundas e originais, são apenas especialistas em alguns pontos ou tópicos; nos demais, eles não passam de ‘generalistas’, e seus conhecimentos são limitados ao que leram nos trabalhos de outros historiadores. Aquele historiador a quem admiramos pelos estudos de Basílio de Cesareia possivelmente derive seu conhecimento acerca de Lutero do que leu nos escritos de outros historiadores. E é bem possível que não conheça mais sobre a missão dos jesuítas na China além daquilo que aprendeu no curso introdutório de história da igreja.” P. 40.

Para se escrever algo novo, precisa-se conhecer o velho

“Com muita frequência encontro pessoas que, sem conhecer o velho, querem fazer algo novo. Um estudante me diz que quer escrever uma nova interpretação de Lutero. Quando lhe pergunto pelas interpretações existentes, ele admite que não as conhece. Como então saberá que o novo é de fato novo?” P. 42.

O bispado feminino já existia nos primeiros séculos da igreja

“Um sínodo reunido em Laodiceia, no ano 352, proibiu que as mulheres servissem como sacerdotes ou dirigissem igrejas, em outras palavras, que se tornassem bispos. O próprio fato de um sínodo ter promulgado semelhante legislação indica que, pelos menos, até aquela data, havia sim mulheres ocupando tais funções.” P. 67-68.

Celibato

“A primeira legislação oficial em prol do celibato eclesiástico se deu em um concílio reunido em Elvira, Espanha, no ano 305, cujo cânon número 33 diz:

‘Decidimos proibir totalmente aos bispos, presbíteros e diáconos e a todos os clérigos que exerçam o ministério sagrado, o uso do matrimônio com suas esposas e a procriação de filhos. Quem o fizer, será excluído da honra do clericato’.” P. 81.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

CIÊNCIA OU RELIGIÃO: quem vai conduzir a história?


BRAKEMEIER, Gottfried. Ciência ou Religião: quem vai conduzir a história? São Leopoldo: Sinodal, 2006.

“Quem sabe pouco amiúde está convicto de que a ciência vai refutar a religião. Quem, porém, de fato sabe muito enxerga que a cada passo se aproxima de uma concepção correspondente à da religião.” P. 27. – Jean Guitton, Ph.D em Letras pela Escola Normal Superior de Paris, membro da Academia Francesa.

Existe um antagonismo intrínseco entre Religião e Ciência? Ambas precisam estar em pé de guerra eternamente? Uma exclui compulsoriamente a outra? Levar a sério as duas é entrar em contradição? A Religião sempre foi um entrave aos avanços dos conhecimentos sobre o mundo natural? A igreja sempre atrapalhou, e continua imperrando os caminhos da Ciência?

Fato é que muitos igrejas no passado tiveram e ainda têm um sentimento de desprezo doentio pela Ciência, quando está faz afirmações que vão contra os seus dogmas. A irracionalidade ainda é muito visível entre muitas pessoas ligadas a certas igrejas. Aqui no Brasil, principalmente nas igrejas de tradição pentecostal/neopentecostal. A igreja católica, apesar de ser moderada e promover o conhecimento científico, mediante a Academia do Vaticano e Universidades, ainda possui algumas crenças que precisam ser revogadas. Brakemeier (Ph.D em Teologia na Universidade de Gotinga, Alemanha) escreve:

“A história da relação entre religião e ciência tem sido marcada por rivalidade e acontecimentos traumatizantes. Produziu mártires, a exemplo de Giordano Bruno (1548-1600), condenado pela Inquisição da Igreja Católica, torturado e queimado vivo por sua resistência em retratar-se no que dizia respeito às suas convicções copernicanas. Não menos escandalosa é a perseguição de que se tornaram vítimas muitos cientistas por partes de grupos protestantes, na maioria fundamentalistas. Foram coagidos a renunciar a cargos e direitos, sofreram difamação, foram hostilizados”.  P. 10.     

Mas nem sempre foi e é assim!

“Ainda assim, a imagem de permanente guerra entre esses gigantes, que são a religião e a ciência, é falsa. Ela peca por uniteralidade e omissão de fatos. Há que se lembrar que as novas conquistas científicas sofreram contestação inicial não apenas por parte de teólogos e pessoas ‘crentes’. Eram controvertidas entre os próprios cientistas. É o que costuma acontecer quando do lançamento de novas teorias. São recebidas em compasso de espera e apreciação. Ademais, é notável que os pioneiros, em sua esmagadora maioria, eram cristãos convictos e consideravam a si mesmos filhos fiéis da igreja. Aplica-se a isso tanto a católicos como a protestantes”. P. 11-12.

“[...] ciência e fé não são inimigas ‘naturais’. Ainda hoje não faltam exemplos ilustres de cientistas declaradamente cristãos. Há que se ouvir com atenção o seu testemunho.” P. 12.  

O exemplo desses ilustres Cientistas estão presentes no livros “Verdadeiros Cientistas, Fé Verdadeira” e “O Teste da Fé”,  resumidos neste blog:



Aquilo que já foi contado às dezenas de vezes aqui: a Ciência moderna surge impulsionada pela visão judaico-cristã. Os Cientistas cristãos na certeza de que o mundo natural pode ser estudado e escrutinado, porque um Deus pessoal todo-poderoso o criou, foram os precursores do conhecimento científico na modernidade. O mundo não era um caos; não era o próprio Deus; era apenas a criação desse Deus e, descobrir os seus mecanismos era uma das formas de servir e adorar o Divino.

“[...] o desenvolvimento das ciências naturais teve o ambiente cultural cristão como premissa indispensável. Foi somente no mundo ocidental que elas conseguiram desabrochar”. P. 12.

Mas todos sabemos que os gregos pagãos, muito antes do Cristianismo e da idade moderna, foram exímios Filófosos naturais, que deram grandes contribuições para conhecimento da natureza. Egípcios, babilônios, chineses e indianos, de muitos séculos atrás, por exemplo, fizeram descobertas extraordinárias, inclusive na Biologia, Medicina, Matemática... Por que parece que o crédito só vai para o ocidente cristão, ou a maior fatia do bolo vai para a Europa cristã? Eis a resposta:

“Evidentemente, pesquisa científica não é nenhuma invenção cristã. Ela tem notáveis precursoras na antiguidade, na Babilônia, no Egito, na China e, principalmente, na Grécia. [...] Todavia, as ciências antigas, muito antes do advento da igreja cristã, como que atolaram. Ficaram trancadas. A concepção heliocêntrica, por exemplo, pareceu por demais complicada aos gregos para ser verídica. Prevaleceu a geocêntrica, defendida por Hiparco ( 190-126 a. c.) e Ptolomeu (por volta de 140 d. c.). As causas, porém, são mais profundas. Residem essencialmente no pensamento ontológico grego, atemporal, estático. Buscava a harmonia do cosmo, mas não tinha olhos para a dinâmica das transformações na natureza. Enquanto isso, o pensamento judaico-cristão, que enxerga a história mover-se em direção a um fim último, ‘escatológico, possibilitou um novo olhar, favorável a análise científica da natureza.

[...] Essa tradição judaico-cristã ‘desencantou’ a natureza. Procedeu a um ‘desendeusamento’, respectivamente a uma ‘demonização’ radical das forças naturais. Essas já não mais seriam nem divinas tampouco demoníacas. São destituídas de atributos mágicos, mitológicos e religiosos. Sol, lua, estrelas, oceanos, terra, tudo passa a ser ‘mundo’, criação, e por isso, objeto de estudo. Consiste nisso um dos grandes propósitos da história da criação no livro de Gênesis, a saber: a ‘demitologização’ da natureza. Proclama o universo como obra de Deus, distinguindo entre criador e criação. A natureza não merece adoração, muito embora deva ser respeitada como dom divino. É claro que não há clima propício as ciências naturais enquanto se atribui qualidade divina a seu objeto de pesquisa.” P. 12, 13.  

Em relação aos países muçulmanos, algo semelhante aconteceu.

“Também a cultura islâmica conheceu uma era árdua das ciências, da qual o mundo ocidental é devedor. Situa-se entre os séculos IX e XII da nossa era. São de origem árabe, por exemplo, os algarismos mundialmente usados hoje. Sem eles, somente à base dos antigos algarismos romanos, são inimagináveis o desenvolvimento da matemática e a explosão da ciência na modernidade. Todavia, também a ciência muçulmana estagnou. Não teve continuidade. Atualmente, a relação entre ciência e religião islâmica parece carecer de nova definição. Há quem diga que ‘o islã e a ciência continuam a ser zonas de discursos separados e não sobrepostos para a maioria dos muçulmanos, mesmo para os cientistas muçulmanos”. P. 14.

O livro logo nas primeiras páginas já nos traz todo esse arsenal de informações.

Outros trechos interessantes:

“Ora, a ciência não conseguiu aniquilar a religião. O vaticínio de integral secularidade da sociedade moderna não se cumpriu. Pelo contrário, fervor religioso renasce com vigor em meio ao mundo tecnicizado”. P. 18.

“Aliás, vale sublinhar que nem toda religião é fundamentalista. O fenômeno religioso como tal, pois, não merece a imagem negativa que amiúde dele se constrói. Religião não é violenta por natureza nem aliena seus adeptos. [...] Importa julgar as religiões por seu discurso fundante, não pelos desvios comportamentais. Em suas formas autênticas, religião costuma desempenhar função altamente salutar, sim, terapêutica, para as pessoas. Toda cultura repousa em bases religiosas.” P. 18.

“A ciência não conseguiu cumprir suas promessas seculares. O otimismo histórico de outrora evaporou. O lançamento da bomba atômica revelou em definitivo que as conquistas científicas podem ser usadas também em desfavor da humanidade e ameaçar sua sobrevida. O feitiço voltou-se contra o feiticeiro”. P. 20.

[...]

“Seria estúpido responsabilizar ‘a ciência’ por esse desenvolvimento. As ciências não são nada demoníaca. O sujeito responsável sempre permanece sendo o ser humano”. P. 20.

“[A] ciência deve ser responsabilizada. O mesmo vale, aliás, para a religião. Também ela não está isenta da prestação de contas frente à sociedade. Religião pode degenerar e adquirir uma natureza até mesmo diabólica. Não dispensa o exame crítico”. P. 24.