segunda-feira, 26 de junho de 2017

O Poder de Jesus: O Sacrifício


Alguns dos motivos que esse documentário enumera dos hábitos e crenças dos primeiros cristãos que iam contra os princípios do Império Romano:

- Não sacrificar aos deuses romanos;
- Reuniões cristãs secretas;
- Práticas estranhas aos olhos do Estado e da população;
- Separação de famílias pela conversão;
- Comportamento proselitista agressivo, dizendo que os deuses romanos são imorais.

Tudo isso somado, não poderia passar em branco pelo governo de Roma. Os cristãos podiam ser cristãos, contanto, que também fossem "romanos", aceitando praticar as diretrizes básicas das autoridades. E aí estava o problema. Como eles podiam participar dos sacrifícios de animais de uma religião politeísta, quando o seu salvador e Deus (Jesus) tinha morrido de uma vez por todas para salvá-los?

Agora, houve exagero, e ainda há, no número de cristãos que muitas vezes ouvimos que foram martirizados pelo império. Passa-se a ideia de que desde o seu surgimento, os cristãos foram implacavelmente perseguidos, mortos, torturados e intolerantemente esmagados pelas autoridades do grande império. Quando na verdade, muitos foram os períodos de paz e convívio tranquilo entre os primeiros crentes e o governo, onde milhares de cristãos viveram calmamente a sua fé, sem serem perturbados.

Assim como há um aumento injustificável do número de pessoas mortas pela inquisição católica, há também, fruto de uma propaganda cristã enganosa no passado - um mito de que muitíssimos e muitíssimos seguidores de Jesus foram martirizados pelo império romano em seus primeiros séculos.

Houve sim, momentos de intensa perseguição, mas não como nos é geralmente passado. Não há documentação histórica que ateste uma opressão/tirania/violência/repressão/tormento/vexação/acossamento ininterruptos contra os discípulos do homem de Nazaré.

Perpétua foi uma das principais mártires que caiu nas mãos sanguinárias dos romanos, sendo morta na arena, não por um soldado romano, que se negou a matá-la, mas por ela mesma, que pegou a espada e enfiou em seu pescoço, ali na frente de todos, para lhes mostrar que ela não se importava em morrer pela sua nova fé no galileu de Israel.  Num certo momento virou moda querer morrer pela fé cristã.

Os cristãos foram aumentando cada vez mais, principalmente quando houve uma enorme praga que devastou o império romano, que acredita-se que pode ter sido a varíola. E quem estava dando assistência aos moribundos? Os cristãos, quando ninguém estava disposto a ajudar a essas pobres almas, na porta da morte. O cristianismo jogou na cara da sociedade o seu valor enquanto religião, dando assistência de prestimosa importância. Mas isso não foi suficiente para que o império os vissem como não subversivos. Se não aceitassem a estrutura social-religiosa de Roma, deveriam pagar pelas consequências de tal escolha. Assim, houve períodos de caça aos adeptos dessa religião estranha e petulante.

Como é dito, nos últimos anos, já morreram mais pessoas por causa de sua fé em Jesus, do que nos primeiros trezentos anos da igreja. A perseguição hoje é muito mais acirrada em vários países pelo mundo a fora. Países muçulmanos, países da África, China, Coreia do Norte e etc. Basta uma rápida pesquisa na web, para vermos que atualmente apenas dizer que acredita em Jesus, em certas regiões do planeta, é arranjar um problemão, que muitas vezes custa a própria vida. 

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Desprogramado


Ted Patrick foi um negão cabra macho, que causou muita polêmica em 1970, por sequestrar e desprogramar – desfazer a lavagem cerebral que as seitas faziam em suas vítimas, lhes tirando a sua capacidade de pensar, racionar, e ter suas próprias ideias, para confrontar o mundo e se relacionar com ele e com os outros.

Os métodos de Patrick eram tudo, menos ortodoxos. O negão, com o consentimento dos pais da vítima de alguma religião maluca, sequestrava mesmo, o indivíduo, para lhes fazer uma lavagem cerebral ao contrário, esperando que ele voltasse a si, podendo ver as coisas com a sua inteligência crítica, sem as amarras do guru ou grupo religioso, que o havia fisgado com suas ideias egocêntricas e messiânicas infundadas.

É de surpreender que centenas dessas desprogramações deram certo. Um método rude, simples e direto, que tirou milhares de pessoas das garras das seitas que povoavam o cenário norte-americano há cinco décadas. Cientologia, Igreja do Reverendo Moon, Hare Krishna e tantas outras, que se cuidassem, pois a qualquer momento estava Ted Patrick com seus capangas, sequestrando os membros delas, a pedido dos pais, para que eles pudessem enxergar que eles estavam arruinados espiritualmente, enquanto estivessem numa religião que os tornavam totalmente passivos.

É curioso saber qual era os argumentos usados por Patrick para convencer os sectários de que eles estavam sendo descaradamente enganados. Pelos vídeos gravados na época, suas palavras eram objetivas e diretas. 

“O seu líder é um mentiroso”.

“Essa religião só quer o seu dinheiro”.

“Esse livro não tem qualquer fundamento.” 

“Você não vê que eles não deixam mais você pensar por si mesmo”.

“Ele não é o Cristo.”

É impressionante que Patrick tenha tirado tanta gente do inferno das seitas.

É claro que seus métodos de sequestro e cárcere privado foram questionados, criticados e desaconselhados por muitos. Muitas vezes ele foi preso e condenado por agir dessa maneira. Mas logo ele saía da prisão, já estava no outro dia, fazendo a desprogramação em algum jovem desmiolado, a pedido dos pais desesperados por perceberem que suas crias estavam indo por um caminho super perigoso.

Alguns que passaram pelo ritual de desprogramação são entrevistados e contam as suas experiências com Patrick. Uns lhes são gratos. Outros, até saíram das seitas, porém, guardam muitas mágoas do Patrick, por ele ter agido como agiu. Um entrevistado, depois de trinta anos, disse que não foi convencido. Na verdade, esse continua perturbado.

Ted Patrick participava sem constrangimento dos programas televisivos da época, explicando seus métodos. Quando questionado sobre sequestrar as pessoas, ele tinha uma resposta pronta, visto que partia do pressuposto de que os pais têm direitos sobre os filhos e pronto. Quando perguntado qual era a sua formação acadêmica, dizia que tinha estudado só até a décima série, e que devia ter parado na nona. Dizia que tinha doutorado em bom senso e experiência de sobra para fazer o que fazia. Pois sabia que estava fazendo o bem.

Suas ideias são a base para muitos estudiosos estudarem as seitas e convencerem as pessoas que fazem parte delas, a vê-las criticamente. O mundo não é mais o mesmo. Os métodos indelicados usados por Patrick, já estavam diminuindo na década de 1980. Nos anos 1990 já era impensável fazê-los, sob pena de mais uma prisão em seu currículo.

De qualquer forma, ele livrou várias almas bobinhas e ingênuas do caos das seitas e cultos. 

Documentários Vistos (12)


Após o término da segunda guerra mundial, a URSS criou várias cidades secretas e fechadas, que não constavam nos mapas para construir o seu poderoso arsenal nuclear. Dezenas de cidades foram construídas, e os russos, coitados, coagidos, a participarem dos projetos do governo. Desastres nucleares aconteceram, afetando não somente o ambiente natural, mas as pessoas que moravam nesses municípios. Só a partir de 1994 eles passaram a existir oficialmente. Hoje muitas dessas cidades continuam fechadas, e com usinas nucleares enriquecendo em doses cavalares o plutônio e o urânio. Seus moradores estão expostos a radiação, e o Estado russo, pouco faz por eles. Uma ativista dos direitos humanos, moradora da Cidade 40, assim chamada no período da extinta URSS, e hoje por nome de Ozersk, tenta de todas formas possíveis fazer com que o governo russo ampare a população afetada. Seu sucesso até 2015 foi irrisório diante de tantas pessoas vitimizadas pela radiação. O governo corrupto da Rússia tornou a estadia dessa militante um inferno, ao ponto dela ter que pedir exílio na França com suas duas crianças.


Em Mumbai, na Índia, existem 6 gabirus para cada habitante. É rato pra cacete. Para conter a peste de ratazanas, o governo contrata vários caçadores, que passam todas as noite atrás de ratos, com um pedaço de pau na mão. Isso mesmo, matam os Jerrys com simples pedaços de pau, fornecidos pelos governo. Cada matador têm que levar no mínimo 30 ratos mortos para o centro de coleta. Muitas vezes a cota não é atingida. O que prejudica drasticamente os seus salários. O governo paga uma mixaria por cada leva de 30 ratos mortos. E tem que ser gabiru mesmo, nada de matar e levar para os postos de coleta, ratos pequenos, pois estes não contam entre os 30. Na Índia até os gatos têm medo dos roedores; não se metem a besta com eles. Os caçadores são jovens até com nível de Pós-Graduação, outros estão na faculdade, têm famílias, possuem muitos sonhos. Mas no momento é o emprego de matar ratos a noite que as circunstâncias lhes oferecem.


Legal reconhecer e homenagear as quase três mil pessoas mortas no fatídico 11 de setembro de 2001. Mas quantas e quantas tragédias houveram de lá para cá, com milhares de mortes nos países pobres (como os da África), e não estamos nem aí. Parece que na mídia e no nosso inconsciente, americanos e europeus são mais humanos que os outros povos.


As pessoas se casam, mas o ideal de fidelidade de um para com o outro é tornada nula em boa parte dos casamentos. O site Ashley Madison é o exemplo maior de que o adultério está em alta. Bom, sempre esteve, mas agora temos a tecnologia disponível para agilizar nossos desejos. Essa mesma tecnologia num efeito reverso lascou a vida de milhões de usuários do Ashley Madison, quando o site foi hackeado e os dados de seus clientes foram expostos para Deus e o mundo ver. Um mar atividades antiéticas do site foram reveladas. Mas tem jeito não, o site continua aí, para os puladores de cerca, insaciáveis por novas aventuras sexuais. Pintos e vaginas nervosas, loucos para entrar em outros quintais.

Ótimo documentário da Netflix.


Fantástico, fantástico, fantástico. A biodiversidade de animais e insetos que povoam a Terra é extraordinária. As imagens captadas pela BBC são perfeitas.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Livros Lidos (34)



Essas são as questões tratadas neste livro:

1. A questão da origem:

De onde eu vim?

2. A questão do destino:

Para onde vou?

3. A questão da finalidade:

Por que estou aqui?

4. A questão dos padrões morais:

Como devo viver?

O que responde melhor essas perguntas? O Ateísmo? O Teísmo Cristão? 



Lourenço é um dos poucos Cientistas que defendem o Criacionismo da Terra Jovem, que ele acredita ser o ensino retirados da Bíblia. Para ele é crucial que a igreja evangélica assim creia. É questão de extrema importância. Nesse livreto, ele força a barra para adequar a sua interpretação das escrituras ao que a Ciência descobriu. 


Johnson é o líder do Movimento de Design Inteligente, um projeto empreendido por vários Cientistas, com a finalidade de jogar por terra a Teoria da Evolução. Esse livro é um dos pioneiros nessa batalha contra Darwin e a comunidade científica. Lembrando que Johnson não é Cientista, mas sim, um grande especialista em Direito, na Universidade de Berkeley, Califórnia. 


Outro livro do Johnson contra a evolução. Ousado esse título, hein? Ele consegue "derrotar o evolucionismo com a mente aberta"? Não. Mas o livro tem seus méritos. Questões de crucial relevância levantadas que precisam ser respondidas. Meu problema com ele, algo que já expressei em outras postagens, é seu verdadeiro objetivo de colocar o teísmo cristão como pressuposto nas Universidades. No fundo, no fundo, me parece, que ele quer resgatar o velho criacionismo. 


Alister McGrath é um dos meus autores cristãos favoritos. Esse cara é equilibrado, inteligente, é possuidor de um vasto conhecimento científico, teológico e histórico, como poucos. Esse livro, juntamente com a sua esposa, é uma boa refutação das ideias centrais do Deus, Um Delírio, já postado nesse blog, Os McGraths dão uma bela resposta ao Dawkins. Lembrando que ele tem muitas coisas boas em seu livro antirreligioso. 

O Dia Que Durou 21 Anos


O vídeo nos traz “um documento inédito com imagens reveladoras que mostram como e porque os Estados Unidos da América decidiram interferir na política interna do Brasil, com o pretexto do avanço comunista vitorioso em Cuba. Criando as condições para o golpe militar de março de 1964.”

O Brasil era uma super potencia regional. Um país imenso com vasto potencial econômico. Vasto potencial de liderança. Os EUA não podiam se dar ao luxo de perdê-lo.

O Professor de História da UFRJ, Carlos Fico argumenta que o embaixador americano Gordon Lincoln foi de extrema importância para o êxito do golpe. A embaixada americana teve uma importância enorme naqueles anos. Ela nunca investiu tanto dinheiro como na época do golpe e da ditadura.

A revolta militar foi fomentada por Magalhães Pinto, Adhemar de Barros e Carlos Lacerda, governadores dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, com o apoio dos grandes veículos de comunicação.

Fazendo uma breve retrospectiva do poder político das Forças Armadas brasileiras, elas adquiriram grande poder de influência após a Guerra do Paraguai. A politização das instituições militares ficou evidente com a Proclamação da República, que derrubou o Império, com o tenentismo e a Revolução de 1930.

Em 1961, Goulart foi autorizado a assumir o cargo, sob um acordo que diminuiu seus poderes como presidente com a instalação do parlamentarismo. O país voltou ao sistema presidencialista um ano e alguns meses depois, e, como os poderes de Goulart cresceram, tornou-se evidente que ele iria procurar implementar políticas de esquerda, como a reforma agrária e a nacionalização de empresas em vários setores econômicos, independentemente do consentimento das instituições estabelecidas, como o Congresso.

Alguns autores afirmam que a ditadura, não foi exclusivamente militar, sendo, em realidade, civil-militar. Pelo menos no início, houve apoio ao golpe de alguns segmentos minoritários da sociedade: a elite que dominava o Brasil havia séculos, uma grande parte da classe média (que na época girava em torno de 35% da população total do país) e o setor conservador e anticomunista da Igreja Católica, na época majoritários dentro da Igreja.

Vivia-se, naquela época, a Guerra Fria quando os Estados Unidos procuravam justificar sua política externa intervencionista com sua suposta missão de liderar o "mundo livre" e frear a expansão do comunismo. A violenta luta internacional entre Estados Unidos e União Soviética, capitalistas e comunistas encontrou eco nos discursos da política brasileira.

Goulart procurava impulsionar o nacionalismo trabalhista através das reformas de base. Os setores mais conservadores, contudo, se opunham a elas. Um evento que aumentou a insatisfação entre setores conservadores militares ocorreu quando Jango decidiu apoiar os militares revoltosos de baixa patente da Revolta dos Marinheiros.

No dia 13 de março de 1964, João Goulart assina em praça pública, no Rio de Janeiro, três decretos, um de encampação das refinarias de petróleo privadas, outro de reforma agrária à beira de rodovias, ferrovias, rios navegáveis e açudes e um decreto tabelando aluguéis. Esses decretos de 13 de março foram usados como pretexto pelos conservadores para deporem João Goulart.

Entre os militares, um grupo defendia medidas rápidas diretas e concretas contra os chamados subversivos, ou inimigos internos, estes militares apoiavam sua permanência no poder pelo maior tempo possível; ao contrário do grupo anterior, o segundo era formado por militares que tinham por doutrina a tradição de intervenções moderadoras.

domingo, 18 de junho de 2017

Inferno Santo


Todo grupo religioso que arroga para si exclusividade exagerada é preciso ter muito cuidado com ele. Reunião de várias pessoas em torno de um guru que diz ser portador de uma mensagem especial, que irá transformar a vida de seus ouvintes, caso eles obedeçam as suas diretrizes, pode ter certeza, que tal “mestre” se trata de um manipulador psicopata. É o tipo de “mestre” espiritual que não aceita ser questionado, pois tem a iluminação única e exclusiva do Deus, do Universo, da Natureza, dos Deuses. O mundo está num atoleiro de erros, mas ele tem a solução para encontrarmos o nosso Eu interior, a verdadeira identidade espiritual. Isso também vale para grupos e ideologias políticas.

Nesse sentido, quase todas as igrejas têm um pouco de sectarismo. Elas sempre estão a manipular a mente de seus seguidores, com discursos do tipo: faça isso; não haja assim; não questione o homem de Deus; não questione a Bíblia; não pense, apenas aceite a verdade; se você sair da igreja, sua vida será um inferno... Assembleia de Deus, Adventista de Sétimo Dia, Igreja Mórmon, Congregação Cristã no Brasil, Igreja Católica, e os exemplos podem ser multiplicar. Todas essas mencionadas tem o seu quinhão sectário e perigoso. Cada uma acusa a outra de suas aberrações teológicas e vacilos históricos, mas dificilmente veem os seus erros como pecados vergonhosos. Sempre o quintal do outro está perdidamente sujo; no próprio quintal, uma leve varrida resolve o problema.

Vendo Holly Hell (Santo Inferno), não parei de pensar em como certas pessoas (inclusive eu) podem ser suscetíveis a ideias absurdas propagadas por algum manipulador astuto.

Michel Rostand enganou, manipulou e abusou de dezenas de pessoas, durante 22 anos, sem que ninguém o questionasse de dentro da seita. De 1985 a 2007, ele fez de fantoches vários homens e mulheres, que estavam totalmente submissos aos seus caprichos. O que começou com algumas palestras bobas de autoajuda nos rios, mansões, lagos, lagoas e florestas da Califórnia, se tornou numa verdadeira seita doentia.

Para não ser desmascarado, Michel Rostand vai para Austin, no Texas, e nesta cidade, agora com o nome mudado para Andreas, recomeça a sua saga enganadora, fazendo com que os seus seguidores de Los Angeles, o acompanhasse, deixando empregos, famílias e negócios para trás. Os anos foram se passando, e o narcisismo de Andreas aumentavam cada vez mais. As pessoas que o seguiam, estavam que nem patinhos obedientes, totalmente sem reação ao que lhes era mandado.

Andreas tinha demonstrado em suas palestras espirituais, um grande horror ao sexo, dizendo que este atrasava a evolução espiritual, mas por trás dos panos comia os homens de sua seita. Posteriormente foi descoberto que ele tinha sido um ator pornô de filmes gays. O infeliz até fez uma irrisória participação no clássico O Bebê de Rosemary.

Para encurtar a história, em 2007 ele foi desmascarado, e depois de 22 anos, seus fantoches viram a verdade de que ele era um aproveitador, que escravizou as suas mentes. Andreas foi para o Havaí, onde até hoje (inacreditável isso), conseguiu angariar novos otários para lhes servir. Muitos dos antigos fieis da seita continuaram com ele, mesmo sabendo de todas safadezas que ele fez. Com certeza o ajudaram a recrutar novas ovelhinhas para o seu pasto. Vai entender o ser humano, né? 

Um Estado de Liberdade


"Você pode ser dono de um cavalo, de uma mula, ou vaca ou boi, mas você não pode possuir um filho de Deus." - Newton Knight. 

Em 1776 na Guerra da Independência, os Estados Unidos consegue se libertar do jugo da Inglaterra. A partir daí, a ex-colônia inglesa deslanchar como potência no cenário global, aumentando sua economia e população. O norte se industrializa; o sul continua rural. Há um impasse entre norte e sul: ambos têm interesses distintos e antagônicos em como conduzir sua política, sociedade e economia. O norte pressiona o sul a acabar com a escravidão. O sul, baseado exclusivamente na monocultura do algodão, com grandes senhores latifundiários, não aceita em hipótese alguma que sua mão de obra gratuita e forçada, seja liberta. O norte almeja mais mercado consumidor, mas os negros sendo escravos, nada consomem, precisam ser “livres” para terem algum poder de compra. Esse é mais ou menos o contexto em que se desenrola a história real desse filme. Existiram outros fatores que levaram a Guerra de Secessão (1861-1865), mas o sistema escravagista é o que interessa a Um Estado de Liberdade.

Newton Knight, personagem protagonista, faz parte do exército dos confederados – os estados do sul, que não compactuavam com o fim da escravidão. Depois que seu sobrinho morre por levar um tiro numa trincheira, ele deserta e vai para casa levando o seu parente morto para a sua mãe. Os desertores eram severamente punidos. Os homens chamados para guerra tinham que permanecer nela até segunda ordem. Entretanto, para Newton, não havia motivos para ele lutar.

Ele acaba se metendo em mais confusões quando impede que soldados do governo arranquem os poucos recursos que os moradores têm, como milho, comida, tecidos, algodão, dinheiro... Estava estipulado pelo governo que 10% dos recursos dos sulistas podiam ser pegos pelos soldados, para ajudar na guerra. Porém, eles não pegavam apenas o dízimo da produção dos camponeses. Na verdade, era o contrário, eles só deixavam 10% dos recursos, as vezes nem isso.

Apontando as armas para esses furtadores do Estado, Newton arranja mais problemas, tendo que fugir para o pântano e se juntar a negros fugidos, que lá já estavam escondidos. Com a ajuda de outros negros e de uma comerciante da cidade mais próxima, eles formam um pequeno exército, que obtém êxito em desarticular os sulistas escravagistas. Um considerável pedaço do Mississipi e outras regiões são tomados por esse regimento de desertores negros e brancos. Newton mostra-se um intrépido defensor da liberdade.

Chega o ano de 1865, mês de abril, e a guerra chega ao seu fim, com os estados da União – que lutavam para que a escravidão terminasse - sendo os ganhadores desse episódio sangrento. A escravidão já não existia mais. Agora os negros são livres como os brancos, pelo menos em teoria. Um Estado de Liberdade nos conta uma realidade bem diferente. Os negros sulistas continuam trabalhando nas plantações de algodão, num regime de semiescravidão. Quase nada mudou.  A Klu Klux Klan é formada, assassinando vários negros. As dificuldades para os afrodescendentes eram gigantes.

Nas eleições que se aproximam, negros agora podem votar, mas quando o resultado das urnas saem, vê-se que seus votos não foram computados. Um caminho longo e difícil seria traçado, para quem sabe então, terem os seus direitos realmente respeitados.

Intercalando entre o século XIX e século XX, o filme se lança décadas a frente num tribunal onde o descendente de Newton e Rachel (uma escrava), fenotipicamente branco, mas com uma conjuntura genotípica mista, é julgado por ter violado as leis do Mississipi, ao se casar com uma branca. Ele mesmo sendo branco na aparência é considerado negro pelo Estado, por ser filho de uma mulher de “cor”. Ele é considerado culpado.  

Vemos que o caminho do racismo foi e ainda é, uma batalha muito além da Guerra da Secessão. 

quinta-feira, 15 de junho de 2017

A Caminhada Cristã na História


MATOS, Alderi Souza. A Caminhada Cristã na História. Viçosa, MG: Ultimato, 2005.

Segunda vez que leio esse livro do Alderi Souza de Matos, Ph.D em História da Igreja na Universidade de Boston, EUA. Livro muito bom. Leitura super agradável e bastante informativa. Alderi tenta ser bem equilibrado em suas abordagens, não poupando críticas a igreja, pelos seus erros passados. Ele é o Historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil, uma instituição calvinista teologicamente conservadora. De tudo ele fala um pouco.

Reforma Protestante e sua abertura para a multiplicidade de visões no cristianismo:

"A Reforma Protestante foi, entre outras coisas, o questionamento da noção de que uma determinada tradição cristã tem o direito exclusivo ao título de igreja. Antes, os reformadores afirmaram que, onde quer que o povo de Deus se reúna para ouvir a pregação fiel das escrituras e receber a ministração dos sacramentos bíblicos ai está presente a igreja. Com essa nova mentalidade, o protestantismo abriu as portas para a diversidade dentro do cristianismo". P. 21-22.

Foi a Reforma começar, para que as divergências se fizessem presentes, entre os próprios reformadores. Cada um acusando o outro de herege. Lutero discordava de Zwínglio quanto a eucaristia, onde até foi travado um debate entre os dois, cada qual irredutível em suas posições.

O celibato surgido no século quatro:

“A mais antiga estipulação sobre o assunto, o cânone 33 do concílio de Elvira, na Espanha (por volta do ano 305), declara o seguinte: ‘Decretamos que todos os bispos, sacerdotes e diáconos, e todos os clérigos envolvidos com o ministério, sejam totalmente proibidos de viverem com esposas e gerarem filhos. Quem assim o fizer será deposto da dignidade clerical.’” P. 52.

E assim, até hoje os sacerdotes católicos estão privados de terem suas esposas e filhos. Numa decisão sem pé nem cabeça, fruto de um repúdio injustificado do sexo. A partir do segundo século, o sexo já estava sendo visto, como prática abominável pelos primeiros cristãos.  

A confecção das cópias das escrituras:

"Durante mais de um milênio, as cópias parciais ou integrais da Bíblia eram feitas à mão, trabalho esse realizado principalmente por monges que pacientemente redigiam os manuscritos (hoje existem cerca de 2300 manuscritos bíblicos, produzidos entre os anos 300 e 1500). O fato de os livros serem copiados à mão tornava-os extremamente caros para a maioria das pessoas - copiar um livro como Isaías levava semanas ou meses. Por exemplo, no século 14 o custo de uma Bíblia podia ser equivalente ao salário de um ano inteiro de um sacerdote". P. 68-69.

Hoje o preço das Bíblias já não são tão caros assim. Os preços variam bastante. Têm Bíblias de todos os tamanhos e gostos. As editoras sob o pretexto de estarem divulgando o reino de deus, inventam todo tipo de Bíblias. Chega a ser ridículo esse comércio. Mas os editores dizem com a cara mais limpa do mundo: é para o reino de deus. O deus deles, é claro.

A religião cristã e sua incompatibilidade com o ensinamento espírita da reencarnação:

"Mas, afinal, o que é a reencarnação? Trata-se da crença de que a alma, ou o elemento psíquico do ser humano, passa para um outro corpo após a morte, fato esse que pode repetir-se muitas vezes com o indivíduo." P. 98.

"O cristianismo majoritário nunca professou a tese da reencarnação, pois ela não somente está ausente das escrituras, mas é contraditada por textos bíblicos como Hb 9.27 e Lc 23.43. É somente através de uma interpretação altamente figurada e tendenciosa de certas passagens que os espíritas podem encontrar a reencarnação na Bíblia." P. 100.

Existe pelo menos um caso nas escrituras que corrobora a realidade da comunicação dos mortos com os vivos. O pitoresco caso de Saul e Samuel. A Bíblia é clara quando diz que Samuel já morto, foi ter uma conversinha com Saul, mediante o intermédio de uma feiticeira. Os fundamentalistas têm um pepino grande para descascar.

Fanatismo religioso:

"Em todas as religiões existe o fenômeno do fervor espiritual intenso, por vezes extremado, que caracteriza certos indivíduos, grupos e movimentos. O cristianismo não é exceção. [...] Infelizmente, a história demonstra que muitas vezes o entusiasmo religioso ultrapassa os limites do bom senso e manifesta extravagâncias comportamentais e teológicas. Em alguns casos extremos chega ao fanatismo, com as consequências negativas, até destrutivas, daí advindas." P. 123-124.

Precisa de algum exemplo?

Destruição de culturas pelos cristãos:

"Um caso particularmente inquietante foi o da América Latina, em que o processo de conquista e colonização, abençoado pela igreja, deixou um rastro de destruição entre as populações nativas. Somente se levantaram umas poucas vozes de protesto". P. 145.

Se pudessem, os fanáticos evangélicos destruiriam até hoje monumentos em homenagem aos ídolos pagãos. Deduzo que a maioria evangélica de salvador, na Bahia, se tivessem autorização, colocariam abaixo o Dique do Tororó, que possui várias estátuas dos orixás – seres mitológicos cheios de mugangas, adorados no Candomblé.

Os primeiros calvinistas no Brasil e o seu total fracasso:

"Curiosamente, foi no Brasil que ocorreu a primeira tentativa da história do protestantismo mundial no sentido de evangelizar um povo não-cristão. Isso se deu em conexão com uma colônia francesa criada na Baía da Guanabara em 1555, a França Antártica. A pedido do líder do empreendimento, Nicholas Durand de Villegainon, o reformador João Calvino e a Igreja Reformada de Genebra enviaram catorze colonos, entre eles dois pastores. Esses imigrantes-missionários tinham dois objetivos: implantar uma igreja reformada entre os franceses e evangelizar os silvícolas. Nenhum desses objetivos pôde ser alcançado e quatro dos pioneiros acabaram sendo martirizados, mas esse evento se tornou um marco de grande importância na história das missões, nem sempre caracterizadas pelo sucesso." P. 154.

Isso ficou conhecido como a tragédia da Guanabara. Acho que Jean de Léry, calvinista que presenciou esses acontecimentos, escreveu um livro contando a aventura dos primeiros calvinistas no Brasil. E a primeira confissão de fé calvinista, foi feita aqui, em solo brasileiro.

Mais uma vez o celibato e abstinência sexual no casamento:

"Durante a Idade Média, e mesmo antes, a vida celibatária teria sido considerada a condição ideal para o cristão, o estado espiritual mais elevado. O grande erudito Jerônimo, que morreu no ano 420, foi particularmente enfático nesse sentido. A comparar a virgindade, a viuvez e o casamento, ele deu à primeira o valor numérico de 100, à segunda 60 e ao casamento 30. Mais de um milênio depois, em seus Exercícios Espirituais (1548), Inácio de Loyola exortou os seus seguidores a exaltarem o matrimônio, mas exaltarem ainda mais a castidade. De fato, ao se observar a longa lista de santos católicos, verifica-se que somente alguns poucos dentre eles foram casados.

[...]

Na concepção tradicional, o sexo, embora permitido dentro do casamento, não devia ser desfrutado. De acordo com um catecismo do final do século XV, os leigos pecavam sexualmente no casamento, quando, entre outras coisas, praticavam o sexo por prazer e não pelas razões que Deus ordenou, a saber, evitar o pecado da concupiscência e povoar a terra". P. 193, 194.

O sexo sempre sendo visto como um tabu entre boa parte dos cristãos mais fervorosos. Tudo começa em Maria, mãe de Jesus – que a igreja católica insiste em dizer que ela nunca foi furada por José, depois de Jesus ter nascido. Pergunto: José ficou sua vida inteira com uma mulher, sem dá nenhuma sapecada nela? Uma punhetinha de vez em quando? Certo, certo, gosto de descer o nível as vezes. Ou Deus o agraciou com a frigidez? 

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Bem Vindo a Marly-Gomont


“Só a educação importa, especialmente quando se é negro.” – Seyolo Zantoko.

Racismo e discriminação em relação aos negros é algo disseminado por quase todo o planeta. Na França dos anos 1970, não foi diferente. Um Médico africano, nascido no Zaire, por nome Seyolo Zantoko, formado em Medicina na França, depois de rejeitar por honestidade e consciência limpa, a função de ser Médico do Presidente corrupto de seu país, resolve exercer seus conhecimentos medicinais, na pequena e pacata cidade rural francesa de Marly-Gomont.

Detalhe: nunca nenhum negro tinha pisado nessa cidade. Um lugar provinciano e com moradores cheios de preconceitos.

Doutor Zantoko chega a cidade cheio de vontade de trabalhar e ajudar na saúde de seus habitantes. A cidade estava sem Médico, sendo a clínica mais próxima a 15 quilômetros de distância com o Doutor Vinquier. De cara os moradores não acreditam que quatro negros (Zantoko, sua mulher, uma menina e um menino) estão pondo os pés em sua cidade, e pior: irão morar nela.

Não demora muito para que as crianças sejam alvo de piadas racistas e humilhantes na escola. Zantoko não consegue um paciente sequer para atender. Eles preferem ir na cidade mais próxima, a serem atendidos por um Médico negro africano. Até numa epidemia de gripe na cidade, ninguém foi ao seu consultório. Não acreditam que ele possa exercer a Medicina com competência e seriedade. Negros não estão aptos para um trabalho tão nobre e difícil, pensam eles.  

As contas vão chegando, o dinheiro vai escasseando, e Zantoko não tem ainda nenhum paciente. Quando consegue dois pacientes, estes não lhe pagam, pois dizem que ele não é Médico de verdade, se comparado com o Médico da cidade vizinha.

Ele precisa trabalhar, ganhar dinheiro para sustentar sua família. Sem opções, ele vai trabalhar como agricultor, escondido de sua mulher, que está bastante chateada em ir morar num lugar que não os aceita, visto que também, ela jurava que iria morar em Paris.

Um dos moradores e futuro candidato a prefeito diz a Zantoko:

“Não me entenda mal, mas essa é a França provinciana. As pessoas estão acostumadas com o que elas conhecem.”

Elas não conheciam uma pessoa de “cor”. Não estavam prontas para serem examinadas por uma pessoa vinda da África.

O Médico africano tem a chance de mostrar seu valor quando é chamado às pressas, depois da missa de Natal, a casa de uma mulher que estava no trabalho de parto. Quando ela o vê, se nega, mesmo morrendo de dores, a fazer o parto com ele, xingando-o, com todos os nomes que possamos imaginar. Mas não tinha jeito – ou ela teria o seu bebê pelas mãos dele, ou morreria ali mesmo. O parto acontece, e ela e seu marido ficam muito gratos por ele ter lhes ajudado.

A partir daí sua carreira como Médico da cidade começa a deslanchar. Os moradores guardam seus preconceitos bobos e vão se consultar com ele. Apesar de tudo está finalmente indo bem, Lavigne, candidato a prefeito arma uma cilada contra ele, impedindo Zantoko de trabalhar até que sua situação fosse devidamente averiguada pelo governo francês. Nas eleições o atual prefeito se reelege e Zantoko volta a trabalhar tranquilamente em seu consultório, com a aprovação de toda a pequena cidade de Marly-Gomont.

É uma linda história real. Apesar de abordar o tema espinhoso do racismo, é uma história leve e muito gostosa de se ver. Mais um filme aprovado.  

Cores do paraíso


Regime do Apartheid na África do Sul. Ano 1976! Estudantes se organizam para fazer um grande protesto contra a segregação que sofrem há décadas das autoridades brancas. Muntu Ndebele vive um pouco melhor que seus irmãos negros, pois possui carro, uma futura bolsa de estudos para entrar na Universidade e trabalha como ator de filmes. Mesmo com o seu modesto prestígio, ele ainda vive em sua comunidade e estuda num colégio humilde, destinado a negros. Inconformados com o racismo e discriminação, os estudantes protestam em Soweto e são recebidos com balas pelo exército sul africano. Esse grande marco contra o preconceito ficou conhecido como o Levante de Soweto, ocorrido em 16 de junho de 1976.

Muntu e sua paquera, Sabela, estavam participando do protesto, quando Sabela é atingida por uma bala. A partir daí, tudo começa a desandar, visto que Muntu agride um chefe da polícia, tendo que fugir, e sendo cooptado para o exército da guerrilha do CNA, partido fundado por Nelson Mandela, para extirpar por meio da violência as autoridades opressoras do povo negro sul africano. Ele consegue fugir do acampamento, volta para Soweto em busca de sua amada, mas ela já está casada a contragosto com um chefe tribal, que pagou uma ótima bolada para o pai de Sabela.

Muntu numa reviravolta em sua vida, se envolve no crime, com muitos roubos e associações com a gangue de Bomba, um bandido que também quer derrubar o sistema do Apartheid. Ele luta para conseguir a sua adorável Sabela, sem sucesso. Muntu se envolve com a namorada de Bomba, engravidando-a. A feiticeira que dá conselhos espirituais ao criminoso Bomba, revela que o filho não é dele, e que essa criança precisa ser sacrificada para que ele tenha muito sucesso em seus negócios. A criança não é morta, mas Busy, sua mãe é queimada por traição e delação, na frente de Muntu, que tenta impedir.

Muntu sem rumo na vida, cai no universo das drogas, quando finalmente é visitado por um grande amigo branco da infância, que tenta-o tirar do buraco de onde se encontra. Ele se nega a sair, mas no final do filme, numa cronologia de cerca de trinta anos após o massacre dos estudantes em 1976, em uma homenagem aos estudantes mortos, Muntu já está em fase de recuperação e depois de três décadas consegue ficar junto com o amor de sua vida, Sabela.

A princípio pensei que Cores do Paraíso fosse apenas uma ficção contada dentro contexto cruel e devastador do regime racista na África do Sul. Entretanto é uma história real, que nos passa o quanto o apartheid desestruturou aquele país. Mesmo com Mandela solto e eleito Presidente em 1994, a coisa ainda estava feia por lá. Com grupos rebeldes que não o aceitavam no poder, por ele ter desistido de algumas de suas convicções.

Cores do Paraíso nos ambienta nesse clima de tensão e de ideias opostas entre os vários negros oprimidos pelo governo. Havia vilões e bandidos negros querendo se aproveitar da situação desesperadora em que se encontrava o país naquele momento. Havia pessoas honestas e íntegras, mas que por vários motivos e contingências do destino entraram por um caminho equivocado, como foi o caso de Muntu.

Filme muito bom. Filme realista.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Raça


Era o ano de 1936. Dois países: Estados Unidos e Alemanha. Algo em comum entre eles: racismo, preconceito e discriminação aprovados, incentivados e legalizados pelo Estado. Duas etnias vitimizadas e humilhadas: negros e judeus. Na América: os de “cor” segregados. No Terceiro Reich: os descendentes de Abraão despojados de quaisquer direitos. Um evento: Olimpíadas na Alemanha de Hitler. Impasse: negros e judeus disputando medalhas no maior evento esportivo do planeta, em território nazista.

Apenas essas “bobagens” que Raça traz para o cinema.

Jesse Owens é um jovem negro americano, que vive na cidade de Ohio, que corre muito. Não, não, me enganei - ele não corre muito. Ele corre MUITO. Um atleta de alto padrão, extremamente veloz, que não dá chance para os seus adversários. Ele consegue uma vaga para a Universidade Estadual de Ohio, onde terá a oportunidade de ouro de mostrar o quanto ele é rápido e capaz no atletismo.  O Professor esportivo Snyder percebe logo de cara, a potencialidade que Owens tem para competir e ganhar corridas. Não demora muito, não sem esforço e vencendo o costumeiro racismo daquela sociedade, para que Owen seja chamado para competir nas Olimpíadas de Berlin que se aproximam.

Um grande problema é que o regime nazista não quer que negros e judeus venham competir nos jogos olímpicos. O que fazer diante de uma arbitrariedade tão absurda? O Comitê Olímpico Americano está dividido. Um de seus representantes, Sr. Brundage, vai ter com Josef Goeebels, líder nazista e grande responsável pelas Olimpíadas que estão para acontecer. Ele pergunta a Goeebels:

“Querem ser lembrados como aqueles que sediaram os jogos sem os EUA? [...] Ouçam, não estou aqui para dizer como devem governar seu país. Se entro na casa de alguém, não vou urinar no tapete. Mas não espero que sirvam estrume e digam que é foei gras. Querem usar esses jogos para vender suas ideias torpes ao mundo. E estou aqui para dizer que ninguém vai aceitar isso. Precisam mudar esse comportamento! [...] E quero a palavra de vocês, hoje, de que não excluirão judeus e negros dos Jogos. Sendo cidadãos americanos, traremos marcianos se quisermos!”

Ele tem a palavra do fantoche de Hitler de que os Estados Unidos poderão levar seus atletas negros e judeus para competirem em solo alemão.

Uma organização negra pede para que Owens não vá para Berlin, argumentando que ir competir nesses jogos é de certa forma apoiar o regime racista do nazismo. Owens fica pensativo e até diz dias depois ao seu treinador que não irá aos jogos. Porém, volta atrás e decide viajar para a Alemanha e ganhar daqueles alemães FDP.

Quando ganha sua primeira medalha de ouro, Hitler não o recebe. Um nazista diz que o Führer precisou sair mais cedo. Mera desculpa para não receber um negro, que se mostrou melhor atleta que os seus adversários anfitriões. Goebeels, que está presente solta o seu veneno:

“Acha mesmo que ele [Hitler] vai concordar em ser fotografado apertando a mão dessa coisa [Owens]?”

Não importa. Owens estabelece novos recordes olímpicos e acaba ganhando quatro medalhas de ouro, humilhando o regime nazista em seu próprio território. Foi o grande atleta daquelas Olimpíadas dos anos 1930.

O restante nós já sabemos a história: os nazistas invadem a Polônia em 1939, e a Segunda Grande Guerra Mundial se inicia, deixando um rastro de mortes e horror.

Filme muito bom.  

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Até o Último Homem


É simplesmente emocionante. É absurdamente irônico!

Começa a Segunda Grande Guerra Mundial, em 1939 - os EUA sofrem um ataque surpresa dos japoneses em Pearl Harbor – não tem outra escolha, a não ser entrar na guerra e matar aqueles japoneses FDP. Iniciam-se as convocações – jovens e mais jovens vão se alistando para defender e honrar o seu país. Dentre esses jovens encontra-se Desmond Doss, um jovem diferente e com convicções assustadoramente inabaláveis. Ele é um Objetor de Consciência, uma espécie de pacifista, que se nega em pegar em armas; que em hipótese alguma tiraria a vida de alguém, até mesmo dos japoneses.

Para Doss o ataque japonês foi uma afronta ao seu país, que ele encara como um ataque pessoal, que precisa ser corrigido. Sua ajuda ao país será de mãos limpas, sem matar uma única pessoa. Ele acaba sendo uma desagradável surpresa no campo de treinamento. Ganha a antipatia e total reprovação de seus colegas e de seus superiores, indo preso e julgado, quase indo a corte marcial, se não fosse a intervenção de um soldado de alta patente e veterano, que lutou ao lado do pai de Doss, na Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918). Doss, até perde o casamento, pois estava trancafiado pelo exército, visto que não conseguiu a liberação para sair do quartel.  

Doss queria ir para campo de batalha contra os japoneses, não para matá-los, mas para salvar a vida de seus companheiros, quando estes precisassem. Sua convicção ele extraía de suas interpretações da Bíblia. Foi um adventista do sétimo dia pacifista e idôneo guardador do shabat (sábado). Carregava para todo lado sua pequena Bíblia e a foto de sua amada dentro dela.

Ele fez todo o treinamento exigido, com a única exceção de não pegar num rifle, de não aprender a atirar, mesmo que fosse para a guerra sem ser obrigado a usá-lo. A lei garante a sua liberdade de consciência e de não usar armas, mesmo indo guerrear.

Seus colegas de treino e ele vão para a guerra, os soldados o veem com muita desconfiança – acham Doss um louco e covarde. Mas em Okinawa, numa batalha sangrenta, dolorosa e difícil contra os japoneses, o pacifista maluco e fanático mostra o seu extremo e verdadeiro valor ao lado de seus companheiros de guerra. Quando a primeira batalha termina, ele é o único que fica em meio aos mortos, procurando por seus companheiros que porventura estejam vivos, sem ligar para a sua vulnerabilidade diante soldados inimigos.

Surpreendentemente, ele vai salvando dezenas e dezenas de soldados mutilados, que estavam ali para serem mortos pelos soldados japoneses. Um por um, em um trabalho incansável e heroico, ele vai salvando os seus amigos. Aquele garoto franzino, bobo e alvo de chacota, vira um gigante da guerra, se destacando de uma maneira que ninguém imaginava. Conseguiu com muita competência e amor aos seus companheiros, o seu objetivo de salvar muitas e muitas vidas.

Desmond Doss morreu em 2006, nos seus 87 anos, deixando um legado incrível.

Até o Último Homem é um daqueles filmes que tem que estar na playlist de qualquer cinéfilo.